Os impactos na subjetividade materna com o nascimento de uma criança...



OS IMPACTOS NA SUBJETIVIDADE MATERNA COM O NASCIMENTO DE UMA CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOTERAPIA CENTRADA NA PESSOA

IMPACTS ON MATERNAL SUBJECTIVITY WITH THE BIRTH OF A CHILD WITH DOWN SYNDROME: CONTRIBUTIONS OF THE PERSON-CENTERED PSYCHOTHERAPY

 

Ângela Jordão de Albuquerque Queiroz[1]

Severino Ramos Lima de Souza2

 

Resumo: O presente artigo discorrerá acerca da síndrome de Down, dos impactos que envolvem a subjetividade materna quanto ao nascimento de uma criança deficiente e das contribuições da Psicoterapia Centrada na Pessoa para as mães que vivenciam tal situação. Tem o objetivo de esclarecer questões referentes à referida síndrome, possibilitando extinguir o estigma que o Down carrega em sua vida. Serão expostas as possibilidades de intervenção do psicólogo da Abordagem Centrada na Pessoa, como forma de ajudar as mães que deram à luz a uma criança com síndrome de Down a encarar tal realidade da melhor maneira possível.   

Palavras-Chave: Síndrome de Down. Subjetividade materna. Psicoterapia Centrada na Pessoa.

 

Abstract: This article speaks about Down Syndrome, impacts involving maternal subjectivity as the birth of a handicapped child and of the contributions of the person-centered Psychotherapy for mothers who experience such a situation. Aims to clarify issues relating to that syndrome, allowing extinguish the stigma that the Down loads in your life. Will be exhibited the possibilities for intervention by the psychologist of the person-centered approach as a way to help mothers who have given birth to a child with Down syndrome to face this reality in the best possible way.

Keywords: Down syndrome. Maternal subjectivity. Person-centered psychotherapy.

 

INTRODUÇÃO

Acredita-se que ao abordar este tema, conhecendo-o e esclarecendo questões relativas ao mesmo, possibilita desconstruir o estigma que o Down carrega em sua vida. É bastante instigante, chama atenção e merece ser estudado por se tratar de seres humanos os quais não pediram para nascer com esta condição e nem a mãe pediu ou é responsável por esta situação.

Ao pesquisar sobre o nascimento de uma criança com síndrome de Down e os impactos na subjetividade materna, nota-se que há muitos aspectos importantes que precisam ser discutidos. Um desses aspectos diz respeito à maternidade. A importância para muitas mulheres de ser mãe e o choque quando descobrem que darão à luz a um bebê com síndrome de Down.

Viu-se a necessidade de discorrer acerca desta síndrome, com o intuito de conhecê-la melhor. É importante destacar e discutir sobre os diversos sentimentos negativos da mãe quanto ao nascimento de uma criança com síndrome de Down.

E, por fim, relatar sobre a importância das contribuições oferecidas pela Psicoterapia Centrada na Pessoa, destacando os conceitos e as atitudes do psicólogo desta abordagem. Visto que o apoio psicológico se torna primordial ao lidar com a subjetividade materna referente ao nascimento de um filho com síndrome de Down.

 

Maternidade e a síndrome de Down         

Segundo Maldonado (1984), a decisão de ter um filho é decorrente de vários motivos. Dentre estes há a concretização do desejo de continuidade, o aprofundamento de uma relação homem-mulher, o medo de ficar sozinha, a competição com irmãos que têm filhos, dentre outros. Mas percebe-se que anterior a tais desejos há uma construção social que legitima a condição de ser mãe. Visto que desde criança a mulher é estimulada para a função materna, a partir das brincadeiras com suas bonecas. Função esta que continua sendo reforçada pela cultura e pela sociedade.

             Couto (2007, p.10) acrescenta:

 

A maternidade em nossa cultura é bastante valorizada. Muitas mulheres só se encontram realizadas efetivamente ao serem mães. Várias sonham com este momento antecipando-o em sua infância com brincadeiras de faz-de-conta: ao brincar com bonecas, ao cuidar dos irmãos menores, nas conversas com as amigas durante a adolescência, ou mais tarde com seu companheiro amoroso.

 

Ainda de acordo com o autor citado, há uma associação sob a forma de condições de possibilidade, derivada da nossa sociedade ocidental, em relação ao feminino e à maternidade: o feminino como condição de possibilidade para o materno, e o materno como condição de possibilidade para a feminilidade.

