EXPANSÃO URBANA: UM ESTUDO SOBRE O PROCESSO E SUAS CONSEQUÊNCIAS



EXPANSÃO URBANA: UM ESTUDO SOBRE O PROCESSO E SUAS CONSEQUÊNCIAS.

                                                     Manoel Waldir Queiróz Gomes

                                         

 1 - INTRODUÇÃO

                O crescimento populacional nas grandes cidades é um processo que vem se acelerando a nível mundial, desde a chamada revolução industrial que culminou com a saída do homem do campo para as grandes cidades, em busca de melhores condições de vida.

                Nacionalmente o processo de expansão urbana se iniciou a partir da década de 1950 com o advento da industrialização no Brasil. Antes a população brasileira era predominantemente rural. Algumas décadas depois, a situação se inverteu. A partir de 1970 a população rural passou a decrescer vertiginosamente e a população urbana acelerou seu crescimento de forma significativa. Esse fenômeno de crescimento tem se tornado um dos principais fatores para a deterioração do meio ambiente. A falta de políticas públicas no que se refere à criação de medidas de ordenamento no processo de ocupação resulta numa série de problemas de caráter socioambiental.

                A falta de infraestrutura nesses locais promove consideráveis alterações na biodiversidade e contribui para o surgimento de diversas doenças que acometem a população e geram grandes despesas aos cofres públicos com o tratamento dessas doenças. Medidas de ordem preventiva poderiam resolver o problema da saúde no Brasil, com menores custos.

                Em termos ambientais os riscos e prejuízos causados pela ocupação desordenada das áreas metropolitanas são consideráveis. O desaparecimento da biodiversidade animal e vegetal, das fontes hídricas e a contaminação do meio físico são exemplos mais frequentes.

               O presente texto discorrerá sobre os riscos e impactos sofridos pelo meio ambiente decorrentes de um modelo de desenvolvimento urbano distante dos padrões de sustentabilidade. Boa Leitura!

 2 – O CRESCIMENTO DA URBANIZAÇÃO NO BRASIL

                 Até a década de 1940 o Brasil era considerado um país predominantemente rural. Segundo registros históricos sobre o processo de urbanização no país, 70% da população brasileira vivia no campo. Mais tarde, em razão da concentração fundiária que limitou os espaços para o cultivo da terra e da chegada da mecanização, o camponês se viu obrigado a procurar novos horizontes.

                  Atraídos pela absorção de mão-de-obra nas cidades que iniciavam seu processo de crescimento econômico, o homem do campo passou a habitar na zona urbana, um ambiente facilitador para a complementação dos estudos dos mais jovens, uma vez que a educação no campo, além de limitada, não oferecia condições para a obtenção de um estudo de qualidade para os filhos dos agricultores. Acontecia então, o chamado êxodo rural, que é a saída do homem do campo para fixar moradia nas cidades.

                  A densidade demográfica deu origem às ocupações irregulares nas áreas periféricas dos grandes centros. Isso ocasionou a transformação dessas áreas que, em razão da falta de atenção do poder público, transformou-se num sério problema de ordem econômica e socioambiental. Segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas) em 2005 a população brasileira residente na zona urbana era de 84,2%. O órgão estima que  até 2050 a população rural irá decrescer de 29,462 milhões para16,335 milhões de pessoas. Em dados reais isso significa que de cada dez brasileiros, oito residem nas cidades.

 

3 – ALGUNS FATORES QUE PROVOCAM O CRESCIMENTO URBANO

                  Dentre os diversos fatores que incentivam o crescimento urbano, citam-se os loteamentos - cujos lotes são vendidos a pessoas de baixa renda - e a migração de pessoas oriundas de outros municípios e regiões, atraídas por ofertas de empregos e melhores salários.  Boa parte dessas pessoas procuram as áreas periféricas da cidade para estabelecer moradia.

                  Outro fator que contribui de forma significativa para a expansão urbana é a valorização de áreas próximas aos centros urbanos o que acaba provocando a saída dos moradores dessas áreas que decidem pela venda de seus imóveis e passam a morar nos bairros periféricos da cidade. 

4 – A EXPANSÃO URBANA E SUAS CONSEQUÊNCIAS

                    O processo de crescimento da urbanização consiste em várias ações de caráter insustentáveis, como o desmatamento que provoca o desaparecimento de espécies da fauna e flora; o aterramento dos corpos hídricos, que culmina com a extinção dos organismos aquáticos; a disposição de resíduos sólidos em locais inadequados, causando a contaminação do solo, ar e água, entre outras ações.  Os igarapés, nome regional para rios de pequena ordem, são componentes importantes da floresta (LIMA; GASCON, 1999). Eles mantêm uma fauna diversa que é sustentada principalmente pelo material orgânico proveniente das florestas adjacentes (HENDERSON; WALKER, 1986).

                     A alta concentração de lixo, muito comum nas áreas de expansão urbana, além de oferecer riscos ao meio ambiente, expõe a população a doenças de natureza gastrointestinais, como diarreias, cólera, hepatite A, dengue febre amarela entre outras. A concentração de roedores também se constitui um fator de risco para a saúde humana.

                    O chorume produzido por esses lixões são levados diretamente para os leitos de rios, lagoas e igarapés pela ação das enxurradas, provocando a contaminação desses corpos hídricos. O solo, as plantas e os lençóis freáticos também sofrem danos pela ação do chorume.

                    Segundo Tucci (1995), os principais impactos provocados pela urbanização nas redes de drenagem são o aumento do escoamento superficial, redução da evapotranspiração, do escoamento subterrâneo e o consequente rebaixamento do lençol freático.

