BIBLIOTECA TUTORADA: UM ESPAÇO ABERTO PARA APRENDIZAGENS.



BIBLIOTECA TUTORADA:

UM ESPAÇO ABERTO PARA APRENDIZAGENS

 

 

 

BRITO, Sirlene Coelho de Lima

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CONCEIÇÃO, Marcilene Muniz

[email protected]

 

RODRIGUES, Eglen Silvia Pipi - UFMT

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Resumo

O presente trabalho apresenta um relato da experiência que é desenvolvida na Escola Estadual “Professora Sebastiana Rodrigues de Souza”, do município de Rondonópolis. A Escola desenvolve a Proposta Comunidades de Aprendizagem, realizada em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso por meio de um Projeto de Extensão Universitária. Uma Comunidade de Aprendizagem implica uma transformação social e cultural na escola e no seu entorno, envolvendo mudança de hábitos e atitudes das famílias, dos profissionais da educação (incluindo professores e professoras), de alunos e alunas e de toda a comunidade, a fim de construir uma escola onde todas as pessoas aprendam. Trata-se de uma atividade intitulada Biblioteca Tutorada, a qual tem como objetivo constitui-se, dentro do ambiente da escola – no espaço da biblioteca. Visa a ampliação de aprendizagem formal e não formal, potencializando de modo interativo, o alcance da aprendizagem escolar com a máxima qualidade possível e com isso busca aprimorar a aprendizagem dos alunos num ritmo interativo, construtivo e eficaz. Acontece por meios de encontros semanais e é praticada por pessoas voluntárias, professores, estagiários, alunos e outros agentes educativos da universidade, da comunidade e entorno. A orientação teórico–metodológica desta atividade concretiza-se a partir dos princípios da aprendizagem dialógica proposta por Flecha (1997), que estão diretamente relacionadas com a leitura, a escrita e a interpretação de textos. Os resultados da experiência até o momento indicam que a Biblioteca Tutorada, além de ser um espaço de intervenção no processo de ensino e aprendizagem, revela–se também como um espaço de interações, de convivência respeitosa e de domínio de conhecimentos necessários ao ser, estar e conviver consigo, com o outro e com o mundo.

 

Palavras chave: Biblioteca Tutorada. Interação. Aprendizagem.

 

Introdução

Biblioteca Tutorada é uma atividade pedagógica diferenciada a qual está inserida no Projeto Comunidades de Aprendizagem[1] aberta a toda comunidade escolar: direção da escola, articuladores pedagógicos, voluntários da universidade (estagiários, colaboradores etc.), professores, alunos, funcionários, familiares e pessoas que vivem ao entorno da escola sem distinção acadêmica.  Tal prática pedagógica se concretiza a partir do desenvolvimento de atividades voltadas para a prática e o estímulo à leitura, a expressão oral livre e orientada, a escrita, aos conteúdos escolares e as interações que favoreçam aos participantes o alcance de aprendizagens que alicercem suas condutas individuais e grupais, na escola para além dela.

De acordo com Mello (2004):

 

 

A Biblioteca Tutorada é um espaço aberto para todas as pessoas da escola e da comunidade e tem por objetivo comportar diferentes interações entre pais, familiares, alunos, professores, voluntários e funcionários, a partir das quais a capacidade de cada pessoa é valorizada respeitada e potencializada na interação.

 

 

As atividades desenvolvidas no espaço da biblioteca acontecem duas vezes por semana. O número de alunos que comparece aos encontros tem surpreendido a todos da escola. O interesse deles em participar do projeto tem sido uma motivação para o andamento do trabalho na Biblioteca Tutorada e nas demais atividades do Projeto Comunidades de Aprendizagem. Com relação às atividades propostas, estas se concretizam a partir do diálogo igualitário e estão diretamente relacionadas com a leitura, a escrita e a interpretação de textos e por base teórico-metodológica a aprendizagem dialógica, é composta por sete princípios que orientam as relações e ações numa Comunidade de Aprendizagem. São eles:

Diálogo igualitário: numa interação, o direito de fala deve ser garantido a todos. Os argumentos são apreciados em função de sua validade e não da posição de poder que ocupa o falante.

Inteligência cultural: refere-se à capacidade de aprender e/ou de aprender de diferentes maneiras. Todas as pessoas são capazes de participar de um diálogo igualitário, contribuindo com seus conhecimentos e aprendendo mediante a interação dialógica.

Transformação: aprender dialogando e valorizando tudo o que aprendemos em espaços coletivos, por meio do diálogo igualitário, cada pessoa percebe que pode se engajar em processos de transformação social.

