CARNES MORTAS



CARNES MORTAS

Antônio Padilha de Carvalho

Morar na cidade, viver a urbanidade, é como instalar-se no paraíso após a queda e assumir o compromisso de pagar por todos os pecados cometidos.

Depois que o comunismo pifou e o socialismo quebrou a cara, virou moda ser verde. Muitos são verdes só de lábios, no fundo, no fundo, eles acham uma frescura todo esse culto à natureza. O relativismo sempre existiu e sempre existirá em nossas vidas, independentemente de época. Verde ou vermelho, os atos são incolores.

Ser amiguinho de patrão é oferecer-lhe o direito de te mandar à merda e a gente não ter o direito de responder. Basta usar de bom senso e abrir bem os olhos, e veremos que a atual sociedade está agonizando. Quantos pulmões carentes de nicotina e alcatrão já não se foram? As cartas estão sendo colocadas nas mesas... a linguagem é universal, nesse ponto somos todos monoglotas.

A grande maioria dos pobres não gostam dos ricos. Com os ricos acontecem a mesma coisa. Dizem absurdos uns dos outros, mas nunca pela frente. Uns precisam dos outros, e o dinheiro é a argamassa que os une. Toda relação diplomática é falsa.

Quem possui passado e desejos inconfessáveis culpa a carne pelos comichões biológicos. Diante da luz e da sabedoria, os seres humanos são criaturas ridículas. Porcos com asas. Nas palavras e definições poéticas de Augusto dos Anjos: Pólipo de recônditas reentrâncias, larva de caos telúrico, universitários sanguessugas, miséria anatômica da ruga, solidariedade subjetiva, saliva cotidiana, bestas agrestes...

Muitos não são frutas porque ninguém quer fazer a colheita. O nosso paraíso é a nossa inconsciência. Quando ainda somos crianças, vivemos aquele Adão anterior à queda. Criança tem memória de gato: na presença, atenção; na ausência, esquecimento. Todos os dias são mortos milhões de Adãos mundo a fora. A consciência de mundo e do mundo torna-nos monstruosos. Somos solidários apenas diante do câncer. Quando é que vamos aprender que o sol não se põe, nós é que giramos ao seu redor.

Quem não tem educação como freio, quebra muitas caras, inclusive a própria. Infelizmente a vida não se pode levar com açúcar e afeto. Diabete mata e a falta ou exagero de afeto também.

  Já começou o afunilamento, a idéia é limpar geograficamente o planeta daqueles que vivem imersos nos seus umbigos. Estão evaporando... as flatulências estão por todos os lados. O sono pesado do álcool está acabando. Nada de banho à francesa pra quem está fedendo gambá assustado.

Luzes estão vindo! Confessar pra quem? Correr pra onde? Restando apenas o direito de gritar aos quatro cantos: reconheço-me como engrenagem de vísceras vulgares; sou a desarrumação dos intestinos; a podridão sempre me serviu de evangelho, tenho vocação para desgraça, sou animal inferior que urra nos bosques, sou esteira sarcófaga das pestes, represento o espólio dos dedos peçonhentos, a herança miserável de micróbios, sátiro peralta. Tudo que estou fazendo agora é justamente a coreografia da matéria, dos materialistas... Sinto que a matéria fenece, mas encontro-me mais vivo do que nunca.

 


Autor: Antonio Padilha De Carvalho


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