ANÁLISE DO POEMA “CONSOLO NA PRAIA” DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE.



            CONSOLO NA PRAIA

Vamos, não chores.

A infância está perdida.

A mocidade está perdida.

Mas a vida não se perdeu.

 

O primeiro amor passou.

O segundo amor passou.

O terceiro amor passou.

Mas o coração continua.

 

Perdeste o melhor amigo.

Não tentaste qualquer viagem.

Não possuis casa, navio, terra.

Mas tens um cão.

 

Algumas palavras duras,

em voz mansa, te golpearam.

Nunca, nunca cicatrizam.

Mas, e o humour?

 

A injustiça não se resolve.

À sombra do mundo errado

murmuraste um protesto tímido.

Mas virão outros.

 

Tudo somado, devias

precipitar-te, de vez, nas águas.

Estás nu na areia, no vento...

Dorme, meu filho.

 

(Carlos Drummond de Andrade)

 

O poema é composto de 24 versos divididos em seis estrofes, com características da poesia contemporânea.O poeta procura capturar as angústias, sofrimentos e a aflição vivida pela aquela gente naquela época. O poema inicia com versos que exprime ordem, modo verbal imperativo:

 

“Vamos, não chores// A infância está perdida // A mocidade está perdida.”

 

Dois momentos grandiosos da vida se passaram. A infância período ímpar por toda sua magia está em definitivo perdida. A juventude época de fantasiar projetos, de aventuras e descobertas também está perdida; a essência da vida de maneira alguma. Demonstrando a inconformidade no sentido que a vida não se perdeu, ressaltando de que enquanto há vida, há esperança, em meio às derrotas dessa trajetória.

 

 “… O primeiro amor passou // O segundo amor passou // O terceiro amor passou…”

Os amores passaram o que deveria ser para sempre de acordo a tradição conservadora e da família brasileira da época, passou rapidamente.

“… Mas o coração continua…”

Não existe representação maior do sentimento como bem mostra o verso, existe um coração firme e forte capaz de amar novamente.

“… Perdeste o melhor amigo / Não tentaste qualquer viagem…”

Deixa transparecer que o eu-lírico perdeu uma “parte” dele levando a um vazio (isolamento) No verso seguinte, não existe tentativa de viagem alguma. Pode estar se  referindo à lugares ou questões ideológicas.

“… Não possuis casa, navio, terra…”

Percebe-se a ênfase de Drummond que o eu-lírico teve  perdas e dessa forma não foi bem sucedido levando ao fracasso financeiro  e  amoroso. Casa denotando o lar, navio o ir e vir e terra pode ser a identidade nacional(patriotismo).

“… Mas tens um cão…”

O cão gosta do dono de qualquer maneira, sendo um querer bem forçado, ocorrendo uma perda de valores diante da comparação com a perda do amigo é mais cruel ainda diante da importância sem equivalência alguma.

“… Algumas palavras duras, // em voz mansa, te golpearam…”

Antítese de forma proposital referindo-se as desilusões amorosas que não esperava que viesse a acontecer

“… Nunca, nunca cicatrizam…”

A repetição do advérbio reforçando a dor, tipo um lutador que fica no ringue depois de golpeado e ferido esperando o término do “round” para tentar se recuperar.

“… Mas, e o humour…”

Notei uma certa irônia e sarcasmo diante de tanto sofrimento, decepções e constrangimentos será que é possível ser ilário ainda!?, acho muito pouco provável.

“… A injustiça não se resolve…”.

Sensação de impotência diante de todos episódios faz parte do meio em que vivemos (convenções sociais) uma solução é muito remota.

“… A sombra do mundo errado…”.

Demonstração de que é melhor ficar escondido diante de uma sociedade como essa tão estranha  e  cheia  de adversidades.

“…murmuraste um protesto tímido..”

o protesto do eu-lírico é considerado recatado, não por sua omissão, uma manifestação contrária já traz sua insatisfação,mas não teve forças diante do status e manipulação do eu-lírico da sociedade vigente.

“… Mas virão outros…”.

Na minha interpretação virão: outras pessoas, outros protestos. De qualquer forma esperança de alguma ajuda fica subentendido.

“… Tudo somado, devias…”

Contraditório na minha opinião fazer a soma de tudo que se perdeu é uma saída, tipo um conselho para quem quer ser fadado ao fracasso.

“… preciptar-te, de vez, nas águas…”

Desespero do eu-lírico, não sei ao certo, possibilidade de dar fim  na própia vida.

“…Estás nu, na areia, no vento…”

a nossa relação com o imaginário(utopia), com o vazio(o nada) ou ainda a fragilidade e impotência diante  de  acontecimentos ruins.

“… Dorme meu filho.”

Amanhã é um novo dia, recomece e renove suas esperanças

REFERÊNCIA: ANDRADE, C. D. de. A rosa do povo. Rio de Janeiro: Record, 2001. Poema “Consolo Na Praia”.

 


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