Dimensão instrumental da educação: torna-se necessário garantir que todos possam ter acesso à dimensão instrumental da educação, analisando os conhecimentos escolares a partir de suas experiências e necessidades e transformando-os em instrumento para atuação mais autônoma na atual sociedade.

Criação de sentido: somos capazes de definir e de conduzir nossos próprios projetos de existência.

Solidariedade: os âmbitos dialógicos de aprendizagem são abertos à participação de todas as pessoas, ou seja, não há obstáculos acadêmicos garantindo direitos a todos.

Igualdade de diferenças: garantir a diversidade cultural e vice-versa, o direito de todos e todas obterem condições objetivas dignas de vida e de poder viver e pensar de maneira diferente.

Assim, a Biblioteca Tutorada tem como prioridade promover a reciprocidade entre os participantes, valorizando a capacidade de cada um, ou seja, cada participante tem algo a aprender e ensinar.

Os trabalhos realizados na Biblioteca Tutorada

A grande transformação que hoje ocorre dentro da escola Sebastiana advém da atividade realizada no espaço da biblioteca – a Biblioteca Tutorada. É possível constatar a veracidade disso por meio dos encontros que são realizados em turnos opostos aos dos educandos (horário contrário ao das aulas), devido ao grande número de participantes assíduos na biblioteca, principalmente dos que participam da atividade oferecida no período matutino. A atividade iniciou com oferta de um dia na semana e hoje, para atender a demanda dos alunos, passou a ser oferecida duas vezes por semana (terças e quintas-feiras).

No período matutino a biblioteca funciona terça-feira e quinta-feira, com duração de duas horas compreendendo entre as 7h às 9h e no período vespertino a biblioteca funciona na terça-feira também com duração de duas horas compreendidas entre 13h às 15h.

Como proposta básica, o trabalho geralmente se inicia com a acolhida das crianças e o encaminhamento para organização de um círculo de conversa, no espaço da biblioteca.

Em uma grande roda, sentados ou em pé, abre-se espaço para os cumprimentos entre os participantes, o resgate de situações de encontros anteriores, as leituras intencionais (fábulas, contos, informações, dinâmicas, etc.) e os relatos sobre as experiências vividas na semana e durante o final de semana. Esse espaço, com base no diálogo igualitário a fala de cada participante é garantida e respeitada. Momento em que reafirmamos os princípios da aprendizagem dialógica, base teórica em que todo o trabalho presente nas diferentes atividades pertencentes às Comunidades de Aprendizagem.

Esse momento é de fundamental importância, pois, além da ativação para o clima de trabalho ali desenvolvido, mantem-se a prática do diálogo igualitário, da solidariedade e do respeito entre todos do grupo.

Após o momento inicial, as crianças são conduzidas para realizar as atividades encaminhadas como tarefa de casa pelos educadores. Quando não trazem atividades, as crianças são orientadas em atividades trazidas pelas voluntárias, distribuídas conforme a idade e a série correspondentes.

Muitas coisas precisam ser combinadas com as crianças e é preciso lembrá-las sempre de que a biblioteca é um lugar para todos estudarem, lerem ou fazerem a tarefa e, portanto, é necessário manter silêncio para que ninguém seja prejudicado na sua atividade, bem como a organização do ambiente, pois é um ambiente de uso coletivo, não só deles, mas de toda comunidade.

Os alunos levam para o espaço da Biblioteca Tutorada suas dúvidas com os conteúdos estudados em sala de aula. Outras vezes, apresentam também algumas informações e nada é descartado, tudo é considerado e trabalhado e possibilitando a criação de novas ideias que, muitas vezes, contribuem para sanar as dúvidas e as dificuldades encontradas no processo de ensino e aprendizagem, potencializando assim, a máxima aprendizagem possível.

O trabalho é tão produtivo, que muitas vezes, ao final de cada encontro ficamos emocionadas com tanta dedicação por parte de cada aluno. Ao sentir e perceber que cada aluno busca seu melhor, sua forma, seu espaço, sua identidade. A atividade torna-se prazerosa e construtiva para todos, pois, muitas aprendizagens são ensinadas e também aprendidas entre todas as pessoas participantes.

Nos nossos encontros, é possível notar certa satisfação estampada no semblante de cada um, pois, em cada encontro, algum obstáculo encontrado no processo de aprendizagem é superado, ampliando e potencializando ainda mais a capacidade de cada um em aprender determinado conhecimento, determinado saber.

