A CONTRIBUIÇÃO DA BRINCADEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA



A CONTRIBUIÇÃO DA BRINCADEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

A brincadeira nasce juntamente com as crianças e acredito que esse nascer é que contribui na formação da personalidade delas.

                      Para Delorme (2004) desde as civilizações mais antigas, dentre elas a Egípcia e a Grega, observam-se as brincadeiras que permeavam as ações diárias. E os registros de brinquedos infantis são provenientes das diversas culturas, que retoma a época pré-histórica, tornando evidente que é natural do ser humano, independente de sua origem e de seu tempo, a atividade faz-se presente em todo o seu processo de desenvolvimento civilizatório.

Porém, como afirma Delorme, a educação dos pequeninos era assumida pela família, não havendo necessidade de uma instituição responsável por ela. Assim pais e irmãos mais velhos, ensinavam as brincadeiras e ofícios às crianças.

Gradativamente, a educação foi sendo institucionalizada e se dissociando do núcleo da família. No entanto em toda cultura antiga a criança não era valorizada, e na educação infantil, considerava-se as necessidades do mundo adulto. Muitas crianças fugiam das escolas que não ofereciam momentos agradáveis e prazerosos.

Posteriormente, ressalta Delorme (2004), com os movimentos culturais no século XVII e XVIII a imagem da criança se torna como um ser dotado de natureza distinta do adulto, submetida a um processo evolutivo complexo, conflituoso e emotivo, portadora de valores próprios.

Assim, a criança passa a ser vista com um novo olhar deixando de ser apenas um adulto em miniatura, tornando-se sujeito no qual requer uma articulação das instituições educativas, colocando-se no centro da pedagogia.

Isso permite, em meados dos séculos XVIII e XIX, a criação e expansão da rede de ensino infantil, que vem tratar de um sujeito diferenciado. Houve progressivas mudanças na postura em relação à utilização de atividades lúdicas na educação das crianças.

Rousseau (1999), em sua obra Emílio, teoriza sobre uma educação que considera as necessidades mais profundas e essenciais da criança, o respeito ao ritmo de crescimento e valorização das características especificas da idade infantil.

Assim, de acordo com Rousseau (1999), gradativamente, a educação infantil vai conquistando seu espaço e mudando o antigo conceito de ensino, buscando valorizar a criança em todos os aspectos, físico, psíquico, social, cultural e econômico.

E as brincadeiras passam assim, a servir de suporte para ação didática, visando à aquisição de conhecimentos.

No entanto, atualmente, com o crescimento dos meios de comunicação como a televisão e a internet, as crianças estão deixando de lado as brincadeiras, buscando o aspecto lúdico apenas nos jogos de computador, videogames, dentre outros brinquedos eletrônicos.

Com isso, as brincadeiras perdem sua verdadeira identidade e seu real significado, acompanhando as exigências de uma sociedade tecnológica.

Vejo que se faz necessário uma nova metodologia de educação e ensino que permite a ação do professor de educação infantil, alicerçada na interdisciplinaridade com ênfase na ludicidade.

Independente da idade, as crianças através de suas brincadeiras mostram de forma irresistível uma grande atração por essa atividade, inclusive por meio de repetições espontâneas.

Motivo que ao comentar sobre o termo brinquedo logo nos lembramos de criança.

Brinquedo e criança são duas coisas inseparáveis. Ninguém põe em dúvida que brinquedo não só faz parte da vida da criança, mas é a própria criança. Quando olho para uma criança e observo seu raciocínio através de seu comportamento, posso notar que toda sua vida é iluminada pela brincadeira.

Piaget e Kishimoto (1998), diz que a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo por isso indispensável à prática educativa.

Toda criança brinca, no brinquedo entra em ação a fantasia. O indivíduo ao brincar transforma a realidade e a realidade o transforma; cria personagem e mundo de ilusão.

Fazendo das brincadeiras uma ponte para o imaginário, muito pode ser trabalhado. Contar, ouvir histórias, dramatizar, jogar com regra, desenhar, entre outras atividades, constituem meios prazerosos de aprendizagem.

