MECANISMO FENOMÊNICO INVOLUTIVO-EVOLUTIVO



      MECANISMO  FENOMÊNICO  INVOLUTIVO-EVOLUTIVO

-“Que é Deus?”.

Todos os estudiosos espiritistas têm conhecimento desta primeira e célebre indagação de Kardec aos seus Superiores hierárquicos, bem como de sua altíssima resposta de que, em sendo Espírito: 

-“Deus é a Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas”. 

E apesar de todos os desenvolvimentos doutrinários com Kardec mesmo, em toda a sua obra, acerca dos Atributos, das provas da Existência da Divindade e de Sua Providencial Presença no mundo e no universo; apesar de todos os desenvolvimentos contidos nas obras de seus sucessores no campo da Filosofia e da Ciência, tais como Léon Denis: (“Diversas Obras Publicadas Pela Feb”), Camille Flammarion: (“Deus na Natureza” - Feb), e, mais recentemente, com J. H. Pires: (“Concepção Existencial de Deus” - Paidéia), bem como com Eliseu F. da Mota Jr. (“Que é Deus” - O Clarim), ainda permanece atualíssima a resposta dada pela Espiritualidade Maior em seu “O Livro dos Espíritos”, enquadrada no item quatorze (14), ao advertir:

“Deus existe, não o podeis duvidar, é o essencial. Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto de onde não poderíeis sair. Isso não vos tornaria melhores, mas talvez um pouco mais orgulhosos, porque acreditaríeis saber o que na realidade nada sabeis”. (Opus Cit.).

E, mais adiante, arrematam: 

“Estudai as vossas próprias imperfeições a fim de vos desembaraçar delas, isto vos será mais útil do que querer penetrar o impenetrável”. (Opus Cit.).

E, Pietro Ubaldi, o notável intuitivo italiano, que, em observância, não teve o ímpeto de explicar a essência de Deus, mas, pelo contrário, o que se constata de seus muitos volumes, é sempre a posição de humílima e ignorante criatura diante do Eterno, como se pode ver, por exemplo, em tal passagem: 

“Caminhemos juntos à procura de Deus. Não, certamente - do Deus Absoluto - para nós superconcebível na Sua substância, para nós não suscetível de definição – do Deus Transcendente – que “É”, além, em toda a Sua expressão. Para nós, humanos, Ele é hoje o inacessível, o incognoscível, que a nossa mente não pode alcançar além da Sua Suprema afirmação no Todo em que Ele nos aparece, a qual nos diz: Eu Sou”. 

E prossegue o sábio intuitivo: 

“Caminhemos, ao invés, à procura do Deus para nós concebível, porque Imanente, expresso na forma, que nos é acessível porque sensoriamente vestido de uma expressão em nosso contingente”. (Vide: “Deus e Universo” – Pietro Ubaldi – Fundapu). 

Destarte, se não podemos penetrar o impenetrável da ordem divina, (Vide: “Transcendência e Imanência do Existir” – webartigos), todavia, no campo da Criação Espiritual, fizeram-se, a meu ver, notáveis avanços nas revelações da Espiritualidade Maior e com a permissão do nosso Mestre Jesus, como veremos seguidamente. 

Ora, não se pode pretender que Kardec, e seus Superiores da Codificação, tenham dado resposta taxativa, e definitiva, portanto, para todos os problemas concernentes à Criação dos Espíritos, que, em toda a sua obra, sabemos, prevalecera a idéia de que tais são Criados Simples e Ignorantes (ESI), mas destinados a uma evolução incessante, progredindo e crescendo a partir de tal ponto de ínfima Simplicidade Psi (Spsi), até atingir o que se pode conceber como sua evolução máxima na condição de Espíritos Puros e Conscientes (EPC), ou seja, de máxima Complexidade Psi (Cpsi). 

Até porque, muitas dúvidas são encontradas nas respostas dadas pelos Espíritos maiores que, mesmo sendo de altíssima grandeza espiritual, eles não tinham uma resposta definitiva para tal problema, argüindo, por exemplo: “a origem deles (dos Espíritos) é mistério”; e sobre o modo como foram gerados, e, em que momento: “nada sabemos”, frisando, aqui e ali: “aí é que está o mistério”. E mesmo Kardec veio a comentar em tal Obra Basilar que: “a origem e a conexão destas duas coisas (o Espírito e a Matéria) nos são desconhecidas”. (Vide: “O Livro dos Espíritos”). 

E, finalmente, toda a Codificação Espírita, acabou por admitir o princípio doutrinário de que os Espíritos são Criados Simples e Ignorantes (ESI). 