Em linhas gerais, o objetivo maior da Biblioteca Tutorada é o de permitir diversas interações entre alunos, pais, voluntários e funcionários, a partir das quais a capacidade de cada pessoa é valorizada, respeitada e potencializada na interação. Dentro do projeto, de modo particular, na Biblioteca Tutorada, acreditamos que todos têm algo a ensinar e a aprender.

O projeto não visa uma simples intervenção dos envolvidos no espaço da biblioteca. A atividade desenvolvida garante o resgate do sentido do processo de ensino e de aprendizagem, muitas vezes perdido dentre os longos calendários e dias letivos, ano após ano.

A perda de sentido do professor ou do aluno no espaço escolar ocorre, na maioria das vezes, quando o trabalho é desconexo, solitário ou para cumprir com a mera burocracia exigida nas instituições de ensino. À medida que o trabalho é compartilhado com outras pessoas, quando é pensado junto com o outro, maiores são as chances de solucionar as dificuldades e problemas encontrados no caminho (RODRIGUES, 2010).

Nesses encontros procuramos focar pontos positivos e também os negativos, onde precisamos melhorar o que podemos focar mais, o que buscar para uma maior interação do grupo, atividades desafiadoras, recursos, parcerias, potencialidade, para que tudo que está sendo trabalhado se aperfeiçoe ainda mais.

Vale ressaltar que, quinzenalmente são realizadas reuniões da Comissão de Biblioteca Tutorada, onde as pessoas colaboradoras (professoras, alunos da escola, funcionários, familiares, alunos da universidade etc.) se reúnem para avaliar como está sendo desenvolvida a atividade nos diferentes dias semana, tanto do período da manhã, quanto do período da tarde, ou seja, os pontos positivos (as coisas que dão bons resultados) e os negativos (tudo àquilo que se configura como problema no trabalho, ou seja, o que não está dando certo: dilemas enfrentados, conflitos nas interações, desrespeito, dificuldades de aprendizagem, agressões etc.).

A finalidade de uma reunião de comissão mista é de socializar entre todos, o trabalho realizado nos diferentes turnos e também, por meio do diálogo, ouvir a opinião e a ideia que cada um traz para a solução dos problemas e das dificuldades encontradas. Juntas, as pessoas desta comissão podem contribuir para a resolução de problemas. Quanto mais pessoas pensarem juntas a solução de um determinado problema, mais chances teremos de resolvê-lo.

Como já foi dito anteriormente, a Biblioteca Tutorada tem como referencial teórico a aprendizagem dialógica. Por esta razão, para que haja seriedade no desenvolvimento desta e obtenhamos sucesso, faz-se necessário que cada pessoa colaboradora na atividade realize estudos para se apropriar dos princípios exigidos para realização desta prática pedagógica.

Por esta razão, são realizados encontros de formação continuada com os professores. Uma vez que entendemos que teoria e prática caminham juntas e de que não existe ação sem reflexão e reflexão sobre a ação, buscamos estudar as fontes teóricas que fundamentam o projeto, bem como Biblioteca Tutorada, pois, estas nos auxiliam e nos ajudam a melhorar a nossa prática em sala de aula (MELLO, 2002).

No espaço de formação, procuramos discutir, trocar ideias, ampliar nossos conceitos, o nosso envolvimento sempre alicerçado em fontes teóricas que nos dão respaldos as nossas dúvidas e indagações.

Assim compreendemos que toda ação educativa destina-se a promover o desenvolvimento humano, a essa reflexão transformada em ação que nos impulsiona a nova reflexão.

Relatos dos participantes na Biblioteca Tutorada

O projeto está sendo desenvolvido e já temos resultados satisfatórios para compartilhar com todos. Desta forma, procuramos sensibilizar e convidar mais voluntários, mais pessoas que queiram ser colaboradoras desse processo de transformação da escola. Pessoas que queiram se solidarizar com a melhoria da aprendizagem de cada aluno.

Assim temos alguns relatos dos envolvidos neste projeto que esta sendo desenvolvido com êxito no espaço da biblioteca.

Quando uma das pessoas articuladoras pedagógicas da escola foi indagada sobre a sua expectativa em relação ao projeto na biblioteca tutorada, sua resposta foi a seguinte:

 

 

Percebi que as possibilidades de criar vínculos com a comunidade poderá aumentar significativamente, o que em minha opinião é um ponto relevante para que haja êxito no processo ensino-aprendizagem. É fato que são as relações que formam a escola, e nessa troca de conhecimentos é que construiremos uma escola que faça sentido para todos (Articuladora Pedagógica).

