RESENHA Pedagogia da Autonomia - Saberes Necessários à Prática Educativa - Paulo Freire



RESENHA PEDAGOGIA DA AUTONOMIA SABERES NECESSÁRIOS À PRÁTICA EDUCATIVA DE PAULO FREIRE

 

       O livro Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessários à Prática  Educativa - de Paulo Freire,  está organizado com uma  introdução – Primeiras Palavras – mais três capítulos. Nesta introdução Freire,(p.13-20),  já esclarece ao público alvo, ( docentes formados ou em formação), insistindo que formar um aluno é muito mais que treinar e depositar conhecimentos, ou transferir conhecimentos. É preciso ter ética e coerência.

Deixa claro, que as mesmas precisam estar vivas e presentes em nossa prática educativa. Prática esta, que deve vir sem interesses lucrativos, sem acusações injustas, sem promessas milagrosas, sem preconceito racial, social ou de gênero, sem mediocridade ou falsidades. Daí a importância do respeito às diferentes posturas profissionais dos outros professores, e a necessidade constante de busca de conhecimentos e atualização.

Ainda nas primeiras palavras, (Freire, p, 19), nos dá um  grande tapa com luva de pelica quando fala da esperança e do otimismo necessários para mudanças dentro deste contexto e nunca se acomodar, pois “somos seres condicionados, mas não determinados”.

Nos capítulos seguintes  traça os saberes necessários à pratica educativa, dividindo-os em espaços como:

Capítulo 1 – Não há Docência sem Discência

Ensinar Exige...

  • Rigorosidade Metódica
  • Pesquisa
  • Respeito aos Saberes do Educando
  • Criticidade
  • Estética e Ética
  • Corporeificação das Palavras pelo Exemplo
  • Risco, Aceitação do Novo e Rejeição a Qualquer Forma de Discriminação
  • Reflexão Crítica sobre a Prática
  • Reconhecimento e Assunção da Identidade Cultural

 

Capítulo 2 – Ensinar Não é Transmitir Conhecimento

Ensinar Exige...

  • Consciência do Inacabamento
  • Reconhecimento de Ser Condicionado
  • Respeito à Autonomia do Ser do Educando
  • Bom Senso
  • Humildade, Tolerância e Luta em Defesa dos Direitos dos Educadores
  • Apreensão da Realidade
  • Alegria e Esperança
  • Convicção de que a Mudança é Possível
  • Curiosidade

 Capítulo 3 – Ensinar é uma Especificidade Humana

Ensinar Exige...

  • Segurança, Competência Profissional e Generosidade
  • Comprometimento
  • Compreender que a Educação é uma Forma de Intervenção no Mundo
  • Liberdade e Autoridade
  • Tomada Consciente de Decisões
  • Saber escutar
  • Reconhecer  que a Educação é Ideológica
  • Querer bem aos educandos

 No primeiro capítulo – (p, 21-46), NÃO HÁ DOCÊNCIA SEM DISCÊNCIA, ele nos dá exemplos de vários tipos de professores, desde críticos, conservadores, progressistas, mas todos apesar das diferenças, tem necessidade de saberes comuns como:

  • Reconhecer que ao ensinar, também se está aprendendo, e não deve ter como objetivo o “depósito bancário”, onde só depositam conhecimentos.
  • Criar possibilidades para os alunos produzir ou construir conhecimentos, ao invés de simplesmente transferir o pouco que sabe.
  • Saber medir na dose certa a relação teoria X prática.

Nos  adverte para que não sejamos demasiadamente  convictos de nossas certezas e que todo novo conhecimento pode superar o já existente, sendo necessário exercer o hábito da pesquisa, mantendo se atualizado, para evitar tornar-se obsoleto, podendo assim comunicar as novidades aos alunos, fazendo a curiosidade falar mais alto, deixando a ingenuidade do senso comum à  “curiosidade epistemológica” (p, 29 ) , carregada de criticidade.  A forma de ensinar é que deve exigir e aguçar este senso crítico no aluno. 

Todo professor deve ser um exemplo para seus alunos, isto é, deve ter coerência na sua teoria com a prática, influenciando seus alunos, com sua boa conduta, ressaltando que na verdadeira formação docente devem estar presentes o estímulo a criticidade ao lado do reconhecimento das emoções, sem frieza, sem o lado mecânico de simplesmente aprender e receber conhecimentos.

Na pág.40,Freire ressalta várias vezes o termo “justa raiva”, enfocando e protestando contra as injustiças, deslealdades, violências, e explorações.

É também responsabilidade do educador ensinar a pensar certo.  Somente   “quem pensa certo”, mesmo às vezes tendo pensamentos errôneos, é que pode dar esta visão de pensar corretamente,  é o que afirma (Freire, p, 27), quando diz  acreditar que ensinar exige “rigorosidade metódica” e o dever do professor democrático é reforçar a capacidade crítica do  educando, aguçando sua curiosidade e insubmissão.