Maldonado (1984) afirma que existem pressões diretas e indiretas que criam uma situação em que, ter um filho, é um acontecimento natural e inevitável para algumas mulheres. Haja vista que a mãe é a figura cultural onde se exaltam suas virtudes, é o espaço de maior legitimidade social para o sexo feminino.

Brazelton e Cramer; Klaus e Kennell (apud TEIXEIRA, 2007, p.30) complementam:

 

O nascimento de uma criança, principalmente a primeira, inaugura definitiva e concretamente a maternidade, e esse fato vem acompanhado de todo status e toda a pressão social do papel de mãe. A mulher se vê obrigada a abandonar o seu papel de filha e assumir o de mãe.

 

Para um melhor esclarecimento a respeito da síndrome de Down, viu-se a necessidade de citar o conceito de síndrome e, posteriormente, discorrer acerca desta com o intuito de conhecê-la melhor. 

Batista (1987) afirma que a palavra síndrome significa um conjunto de características que prejudica de algum modo o desenvolvimento da pessoa.

            A síndrome de Down, por sua vez, foi relatada pela primeira vez em 1866 por John Langdon Haydon Down. Foi primeiramente nomeada como mongolismo e depois adaptada para síndrome de Down, em homenagem ao seu descobridor. Foi a primeira anomalia cromossômica detectada na espécie humana, após ter sido demonstrada a presença de um pequeno cromossomo acrocêntrico adicional, identificado como cromossomo 21 (BATISTA, op. cit.).

O referido autor explica:

.

Toda pessoa tem seu corpo formado por pequenas unidades chamadas células, que só podem ser vistas ao microscópio. Dentro de cada célula estão os cromossomos, que são os responsáveis por todo o funcionamento da pessoa. Os cromossomos determinam, por exemplo, a cor dos olhos, altura, sexo. Cada uma das células possui 46 cromossomos que são iguais dois a dois, quer dizer, existem 23 pares ou duplas de cromossomos dentro de cada célula. Um desses pares de cromossomos, chamado de par número 21, é que está alterado. A criança com síndrome de Down possui um cromossomo 21 a mais, ou seja, ela tem três cromossomos 21 em todas as células, ao invés de ter dois. É o que chamamos de trissomia 21. (BATISTA, 1987, p. 2)

 

Para Mustacchi (apud TEIXEIRA, 2007) a síndrome de Down é considerada a mais frequente das síndromes genéticas, independente de fatores raciais ou sócioeconômicos, e é a causa mais comum de deficiência mental.

Teixeira (op. cit.) afirma que a síndrome de Down interfere de maneira significativa no desenvolvimento motor e intelectual e, de forma indireta, pode interferir no desenvolvimento emocional de seus portadores.

Para Batista (1987), a síndrome de Down é essencialmente um atraso do desenvolvimento, tanto das funções motoras do corpo, como das funções mentais.

Matos et al. (2006) relatam que a síndrome de Down ou Trissomia do 21 é a anormalidade cromossômica mais frequente em seres humanos, sendo a mais observada na faixa etária pediátrica, apresentando diversas alterações fenotípicas, comportamentais, desenvolvimento, alterações de órgãos e sistemas, e de deficiência mental.

Clausen (apud SPROVIERI e ARAÚJO JUNIOR, 2005) diz que há um comprometimento na estruturação de habilidades sensoriais, motoras e perceptuais.

Amaral (apud TEIXEIRA, 2007) comenta que os indivíduos com esta síndrome apresentam características que chamam a atenção como: traços faciais pequenos, rosto achatado, olhos amendoados e separados, uma linha única na palma de uma ou ambas as mãos, dedos curtos, entre outros.

A respeito do diagnóstico da síndrome de Down, Moeller (apud TEIXEIRA, op. cit.) diz que já é possível logo após o nascimento, devido às características peculiares da síndrome, ou, em alguns casos, até antes, no pré-natal, através do ultra-som morfológico.

Diante disso, serão destacados posteriormente os sentimentos maternos ocasionados pelo impacto do nascimento de uma criança com síndrome de Down.

 

O nascimento de uma criança com síndrome de Down: os impactos na subjetividade materna

Sabe-se que quando a mulher decide ter um filho, parece ser o desejo de se tornar mãe. A gravidez gera expectativas quanto à criança: o sexo do bebê, a cor dos olhos, se o cabelo vai ser parecido com o da mãe, enfim. São feitos projetos com relação à criança que ainda vai nascer.