Através delas a criança expressa suas criações e emoções, refletem medos e alegrias, desenvolve características importantes para vida adulta. O raciocínio lógico, a aceitação de regras, socialização, desenvolvimento da linguagem entre as crianças são algumas importantes habilidades desenvolvida durante as brincadeiras.

Para Vygotsky e Cória-Sabini e Lucena (2005), na situação de brincadeira para a criança se projeta nas atividades adultas de sua cultura e ensaia seus futuros papeis e valores. Ela começa a adquirir motivação, as habilidades e as atitudes necessárias para a sua participação social, que só pode ser completamente atingida com a interação dos companheiros da mesma idade.

Dessa forma, brincando, a criança desenvolve seu senso de companheirismo, aprende a conviver, procurando aprender regras e conseguir uma participação satisfatória. Com isso elas aprendem a aceitar regras, esperar sua vez, aceitar um resultado, lidar com frustrações e elevar o nível de motivação.

Para Piaget, Cória-Sabini e Lucena (2005) as atividades lúdicas são para as crianças elementos essenciais para suas vivencias, motivo pelo qual vemos que, brincando a criança reproduz suas vivencias, transformando o real de acordo com seus desejos e interesses. No brinquedo a criança assimila e constrói a sua realidade.

O momento que a criança está absorvida pelo brinquedo é um momento mágico e precioso, em que está sendo exercitada a capacidade de absorver e manter a atenção concentrada que irá contribuir de maneira eficaz na produtividade quando adulto.

As relações cognitivas e afetivas da interação lúdica propiciam amadurecimento emocional e vão pouco a pouco construindo a socialização infantil.

Na visão sócio-histórica de Vygotsky e Kishimoto (1989), a brincadeira é uma realidade específica da infância, em que a criança recria a realidade usando sistemas simbólicos. E uma atividade social, um contexto cultural e social.

Vygotsky e Kishimoto (1989), afirma que é enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma criança. É no brinquedo que a criança aprende agir numa esfera cognitiva. Sendo assim, vemos que o brincar é o caminho natural do desenvolvimento humano, e competente nos seus efeitos e oferece meios para a construção de uma base sólida para toda a vida, pois é capaz de atuar no desenvolvimento cognitivo e emocional de forma natural.

Isso porque, a brincadeira fornece ampla estrutura básica para as mudanças da necessidade e da consciência, criando uma atitude em relação ao real.

Vejo, portanto que, o brinquedo caracteriza-se pela presença do outro.

Brincar é estar junto com outro. O brinquedo aproxima as crianças, tornando-as amigas, porque brincar significa sentir-se feliz, e descobrir o mundo que as cercam, é socializar-se.

De acordo com Oliveira (2002), o ato de brincar proporciona uma mudança significativa na consciência infantil pelo motivo de determinar das crianças um jeito mais complexo de conviver com o mundo.

Segundo Oliveira:

Por meio da brincadeira, a criança pequena exercita capacidades nascentes, como as de representar o mundo e de distinguir entre pessoas, possibilidades especialmente pelos jogos de faz de conta e os de alternância respectivamente. Ao brincar, a criança passa a compreender as características dos objetos, seu funcionamento, os elementos da natureza e os acontecimentos sociais. Ao mesmo tempo, ao tomar o papel do outro na brincadeira, começa a perceber as diferentes perspectivas de uma situação, o que lhe facilita a elaboração do diálogo interior característicos de seu pensamento verbal. (Oliveira. 2002, p. 160).

Assim o brinquedo torna-se uma oportunidade de desenvolvimento cognitivo no qual, brincando a criança experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e atenção. Brincar é um momento de auto expressão e auto realização.

Segundo Vygotsky, como ressalta Oliveira (2002), é nas brincadeiras que as crianças passam a representar as vivencias cada vez mais abstrata e a criar novas ações.

É, portanto, no processo de desenvolvimento, que a criança começa usando as mesmas formas de comportamento que outras pessoas inicialmente usaram em relação a ela. Isso ocorre porque, desde os primeiros dias de vida a atividade da criança adquire um significado próprio dentro de um sistema de comportamento social, através do ambiente humano, que auxilia a atender seus objetivos, envolvendo a comunicação, através da fala.