 

Quando perguntada sobre qual a visão que tinha sobre a escola após o processo de consolidação do projeto, a mesma deu a seguinte resposta:

 

 

Somos um grupo de profissionais audazes, pois abraçamos o projeto Comunidade de aprendizagem, mesmo cientes de algumas dificuldades, mas otimistas quanto aos resultados. Aos poucos houve avanços, algumas famílias já estão se aproximando da escola, demonstrando mais interesse pela vida escolar dos filhos e se envolvendo em certas atividades desenvolvidas na mesma. Evidenciamos também, que depois que iniciaram as atividades da Biblioteca Tutorada alguns alunos se sentem mais motivados para aprender (Articuladora Pedagógica).

 

 

Com base nas respostas obtidas em conversa com uma das articuladoras da escola, decidimos ouvir também qual era a visão dos alunos sobre essa mesma prática pedagógica.

Alguns alunos participam como voluntários na Biblioteca Tutorada. Quando três das alunas voluntárias, indagadas sobre qual era a sensação de ser uma pessoa voluntária na biblioteca, obtivemos as seguintes respostas:

 

 

A sensação é que eu estou me sentindo muito feliz de esta ajudando meus colegas e de ser útil... muito útil! (aluna/voluntária - 1).

É bom, pois podemos ajudar e compartilhar com os outros, coisas que sabemos e aprender o que eles sabem” (aluna/voluntária - 2).

Tenho uma sensação de felicidade (aluna/voluntária -3).

 

 

Todas as alunas que participam como voluntárias relatam que a cada dia que participam da biblioteca estão aprendendo muitas coisas que elas poderão utilizar no futuro.

Quanto aos alunos participantes da biblioteca ao serem questionados sobre o que estão achando da atividade, responderam que estão gostando muito. Falaram ainda que perceberam diferenças no processo de aprendizagem.

Um dos alunos nos diz que: “aprendi muita coisa legal, conheci muitos livros legais e eu aprendi a divisão direta que eu não sabia e fiz mais amigos”.

Outra aluna que freqüenta semanalmente a biblioteca disse: “estou percebendo que as coisas que eu às vezes não aprendo na sala eu aprendo na biblioteca e que a nossa aprendizagem está melhorando cada vez mais”.

A mãe de uma das alunas também relatou perceber contribuições no trabalho da biblioteca para a aprendizagem da filha: “percebi diferenças no desempenho da filha nas atividades e tarefas de casa. Percebi que ela procura ler mais enquanto está em casa”.

Com base nos depoimentos coletados, concordamos com Libâneo (2001):

 

 

A participação da família na organização escolar implica em novas formas de relação e práticas de descentralização, autonomia e corresponsabilidade, sendo o principal instrumento para assegurar a gestão democrática, o processo de tomada de decisão por todos os profissionais e usuários da escola e do bom funcionamento da mesma.

 

 

A participação dos familiares é de extrema importância para que o processo pedagógico tenha bons resultados. Para tanto, é necessário garantir a participação da comunidade nas atividades desenvolvidas na escola, na organização e na busca de alternativas para favorecer a aprendizagem de seus filhos e a qualidade do ensino.

 

Conclusões

 

Conforme o trabalho vem sendo desenvolvido, é possível perceber algumas mudanças, mesmo que ainda discretas. Percebemos, por exemplo, que algumas alterações têm ocorrido por meio das interações estabelecidas com os integrantes durante a atividade.

É possível notar, por exemplo, o aumento do respeito que as crianças passaram a ter pelas pessoas voluntárias e pelos próprios colegas. Outro ponto bastante visível foi com relação a timidez de algumas crianças que apresentavam dificuldades em se expressar e também em aprender. Essas crianças aos poucos foram deixando de lado a timidez, dando lugar à possibilidade de falarem, de se expressarem no grupo. À medida que foram percebendo que este espaço foi pensado para elas, as crianças passaram a relatar suas vivências escolares e extraescolares, a emitir opiniões e participar do processo de decisões.  

Ao mesmo tempo, as voluntárias passaram a perceber melhor a relação entre as crianças, identificando quem se colocava mais distante no grupo, bem como as que mais se destacavam. Essas percepções favoreceram a proposta de situações que viessem a contribuir com a inserção e a aceitação de todas as pessoas naquele espaço. Assim, foi sendo construída uma rede de solidariedade por parte dos próprios alunos, visto que algumas crianças deixavam de fazer a sua tarefa para ensinar e ajudar aquelas que tinham mais dificuldades.

A colaboração dos voluntários na Biblioteca Tutorada, para a melhoria da aprendizagem das crianças, possibilitou também a ampliação de seus conhecimentos, pois para que as atividades fossem mais bem aproveitadas, tiveram que pesquisar e procurar respostas para as dúvidas e inquietações sobre o trabalho na biblioteca, bem como possibilitou a reflexão sobre a prática na biblioteca o que foi falho e o que precisaria ser melhorado. Visto que essa reflexão também é levada para a prática em sala de aula.