A “disponibilidade ao risco, a aceitação do novo e a utilização de um critério para a recusa do velho,” faz parte do pensar certo  de (Freire, 2003,p. 35), que também mostra que qualquer tipo de discriminação não é “ pensar certo”.  Quando se ensina a pensar certo, devemos tratar o pensar certo como algo que se faz e que se vive enquanto dele se fala com a força do testemunho e a coerência.

O autor também ressalta o quanto pode representar um determinado gesto do professor na vida de um aluno e da necessidade de refletirmos sobre isso, uma vez que nas escolas fala-se exclusivamente do ensino dos conteúdos e não há uma compreensão maior do que é a educação e do que é aprender, conforme pág. 30, quando fala: “Ensinar exige respeito aos saberes do educando”,  e é claro,  também aos  seus interesses e realidades. 

No segundo capítulo ele retoma em sua fala a necessidade dos professores criarem as  possibilidades para a produção e construção  do conhecimento por parte dos alunos, num processo em que ambos professor X aluno não se reduzem à condição de objeto um do outro.  Freire na pág. 47, insiste que “... ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção, e que o conhecimento precisa ser vivido e testemunhado pelo professor”.

Esse raciocínio existe porque somos seres humanos e, temos consciência que somos inacabados, e é também esta consciência que nos motiva a pesquisar, conhecer e mudar “o que está condicionado, mas não determinado” (pág. 53). Passamos assim, a ser sujeito e não apenas objeto da nossa história, pois não devemos ver situações como fatalidades e sim estímulo para mudá-las.

O “bom senso” do professor diz para sermos coerentes, diminuindo a distância entre o discurso e a prática (pág.61). Ele é quem vai dizer se a autoridade na sala de aula não é autoritarismo e também deixa claro a ele que há algo que precisa ser sabido frente a algum problema.

Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa aos direitos dos educandos e exige também, a apreensão da realidade, conforme afirma o autor na pág.66. Também exige a convicção de que a mudança é possível, pois a história deve ser vista como uma possibilidade e não uma determinação. Para vermos mudanças, precisamos ter esperanças, ensinando e produzindo junto aos alunos. O educador não deve inibir ou dificultar a curiosidade dos alunos, muito pelo contrário, deve estimular, desenvolvendo sua própria curiosidade, envocando cada vez mais a imaginação, e a intuição.

No último capítulo (Freire, p. 91-146) nos mostra a necessidade de segurança, do conhecimento e da generosidade do professor para que tenha competência, autoridade e liberdade na condução de suas aulas. Defende a necessidade de exercemos nossa autoridade docente com a segurança fundada na competência profissional, aliada à generosidade.  Acredita que a disciplina verdadeira não está “... no silêncio dos silenciados, mas no alvoroço dos inquietos”, na esperança que desperta o ensino dos conteúdos, implicando no testemunho ético do professor, seria a autoridade coerentemente democrática.

Ensinar exige comprometimento, conforme pág. 96, onde é necessário que nos aproximemos cada vez mais de nossos discursos e nossas ações. Como professores devemos saber interpretar as entrelinhas, e perceber o que ocorre dentro da escola, e deixar claro para os alunos que sua presença  dentro da escola não está passando despercebida.

Ainda o educador como ser político, emotivo, pensante não pode ter atitudes neutras, deve sempre mostrar o que pensa, apontando diferentes caminhos sem conclusões, para que o educando procure o qual acredita, com suas explicações, se responsabilizando pelas conseqüências e construindo assim sua autonomia. Para que isso ocorra deve haver um balanço entre autoridade e liberdade. Destaca que somente quem sabe escutar é que aprende a falar com os alunos. E é somente quem escuta paciente e criticamente, que é capaz de falar com as pessoas.

Freire finaliza dizendo que a atividade docente é uma atividade alegre por natureza, mas com uma formação científica séria e com clareza política dos educadores.

Somente a homens e mulheres são seres “programados para aprender”, e consequentemente para ensinar, conhecer e intervir, entendendo desta forma a prática educativa como um exercício constante em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e educandos, não somente transmitindo conhecimentos, mas redescobrindo, construindo estes conhecimentos.

Ainda salienta que o educador precisa ter vocação para sua função, apesar de estar sempre batendo de frente com salários baixos, condições de trabalho, descasos, mas estes empecilhos todos devem ser um estimulante para mostrar que gosta do que faz, que tem competência e vocação para ser realmente um educador, e acreditar que mesmo não conseguindo mudar o mundo, pode através de sua prática educativa mudar muita coisa sim, e mudar para o bem, para o lado da melhoria sempre.  

Tânia S. N. Barroso

Especialização em Psicopedagogia

Joinville  - SC

2001

 

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Autor: Tânia Silva Neumann Barroso


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