Natureza Morta



 

NATUREZA MORTA

Chego, finalmente, às geleiras.

Tudo que vejo

São camadas e camadas

De um branco sólido,

Impessoal,

Marcadas aqui e ali

Por rastros

De infelizes criaturas

Que como eu

Vagam sem rumo

Pelas imensidões geladas.

Uma parte de mim

Nasceu aqui,

Onde o dia é longo.

Outra parte

Morreu aqui

Onde a longa noite,

Que às vezes domina

O que sobrou,

Navega cada vez mais

Sem rumo.

Quando me será permitido

Abandonar esse invólucro

Que ainda julgo vivo?

Quando me será permitido

Unir todas as partes

Em uma só?

Sede, não sinto

Fome, tampouco.

Apenas o peso

De séculos, eras e períodos

Acumulam-se

Sobre meus ombros

Cada vez mais curvados.

Anseio pelo dia

Que não mais vaguearei.

Serei, um dia,

Apenas parte

Dessa natureza morta.


Autor: Carlos H.O. Filipe


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