Remédio Antimonotonia Parte 1- Felicidade x Prazer.



Remédio Antimonotonia.

 Parte 1- Felicidade x Prazer.

 

  Observe as chamadas dos comerciais, as paginas das revistas, os destaques dos jornais e etc. são variações do mesmo assunto: o vazio da existência humana preenchido pela capacidade infinita da indústria de produção de supérfluos. Uma vez que já nascem destinados a obsolência, celulares, tabletes, Iphones, carros, motos, processadores... são oferecidos como o resultado de um avanço tecnológico, embalados por um fetiche mercadológico que tenta nos fazer realmente esquecer que o produto que estamos adquirindo hoje, em seis meses ou menos, não valerá mais nada. A esta capacidade de produção do inútil dá-se o nome de tecnologia; aos futuros obsoletos dá-se o nome de sonhos de consumo analgésicos da existência.

 O vazio em que estamos alojados é tão grande que nem o esforço de tantas multinacionais a nos encher de produtos que não precisamos, pode ocupar por completo. Temos mais intimidade com robôs do que com humanos e na maioria das vezes gostamos mais deles do que dos humanos fracos e errôneos. Bestas eletrônicas.

 O que se tenta ocultar com tudo isso é a incitação, ou mesmo a fabricação, da necessidade de exteriorizarmos as experiências libidinais, de forma produtiva e controlada naquilo que chamamos de trabalho, como método humano de suportar a condição de auto exilio inconsciente. Assim eu me esqueço de tudo.

 Somos vitimados da necessidade de mais prazer na vida que não é “vida de qualidade”, pois esta implicaria questões ligadas à sustentabilidade e racionalidade entre outras coisas muito chatas, mas sim “qualidade de vida”, ou seja, uma gozação sem fim nem precedentes.

 Não felicidade, queremos mais prazer, pois felicidade é um estado coletivo de ventura (e nós não damos a mínima para o próximo), enquanto que prazer é individual e isto nos interessa o tempo todo desde quando éramos bebezinhos.

 O autoconhecimento não traz prazer, ou seja, o ato de conhecermos os verdadeiros impulsos ocultos em nossas ações cotidianas (as paixões boas ou paixões más como diria Espinoza) revela na realidade, o quanto egoístas temos de ser para que se realize plenamente cada impulso interior de prazer. E o quanto estes impulsos podem ser danosos a nossa autopreservação? O meu prazer (pessoal) independe de nossa felicidade (coletivo), portanto, eu tenho que escolher entre empenhar-me somente pela concretização do meu prazer, ou mediar minhas ações pela consciência coletiva e racional de felicidade.

 A felicidade é racional e coletiva, portanto não pode ser fruto de um surto coletivo de desejos reprimidos que afloram repentinamente, mas, sobretudo nasce do estudo sistemático da capacidade produtiva coletiva e da necessidade individual, assistindo assim a todos com uniformidade e justiça. A economia a serviço do homem.

  Uma vez gerado o conflito entre nossas convicções racionais e os impulsos ideologicamente construídos, embutiu-se no homem outra necessidade: a de não exteriorizar esta relação dicotômica conflitante “felicidade/prazer”, associando a elas o status de mero efeito no processo de aquisição e consumo dos bens, unindo-as nesta relação de maneira maquiavelicamente equivocada. Como efeito do consumo a felicidade passa a ser de propriedade exclusiva de camada social adquirindo um sentido excludente por si mesma. De outra maneira associada ao prazer adquire universalidade, porém perde seu caráter racional. Penso que o prazer sendo de origem libidinal, portanto límbica, está associado aos instintos primários e aplicado aos sentidos. Por isso não podemos confundi-lo com a felicidade que por sua vez é originaria de processos superiores da consciência sendo fruto de uma convergência cultural e, portanto, de ordem social e coletiva.     


Autor: Rafael Da Silva Tinoco


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