AS OPORTUNIDADES E OS DESAFIOS PARA OS ECONOMISTAS NA AMAZÔNIA GLOBALIZADA



AS OPORTUNIDADES E OS DESAFIOS PARA OS ECONOMISTAS NA AMAZÔNIA GLOBALIZADA

Por Jesse Rodrigues

 Outro dia, uma discussão sobre as Ciências Sociais e a Globalização suscitou reflexões instigantes entre as quais a que ora escrevo. É que me pareceu que o tom da conversa convergiu para três conclusões intrigantes:

1) a Globalização é um processo que avança em direção à Amazônia, vindo dos países onde o capitalismo se encontra mais desenvolvido em busca das vantagens em termos de usos dos recursos naturais e humanos disponíveis na Amazônia;

2) por sua vez, o acesso a tais recursos, assume nos discursos que pudemos observar, está necessariamente associado ao seu uso deletério do ponto de vista ambiental e social;

3) isto ocorreria porque o capitalismo realiza movimentos de anexação inexorável de corações e mentes ao mesmo tempo em que subverte e passa a controlar as políticas de desenvolvimento locais – no caso as vigentes na Amazônia brasileira.

O que preocupa neste tipo de discurso é visão fatalista que o inspira, na qual o capitalismo avança sobre uma civilização passiva cuja reação mais frequente tende a ser a adesão incondicional aos ditames políticos, culturais e econômicos impostos de fora para dentro pelos agentes institucionais que operacionalizam tais avanços. A pergunta que fica é: onde está a dialética neste modo de pensar? Dito de outro modo, além da formas alvissareiras e ativistas, não existem alternativas de reação mais pró-ativas e efetivas?

Bom... Não ouso aventurar-me pelos meandros da análise sociológica, mas penso que há no discurso de muitos sociólogos um “quê” de resignação fatalista.

Em se tratando de Economia, o fatalismo está descartado e nos resta conjecturar desde os dados que dispomos a fim de propor premissas para uma ação racional orientada por fins e valores, no sentido Weberiano.

Neste sentido, atenho-me ao concreto vivenciado, neste caso, refletindo sobre o Curso de Ciências Econômicas – doravante apenas o Curso – desenvolvido em regime de projeto especial pela Universidade Estadual do Amazonas na modalidade presencial mediada. O que, por princípio, considero como uma inovação institucional que se apresenta como uma solução parcial para uma das debilidades crônicas do Sistema Socioecológico (SSE) do estado do Amazonas: a escassez de capital social. Especificamente, quando se trata desta forma de capital nos seus componentes Capital Humano e Capacidade Empresarial.

A expectativa é a de que o Curso culminará no aumento da disponibilidade deste fator de produção na medida em que, entre seus resultados, haverá cerca de 780 Economistas formados em 2014, com conhecimento técnico, habilidades e competências para elaborar projetos de desenvolvimento desde o nível familiar até o nível de governo local em 15 municípios do Amazonas. Em teoria, tal ação institucional provocará um deslocamento da Curva de Possibilidades de Produção (CPP) para a direita, isto é,  elevará, potencialmente, a capacidade do SSE amazonense identificar problemas e oportunidades para implementar soluções nos diversos níveis para reestruturar os sistemas produtivos locais.

Parece-me que temos aqui um aspecto que implica, também, no aumento na probabilidade da emergência de ações pró-ativas e efetivas imprescindíveis para fazer face aos “desafios da Globalização” nas localidades amazonenses. Algo que desafia a visão fatalista a qual não vislumbra a capacidade do SSE amazonense evoluir, produzindo elementos endógenos que lhe possibilitem reagir de igual para igual frente aos avanços do capitalismo globalizante.

Todavia, os riscos e incertezas não devem passar despercebidos, pois não se trata de opor uma visão otimista à fatalista. O que tenta fazer aqui é um ensaio de análise econômica.

Como toda forma de capital, o Capital Social deve renovar-se sob pena de sofrer grave e irreversível depreciação, frustrando a efetivação de toda a potencialidade criada pelo Curso. Digo isto, pois apenas o Capital Humano e a Capacidade Empresarial não são suficientes para efetivar as mudanças na estrutura econômica produtiva do SSE amazonense. É necessária e urgente a criação da TECONLOGIA sobre a qual estes fatores devem trabalhar para desenvolver soluções e sustentar a dinâmica evolutiva dos SSE municipais.

Quando me refiro à Tecnologia como fator de produção, ressalto que tal se desdobra em conhecimentos técnicos sobre os produtos e processos econômicos, tais como: os objetos em si, e as estratégias e técnicas de gestão da produção e da inovação. E, por outro lado, a construção de sistemas de produção e difusão de informações sobre os mercados, principalmente, e os demais elementos vinculados à evolução dos sistemas produtivos e suas rotinas de trabalho. Aspectos da Tecnologia interdependentes e essenciais para a sustentabilidade do desenvolvimento.

Novamente, o ambiente institucional apresenta oportunidades. Refiro-me aos programas de fomento à pesquisa, especialmente, aqueles que procuram aproximar a academia do setor produtivo. Hoje não basta ao Economista elaborar projetos para captação de crédito para o empreendedor. Esta é uma ação necessária, mas os dados sobre a mortalidade precoce dos novos empreendimentos e os níveis de inadimplência evidenciam a sua insuficiência.

É indispensável que a aplicação dos recursos seja realmente planejada. Para tanto, o Economista precisa de informações, de habilidades e competências para utilizá-las na criação de rotinas de analise da viabilidade e efetividade dos empreendimentos. E mais: deve dispor de tempo e recursos financeiros para gerenciar os projetos que elabora. De fato, o Economista deve elaborar um projeto de desenvolvimento pessoal que lhe permita operar com recursos tanto do fomento à pesquisa quanto do fomento ao empreendedorismo – daí o Economista Empreendedor. Deste modo, cria-se um vinculo entre o saber acadêmico e a prática empreendedora. Vai-se assim além do ensino, alcançando a pesquisa associada à extensão...

Puro diletantismo?!... Talvez! Todavia prefiro pensar nisto como um tópico especial de Economia, isto é, uma possibilidade de ação pró-ativa e efetiva frente aos desafios e oportunidades criados pela Globalização da Amazônia. Ou seja, uma recusa do fatalismo na forma de um discurso em prol da ação coletiva pelo desenvolvimento socioambiental do Amazonas!

É o que tenho a dizer...


Autor: Jesseh Rodrigez


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