                      A ausência das ações de saneamento básico, como o meio-fio e galerias subterrâneas, por exemplo, dificultam o escoamento das águas das chuvas. Isto provoca alagamentos e riscos de doenças causadas por esse processo, como a leptospirose, transmitidas pela urina do rato.

                      Nessas áreas não há abastecimento de água, por isso costuma-se construir poços comuns no quintal das residências. Alguns desses poços são construídos próximos a sanitários, o que possibilita a contaminação de suas águas ocasionando a ação de doenças intestinais.

                            

 

5 – AUMENTO DA POPULAÇÃO E SUA DISTRIBUIÇÃO NO ESPAÇO

                      A densidade demográfica de uma cidade, município estado ou região é calculada pela razão encontrada na divisão entre duas grandezas: o número de habitantes e a área ocupada. Dessa forma é possível saber a quantidade de habitantes por km².

                      Considerar a distribuição da população no espaço é tão importante quanto o seu crescimento. As aglomerações humanas apresentam-se como fatores responsáveis por uma parte significativa dos problemas relacionados ao meio ambiente. Quanto maior a população, maior a produção de resíduos, portanto, maior o nível de degradação ambiental devido a redução da capacidade do meio ambiente em assimilar a imensa carga de resíduos nele lançados.

                       Com a ampliação da densidade demográfica os centros urbanos se tornam saturados, afinal não há como crescer indefinidamente num ambiente limitado. Dessa forma é inevitável o avanço da população em busca das áreas periféricas das cidades. Não havendo ordenamento e controle na ocupação dessas áreas ocorre o agravamento da situação ambiental.

                       É importante ressaltar que mesmo que medidas estruturais sejam tomadas é necessário, também, a aplicação de medidas não estruturais, porém, correlatas á situação. Por exemplo, de nada adianta a canalização de um rio ou igarapé para dar maior vazão ao volume de águas provenientes das chuvas e evitar inundações, se a urbanização atingir as margens desses corpos hídricos. Isto, sem dúvida resultará no lançamento de dejetos e outros resíduos dentro do canal, agravando ainda mais o problema. Exemplo disso é o que ocorre no Rio Tietê, em São Paulo e em diversos canais espalhados por esse Brasil afora.

                        Políticas públicas que visam a conscientização quanto à preservação do meio ambiente são fundamental, porém, tornam-se ineficazes quando não são acompanhadas de medidas fiscalizadoras e punitivas. A responsabilidade é fator indispensável na busca por uma ação socialmente justa e ambientalmente correta.

 

 

       

6 – CONCLUSÃO

                        A saturação do meio ambiente é explicitamente visível. A capacidade ambiental de assimilar os resíduos produzidos pelas ações antrópicas é cada vez menor. O planeta pede socorro. A população mundial cresce num ritmo acelerado. Isso significa que mais resíduos serão produzidos e que novas áreas naturais serão ocupadas. O que fazer para conter a degradação ambiental e promover o equilíbrio entre desenvolvimento socioeconômico e sustentabilidade?

                         Em primeiro lugar é preciso ter respeito pelo meio ambiente, adquirindo a consciência de que, sem um ambiente saudável torna-se impossível a vida na Terra. Depois é preciso a adoção de ações estruturais e não estruturais no que se refere à expansão urbana, definidas no Plano Diretor do Município. As ações estruturais consistem na implantação de vários fatores, entre eles, os considerados básicos, como abastecimento de água, tratamento de esgoto, adequação na coleta e destinação final dos resíduos, entre outras.

                         As ações não estruturais consistem na criação de áreas de preservação, proteção e qualidade dos recursos naturais, como as fontes hídricas que servem para o abastecimento das populações. O controle no avanço do processo de urbanização, também caracterizada como uma medida preventiva é capaz de reduzir ou impedir as ações que resultam no esgotamento dos recursos naturais.

                          O meio ambiente deve ser priorizado no processo de desenvolvimento urbano, afinal dele depende a qualidade de vida do ser humano. Deve servir como base nos levantamentos dos projetos que definirão os ordenamentos para a ocupação urbana.

                             Finalmente, é preciso se levar em conta os princípios da ética, da tradição e do modelo cultural das sociedades a fim de que as leis municipais possam ser aplicadas de forma justa e eficaz. Daí, a importância da participação popular. A aplicabilidade dos recursos econômicos quando feita de forma contrária aos valores sociais e culturais de uma sociedade acaba não surtindo o efeito desejado. O equilíbrio ambiental somente será possível, se também houver equilíbrio entre a ação e a sensatez de quem age na busca por esse equilíbrio.

 

 

 

7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

MIRANDA, A.C. Saúde e ambiente sustentável: estreitando nós. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2002.

OTTONI, A.B; OTTONI, A.B . a importância dos mananciais de água para a saúde e sobrevivência do ser humano. Anais do 20º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental – 1999

FREITAS, C.M.; PORTO, M.F. Saúde, ambiente e sustentabilidade. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz , 2006.

SILVA, Elias. Técnicas de avaliação de Impactos Ambientais. Viçosa, CPT, 1999.64 p.

BRAGA, B. et al. Introdução à engenharia ambiental. 2. Ed. São Paulo: Pearson, 2005. 318 p.

CALIJURI, M.L. et al. Estudo de indicadores de saúde ambiental e de saneamento em cidade do Norte do Brasil. Engenharia Sanitária Ambiental , Rio de Janeiro, 2009.

FAURE, J. F. Dinâmicas de urbanização em meio tropical úmido: uso do sensoriamento remoto para a construção de indicadores socioambientais na Amazônia Oriental. Belo Horizonte, 2002. 67 p.

 

 

 

 


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