EXPANSÃO PARA O OESTE: AGORA SOB A VISÃO DOS POVOS INDÍGENAS



Brown, DEE. Suas Maneiras São Decentes E Elogiáveis. In: Resenhando: Enterrem Meu Coração Do Rio. Little Rock: L&PM POCKET, 1993, p. 5-27.

 

EXPANSÃO PARA O OESTE:

AGORA SOB A VISÃO  DOS POVOS INDÍGENAS

 

 

Paloma de Santana França Zacarias

 

Comumente costumamos ver relatos, filmes ou até mesmo desenhos animados que nos mostram os atos de coragem e ousadia do homem branco  no solo americano lutando em prol do desevolvimento e  progresso, para tal esse verdadeiros heróis  travavam duras batalhas contra os peles vermelhas, selvagens sanguinários, armados de arcos, flechas, lanças e pedras. QUE HIPOCRISIA !

Essa era infelizmente a história contada e reproduzida não somente em solo americano como em todo o mundo, até entretanto 1970 quando Dee Brown, garoto de família humilde nascido no estado de Louisiana cujo primeiro amigo teria sido um garoto índio(Fato que o ajudou a perceber que os índios que eram costumeiramente apresentados nos programas de tv não passavam de caricaturas estereotipadas dos verdadeiros indígenas), um simples bibliotecário do Departamento de Agricultura lançou o livro: “Enterrem meu coração na curva do rio”, livro a qual nos conta o outro lado da história, agora sob o optica não do vencendor e sim  a do vencido, um povo que foi marginalizado e brutalmente massacrado pela expressão desenvolvimentista de uma nação em progresso, que não mediu esforços para ampliar seus territórios, como disse Henri Michaux “O homem branco possui uma qualidade que lhe fez abrir caminho: o irrespeito”. Para se tornar um grande país, os Estados Unidos precisava ser antes um país grande, esse era  pelo menos o pensamento que rondava a cabeça dos americanos. Fato comprovado nas primeiras décadas do século XIX, quando o então governo americano resolveu concentrar de vez os esforços da nação na CONQUISTA DO OESTE, incentivando  assim a expansão territorial em direção ao Pacífico. O problema contudo estava no simples fato de que essas terras  já eram habitadas por centenas e centenas de tribos indígenas, iroqueses, wampanoags, narragansetts e muitas outras que ali haviam se estabelecidos e criados raizes, entretanto os “conquistadores” se quer se preocuparam com esse fato, lotaram assim as carruagens que, em caravanas partiram rumo ao oeste, em busca de terras que há muito tempo já servia de lar para milhares de tribos indígenas.

Mas o problema do índio começou muito antes do seculo XIX, a tragédia dos índios americanos começou com a chegada dos primeiros europeus, mais especificamente com a chegada do espanhol Colombo ainda mesmo em 1492. Colombo desembarcou em 1492 na ilha de São Salvador, foi muito bem recebido pelos habitantes que ali viviam, tanto que ele chegou até mesmo a escrever ao rei e a rainha da espanha dizendo o seguinte: “ Tão afáveis, tão pacíficos, são eles amam a seus próximos como a si mesmo”. Entretanto engana-se quem pensa que os espanhois foram gratos a essa hospitalidade, muito pelo contrário o que eles deram em troca foi a queima e saques das aldeias indígenas além do rapto de homens e até mesmo mulheres e crianças para serem vendidos como escravos. Três séculos depois da chegada de Cristovão a essa ilha, os tainos que o receberam tão amistosamente já haviam sido completamentes dizimados, nem mesmo o seu território tão grande e com árvores muito verdes, como o próprio Colombo descreveu, foi perdoado depois da chegada desses homens branco essa área foi transformada num imenso deserto, com a fauna e flora completamente devastadas, depois que fizeram isso os colonizadores se retiraram como verdadeiros abutres em busca de novos áreas para devastarem.

Fato que veio a se repetir quando os primeiros colonos chegaram a américa, ou seja, as várias tribos indígenas que habitavam a região onde os  colonos americanos vieram a se instalar não tiveram destino muito diferente dos Tainos da Iha de São Salvador.  Tudo começou em 1607, quando os primeiros homens brancos chegaram na região da Virgínia, no inicio eles tentaram usar métodos mais sutis, dando até mesmo uma coroa de ouro ao chefe da tribo indígena da região o Wahunsonacook, contudo logo após a morte desse chefe os outros índios insurgiram-se para mandar os ingleses sair de suas terras, mas esses pobres índios cometeram talvez o mesmo erros que os tainos da ilha de São Salvador e que muitos outros povos viriam a voltar a cometer ao longo desse processo de exploração,ou seja, esses eles subestimaram o poder das armas inglesas, pensaram que somente com as suas armas rudimentares, a força dos seus jovens guerreiros e que principalmente com a sabedoria dos seus chefes poderiam derrotar o tão incoveniente homem branco, triste ilusão, nenhuma de suas armas era forte o bastante  para lutar de igual para igual com as tão poderas armas de fogo do homem branco. O resultado então não poderia ter sido outro, mais da metade da tribo foi morta.

