A literatura e a formação do leitor crítico



          A LITERATURA E A FORMAÇÃO DO LEITOR CRÍTICO

                                                                                  Ana Flávia Machado Alves.¹ 

RESUMO: Este estudo tem como objetivo refletir a cerca da Literatura como fator indispensável no processo de humanização e suas respectivas funções: psicológica, educativa e social. Esta pesquisa é de natureza estritamente bibliográfica, baseada principalmente nas idéias de Antônio Cândido. Detemo-nos a discutir sobre a importância do ensino de literatura para a formação do leitor crítico e para a formação personalidade do homem.

1 A literatura como fator indispensável no processo de humanização            

                  Para entendermos melhor Literatura como fator indispensável de humanização é necessário conceituarmos literatura, dessa forma concluiremos que a literatura representa sobre tudo: conhecimento. Como afirma Cândido em seu texto O direito à Literatura (2002, p.175) “[...] ela é fator indispensável de humanização e, sendo assim, confirma o homem na sua humanidade”. A partir deste trecho é possível notar que a literatura é algo vital ao ser humano.

                   Sobre o conceito de literatura Cândido (2002, p. 174) ressalta:

Chamarei de literatura, da maneira mais ampla possível, todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos de folclore, lenda, chiste, até as formas mais complexas e difíceis da produção escrita das grandes civilizações.

                    A literatura é uma manifestação universal, e a mesma está presente em todas as sociedades, em todos os homens e em todos os tempos. Nós estamos sempre em um universo fabulado, pois não é possível alguém passar vinte e quatro horas sem alguns momentos de devaneios e a literatura está presente me cada um de nós, como anedota, história em quadrinhos, canção popular, samba carnavalesco e outros.               

                  Cândido em seu texto O direito à Literatura confirma que todo ser humano necessita de um momento para sonhar, devanear e fugir da realidade, para o autor faz parte da essência humana a fuga ao inconsciente. A literatura provoca suicídio por se deparar com a realidade e trazer reflexão, às vezes ela bate de frente com os valores sociais.              

                    Nessa perspectiva, Cândido (2002, p.175) diz que “A literatura confirma, nega, propõe e denúncia, apóia e combate, fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas”. É atribuído à literatura um valor estético, ressaltando do seu vínculo com a vida do ser humano, o próprio ser humano que através de sua sensibilidade consegue evadir-se a um universo fictício. Isto significa que a literatura tem o poder de formar a personalidade. Um livro pode ser fator de perturbação, o mesmo pode trazer a realidade da vida, contudo a literatura provoca o suicídio.

           

                     A literatura está ligada à leitura, e a leitura é um fator que contribui na formação crítica do aluno, pois a partir do ponto em que o aluno começa a perceber o mundo através de sua própria leitura, o seu domínio sobre certos conceitos se tornará mais sólidos. 

                    As Orientações Curriculares Nacionais (BRASIL, 2000, p.67) afirma que:

A leitura do texto literário é, pois, um acompanhamento que provoca reações, estímulos, experiências múltiplas e variadas, dependendo da história de cada indivíduo. Não só a leitura resulta em interações diferentes para cada um, como cada um poderá interagir de modo diferente com a obra em outro momento de leitura do mesmo texto.

 

 

 

                        

                       Compreendemos que o texto literário revela o homem e depois  provoca reflexão no leitor, a leitura de um texto literário proporciona prazer, segundo a particularidade de cada leitor.

                   

                        A literatura traz um tipo de linguagem capaz de encantar, de trabalhar com a imaginação, com o lúdico e muitas vezes de entreter. Como Rangel (2008, p.153) afirma que “[...] a leitura do texto literário abre para o leitor uma perspectiva única de leitura.” O texto é valorizado pela participação do leitor.

   

                  Um ponto importante a respeito da leitura literária é a escolha da obra, o leitor deve ter liberdade para selecionar o que quer ler e suas leituras devem ser variadas. Esse processo compreende um crescimento crítico do aluno, que se constroem nessa escala evolutiva dos tipos de texto que se lê.

           

               Adiante, ainda com Orientações Curriculares Nacionais (BRASIL, 2000, p.69), devemos:

 

 

 

Formar para o gosto literário, conhecer a tradição literária local e oferecer instrumentos para uma penetração mais aguda nas obras – tradicionalmente objetivos da escola em relação à literatura – decerto supõem percorrer o arco que vai do leitor vítima ao leitor crítico. Tais objetivos são, portanto, inteiramente pertinentes e inquestionáveis, mas questionados devem ser os métodos que têm sido utilizados para esses fins.

                   

 

                  

                Geralmente, o leitor é vítima em sua fase inicial como leitor ou em um nível de leitura considerado baixo, porém, o professor como mediador das leituras literárias deve formular estratégias para envolver o leitor vítima em outras leituras para que ele possa adquirir a capacidade de criticar, pois, quanto mais ricas forem suas leituras, mais rico ficarão seus conhecimentos.

                                                                                                                                             

                Desde então, o texto literário proporciona ao leitor o desenvolvimento de sua capacidade cognitiva, dando lhe a oportunidade de argumentar seu ponto de vista, o mesmo abre margem para outras leituras e, dentro dele mesmo, para múltiplas interpretações, contribuindo para a formação do leitor. Por fim, fica claro, que a literatura contribui muito para o desenvolvimento das capacidades leitoras do aluno, ao mesmo tempo em que amplia seus horizontes lingüísticos, culturais e pessoais.

