“Dançando a vida” – Um novo olhar para a QVT (Qualidade de Vida no Trabalho)



Por Janice Pires – Especialista em Gestão Pública pela Fundação João Pinheiro/ Administradora com habilitação em promoção de eventos, lazer e esportes / Profissional da arte e da dança


Depois de tantos desafios e conquistas, ainda buscamos um novo olhar para o “Homem” na sociedade e no mundo empresarial.

Os estudos da Ergonomia, a Ginástica laboral, Gestão para Qualidade e Responsabilidade Social iniciaram um curso de entendimentos acerca do Homem não só como um recurso na cadeia produtiva, mas um recurso-fim. Os programas que tratam o trabalhador como um objeto externo à empresa, atendido com benefícios e políticas assistencialistas, começam a mostrar suas fraquezas em um mundo que exige afeto e criatividade. A chave para os problemas vividos nas empresas está, exatamente, nesta linha tênue que separa o ser-produtivo do ser-afetivo.

A saúde integral do trabalhador pode ser percebida como a relação das partes mais subjetivas que compõe o Homem, sempre permeadas pelo social. É no social que as identidades se constroem. 

Descobrimo-nos seres cíclicos e sistêmicos. Tudo o que descartamos volta a nós mesmos como um presente a ser aberto e transformado. Nossas prateleiras estão lotadas e os corações cada vez mais vazios. O termo “Sustentabilidade”, em voga, exige que entendamos o ato de produzir como uma ação para o bem coletivo mas, antes de tudo, como uma ação para o “produto do bem”.

Neste contexto, as estratégias de valorização do Homem como um Ser Integral assumem um caráter imediato. Partimos do pressuposto de que tudo o que consumimos possui a energia e o sentimento de quem produz. Indivíduos acometidos pelo estresse não conseguem alimentar um sistema tecnicamente eficaz de produção.  Todo ser é uno e é múltiplo. Nossas ações afetam diretamente o outro, por mais “distante” que este esteja de nós.

É exatamente vivendo que aprendemos a compartilhar as dores e alegrias, as razões e não razões, até mesmo as dúvidas.  E por que não ser este, o trabalho, o local ideal para o exercício do viver? Já foi dito por inúmeros estudiosos que o ser humano é, por natureza, um ser social. Não existe a vida sem o compartilhar, não existe o trabalho sem o compartilhar de uma vida.

Herdeiros de uma jornada de trabalho imposta pela CLT (Código das leis trabalhistas) e da Burocracia Estatal, corremos para adequarmo-nos ao ritmo do mercado e à velocidade da informação.  “OK”, temos acesso a tudo, mas o que fazemos com esse "tudo"?   Que valor tem, para o mundo, o que produzimos?  Qual é a cultura que queremos disseminar? Qual valor damos a nós mesmos?

Podemos imaginar que a vida é uma grande dança. Basta observarmos como cada povo dança de acordo com sua cultura, sua geografia e seus limites sociais mas, de uma forma geral, toda dança é a afirmação de uma consciência coletiva e individual.

O trabalho deveria ser, a princípio, um lugar de exercício da saúde e felicidade, já que vivemos neste, a maior parte do nosso tempo. Uma pessoa infeliz gera um produto infeliz; e então perguntamo-nos: o que nos torna felizes?  

Proponho uma política de Desenvolvimento Humano por meio da dança; essa dança que é  capaz de transformar pelo afeto,  desatar nós e estigmas e cuidar do Homem como um ser “Biopsicosocial”*. A dança tem sido um instrumento eficaz de promoção do bem-estar nas relações de trabalho. Ainda que as ações de um PQV (Programa de Qualidade de Vida),  não sejam mensuradas em análises quantitativas de resultado ou associadas à avaliação de desempenho, faz-se urgente buscar estratégias que desenrijeçam as relações humanas.  

Conceber a dança dentro das organizações ainda é incipiente,  porém, aqueles a quem ela atinge, tornam-se multiplicadores  de relações saudáveis  consigo mesmos e com o outro.

Somos atores de um ciclo ininterrupto e não paramos para pensar no corpo que escuta, sente, respira, se move, produz e consome. O mundo dos negócios já percebe o local de trabalho, ainda que a passos lentos,  como um “Espaço de Vida”.

 *Biopsicosocial: termo utilizado para definir o ser humano constituído de três dimensões básicas: física, psíquica e social. Dimensões estas, essenciais para a saúde integral do Homem e sua Qualidade de Vida.

 Belo Horizonte, 11 de junho de 2012


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