Uma Decisão



Eles se amam há tempos e isso não deveria ser triste, mas acaba sempre se tornando. Ele a conheceu de modo despretensioso, assim, como amigos, e como um ímã se atraíram, mesmo tendo vidas tão opostas, mesmo sendo tão presos em seus países, mesmo tendo todas as dificuldades de passaporte, de averiguações e questionários humilhantes e tristes, que te faz lembrar que o seu país já foi um lugar legal para estar, mas que agora já não é, e está frio, desolado, que, sozinho você não encontra motivos para permanecer, mas  eles insistem nisso em função do patriotismo, da jura à bandeira, do hino que um dia foi tão belo e fazia tão bem, transmitia tanto orgulho de se pertencer a essa terra.

Assim são eles, não podem estar juntos por muito tempo, mas quando o fazem, apesar dos contrastes, e da tristeza que vem depois com a despedida, eles sempre enfrentam tudo e acontecem.

Depois de um encontro, perfeito, onde a dança dos contrastes e toda euforia contida se extravasa, eles olham um para o outro e não conseguem falar, apenas se contemplam e seus pensamentos são do momento, sem projetos futuros, sem cobranças, sem amadorismo.

Eles sabem o que fizeram antes, tudo errado e de forma errada em seus países, e, de forma alguma querem repetir os mesmos erros, ao menos nestes breves instantes de troca, de sinceridade, de segredos repartidos em cumplicidade, momentos estes que estão prestes a acabar, pois o tempo pinga lento, mas avança, sem sequer se comover com sentimentos, apenas se esvai.

Eles têm que se despedir e voltar aos seus países.

Eles não se verão mais, agora existe uma nova lei, que os proíbem de transitar onde antes transitavam. Algumas dessas leis já os impediram de se encontrar antes, mas eles sempre davam um jeito, desde passaportes falsos, até arrumarem empregos temporários no país de seu amor, somente para se encontrarem.

Essa lei na verdade não rege nada por tempo duradouro e muito menos é eficaz.

Juras a bandeira não são nada.

Promessas de morrer por sua pátria (até que a morte os separe) não são nada.

Mas mesmo não sendo nada e tendo motivos para desobedecer, e razões de sobra para burlarem tudo outra vez, escolheram não mais fazer o que faziam, ambicionando apenas uma coisa: parar enquanto tudo foi bom, enquanto só há recordações belas e sorrisos puros, e ter isso assim, tão honestamente lindo e proibido guardado na memória, num cômodo muito especial, trancado e protegido.

Eles agora, em seus países, estão contemplativos, com saudade, olhando as estrelas, sorrindo e lembrando que valeu a pena.

Eles não vão descumprir o acordo, eles não vão arriscar perder o que criaram, mesmo que a abstinência dos ares antes vividos os deixe insanos ou até os matem.

Uma decisão.

Christiano Buys


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