2 A literatura e suas funções

 

                   A literatura exprime o homem e volta-se para sua formação, a mesma assume algumas funções que atuam diretamente no homem. Antônio Cândido em A literatura e a formação do homem (CÂNDIDO, 2002) aponta três funções exercidas pela literatura: função psicológica, educativa e social.

                

                 A função psicológica está vinculada a capacidade e necessidade que tem o homem de fantasiar. A necessidade que é expressa pelo indivíduo através de sonhos e devaneios. Esta função é baseada na aspiração do homem em abstrair-se em um mundo imaginário e fictício.

 

                 Segundo Cândido (2002, p.81):

Por via oral ou visual, sob formas curtas e elementares, ou sob complexas formas extensas, a necessidade de ficção se manifesta a cada instante; aliás, ninguém pode passar um dia sem consumi-la, ainda que sob a forma de palpite na loteria, devaneio, construção ideal ou anedota.

                   

                 Há no homem uma necessidade de fuga da realidade, o homem se satisfaz ao se isolar do mundo real. Essa necessidade é expressa através de devaneios em que todos nós nos envolvemos diariamente, através das novelas da música, do filme, etc.

                      As fantasias expressas pela literatura, no entanto, têm sempre sua base na realidade, nunca são puras. É através dessa ligação com o real, que a literatura passa a exercer sua segunda função: a função educativa.

                     A Literatura atua como instrumento de educação, a mesma tem poder de formação crítica do homem. O texto literário proporciona um impacto no processo de formação do homem.

      

                Cândido (2002, p.83) alerta que:

 

A literatura pode formar, mas não segundo a pedagogia oficial, que costuma vê-la ideologicamente como um vínculo de tríade famosa – o verdadeiro, o bom, o belo, definidos conforme os interessados dos grupos dominantes para reforço da sua concepção de vida. Longe de ser um apêndice da ilustração moral e cívica, ela age com o impacto indiscriminado da própria vida e educa como ela -- com  altos e baixos, luzes e sombras.  

 

 

 

                  Podemos perceber através da citação o poder que tem a literatura de atuar na formação do indivíduo, ela promove no homem o desenvolvimento de sua intelectualidade.

 

                 Não podemos negar que o conteúdo do texto literário é o homem e sua vida e é neste sentido que a literatura pode educar. A literatura só exercerá a função educadora, se a ela for concedida a importância que lhe cabe. Os próprios PCN (BRASIL, 1999) orientam o educador em sua prática e enfatiza a literatura como instrumento para reflexão e construção do conhecimento.

 

                  A função social está relacionada à identificação do leitor e de seu universo vivencial representados na obra literária. Assim como o homem vincula-se diretamente à sociedade, o conhecimento estará voltado para o ser humano, é função social da literatura estimular o leitor para uma maior percepção do mundo que o cerca, fazer este leitor perceber o mundo em sua pluralidade e diversidade.

              

Samuel (1985, p.14) vem nos afirmar que:

 

A arte não só produz realidade, mas dá forma a um tipo de realidade. E a literatura não substitui a sociedade e a política como maneiras de explicar a sociedade. A arte não obedece ao princípio da imitação da realidade estabelecida, mas ao princípio da negação desta realidade, que não é meramente negação, mas transposição da realidade para superar os problemas. Como parte da sociedade, a literatura está imanente à realidade (está nela). Mas como ficção, como imaginação, ela transpõe essa imanência, criando uma realidade possível para opor à realidade concreta.

           

 

 

                     Mediante o exposto, podemos avaliar então que a Literatura atua na formação da personalidade do indivíduo, como na concepção de mundo que adquire. É possível estabelecer a princípio que a realidade do homem em sociedade é evocada através da arte, e sendo a literatura considerada como arte, tem como objetivo maior entreter, jogar com o lúdico e dar ao leitor uma leitura com traços peculiares de acordo com sua vida em sociedade.

 

                     Consideramos, então, que a função social da literatura possibilita ao homem o reconhecimento da realidade que o cerca quando transporta para o mundo ficcional. Assim como o homem vincula-se diretamente à sociedade, o conhecimento voltará sempre para o mesmo. Portanto, é pertinente a importância que a literatura exerce no meio social, sobretudo no homem participante e responsável pela manutenção desse meio.

 

                           

                                    CONSIDERAÇÕES FINAIS

                     

                         Neste artigo foi desenvolvido um estudo sobre a importância da Literatura na formação do homem, através do mesmo é possível perceber o poder que a literatura tem de atuar na formação do leitor crítico.

                         Uma obra literária transmite ao leitor uma certa sensibilidade, e é a partir desta sensibilidade que o universo literário se torna prazeroso.

               

 

                             

 

 

                                  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                           REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio. Brasília: Secretária de Educação Média e tecnológica/MEC,1999.

BRASIL, Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica: Brasília, 2000.

CANDIDO, Antonio.Textos de intervenção. São Paulo: Duas cidades, 2002.

________________. Vários Escritos. São Paulo: Duas cidades; Rio de Janeiro; ouro sobre a Azul, 2004.

SAMUEL, Rogel (org.). Manual da teoria literária. Petrópolis: Vozes, 1985


Autor:


Artigos Relacionados


Vento

15 De Outubro

A Destinação Da Sabedoria

Poesia

Minha InfÂncia

Mulher Ii

A Literatura Infantil Como Estratégia Para O Desenvolvimento Da Competência Leitora Em Sala De Aula