Somos parecidos, mesmo que você negue



A instabilidade do que se é proferido, a falta de cuidado com o compromisso antes acordado, tudo que falamos, nada pode ser prometido, e não podemos assegurar que tais juras serão sustentadas até o fim.

As juras prestadas num casamento, a fidelidade a uma empresa onde você se dedica por anos e anos, a igreja que você frequenta, a banda que você mais gosta, a comida que você não troca por nada e tudo mais que parece ser a sua marca, tudo isso e coisas mais que você se surpreende quando estão de frente a esse conflito, podem tomar outra face, podem perder o sabor, podem te levar a buscar noutros lugares o que antes você sentia, o que te fazia amar, ser apaixonado, ser parceiro de todas as horas. E de quem é a culpa?

Culpa? Que isso!

Culpa de quê? De se estar vivo e sentir coisas de quem está vivendo?

Já me culpei demais e isso não tem me levado a lugar nenhum, meus erros e os seus, não são os primeiros e nem serão os últimos, não há novidade nisso tudo que vivemos, sofremos, ambicionamos. Por isso que a melhor terapia é conversar com pessoas que sejam sinceras em admitir suas lutas, limitações, sonhos e ambições. Você percebe que o que acontece com você, acontece com todos os mortais (não os super-homens e heroínas que são separados, santos e facciosos, que se julgam melhores que os simples e defeituosos meros viventes) e que os momentos felizes, são em sua essência, um resultado de boas ações e relacionamentos de um período de constância, mas que, certamente, em função de nossas limitações e mudanças de acontecimentos que, muitas vezes são imponderáveis, somado a fatores biológicos, psíquicos e temporais, cessarão por algum período. Nesse período, alguns conseguem buscar refúgio em Deus (mesmo sem senti-lo, ou por imitação, ou talvez sintam mesmo), outros em prazeres momentâneos, como álcool e substâncias químicas, outros num relacionamento extraconjugal, outros em adrenalina quase mortal, como saltar de paraquedas sem o reserva, ou correr acima dos 180 km\h, enfim, tais atitudes geram conflitos em função das respostas possíveis supracitadas e, quando estes conflitos aparecem, as tais juras não vão ser quebradas, já foram há tempos, o que aconteceu, é só a ponta do iceberg, o problema, a quebra do juramento já acontecera e ninguém quis muito se importar com isso, e a coisa tomou proporção inimaginável (será que era mesmo inimaginável?).

A prevenção nunca é pensada com seriedade por quem está com tais problemas. Sempre pensamos que é um momento e que vai passar, arrumamos justificativas para tudo (e esse texto pode enquadrar-se nisso), do tipo: eu não fico mais perto do meu marido, pois eu trabalho demais, ou, minha esposa tem que entender que eu não posso abrir mão de tudo por ela, afinal já abri mão de tantas coisas! Outras frases são comuns: agora estou sacrificando estar junto para que quando estivermos melhor financeiramente possamos ficar só nós, no nosso cantinho, na paz...

O sexo, o cheiro, o sabor e tudo mais que faz parte da nossa vida tem intensidade variável, eu não posso exigir da pessoa que amo o corpo que desejo, a mesma desenvoltura sexual dos “melhores dias”, a calma em me ouvir da época de apaixonado e tal, mas preciso entender que enquanto se está junto (pois ninguém é obrigado a fazê-lo, por isso que existem ferramentas judiciais para “corrigir” erros), a pessoa nos ama e nos conhece mais até que os próprios pais, pois conhece o seu lado picante, de humor negro, de selvageria, de choro e dor, de insanidade, de surtos, coisa de cúmplices, de amigos verdadeiros e pais não se enquadram nisso em função do relacionamento sexual e demais coisas que envolvem casais. Cremos que quando se mais precisa, a pessoa vai estar ao seu lado, e que se não estiver, há uma explicação, e você conhece as limitações e problemas de quem você convive há anos, e em muitas parcerias que foram boas. Houveram muitos momentos felizes, mas nem tudo é como gostaríamos que fosse e quando nós decidimos não ficar mais juntos, só reitera o que escrevi no começo. Nunca prometa nada a ninguém, porque tudo tem um preço e nada pode ser imutável ou inquestionável. O seu príncipe pode não ser o que você sonhou, a sua princesa pode não ser tão amável quanto você sonhara.

Bem vindo ao mundo real (digo isso para mim sempre que me decepciono e tenho tendências a parar de escrever).

Do casamento, da igreja e suas obras (não falo aqui de Deus, pois Ele é realmente verdadeiro e os Seus pensamentos não são os nossos), podemos esperar tudo, e principalmente nos “surpreender” que isso é apenas um “trabalho”, uma ocupação de pessoas e que a essência do que realmente é já fora esquecida, ou até mesmo, nunca vivenciada, somente imitadas para adquirir status, ou pertencer a um grupo, e, no caso do casamento, não ser motivo de conversas imbecis do tipo: tá ficando pra titia, ou que acontece, você é tão bonito e está sozinho e, ignoram que seria uma opção assim fazê-lo.

Uma coisa tenho aprendido, o altruísmo é cada vez mais escasso e o pior, se você tem defeitos (e todo mundo tem), tem que camuflá-los para continuar pertencendo ao casamento, ou igreja. Antes, é claro, tentemos corrigir, mas se não houver respostas esperadas, saiba que tudo está prestes a ruir.

Ficar só é a solução?

Não. Você não consegue fazer nada sozinho, nem buscar prazer pleno (nem sei se existe, mas creio que vocês entenderam o que quis expressar), somente parcial.

O que tento transmitir é que você está em crescimento e amadurecimento e certamente muita coisa te acontece e continuará acontecendo, mas somente aqueles que permanecem do seu lado, são os que acreditam em você e te amam. Quem te abandona, não luta com você até o fim, não acredita em você e tem direito de fazê-lo.

Você e eu temos que nos cuidar enquanto indivíduo, pois se você estiver bem você é um imã que chama as pessoas, se não, você estará sozinho e decepcionado. A culpa não é das pessoas e instituições que te cercam, a culpa é sempre da pessoa, ou não.

Quem vai estar do seu lado quando você precisar?

Espero que você não se decepcione.

Ter visão para não desperdiçar vida e tempo, não há quem tenha, há apenas os que têm mais experiência e mais vivências, logo, os que sofreram mais e participaram mais, de forma sincera e investigativa dessa misteriosa vida.

Você não é um produto, não permita que te tratem como. Se você apresentar “defeito” ao longo do caminho, pare para correção, para aperfeiçoamento, mas se começarem a te trocar, por defeito, saiba que tais pessoas nunca decidiram ir até o fim, somente viram por fora o que você poderia proporcionar-lhes e, não respondendo sua expectativa, game-over.

Você é muito mais que isso, um objeto, um anseio de outros, você é um indivíduo pensante e partícipe desse projeto do qual o Arquiteto, por mais excêntrico e estranho, tem o controle de todas as coisas.

Você é importante de verdade para alguém (uma mulher, ou homem), para seus filhos (se você os têm), para a sua família, ou alguns membros dela, você tem uma história que já começou a ser escrita, que tem capítulos bons, sensuais, de aventura, mas também de óbitos, dores e separações e decepções.

Continue escrevendo, mesmo que ninguém acredite, mesmo que te julguem, a sua história é necessária, viva e compartilhe.

Somos parecidos, mesmo que você negue.

Christiano Buys


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