Educação: Um Processo De Inclusão?



"Se considerada a finalidade da educação escolar, em diferentes momentos, consideramos que a periodização não seja a mesma. Na Grécia antiga, a finalidade da educação era a formação de cidadãos para o exercício da vida na polis". (HENTZ, 2000, p. 09)

Os cidadãos mencionados na citação acima eram representados por homens que detinham o poder, ou ainda, somente homens livres tinham direito a participar da vida pública, excluindo desse direito as mulheres e aos escravos. À mulher cabia a função de "parideira" e dos cuidados da casa, já os escravos eram destinados ao trabalho braçal.

Por muito tempo não era de interesse desses homens livres das cidades gregas que todos exercessem a cidadania. Para que esses homens se mantivessem no poder, precisaria de outros para desenvolver os serviços burocráticos que o estado necessitava. Sendo assim, foi permitido a alguns o direito à escolarização. Lembrando que o trabalho bruto dos escravos e domésticos das mulheres não exigia escolarização para exercê-lo.

Inspirados na organização da sociedade grega algumas questões referentes a essa escolarização foram reformuladas. Sendo que o objetivo maior era manter o poder das famílias nobres, permitiam a escolarização a seus filhos desde pequenos. Com os devidos cuidados de manter a massa populacional longe da cultura selecionaram algumas pessoas da classe subalterna para serem formalmente educados e servirem o estado.

Portanto desde a antiguidade até o final da idade média, a educação escolar serviu para preparar uma classe dirigente na sociedade.

No século XVI, partes da população européia, não aceitando os valores impostos pela igreja de Roma, romperam criando novas igrejas cristãs, passando a ter novas posturas frente à educação escolar. Entendendo que o caráter misterioso do latim, privilégio da minoria não poderia continuar. Traduziam-se as escrituras sagradas para os idiomas nacionais. Foi este o fator que significou o fortalecimento da autonomia das nações.

Martinho Lutero possibilitou uma postura na educação frente ao fortalecimento das igrejas reformadas. A educação deveria ser direito de todos, para que todos pudessem compreender as escrituras sagradas e tivessem a salvação individual e vida eterna.

Com a nova postura na educação a finalidade escolar mudou, deixou de ser exclusividade dos nobres governantes, de seus filhos, dos plebeus responsáveis pelas funções ligadas ao estado e aos eclesiásticos.

No início da Ditactica Magna escrita por Comênio, o mesmo manifestou sua convicção de que tudo poderia ser ensinado e a todos, necessidades de construir escolas em todas as comunidades e educação para ambos os sexos. Mesmo parecendo que a partir de Comênio a educação teria uma abertura inclusiva, em que todos teriam acesso ao conhecimento, encontram-se restrições que nos faz pensar. A educação era para todos e ao mesmo momento excluía os cretinos, ou seja, pessoas com algum tipo de deficiência mental ficariam novamente sem direito à escolarização.

"A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra em 1750, no contexto econômico, e a Revolução Francesa, ocorrido a partir de 1789, no contexto político..." (HENTZ, 2000, p. 19) foram movimentos que causaram impactos no que nos referimos anteriormente.

A falsa idéia de que todos seriam iguais e livres no início do movimento liberal reforçam novamente a exclusão.

A igreja sendo proibida de educar e o estado assumindo que todos teriam os mesmos direitos perante a escolarização os interesses políticos que estavam permeando este princípio se contradiziam. Mesmo que no século XIX os trabalhadores tivessem mais ganho e o mesmo estudo que os patrões, não os tornavam livres e muito menos iguais na sociedade.

Com a introdução de uma reforma em que classes mais privilegiadas tivessem uma educação diferente, veio a comprovação de que os princípios citados no parágrafo anterior eram falsos, surgindo a partir daí o movimento da Escola Nova.

Gramsci critica os princípios de Escola Nova que privilegia o conhecimento para a classe dominante, e em contrapartida defende a idéia de uma escola Unitária, com o compromisso de romper com a hegemonia existente.

O que se pregava na educação até então era que não se poderia exigir dos menos privilegiados que se esforçassem intelectualmente na escola, pois os mesmos não conseguiriam aprender, ou até mesmo sofreriam se não conseguissem acompanhar o que o professor ensinasse, porque já eram "sacrificados" pela sociedade elitizada. Gramsci defende o contrário dizendo que a educação é um processo ativo, ou seja, que o sujeito só pode aprender à medida que elabora para si o saber que antes já era do outro, reforçando que todos poderiam aprender.

O pensamento socialista na educação foi, durante as décadas de 1980 e 1990, fator decisivo na recuperação dos sistemas públicos de ensino. Educadores brasileiros apropriaram-se da idéia de vários pensadores como Gramsci e Vygotsky para defender que a educação não é apenas utilitária, mas é, antes de tudo, um patrimônio da humanidade, sendo assim todos os seres humanos têm direito a tê-la. Então a educação não pode ser direito apenas de alguns, pois a história é feita pelo homem e a mesma o faz a partir da materialidade de cada tempo.

Pensar em inclusão é rever questões que em muitos momentos ficaram restritas apenas a introduzir no meio educacional portadores de alguma deficiência. Pois estar incluído não é apenas fazer parte do ambiente físico educativo, mas o direito de estar inserido no mesmo e aprender na relação e mediação com os sujeitos.

Mesmo com todas as contribuições de pensadores no decorrer da história, ainda hoje não se tem claro o conceito de inclusão como direito a todos ( sem restrições) à educação.


Autor: ROSANIA SOARES CARMINATI


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