Contra-areia



contra-areia

 

A mata acaba, a faixa de areia começa

no limite em que a maré alta chega à noite.

A vegetação rasteira da mata acaba ali:

algum tentáculo de planta que tente ir mais longe

é lambido  pelas ondas.

 

Os corpos celestes vêm esfriando,

chispas, fagulhas, restos de explosão.

Assim como no fim de uma fogueira

toda substância vira cinza,

as montanhas, as plantas e os animais,

todo o remexido antigo do magma

que jogou substâncias quentes para cima

vem retornando pelos rios, pelas encostas,

pelo vento.

Tudo vira areia e sal, que é também areia.

 

Cada arrebenta-pedra que surge na calçada,

cada orelha-de-pau, todo amor, todo carinho,

toda a filosofia é uma antiareia,

um apelo pela substância,

pela continuidade.

 

As substâncias, a contragosto,

continuam se desfazendo em areia.

Matas serão devastadas,

erodirão as montanhas,

as paixões, as purezas, os seres, as certezas,

esgotar-se-ão os rios, as chuvas,

esfriará o globo, desligar-se-á o tempo

e ficará areia, areia, areia.

Os peixes, os seres do mar serão os últimos

a comer tudo que o que vier substância,

até que eles próprios também se desintegrem.

 

Sentido, existência, sentimento,

tudo é areia muito branca sob o céu muito claro.

Vida é um período de resistência da substância,

uma revolta contra a areia.

 

xiv.xi.xi.

Download do artigo
Autor: Roberto Jr Esteves Siqueira


Artigos Relacionados


O Príncipe

Filosofia De Bar

A Fonte

A Importância Dos índices De Acidez Ou Alcalinidade

Drogas E Transdisciplinaridade - Ainda Universos Paralelos

Ser Mineiro

Envelhecer