Cordel ecológico
Apelo ecológico
Rui Vicente Feitoza Muniz[i]
Vou falar neste cordel
Dos animais do sertão
Da terra até quase o céu
E também da habitação
Mas vou logo advertindo
Que vou escrever pedindo
Num apelo eficaz
Nosso sertão tem beleza
O peitem a natureza
Protejam os animais.
No reino dos animais
João-de-barro é arquiteto
Ele olha, planeja e faz
De barro mole o seu teto.
Ele é o maior exemplo
Sozinho constrói seu templo
Sua própria habitação
Só uma parede no meio
Protege-lhe do sol feio
E da chuva no sertão.
O João-de-barro possui
Tamanha fidelidade
Pois nele o amor flui
Num aspecto de verdade.
Quando ele aparece um dia
Constrói sua moradia
Pra sua amada ter paz
E se ela um dia morrer
Ele pode até viver
Mas não ama nunca mais.
O carão é o profeta
Eficaz do sertanejo
Onde prever sua meta
Pra chuva vir com desejo.
E depois que a chuva vem
O verde cresce além
Das folhas dos vegetais
E os casais vão se esconder
Pros outros pássaros não ver
O que o macho e a fêmea faz.
O beija-flor pequenino
Voa pra frente e pra traz
Olhando e tirando fino
Nas flores dos matagais
Suas asas vão batendo
E ele fica parecendo
Helicóptero sem motor
Sem aulas de pilotagem
Ele faz aterrissagem
No aeroporto da flor.
A garça vestida inteira
Dum branco sem ter igual
Parecendo uma enfermeira
Na sala do hospital
Com traje branco de gala
Veloz igualmente bala
Ela vem com alegria
Chega, olha se alimenta
Da mosca que atormenta
A vida da bicharada.
O papagaio contente
Sempre vive pra ensinar
Que é ave, não é gente
Mais, porém sabe falar.
O sabiá na campina
Mostra que não desafina
A sua voz de tenor
E a cigarra estridente
É quem canta no sol quente
Profetizando o calor.
A abelha no cortiço
Trabalha sem ter descanso
É quem faz o seu serviço
Nas flores do campo manso
Trabalhando, as operárias
Sem regras estatutárias
E previdência não tem
Dá doçura ao mel sem medo
Nunca contou o segredo
E nem dá a receita a ninguém.
A galinha com extintos
Às vezes passa aflição
Para proteger seus pintos
Das garras do gavião
É grande mãe dedicada
Alimenta a filharada
De tudo: milho e saúvas
E na chuva faltado casas
Ela faz das duas asas
O melhor dos guarda-chuvas.
O vaga-lume é quem brilha
No grande escuro noturno
Clareando sua trilha
Sem bateria em seu turno
Com sua lanterna acesa
Clareia na natureza
Sem nunca se apagar
Só se apaga quando é dia
Não carrega a bateria
Nem faz medo ela arriar.
O cachorro, bicho raro
Animal que muito agrada
É quem aguça seu faro
Numa noite de caçada
Com seu olfato apurado
Acha o bicho enterrado
Que procurava afinal
Sem um radar possuir
E só pára de latir
Quando arranca o animal.
O macaco bem esperto
É alegre todo dia
Sem achar errado ou certo
Faz prática de acrobacia
Sem temer o espinhaço
Pra garantir seu espaço
E o olhar da macacada
Se pendura na floresta
E faz da vida uma festa sem conseqüência de nada.
A vaca dá de bom grado
O leite pra sua cria
E dá pra nos todo dia
Sem nunca ter feriado
Não sabe o que é descanso
E com o seu jeito manso
Sua língua dá o brilho
Passando a vida todinha
Faz da língua uma escovinha
Que alisa o pelo do filho.
O jumento é quem trabalha
Todo dia e não revida
Seu suporte é a cangalha
No lombo o resto da vida
Reconhece direitinho
Memorizando o caminho
Pra ser fácil de voltar
O presente que ele ganha
É o tanto que apanha
Quando não quer trabalhar.
O urubu na colina
Faz a observação
Só vive da fedentina
Sem nojo da podridão
Depois que um bicho morre
Ele mesmo é quem socorre
E logo se manifesta
Limpa tudo sem preguiça
E faz daquela carniça
Churrasco pra sua festa.
Nós temos sempre que olhar
Os animais que nós temos
Pois, tentam nos ensinar
E nós nem sempre aprendemos
Vamos ouvir direitinho
O que diz o passarinho
Ensinando com destreza
Fica com a sua voz
Gritando sempre pra nós:
Amem mais a natureza.
[i] Licenciatura em Letras pela Universidade Regional do Cariri - URCA, no Crato, Ceará, turma de 2011. Professor de Língua Portuguesa na Rede Estadual de Ensino no Ceará na E. E. M. Professora Eunice Maria de Sousa. Poeta e Repentista