Mas isto, obviamente, não é tudo. Já o disse que novos aprofundamentos foram efetivados, pois que tais precisam ser, e haverão de ser, revelados de tempos em tempos, para todo o sempre, do contrário, não seria o Espiritismo, consoante Kardec na introdução de “O Livro dos Espíritos”: a “Ciência do Infinito”, que comporta, pois, esclarecimentos sucessivos, pois que sua dinâmica doutrinária comporta uma estrutura incessantemente progressiva, de novas e mais aprofundadas conceituações de seus princípios que não cessam jamais. 

Nossos escritos de agora, pois, giram em torno dos Estudos e das Discussões da Criação dos Espíritos Simples e Ignorantes (ESI), e que também, segundo proposições de “O Livro dos Espíritos”, tais elementos, ESI, poderiam comparar-se, por questões didáticas, como quero crer, às condições infinitesimais da matéria, consoante instrução de que: 

“É assim que tudo serve, tudo se encadeia na natureza, desde o átomo primitivo ao arcanjo, que também começou por ser átomo”. (“Opus Cit.”) 

O que formalizaria uma espécie de “Continuum Evolutivo Anímico” (Vide: “Fórmula da Reencarnação”, divulgado na net pela webartigos) resumindo toda a evolução por fazer-se desde suas primitivas condições infinitesimais (ESI) até o Arcanjo (EPC), e que haveria de mostrar-se pelos seguintes termos onde prevalece, evidentemente, a Lei Palingenésica da Evolução: 

                      [(átomo) --- > (e# e# e# . n) --- > (arcanjo)] 

Entretanto, não sabemos tudo! Nunca, jamais, saberemos tudo! A nossa arrogância, e extrema vaidade, são as causas camufladas da nossa ruína, da nossa derrota espiritual. E, o que mais representa o fato de não sabermos tudo é o princípio nele mesmo divulgado de que o Espiritismo é de uma revelação incessantemente progressiva, tal como Ciência do Infinito. O que pode ser somado, ainda, aos depoimentos de duas autoridades espíritas da maior relevância, ou seja, em dois posicionamentos encontradiços, um no escrito de Kardec mesmo e o outro no comentário do Espírito de Erasto, contidos na “Revista Espírita” de março de 1864, (Edicel). 

O primeiro está no artigo “Da Perfeição dos Seres Criados”, e o segundo, na instrução de título “Sobre a Não Perfeição dos Seres Criados”. E vejam que não estou, de forma alguma, constrangido ou temendo pelas conseqüências do que se pode e do que se puder apurar de tais ensinos, extremamente favoráveis, por sinal, ao princípio de que os Espíritos são realmente criados Simples e Ignorantes (ESI), isto é, como Simplicidade Psi (Spsi) de tabula rasa, ou seja, tal qual folha de papel em branco, sem conhecimento algum. 

Mas o fato é que o leitor um pouco mais cuidadoso, atento e perspicaz, também haverá de notar em tais escritos, um tom algo reticencioso, como a nos falar de suas restrições, e, portanto, com a possibilidade de ser completado mais tarde por outras e mais amplas instruções doutrinárias de um Espiritismo que não cessa jamais de nos esclarecer e de andar de mãos dadas com o progresso incessante de todas as coisas, e, sobretudo, dos horizontes culturais e espirituais que se ampliam cada vez mais e mais. 

A um determinado ponto de sua bela e longa instrução, Kardec constata: 

“... O sofrimento dos animais é constante”! (“Revista Cit.”). 

Ou seja: Kardec, em sua sensibilidade apurada, em seus conhecimentos magistrais, reconhece que os animais passam por duras adversidades e sofrimentos os mais diversos para a sua sobrevivência. E prossegue: 

“Mas é racional imputar esses sofrimentos à improvidência de Deus, ou a uma falta de bondade de Sua parte pelo fato da causa escapar à nossa inteligência, como a utilidade dos deveres da disciplina escapa ao escolar?”. (“Revista Cit.”). 

Ora, cientificamente falando: não há efeito sem causa. E, portanto: não há Dor (conseqüência=efeito) sem um Fato (rebeldia=causa) que a justifique. Noutros termos: não há Evolução sem os fatos pertinentes à Involução. 

Mas Kardec, constrito pelo Modelo Apenas Evolutivo de sua instrução codificada, pondera que: a causa dos sofrimentos dos animais nos é desconhecida, ou, nos seus precisos termos: escapa à nossa inteligência. E, por isto, decide não imputar esta causa a Deus. Mas, então, a quem imputá-la senão à criatura? E, se os Espíritos são criados Simples e Ignorantes, e, portanto, sem culpa alguma, pois que não fizeram nada de errado, porque, segundo Kardec: “o sofrimento dos animais é constante”? E, se a culpa não é de Deus, a culpa, portanto, não poderia e não haveria de ser da criatura (ESI) reencarnada que, no passado longínquo, de distantes causas, errou? 