            Segundo Terrassi (1993), o nascimento de um filho envolve diversos sentimentos. Já o nascimento de um filho deficiente provoca a destruição das fantasias familiares, substituindo seus sonhos por dúvidas e anseios frente à criança com deficiência.

Sprovieri e Araújo (2005) dizem que:

 

Os pais anseiam pela “criança perfeita”, saudável, vigorosa, esperta e cheia de energia, o suficiente para efetivar seus sonhos por eles não realizados. Quando uma criança nasce com alguma inabilidade, esses sonhos e fantasias podem morrer de forma dolorosa (SPROVIERI e ARAÚJO, 2005, p. 96).

 

Com o diagnóstico de que a criança nascerá com a síndrome de Down, a mãe se sentirá angustiada e sem saber o que fazer. Muitas têm sensação de culpa, e outras emoções surgem inevitavelmente.

Para Amiralian (1986), a decisão de ter um filho se relaciona diretamente com a realização de desejos da mãe, das suas necessidades e com as gratificações e recompensas que a criança poderá lhe trazer. E quando estes desejos não são concretizados surgem vários sentimentos negativos como: frustração, culpa, vergonha e medo.

Melero (apud TEIXEIRA, 2007) afirma que, na maioria das vezes, a sensação de frustração é causada pelo impacto da notícia, o que pode comprometer de forma significativa as primeiras relações da mãe e seu bebê.

O sentimento de culpa, para Couto (2007), é um fantasma quase sempre presente. Mesmo quando não há motivos reais para este sentimento, a mãe está sujeita a sentir culpa. Segundo a referida autora, descobrir se há algum culpado também não soluciona a situação, pois a criança continuará deficiente.

A vergonha, por sua vez, está atrelada aos sentimentos de humilhação, desonra e descrédito aos olhos dos outros. Pueschel (2003) acredita que muitas mães temem que o fato de ter um filho com síndrome de Down, de alguma maneira, reflita em sua competência e que possam ser vistas diminuídas na opinião de outras pessoas por ter gerado uma criança deficiente mental.

Para Buscaglia (2002), uma emoção comum é o medo. Acompanhado do medo vem a incerteza em relação à criança, à deficiência, às reações das pessoas, enfim. Incerteza quanto ao seu papel materno e capacidade, ao seu futuro e ao do filho.

Desde a gestação até o nascimento, são geradas várias expectativas em relação a este filho. Se ele, ao nascer, apresentar alguma deficiência, representará para sua mãe a quebra de suas idealizações em relação a uma criança imaginária, ou seja, o filho saudável, possuidor dos mais diversos planos que ela acreditou (ARAÚJO, 2004).

Matos et al. (2006) afirmam que o nascimento de uma criança sindrômica traz consigo diversas implicações no contexto familiar, sendo a mãe que sofre o maior impacto, desde o choque inicial frente ao diagnóstico, à percepção, através do convívio, das limitações típicas da síndrome.

Para as mães que deram à luz a uma criança com síndrome de Down, o nascimento do seu filho pode ser um momento de lágrimas, desespero, confusão e medo. Pode ser uma mudança radical no estilo de vida materna, cheia de mistérios e problemas. Pois a mãe projeta uma criança em sua mente e, desde o princípio da gravidez, fantasia sobre o sexo do bebê, o desempenho na escola, a carreira, a orientação sexual que irá ter.

Oréfice (apud TEIXEIRA, 2007) destaca a problemática de que a mãe, geralmente, é a figura mais afetada no caso do nascimento de crianças portadoras da síndrome de Down, fato este inerente à própria natureza feminina ligada à gestação e à maternidade. Na maioria dos casos, a mãe é a única a oferecer cuidados especiais ao filho com deficiência mental. Em consequência ela fica sobrecarregada, com menos oportunidade para relaxar e interagir com os demais membros da família.

Contudo, o presente artigo abordará as possíveis contribuições da atuação do psicólogo da Abordagem Centrada na Pessoa para ajudar a mãe a lidar da melhor maneira possível com o nascimento de uma criança com síndrome de Down. 

 

Contribuições da Psicoterapia Centrada na Pessoa

Viu-se que o nascimento de uma criança deficiente confronta todas as expectativas da mãe e está geralmente associado à dor, ao sofrimento e ao luto. O papel do psicólogo, no processo de ajuda psicológica é dar apoio à mãe, auxiliando-a na superação dos sentimentos negativos viabilizando o estabelecimento da díade mãe-bebê. 

