Literatura e Outras Linguagens



UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUI
CENTRO TORQUATO NETO
PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA E ESTUDOS CULTURAIS
DISCIPLINA LITERATURA E OUTRAS LINGUAGENS
PROFº Dr. Feliciano José Bezerra Filho

ANÁLISE DA TELA “MENINO MORTO” DE PORTINARI.

Aluna: Adriana Maria

Teresina, (PI), 26 de maio de 2012.
Análise da Tela Menino Morto de Portinari

Literatura e outras Linguagens.

Graduada em Letras Português - UFPI: Adriana Maria

 

Menino Morto de Portinari

A tela ‘Menino Morto” de Portinari, óleo sobre tela, data de 1944 e pertence a série Retirantes que trata da migração nordestina movida pela seca na década de 1930. Diversos escritores retrataram em livros, a questão da denúncia social da realidade brasileira naquela época no sertão, dentre eles José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Érico Veríssimo.
“Menino Morto”, Tela de cunho social onde o pintor procurou mostrar de forma dramática a situação miserável de uma família em meio ao sertão. Filho de imigrantes italianos e nascido no interior de São Paulo, logo observou o mundo com olhar inquietante, porém, criativo. Com o tempo passou a pintar a própria infância bem como as figuras populares que faziam parte de seu mundo. Despertou muito cedo para as denúncias de ordem social, ambos representados através de pinturas de pessoas pobres, excluídas e esquecidas do nordeste.
Na tela observa-se uma família constituída por seis pessoas, incluindo uma criança (lado direito), com fisionomia esquelética, olhar de tristeza e roupas que mais parecem farrapos, assim como as vestimentas de toda a família. A outra criança, morta nos braços do pai, é a figura central da fome.
O pano de fundo que o pintor compôs a tela é de cores fortes, representando o clima quente e seco do sertão.
Se repararmos com mais atenção, as lágrimas da menina, do irmão maior e da mãe, foram reproduzidos bem maior que a lágrima normal, o intuito do pintor era mostrar pelo tamanho das lágrimas, quão grande é o sofrimento da família abatida pela fome, seca e perda do filho morto.
Outro detalhe importante na tela são as mãos do pai segurando a criança morta; são grandes, desproporcionais ao corpo, secas e grossas demais, isso denota mãos calejadas do trabalho pesado do dia a dia do sertanejo, sem o mínimo possível para sobreviver.
Portinari consagrou sua obra à denúncia das mazelas dramáticas de um País subdesenvolvido que existia ao seu redor.
A aura da tela “Menino Morto” persiste mesmo depois de mais de quatro décadas de existência. Pintada numa época em que o nordeste atravessava uma das piores fases econômicas, onde a falta de chuva era uma presença constante; Portinari reproduziu com divina maestria o que com frequência se passava na vida de muitas famílias no nordeste – a morte em meio ao sertão árido e quente da região nordeste.
A aura que se reportou a tela “Menino Morto”, na época em que foi produzida, chega aos nossos olhos em pleno século XXI, com um misto de dor e vergonha ao mesmo tempo. Vergonha por sabermos das mudanças econômicas pelas quais o país viveu durante todo esse tempo e, no entanto, pouca coisa mudou com relação à seca no sertão. A dor, não como em 1944, ano da produção da tela, ou em “Vidas Secas” de Graciliano Ramos, onde a personagem Baleia foi sacrificada para poder matar a fome de toda uma família, mas uma dor analisada num contexto diferente.
Em pleno século XXI, a tela Portinari ainda transmite tristeza, morte, desespero, no entanto, essa aura segundo Walter Benjamin (1996) , torna-se ao longo dos anos como uma aparição única de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja. (p.170).
Benjamin ainda argumenta sobre a autenticidade da obra reproduzida, onde ele diz que a reprodução de determinada obra, seja uma tela ou um quadro, ao serem reproduzidos pode colocar a cópia do original em situações impossíveis para o próprio original, ou seja, quando se aproxima o espectador dessa cópia ela atualiza a obra para dentro do contexto em que esse espectador está inserido e, não mais no contexto em que o autor da obra original está inserido.
Daí, Benjamin dizer que na medida em que essa técnica permite à reprodução vir ao encontro do espectador, em todas as situações, ela atualiza o objeto reproduzido. Esses dois processos resultam num violento abalo da crise atual e a renovação da humanidade. (p.168).
Esse processo que se dá entre espectador, obra e contexto, dá-se no momento em que esse espaço entre ambos é modificado de forma social, econômica e histórica.
Ainda de acordo com Benjamin, esse vínculo constitui um valioso indício social. Quanto mais se reduz a significação social de uma arte, maior fica a distancia, no público, entre a atitude de fruição e a atitude crítica, como se evidencia com o exemplo da pintura. (p.187).
A reprodutividade técnica da obra de arte, também se modifica com relação ao público, diante da apreciação de uma tela, por exemplo, difere-se o olhar observador do crítico de arte com relação à atitude do espectador que observa uma obra de arte apenas pelo prazer da beleza que essa obra pode ou não exercer nesse espectador.
A pintura não exerce no público o mesmo efeito que o cinema, a arquitetura ou uma escultura. O público que aprecia a pintura tende a ser em número menor, já que a contemplação de uma tela nem sempre tem uma boa receptividade por parte do coletivo, já que este precisa ter um conhecimento maior, da história, do tempo em que a obra foi reproduzida.
Ainda segundo Walter Benjamin, na realidade, a pintura não pode ser objeto de uma recepção coletiva, como foi sempre o caso da arquitetura, como antes foi o caso da epopeia, e como hoje é o caso do cinema. (p.188).

Referência:
BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: editora brasiliense, 1996.

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Autor: Adriana Maria


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