Infelizmentou essa tragédia voltou a se  repetir em solo americano, mas agora na colônia de povoamento de Playmouth em 1620 quando desembarcaram alguns ingleses nessa região. O fato mais impressionante é que se não fosse os nativos amistosos do Novo Mundo a maioria desses ingleses teriam morrido de fome e frio ainda mesmo no primeiro inverno, esses nativos vinham os colonos de Playmouth como crianças indefesas, deram-lhe milhos dos depósitos tribais, mostraram-lhes como e onde pescar e passaram assim o primeiro inverno com esses colonos, pobres índios não sabiam que estavam criando e alimentando cobras, bichos traçoeiros que quando menos esperamos nos golpeiam com uma picada letal. Mais uma vez os pobres nativos do Novo Mundo cometeram um grande erro, confiaram no tão ambicioso homem branco, mas acredito que esses índios aprenderam com os homens mais de suas tribos  assim como os meus velhos e sábios avôs que as pessoas devem confiar umas nas outras. Tragicamente essa confiança acabou por leva-los  ao quase extermínio dos seus povos, novamente o homem branco mostrou não ser digno da confiança desses nativos, afinal a ganância desses ditos aventureiros era maior do que qualquer outro sentimento de gratidão e até mesmo de bondade.

O mais surpreendente, para não dizer mais repugnante, ainda estava por vim. Em 1829 assumiu a presidência dos Estados Unidos Andrew Jackson, o faca afiada como era apelidado pelos indíos( recuso-me até a pensar o porquê dele ter esse apelido). Ainda mesmo na sua primeira mensagem ao Congresso, ele recomendou nada mais nada menos que todos os índios fossem afastados para o oeste, além do Mississippi, como se eles fossem objetos que pudessem assim ser deslocado de uma canto para o outro, assim como costumeiramente fazemos com as mobilhas de nossas casas. Andrew Jackson disse ainda que índios e brancos NÃO poderiam VIVER juntos em PAZ e que seu plano tornaria possível uma promessa FINAL que NUNCA mais seria quebrada, em primeiro lugar pelos registros os índios, pelo menos algumas tribos, sempre demonstrou interesse em manter  bons laços com os recém habitantes, esses sim sempre agiram com ganância e desrespeito para com os indios, não respeitando assim as suas tradições, a sua tão valiosa terra e seus chefes. Por incrível que pareça em 1830 essas  sugestões tornaram-se leis, sendo que quatro anos depois, em Junho de 1834, o Congresso aprovou uma “Lei para a regulamentar o comércio e as relações com as tribos índias e preservar a paz nas fronteiras”. Essa Lei determinava que toda a terra dos Estados Unidos a oeste do Mississippi, não incluindo três estados, seria dos índios, portanto nenhum homem branco poderia comerciar no território índio sem licença. Infelizmente mais uma vez o homem branco não honrou com suas palavras, como disse Nuvem Vermelha, dos Sioux Oglala Teton
"Fizeram-nos muitas promessas, mais do que me posso lembrar, mas eles nunca as cumpriram, menos uma: prometeram tomar nossa terra e a tomaram."Esse relato  por mais triste que seja reflete perfeitamente o que o homem branco praticou  durante a sua conquista para o Oeste. Para tentar justificar  a quebra dessa fronteira índia permanente os “homens que tomavam as decisões em Washington” inventaram, olhem o absurdo, o Destino Manifesto que não era nada mais nada menos do que uma expressão, como sabiamente disse Dee Brown,  que elevava a fome de terras a um plano sublime.

 Em suma a conquista do Oeste americano mostra o que a ambição e a ganância desmedida do homem pode causar a seu semelhante, afinal por mais que sejamos diferentes por fora por dentro somos todos iguais, todos independente da raça, cor e nacionalidade tem sangue correndo nas veias. Fato que infelizmente parece ter sido esquecido durante o genocídio cometido contra os índios. Sendo ainda que os que não morreram hoje se encontram confinados em reservas, assim como passarinhos presos em gaiolas, proibidos de voar e de gozar da sua antes tão graciosa liberdade. Esses índios muitas vezes chamados de selvagens sanguinários, são hoje talvez os mais heróicos e bravos de todos os americanos.

 


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