REPROVAÇÃO ESCOLAR: AUTORITARISMO E EXCLUSÃO SOCIAL



O horário eleitoral gratuito colocou novamente no ar a discussão de uma importante mudança no sistema de aprovação para os alunos do ensino fundamental: a promoção automática. Entretanto, os interesses eleitoreiros passam, como sempre, longe da essência da questão, utilizando, de forma demagógica um ponto bastante importante da reforma educacional do governo Mário Covas. Acredito que é possível criticar, mas sem esquecer os aspectos positivos que estão inseridos na nova sistemática. Nada como reler as idéias do grande mestre Paulo Freire, que por acaso foi Secretário da Educação do governo Luiza Erundina no município de São Paulo. Para ele, o sistema de seleção e avaliação é cruel e leva a exclusão social, além disso, reforça o caráter autoritário do professor como detentor do conhecimento. Ao perder o poder de reprovar alunos e excluí-los da escola, o corpo docente é uma das primeiras vozes a engrossar a crítica ao modelo.

Não se pode esquecer que crianças com dificuldades para aprender por diversas razões, como: doenças, subnutrição, dislexia, hiperatividade etc. sempre existiram e não é um problema exclusivo do nosso país ou do nosso Estado. Ocorre que no passado essas crianças eram simplesmente excluídas da escola, perdendo o contato com as demais,  com o professor, e além de tudo, perdendo a merenda, tão importante para a população carente. Esta exclusão leva, sem sombra de dúvida, a um sentimento de humilhação, afetando a auto-estima da criança, tornando-a uma presa fácil para a marginalidade social. 

Deixa-me pasmo, que  figuras com alguma abertura intelectual vir a público proclamar aos quatro ventos que seu primeiro ato no governo será acabar com a aprovação automática. “Só passa quem tiver condições”. Parece que a eleição levou, inclusive pessoas com sensibilidade social a enveredar pelo caminho fácil da crítica sem fundamento e para a demagogia barata.  Aperfeiçoar o modelo, criando condições para que haja um acompanhamento eficiente dos alunos com problemas de aprendizagem, possibilitando a sua readaptação, é o mínimo que se espera de uma política de bom senso.  Esperar isso do Paulo Maluf seria inusitado, mas do candidato do PT, um partido comprometido com a inclusão social,  seria no mínimo, óbvio.

Acredito que o tema mereceria uma reflexão mais profunda, pois nem todos os indivíduos apresentam a mesma disponibilidade para o aprendizado a partir dos sete anos. Este limite é estatístico e existem margens de erro em função da diversidade humana. Cada indivíduo tem o seu tempo, o que não significa que uma criança que aos dez anos ainda não conseguiu aprender a escrever, seja necessariamente, um deficiente mental ou que o professor seja incompetente.  É preciso avaliar cada caso antes da decisão drástica de excluir a criança do ambiente escolar, tornando-a socialmente fracassada e excluída.


Autor: Renato Ladeia


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