Ideologia(s) e alienação



Segundo o Dicionário Aurélio, ideologia é “um conjunto articulado de idéias, valores, opiniões, crenças, etc., que expressam e reforçam as relações que conferem unidade a determinado grupo social seja qual for o grau de consciência que disso tenham seus portadores”. Aranha & Martins descrevem a ideologia como um conjunto de idéias, concepções ou opiniões sobre algum ponto de discussão, constituindo “um corpo sistemático de representações que nos ensinam a pensar e normas que nos ensinam a agir”, comentando que  “(...) a ideologia mostra uma realidade invertida, ou seja, o que seria a origem da realidade é posto como produto e vice-versa; o que é efeito passa a ser considerado causa, o que é determinado é tido como determinante”.
 

Características Fragmentárias

Pierre Furter comenta sobre a característica fragmentária da ideologia que, por ser algo elaborado em função de objetivos concretos, resulta num processo de dominação, onde se justifica determinados valores e pontos de vista, impedindo a tomada de consciência autêntica do indivíduo. Para ele, este procedimento aliena o indivíduo, pois “quebra a unidade dialética entre o pensar e do atuar”.

Wanderley Codo descreve que “o homem alienado é o homem desprovido  de  si mesmo. Se a história distancia o homem do animal, a alienação re-animaliza o homem”. Se através da alienação o homem torna-se alheio de si, este deixa de pertencer a si mesmo. “O homem perde não apenas a identidade de si mesmo, a consciência de si, mas passa a pertencer ao objeto, à coisa, ao outro”. Diz-se ainda que o homem está alienado quando deixa de ser seu próprio objeto para se tornar objeto de outro, deixa de ser algo para si mesmo. Quando sua vontade é a vontade de outro ele é coisificado. Deixa de ser homem, criatura consciente e capaz de tomar decisões, para se tornar coisa, objeto alheio (Leôncio Basbaum).

O produto do trabalho alienado é uma coisa alheia. Para Rubem Alves, o trabalho não-alienado proporciona  em cada objeto o rosto de quem o produziu. O sujeito que realiza um trabalho artesanal sem carteira  registrada não segue ordens de uma empresário, não possui supervisão de chefe, mas, sua própria supervisão, onde por sua vontade e necessidade imprime em seu produto a sua imagem, a sua vida e o seu sentimento. Cada trabalho artesanal possui uma imagem, nenhum é igual, carregando consigo características de quem o produziu. Rubem comenta que “operários que trabalham em linha de montagem não assinam  suas obras (porque não são deles) nem vêem seu rosto refletido nelas”. Na alienação o homem  não se percebe como produtor de sua cultura, tornando-se produto duma cultura alheia.

Homens e mulheres que vão para o trabalho, no qual empenham sua própria vida para gozo de outros; jovens que vão para a guerra para serem mortos, sabendo que vão morrer, até com certa satisfação, acreditando que vão defender a civilização ociental e cristã. E homens que se prestam ao papel de ensinar aos jovens que tudo isso é muito certo e muito justo. (Leôncio Basbaum)

Para Leôncio, as máquinas de alienação são, em  primeiro, a família e em segundo, a escola, ele  comenta que o antídoto para a alienação seria a  rua, pois a  família, a escola e o trabalho são instituições que estão a serviço da alienação, se a situação das instituições continuar como se encontra, a marginalização será o único meio de se livrar da alienação.

 

 

Referências

 

ALVES, Rubem. A Escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. Campinas: Papirus, 2001.

ARANHA, M. Lúcia de A. & MARTINS, M. Helena P. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1993.

BASBAUM, Leôncio. Alienação e Humanismo. São Paulo: Global, 1982.

CHAUÍ, Marilena S. O que é Ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1988.

CODO, Wanderley. O Que é Alienação. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.

FURTER, Pierre. Educação e Reflexão. Petrópolis: Vozes, 1976.

HOLANDA, Aurélio B. Dicionário Aurélio Século XXI. Nova Fronteira, 1999. 

 

Bruno Carrasco, 2005.


Autor: Bruno Barbedo Carrasco


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