Uma mãe é, em primeiro lugar, uma pessoa. A pessoa que traz ao mundo uma criança com síndrome de Down recebe um novo papel, tornando-se, por extensão, uma mãe especial. O nascimento de um filho deficiente fará com que enfrente um desafio único, do qual não tomaria conhecimento se fosse um bebê perfeito.

Couto (2007) afirma que enfrentar os olhares na rua, ou o seu desviar assustado, não escutar frases de entusiasmo em relação ao bebê, tão esperados pela mãe, fazem com que ela se sinta solitária em sua nova tarefa para a qual, na grande maioria das vezes, não estava preparada.

Daí a importância fundamental de apoio e compreensão, que encontrará no psicólogo, para que a mãe possa se encontrar em seu papel e restabelecer a importância de sua existência e acolhimento para o bebê recém-chegado.

Para Solnit e Stark (apud CAVALCANTI, 2006, p. 228), “é importante a necessidade da mãe de chorar a perda do filho esperado”. Com isso, expressam um sentimento de luto. É a perda do filho sadio. O enlutamento, segundo os autores citados, é normal e terapêutico, no sentido do sepultamento do filho que não mais existe. Esse sentimento acarreta muito sofrimento, porém permite que a mãe encare o filho como ele realmente é, sem ilusões.

Contudo, na Abordagem Centrada na Pessoa há o conceito de Vida Plena que Rogers (1961) afirma como sendo:

 

O processo de movimento numa direção que o organismo humano seleciona quando é interiormente livre para se mover em qualquer direção e as características gerais dessa direção escolhida revelam uma certa universalidade. A Vida Plena é um processo, não um estado de ser: é uma direção, não um destino (ROGERS, 1961, p. 165).

A mãe, durante o processo terapêutico, tem a liberdade de se movimentar em qualquer direção. Esta direção, para ela, diz respeito a aceitar a realidade, de que seu filho tem a síndrome de Down, e saber lidar com a situação. Ou seja, a mãe se movimenta da rigidez para a fluidez, no processo terapêutico, para daí atingir a vida plena.                                                                                                                                      Para a mãe, o nascimento de uma criança com síndrome de Down traz à tona uma série de complicações advindas de sentimentos de culpa, rejeição ou desespero. Isso faz com que as mães procurem ajuda profissional no sentido de buscar informações, desabafar e recuperar a organização interna.

A psicoterapia centrada na pessoa foca o indivíduo e não o problema. Rogers (1997, p.28) coloca que:

 

O objetivo não é resolver um problema particular, mas ajudar a pessoa a desenvolver-se para poder enfrentar o problema presente e os futuros de uma maneira mais perfeitamente integrada. Se puder alcançar suficiente integração para lidar com o problema de uma forma mais independente, mais responsável, menos confusa e mais bem organizada, será capaz de lidar também da mesma maneira com os novos problemas que surgirem.

 

O impacto da doença do filho sobre a mãe provoca uma demanda de ordem emocional e relacional que é preciso recorrer à ajuda externa. O profissional de psicologia, por sua vez, intervém com a intenção de amenizar o sofrimento dessa mãe, estimulando a livre expressão dos sentimentos em relação ao problema. E essa liberdade é provocada pela atitude amigável, interessada e receptiva do terapeuta desta abordagem. Ele leva o cliente a sentir que aquela hora é verdadeiramente sua, que pode usá-la como quiser.

A condição de não falar sobre o sofrimento leva a um terrível isolamento. Com isso se verifica a necessidade de buscar ajuda psicológica. Na psicoterapia centrada na pessoa, as mães de crianças deficientes mentais são acolhidas e os seus sofrimentos amenizados. Tem-se como apoio as principais atitudes do psicólogo desta abordagem que irão proporcionar um tratamento apropriado às mães que se encontram nessa situação.

Gusmão (1999) cita a autenticidade como uma das atitudes do psicoterapeuta da Abordagem Centrada na Pessoa, a qual na relação com seu cliente o terapeuta será transparente, fluido e não nega a si mesmo. Outra atitude que irá auxiliar no processo com mães de crianças com síndrome de Down é a atenção ou aceitação positiva incondicional, pois o profissional exprime o respeito e a aceitação do mundo existencial do cliente, tal como este se apresenta, acolhendo e dando atenção, aceitando-o como ele é. Não é concordar com tudo o que a pessoa faz, mas acolhê-la na sua experiência. E por fim, a empatia que diz respeito à capacidade do terapeuta em ser sensível para captar os significados subjetivos do mundo existencial do cliente.

