SOLIDÁRIA SOLIDÃO



Solidária solidão

       (Inspirado na peça teatral Pirata na Linha) 

João teclava com Júlia que teclava com Fábio que teclava com Marcinha que teclava com Luciano, até este sumir do chat (deve ter ‘caído’ a conexão). Quem tem internet em casa e nunca entrou num bate-papo virtual, atire o primeiro vírus. No mundo dos modernos é comum nas madrugadas e dias inúteis (quando a tarifa telefônica é mais baixa) acessar à grande rede e, vez ou outra, passar um tempinho conversando virtualmente, quase sempre sobre bobagens, com alguma pessoa desconhecida e que, provavelmente, assim continuará. Depois de algum tempo, desliga-se o micro e volta-se ao mundo real, volta-se aos amigos ‘materiais’. Certo? Se você concordou com tal procedimento sinta-se feliz, ainda não foi dominado pela máquina.

Agora, imaginemos o ocorrido acima com uma pequena modificação no final da história. Ao desligar o computador e voltar ao mundo real você é uma pessoa sem muitos amigos, ou pior, sem amigo algum. Tem muito a dizer, mas ninguém para ser seu interlocutor. Comunicação é essencial ao ser humano, você sente falta dela. Sempre foi tímido, retraído, sempre foi o gauche. Com a internet você conseguiu, bem ou mal,  interação com outros humanos. Responda francamente: você desligaria seu micro ou voltaria ao bate-papo virtual?

A peça “Pirata na linha” está em                                                                                                            cartaz no ‘Teatro Popular do Sesi’, localizado na Av. Paulista, 1313 (no prédio da FIESP). O telefone para informações é (0auau11) 284.4473. Entrada franca. Quem puder assistir

 ela, vá. Vale a pena. Palavra de cachorro!

Pois é, muitos voltam. Muitos permanecem horas e mais horas preenchendo algum vazio com virtualidades, como se preenchessem com vento uma bexiga daquelas de aniversário. Seguem ao pé da letra o que é dito na propaganda do Pentium III: “Tá difícil na vida real? Faça na internet”. É claro que tudo na vida real é melhor, entretanto, não sendo possível, conforma-se com o ilusório. Questiono: devemos condenar tal postura, a de trocar o mundo real pelo virtual? Não sei se seria justo. Numa sociedade em que é preciso estar de acordo com inúmeros padrões para se ser bem aceito, não concordo em culpar um solitário pela sua solidão. Pergunto-me se o fato de não sermos mais tolerantes e de recearmos as diferenças não é determinante ao surgimento de habitantes do mundo virtual.

Para muitos a grande rede, que deixa a informação acessível ao seu usuário, interliga o mundo e encurta distâncias, entre outras coisas, não passa de um ponto para encontro de pessoas solitárias, as quais continuam dessa forma. Paradoxal? Pode ser. Assim como é paradoxal estar só na multidão. Há uma canção da ‘Legião Urbana’ chamada Esperando por mim que diz “Digam o que disserem/ o mal do século é a solidão/ Cada um de nós imerso em sua própria arrogância/ Esperando por um pouco de afeição”. A única diferença disso, que serve para as pessoas em geral, no mundo virtual (entre os que o adotam como fuga), é que nele, como é preciso haver com quem teclar, a solidão é solidária.


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