Portanto, a mudança no comportamento das crianças, principalmente das que participam do projeto, podem ser claramente observadas pelas pessoas voluntárias, pelos professores (que em sua maioria também são voluntários, pois, auxiliam a atividade de Biblioteca Tutorada no período oposto ao de suas aulas) e também por seus familiares, que aos poucos estão se aproximando da escola e ganhando confiança no trabalho que está sendo feito com toda a comunidade. Por meio de atividades de leitura, escrita, tarefas os participantes são incentivados a desenvolver o hábito de estudar, se concentrar, escolher e selecionar o material correspondente aos seus interesses e dificuldades.

Neste espaço de aprendizagem dialógica, igualitária e de solidariedade nos educadores voluntários, percebemos transformações essenciais que estão fazendo grande diferença em sala de aula.

Percebemos mais respeito entre todos, liberdade de expressar suas dúvidas, dentro e fora do espaço da sala de aula, mais atitude e autonomia no trabalho escolar, mais participação dos pais e da comunidade em geral nas reuniões de pais e mestres,  atividades de grupo, solidariedade entre os alunos ao se apresentarem como voluntários na atividade de Biblioteca Tutorada no período matutino para ajudar os pequenos do período vespertino, com os conteúdos escolares.

Desta forma, é possível dizer que por meio das interações, possibilitadas através da participação de mais pessoas no processo de ensino e aprendizagem das crianças (estudantes, voluntários, familiares e educadores) estamos construindo uma escola mais democrática, mais participativa e de mais qualidade de ensino para todos e todas.

Sendo assim, entendemos que o trabalho da Biblioteca Tutorada é enaltecedor para toda a comunidade escolar, tendo em vista que ela não se preocupa apenas com os conteúdos escolares (alfabetização, leitura e escrita, conteúdos escolares em geral), mas com a interação, cuidando do modo como as relações vão sendo construídas para garantir o respeito e a boa convivência entre todos.

Reconhecemos que a busca por uma aprendizagem de qualidade não é apenas um desejo ou sonho de poucos, mas uma possibilidade real, cuja prática às vezes depende da solidariedade e do conhecimento que cada pessoa se dispõe a dividir e com o outro, também detentor de humanidade e aprendizagens.

Enfim, Biblioteca Tutorada, é um espaço aberto a todos, o qual permite estabelecer a interação entre diferentes pessoas e modos de ensinar e aprender, na qual a potencialidade de cada pessoa é valorizada e o conhecimento é construído coletivamente.

 

Referências

 

LIBÂNEO, José Carlos. A organização e a gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Editora Alternativa, 2001.

 

MELLO, Roseli R. de, BENTO, Paulo Eduardo Gomes, MARINI Fabiana, RODRIGUES, Eglen Silvia Pipi. Comunidades de Aprendizagem. In: (Re)conhecer diferenças, construir resultados. Organizado por Edison José Corrêa, Eleonora Schettini Martins Cunha, Aysson Massote Carvalho. – Brasília: UNESCO, 2004.

 

MELLO, Roseli Rodrigues de. Comunidades de Aprendizagem: contribuições para a construção de alternativas para uma relação mais dialógica entre a escola e grupos de periferia urbana. Universidade de Barcelona, Relatório de Pós-Doutorado, FAPESP. Barcelona: CREA, 2002.

 

RODRIGUES, Eglen S. P. Grupos Interativos: uma proposta educativa. Tese de Doutorado. Universidade Federa de São Carlos. São Carlos: UFSCar, 2010.

 

 

[1] As Comunidades de Aprendizagem englobam experiências em diversas escolas na Espanha: na Catalunha, Aragão, País Basco (onde se deu o ingresso da primeira escola espanhola no projeto), escolas no Brasil e também no Chile. Ao todo existem hoje 76 Comunidades de Aprendizagem no mundo, sendo duas em escolas de educação infantil, 64 em escolas de educação infantil e ensino primário, 7 escolas de educação secundária (ou ensino médio) e 3 escolas de pessoas adultas. Mais recentemente, a partir de janeiro/2012, o Projeto de Comunidades, passou a ser desenvolvido também no estado de Mato Grosso, o qual é coordenado pela professora Dra Eglen Silvia Pipi Rodrigues da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), no município de Rondonópolis, na Escola Estadual “Professora Sebastiana Rodrigues de Souza”.

 

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Autor: Marcilene Muniz Monteiro Conceição


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