E também através da brincadeira, podemos devolver a liberdade de se expressar, ou seja, ser criativa. Na interação com meio, as crianças vão construindo seu conhecimento, e as atividades lúdicas, dentro de sua variedade, permitem manipular os dados da realidade e transformá-los.

O brinquedo traduz, de acordo com Piaget (2003), o real, para a realidade infantil, portanto brincando, sua inteligência e sua sensibilidade estarão sendo desenvolvidas. Assim a presença das atividades lúdicas na pratica educativa articula-se de duas formas: uma espontânea e outra dirigida. Ambas percebem-se a função educativa.

De acordo com Piaget (2003), o caráter educativo de esse brincar é visto como atividade informativa que pressupõe o desenvolvimento integral do sujeito quer seja na sua capacidade física, intelectual e moral, como também a constituição da individualidade, a formação do caráter e da personalidade de cada um.

Por outro lado, a presença das brincadeiras como atividades que tem objetivo, especifica de promover a aprendizagem em um determinado conceito, além de serem marcados pela intencionalidade do educador. As brincadeiras pedagógicas têm influência no processo de aprendizagem e no desenvolvimento psicológico, permitindo a expressão e a compreensão das emoções como também o resgate cultural do educando.

A partir dessas informações que a brincadeira, atividade lúdica deva estar sempre presente na educação infantil. Além disso, a brincadeira aguça.

Conforme Huizinga (2001),é também a auto-estima, uma das condições do desenvolvimento normal, tem uma gênese na infância em processo de interação social – na família ou na escola – que são amplamente proporcionados pelo brincar.

Segundo Kishimoto (1998), o brinquedo e as brincadeiras são termos que acabam se misturando. A variedade do faz de conta, atividades simbólicas, motores, sensórios motores, intelectuais, individuais, coletivas, dentre outros, mostra a multiplicidade da categoria das atividades.

Pois, para Vygotsky e Kishimoto (1998), quando a criança brinca, ela o faz de modo o bastante compenetrado.

Visto que a pouca seriedade está relacionada ao riso, ao cômico, que acompanha na maioria dos atos lúdicos e se contrapõem ao trabalho, considerando como atividade séria.

Mais, o que sempre vejo é que o brinquedo e a brincadeira vêm sendo sempre utilizados com o mesmo significado.

Lembrando que a língua portuguesa refere-se aos três termos como sinônimos. Segundo Campagne e Kishimoto (1998), “o brinquedo é o suporte da brincadeira, quer seja concreto ou ideológico, concebido ou simplesmente utilizando como tal”.

Através do discurso da autora, percebemos o quando o brinquedo tem valor, pois se percebe que o mesmo não só incorpora aqueles criados pelos adultos, ou qual você vai até a loja e compra-o. Mais, é especialmente aqueles criados pela própria criança, produzindo a partir de qualquer material como sucatas, garrafas ou qualquer outro objeto no qual possa entrever o seu sentido tornando-o lúdico, representado por objetos como talheres, panelas e outros utensílios que possam representar instrumentos musicais, por exemplo.

Por outro lado, vejo que é possível entender o brinquedo como objeto cultural no qual não é isolado na sociedade e sim revestido de contexto histórico. Ao tentar conhecer a historia dos brinquedos, buscando sua origem e evolução com suas intenções não pode ser feita sem uma ligação com a história da criança.

Muitos brinquedos visavam adequar a criança ao meio social impondo suas ideologias e crenças, procurando explicitar nas brincadeiras a cultura e o cotidiano da criança.

Vejo também que vários teóricos já citados, assinalam a importância dos brinquedos e brincadeiras infantis como recurso para educar e desenvolver a criança desde que respeite sua realidade social.

Portanto, posso considerar que os brinquedos e as brincadeiras são e será sempre elementos fundamentais a infância. Na qual o brincar tem função essencial no processo de desenvolvimento da criança, principalmente nos primeiros anos de vida. Mais, lembrando que, todo trabalho pedagógico principalmente, as brincadeiras devem ter um objetivo bem definido.

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