Mas, se for da criatura, ela não teria sido criada Simples e Ignorante (ESI), mas sim, com algum grau de consciência e, por sua culpa e responsabilidade, teria errado, e, se houve Erro (causa), teria e tem de se corrigir pela Dor (efeito), e, aí, não entraria a solução dada pelo Espírito de Bernardim e constante da “Revista Espírita” de Junho de 1862 (Edicel): de que somos uma essência criada pura, mas decaída, e, portanto, culpada e exilada por algum tempo? 

Mas falta ainda o comentário do prestigioso Erasto que, naquela instrução, preconiza: 

“... Compreendei, se o puderdes, ou esperai a hora de uma exposição mais inteligível, isto é, mais ao alcance do vosso entendimento”. (“Revista Cit.”) 

Ora, não é preciso ser um catedrático em letras para entender que Erasto deixou indiscutivelmente claro, mais do que evidente, que a questão dos Espíritos terem sido criados Simples e Ignorantes não encerra tudo. 

Que, portanto, há mais que o tão restrito sistema enquadrado pelo Modelo Apenas Evolutivo. 

E, por isto, questiono: 

-Não teria chegado a hora de atinarmos com a possibilidade de que possa haver um sistema mais completo, concebido pelo Modelo Involutivo-Evolutivo? 

-Não teria chegado o momento de pensarmos em mais avançados estudos no que também se concebe como Mecanismo Fenomênico Involutivo-Evolutivo? 

-Ou vamos ficar estacionados no já tão surrado, e debatido, Modelo Evolutivo objeto de tantos estudos da Ciência bem como do nosso Espiritismo? 

Quero crer, portanto, que Pietro Ubaldi, em generalidade, vem desenvolver, em termos de filosofia-científica, o já complexo Espiritismo kardequiano; e, no específico, com a mesma e convincente filosofia, vem cumprir a profecia de Erasto no tocante ao desenvolvimento do tema relativo à Criação dos Espíritos em três tratados de sua coleção de vinte e quatro volumes; são eles, que completam “A Grande Síntese” (Fundapu), porém, sem a mesma notoriedade desta, o que é lamentável, pois que o sistema completo só pode ser compreendido pelo conhecimento de todas as obras que, em ordem cronológica de sua recepção noúrica, se identificam com os títulos de: 

-“Deus e Universo”: (Solução dos Problemas Máximos): Fundapu;

-“O Sistema”: (Gênese e Estrutura do Universo): Fundapu, e, por fim:

-“Queda e Salvação”: (Transformismo Involutivo-Evolutivo):  Fundapu. 

Assim, pelo Modelo Apenas Evolutivo, temos: aperfeiçoamento das Essencialidades Psi (ou ESIs) nas lutas, adversidades e dores encontradiças em sua longa caminhada evolutiva, cujo trajeto se faz:

-Dos ESIs aos EPCs, passando por todos os planos evolutivos: mineral, vegetal, animal, hominal e demais planos de sublimação, porém, com a injustiça da dor, pelo menos nos planos subumanos, de seres inocentes e sem culpa alguma para experimentarem tantas dores e tantas adversidades; 

E, pelo Modelo Involutivo-Evolutivo: 

-Dos EPCs aos ESIs, por sua culpa e rebeldia, e cuja despotencialização psíquica fizera gerar o universo físico e astronômico; e:

-De tais ESIs, passando pelos diversos planos já mencionados, até o retorno à sua anterior e sublimada condição de EPCs, porém, com a justiça da dor que fora ESCOLHA SUA e não de DEUS que, sendo a PERFEIÇÃO SUPREMA, IMENSAMENTE JUSTO E BOM, não criaria filhos ignorantes (ESIs) para fazê-los sofrer, evoluindo pela imensidade dos tempos universais. 

O Modelo Evolutivo, pois, agiganta-se com as idéias contidas no Involutivo-Evolutivo, expressando maior largueza de raciocínios relativamente à BONDADE SUPREMA DO CRIADOR para com suas criaturas tão amadas. 

E pensar que a coleção de Kardec, restrita ao condicionamento do Mecanismo Apenas Evolutivo, já fazia alguma alusão a tal perspectiva do amplo Mecanismo Involutivo-Evolutivo com o instrutor Bernardin: 

“Voltai sempre os olhos para este pensamento filosófico, isto é, cheio de sabedoria: somos uma essência criada pura, mas decaída; pertencemos a uma pátria onde tudo é pureza; culpados, fomos exilados por algum tempo, mas só por algum tempo; empreguemos, pois, todas as forças, todas as nossas energias em diminuir o tempo do exílio; esforcemo-nos por todos os meios que o Senhor pôs à nossa disposição para reconquistar essa pátria perdida e abreviar o tempo de ausência”. (Vide: “Revista Espírita” – Allan Kardec – Junho de 1862). 

Articulista: Fernando Rosemberg Patrocínio
e.mail: [email protected]

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