Simples



 

Entre as muitas coisas em que se deveria ver a simplicidade de Cristo nos crentes, uma de grande importância diz respeito à forma de se reunirem para o culto a Deus.

O modelo de se reunir em lares da Igreja Primitiva livrava os crentes de muitas dores e de ficarem expostos a várias tentações, que seriam decorrentes do cuidado por um patrimônio acumulado na construção e no funcionamento de templos.

Veja quantos pecados foram e ainda são cometidos pela Igreja Romana, em prol de preservar a enorme estrutura patrimonial e organizacional que foi montada pela mesma.

Em nome do zelo pela Igreja de Cristo pessoas são feridas e têm sua reputação atacada, em razão de se manter a estrutura organizacional dos templos e das denominações.

No meio protestante, é muito comum o caso de um grupo de crentes começarem um trabalho que normalmente é designado por ponto de pregação, e depois, com o passar do tempo, os crentes começam a investir na construção de um local de reunião e no provimento de mobília e instrumentos musicais e de som para o mesmo.

De repente, o líder da Igreja mãe ou da denominação indica uma liderança para aquele trabalho, estranha aos crentes da congregação.

Isto, geralmente, dá ocasião a suspeitas e ressentimentos, especialmente nos membros da referida congregação que alegarão que afinal de contas, não receberam qualquer ajuda da Igreja mãe ou da denominação, e que tudo foi construído e adquirido com o dinheiro deles.

Digamos que o pastor que foi indicado para dirigir o trabalho daquela congregação fosse jovem, ingênuo e inexperiente. Ele estaria procurando dar o melhor de si, enquanto estariam muitos dos membros da congregação difamando-o e acusando-o de ser espião da Igreja mãe ou da denominação.

No meio de tudo isto, onde fica o espírito de amor cristão, de unidade, e da simplicidade devida a Cristo?

Modelos complexos trazem consigo muitas tentações às quais os crentes ficarão expostos, e com a simplicidade do modelo de reunião em um determinado lar, com um número reduzido de pessoas, jamais haverá tal risco de se pecar por causa das contingências da estrutura que foi montada de maneira complexa e segundo o modelo de organização do mundo.

“Estes pratos, talheres e panelas foram ofertados por mim à igreja, e exijo que se faça um controle adequado do uso dos mesmos.” Já ouvi este tipo de coisa quando dirigia uma congregação que se encontrava nas condições a que me referi anteriormente.   

 “O meu filho vem de uma família de renome na denominação, e por isso deve ser o pastor da igreja.”. Não somente já ouvi isso, como testemunhei todo o empenho em manobras que foi feito pela citada família para que aquela afirmação se tornasse realidade, como de fato ocorreu.

Disputas por cargos e posições na Igreja por causa do fascínio despertado pelo grande número de membros, e a tentação de exercer governo sobre os mesmos.

Desconfianças e suspeitas quanto aos que administram os bens da igreja e o dinheiro da tesouraria.

Tudo isto era evitado no modelo da reunião da Igreja em lares da Igreja Primitiva.      

Assim como a nação de Israel rejeitou ao profeta Samuel pedindo para si  um rei como o tinham as demais nações, de igual modo, a Igreja de Corinto foi tentada pelo mesmo tipo de sentimento de rejeição porque não lhes agradava a simplicidade da itinerância do apóstolo Paulo e dos seus cooperadores, bem como da simplicidade dos demais dirigentes daquela Igreja. Eles sonhavam com apóstolos renomados provindos diretamente da Igreja mãe de Jerusalém. Eles queriam uma estrutura sofisticada para a organização do culto, baseada nos seus princípios filosóficos, e não na ordenança de Cristo para o funcionamento da Sua Igreja.

Foi por isso que o apóstolo Paulo lhes proferiu as palavras de II Cor 11.2-15:

 

“2 Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo.

3 Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo.

4 Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais.

5 Porque suponho em nada ter sido inferior a esses tais apóstolos.

6 E, embora seja falto no falar, não o sou no conhecimento; mas, em tudo e por todos os modos, vos temos feito conhecer isto.

7 Cometi eu, porventura, algum pecado pelo fato de viver humildemente, para que fôsseis vós exaltados, visto que gratuitamente vos anunciei o evangelho de Deus?

8 Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder servir,

9 e, estando entre vós, ao passar privações, não me fiz pesado a ninguém; pois os irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram o que me faltava; e, em tudo, me guardei e me guardarei de vos ser pesado.

10 A verdade de Cristo está em mim; por isso, não me será tirada esta glória nas regiões da Acaia.

11 Por que razão? É porque não vos amo? Deus o sabe.

12 Mas o que faço e farei é para cortar ocasião àqueles que a buscam com o intuito de serem considerados iguais a nós, naquilo em que se gloriam.

13 Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo.

14 E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz.

15 Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras.”

 

No modo de pensar dos coríntios, o que eles queriam era apenas o que era melhor para a Igreja. Todavia, na busca deste melhor segundo o mundo, eles estavam cheios de invejas, ciúmes e divisões.

Sequer comunicaram com as necessidades materiais do apóstolo Paulo, e no entanto, se gloriavam na carne pelas coisas que estavam fazendo.

Não é raro este tipo de comportamento na maioria das Igrejas, nas quais as necessidades dos membros são ignoradas em prol da melhoria do seu patrimônio.

Coisas que serão desfeitas pelo tempo substituem as coisas que são eternas e de real valor para nosso Senhor Jesus Cristo.

Para estes que amam as riquezas deste mundo soam como um grande estrondo em seus ouvidos as palavras proferidas pelo apóstolo Tiago:

 

“1 Atendei, agora, ricos, chorai lamentando, por causa das vossas desventuras, que vos sobrevirão.

2  As vossas riquezas estão corruptas, e as vossas roupagens, comidas de traça;

3  o vosso ouro e a vossa prata foram gastos de ferrugens, e a sua ferrugem há de ser por testemunho contra vós mesmos e há de devorar, como fogo, as vossas carnes. Tesouros acumulastes nos últimos dias.

4  Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos.

5  Tendes vivido regaladamente sobre a terra; tendes vivido nos prazeres; tendes engordado o vosso coração, em dia de matança;

6  tendes condenado e matado o justo, sem que ele vos faça resistência.” (Tg 5.1-5) 

 

Há uma pureza e uma simplicidade que são devidas pelos crentes a Cristo, porque nosso Senhor é puro e simples.

Deste modo, bons pastores devem se empenhar em trazer os membros de suas congregações na referida pureza e simplicidade.

Eles devem rejeitar e evitar as tentações que há em juntar bens terrenos, ainda que seja na Igreja, porque será nestes bens passageiros que estará o coração, contra o mandamento de Cristo de termos o nosso coração nas coisas que são espirituais, celestiais e eternas, e não nas que são terrenas e passageiras.

A prioridade na vida cristã está na pregação da verdade e no crescimento dos crentes no amor de Cristo, e não na acumulação de bens e posições através da criação de estruturais organizacionais e instituições que seguem o modelo das empresas do mundo. 

 

Pr Silvio Dutra


Autor: Silvio Dutra


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