A desconstrução do preconceito linguístico



A desconstrução do preconceito lingüístico[1]

Caren Michele dos Santos Reis[2] 

Muito tem se falado e verificado na língua portuguesa, ao que diz respeito a gramática normativa. Professores têm questionado o uso, ou não, dessas normas, colocando a gramática culta como um dos objetos de ensino- aprendizagem, mas não como uma língua única e central. Essa norma que até hoje é descrita como “a perfeita”, “a correta”, “a aceita”, na perspectiva da lingüística essa língua não existe mais, é apenas um paradigma que deve ser desconstruído pela sociedade, que desenvolvem correntemente o que chamamos de preconceito lingüístico.

Segundo Bagno 2002, não poderia existir um português único e singular, devido às estatísticas oficiais: o grande e injustificável número de analfabetos no país, que chagam a 18 e 20 milhões, segundo dados do IBGE, pessoas que não permaneceram na escola até desenvolver habilidades importantes em lingua portuguesa, ao todo somam 60 milhões de analfabetos e semi-analfabetos. Como podem então instituir uma língua única e oficial para o Brasil? como  esperar que todos falem um “português correto” em todos os lugares, sem distinção de localidade, cultura, ou classe social?. Segundo essa tradição do falar bem língua portuguesa, a maioria das pessoas não desenvolve um nível de habilidades na língua, como espera a norma culta no país.

O aluno ao chegar à escola, depara-se com a norma culta da língua de forma que se sente incapaz de se expressar livremente em sua fala natural, trazendo a bagagem da sua cultura, dos seus costumes, de suas formas naturais de fala e escrita. Diante desse fato, o aluno se sente incapacitado de se expor, entende que ele fala errado, e que com certeza será punido pela sua incompetência, o que acarreta a uma grande defasagem no ensino da norma culta do português.

Segundo Bagno é preciso escrever uma gramática simples, clara e precisa, que seja concebida por todos, alcançando todas as classes de pessoas, professores, alunos e falantes em geral, para que possamos viver a gramática culta e não cultuar uma gramática que quase ninguém compreende e usa. Uma atitude cabível aos professores, ao que diz respeito a este preconceito lingüístico que está explícito no Brasil, é a tolerância e o respeito às culturas de cada um, individualmente. Não desvalorizar o aluno da zona rural pelo seu modo de falar, ou aquele aluno que não pronuncia o S ou R finais, etc. O professor precisa fazer com que os alunos reflitam a norma culta gramatical e não repeti-la como muitos professores vêm fazendo em suas práticas em sala de aula. Para Bagno, o ensino de língua portuguesa é comparado a um instrutor e a um aluno de uma auto-escola, no qual o instrutor ensina a teoria e a prática, para que o aluno aprenda sem precisar saber o conceito de cada peça do motor do veículo que irá manusear, nem para que serve todas elas, assim também funciona o ensino de língua portuguesa, o professor deve ser apenas o instrutor, que deve saber as técnicas, os conceitos e ensinar aos alunos como manuseá-los, sem que seja preciso fazer com que eles decorem conceitos,fórmulas para aprender a gramática de forma mecânica.

Algumas publicações também têm contribuído com o paradigma do preconceito lingüístico, quando coloca “Não erre mais” rotulando a língua geral como errada, sendo que esta é apenas um desvio da língua culta, oficial e quem fala sua própria língua materna não comete erros e sim desvios da forma culta. Então se a língua escrita é a tentativa de analisar a língua falada, como pode esta, tornar-se tão  criticada e sofrer diversos tipos de preconceitos.

Portanto o professor de língua portuguesa deve trabalhar a gramática normativa em sala  de aula, de forma que os alunos saibam como  e quando usá-las, entender que a língua materna e cultural não é uma língua errada, ou pior que outra língua de outra localidade, mas ensinar a língua culta como outra forma de comunicação social, para que o aluno possa ter o equilíbrio das duas línguas “ a culta e a coloquial” sabendo como utilizar cada uma delas em determinadas situações, e sem menosprezar nenhuma delas, principalmente a língua oral, que representa a cultura e a característica sócio-históricas do Brasil, e que são fundamentais para a construção da identidade do indivíduo.

Referências

BAGNO, Marcos: Preconceito lingüístico o que é, como se faz . São Paulo. Edições Loyola, 1999              


[1] Resenha apresentada a professora Adriana Reis da disciplina Diversidade Linguística do curso de Letras Vernáculas da UNEB campus XXI Ipiaú, para complementação de nota

[2] Discente do VII semestre noturno

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