É através dessa compreensão empática que o terapeuta tenta aprender o máximo possível acerca do modo como o cliente vê o seu mundo, haja vista que é só ele quem conhece seu próprio campo existencial.

Cavalcanti (2006) salienta que mães de todas as raças, idades, classe social apresentam reações que representam padrões tradicionais. São: negação, culpa, confusão, raiva, desespero, ambivalência.

São sentimentos vividos que, apesar de serem reações emocionais extremas, podem ser considerados positivos, porque permitem enriquecer a experiência humana. Na Abordagem Centrada na Pessoa, há o conceito da Tendência Atualizante que Rogers e Kinget (1975) afirmam que todo organismo é animado por uma tendência inerente a desenvolver todas as suas potencialidades de modo a fornecer-lhe a conservação e o enriquecimento.

Ou seja, a mãe tenta abstrair desses sentimentos aquilo de melhor, como aprendizado, para atingir seu crescimento pessoal. E com isso, fazer com que ela lide com a situação da melhor maneira possível.

No entanto, compreender como as mães vivenciam a síndrome é fundamental, uma vez que a forma como o bebê percebe os sentimentos maternos e futuramente os fatos de sua realidade determinará a forma como ele possivelmente interagirá com o mundo.

É imprescindível que o psicólogo perceba e ajude a mãe de uma criança com síndrome de Down a se ver primeiramente como pessoa, igual a todas as outras, com as mesmas forças e limitações. Mas vale ressaltar que para o terapeuta descobrir, diagnosticar e tratar dos problemas da pessoa é preciso que ela preste sua colaboração ativa ao processo.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Realmente deve ser bastante cruel e dolorosa a realidade de dar à luz a uma criança com síndrome de Down. No entanto, deve-se considerar que os sentimentos de medo, culpa  e ansiedade que acompanham a mãe, a priori, são apropriados. Afinal, são raros os seres humanos que aceitariam de imediato, sem se questionarem, um filho deficiente mental. Mas com as informações verdadeiras a respeito da síndrome e um acompanhamento psicológico para lhe fortalecer emocionalmente, a mãe se vê capaz de aceitar e educar seu filho.

Com relação aos sentimentos maternos sobre a síndrome de Down, pode-se compreender que a estrutura emocional da mãe, necessária para o enfrentamento da nova situação, se constrói mediante o sentido que ela dá ao nascimento de seu bebê.

A psicoterapia centrada na pessoa é de suma importância, uma vez que possibilita a mãe encontrar este sentido, através do contato consigo mesma, com seus conflitos e com seus sentimentos. Pois a relação com nós mesmos é uma tarefa de construções e desconstruções, num projeto de vida.

O que foi apresentado neste artigo faz parte do drama humano e, como tal, requer atenção, acolhimento e constante estudo.

Por fim, almeja-se que este artigo tenha sugerido a possibilidade do ser humano redescobrir a vida, na dor e na alegria, quando se apreende e se aprende com aquilo de inesperado que se apresenta diante de seus sentidos.

 

REFERÊNCIAS

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ARAÚJO, Z. S. Repensando a relação mãe x criança especial. Monografia de Pós-Graduação, Faculdade Frassinetti do Recife (Fafire), Recife: 2004.

 

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CAVALCANTI, W. A. G. “Criar filhos com necessidades especiais: as palavras da mãe”. In: AMAZONAS, M. C. L. A., LIMA, A. O. e DIAS, C. M. S. B. (Org.). Mulher e família: diversos dizeres. Recife: Oficina do Livro, 2006. 

 

COUTO, T. H. A. M. A mãe, o filho e a síndrome de Down. Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica (PUC): Campinas, 2007.

 

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SPROVIERI, M. H. S. e ARAÚJO JUNIOR, F. B. Deficiência mental: sexualidade e família. Barueri: Manole, 2005.

 

TEIXEIRA, G. O. M. Síndrome de Down e maternidade: um estudo sobre os sentimentos encontrados nos relatos de mães de crianças portadoras da síndrome. Dissertação de Mestrado, Universidade Católica Dom Bosco (UCDB): Campo Grande, 2007.

 

TERRASSI, E. A família do deficiente: aspectos comuns e específicos contidos no relato de mães de crianças portadoras de diferentes deficiências. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de São Carlos (UFSC): São Carlos, 1993.    

 

 

 

 

 


1Graduada em Psicologia na Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE).

2Mestre em Psicologia Clínica pela UNICAP. Professor e supervisor de estágio do Departamento de Psicologia da FAFIRE.

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