Análise do livro "Os Maias"



 

Cristiane Pereira dos Santos

Maria Carolina Gomes de Campos

Adriana Helena Fernades de Carvalho

A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono de 1875, era conhecida na vizinhança da rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela casa do Ramalhete ou simplesmente o Ramalhete. Apesar deste fresco nome de vivenda campestre, o Ramalhete, sombrio casarão de paredes severas, com um renque de estreitas varandas de ferro no primeiro andar, e por cima uma tímida fila de janelinhas abrigadas à beira do telhado, tinha o aspecto tristonho de Residência Eclesiástica que competia a uma edificação do reinado da Sr.ª D. Maria I: com uma sineta e com uma cruz no topo assemelhar-se-ia a um Colégio de Jesuítas. O nome de Ramalhete provinha de certo d'um revestimento quadrado de azulejos fazendo painel no lugar heráldico do Escudo d'Armas, que nunca chegara a ser colocado, e representando um grande ramo de girassóis atado por uma fita onde se distinguiam letras e números d'uma data. Longos anos o Ramalhete permanecera desabitado, com teias d'aranha pelas grades dos postigos térreos, e cobrindo-se de tons de ruína. Em 1858 Monsenhor Buccarini, Núncio de S. Santidade, visitara-o com idéia de instalar lá a Nunciatura,(...)"

O Ramalhete é descrito logo de entrada, como a casa que os maias vieram habitar em Lisboa, se tornando assim, o primeiro personagem da obra.

O Ramalhete é muito mais que uma simples casa ou moradia, ele representa a gloria e decadência tanto da família Maia quanto da cidade de Lisboa em Portugal, pois é o Ramalhete cenário principal dos acontecimentos bons e trágicos da família Maia  e essa representação de gloria e decadência da família é o mesmo que estava acontecendo em Portugal, pois, Portugal e principalmente a cidade de Lisboa já vivia sem muitas perspectivas, sem capacidade de regenerar-se.

O que podemos observar nesta obra de Eça de Queiroz, e que, o autor faz uma comparação entre personagens do romance com políticos que viviam naquele país, pois, personagens como Conde de Gouvarinha e Souza Neto que eram políticos ignorantes, corruptos, mesquinhos se assemelhavam muito com os políticos daquele lugar.

O Ramalhete é considerado desde o início da obra como de fundamental significação palco da ação principal, ligado a toda a sucessão de acontecimentos da família Maia, dessa forma pode-se dizer que a narrativa apresenta três perspectivas diferentes, são elas:

 

1ª Posto ao abandono: Nessa perspectiva o Ramalhete é descrito como um lugar inútil, que fica abandonado por anos e só em 1875 é habitado novamente por Afonso e Carlos da Maia.

“ Longos anos o Ramalhete permanecera desabitado, com teias d'aranha pelas grades dos postigos térreos, e cobrindo-se de tons de ruína. Em 1858 Monsenhor Buccarini, Nuncio de S. Santidade, visitara-o com idéia d'installar lá a Nunciatura, seduzido pela gravidade clerical do edifício e pela paz dormente do bairro: e o interior do casarão agradara-lhe também, com a sua disposição apalaçada, os tectos apainelados, as paredes cobertas de frescos onde já desmaiavam as rosas das grinaldas e as faces dos Cupidinhos(...)”

 

2ª Habitado por Carlos e Afonso da Maia: Nesta Segunda perspectiva o Ramalhete é habitado por Carlos e seu avô, ambos decorarão o palácio com o que há de melhor e mais bonito, tornando um ambiente que era triste e infeliz em um ambiente calmo, com um ar romântico, (isso não significa que durará por muito tempo) sendo que é neste período que  Carlos se apaixonará  por Maria Eduarda.

     “A venda da Tojeira fora realmente aconselhada por Villaça: mas nunca ele aprovaria que Affonso se desfizesse de Bemfica - só pela razão d'aqueles muros terem visto tantos desgostos domésticos. Isso, como dizia Villaça, acontecia a todos os muros. O resultado

era que os Maias, com o Ramalhete inabitável, não possuíam agora uma casa em Lisboa; e se Affonso n'aquella idade amava o sossego de Santa Olavia, seu neto, rapaz de gosto e de luxo que passava as ferias em Paris e Londres, não quereria, depois de formado, ir sepultar-se nos penhascos do Douro. E, com efeito, meses antes de ele deixar Coimbra, Affonso assombrou Villaça anunciando que decidira vir habitar o Ramalhete! O procurador campos logo um relatório a enumerar os inconvenientes do casarão: o maior era necessitar tantas obras e tantas despesas; depois, a falta d'um jardim devia ser muito sensível a quem saiu dos arvoredos de Santa Olavia; e por fim aludia mesmo a uma lenda, segundo a qual eram sempre fatais aos Maias as paredes do Ramalhete, "ainda que (acrescentava ele n'uma frase meditada) até me envergonho de mencionar tais frioleiras n'este século de Voltaire, Guisot e outros philosophos liberaes( ...)”

3ª Abandonado por seus moradores: Na terceira perspectiva a casa se torna um ambiente melodramático, no qual ao passar alguns que Maria Eduarda e Carlos Eduardo se apaixonaram e seu avô morrera, a partir a casa fica abandonada para sempre.

(...)- E aqui tens tu, Carlinhos, a que nós chegamos! Não ha nada com efeito que caracteriza melhor a pavorosa decadência de Portugal, nos últimos trinta anos, do que este simples fato: tão profundamente tem baixado o caráter e o talento, que de repente o nosso velho Thomaz, o homem da Flor de Martírio, o Alencar d'Alemquer, aparece com as proporções d'um Gênio e d'um Justo!

       Ainda falavam de Portugal e dos seus males quando a tipóia parou. Com que comoção Carlos avistou a fachada severa do Ramalhete, as janelinhas abrigadas á beira do telhado, o grande ramo de girassóis fazendo painel no lugar do estudo d'armas! Ao ruído

da carruagem, Villaça apareceu á porta, calçando luvas amarela. Estava mais gordo o Villaça - e tudo na sua pessoa, desde o chapéu novo até ao castão de prata da bengala, revelava a sua importancia como administrador, quase direto senhor durante o longo desterro de Carlos, d'aquella vasta casa dos Maias. Apresentou logo o jardineiro, um velho, que ali vivia com a mulher e o filho, guardando o casarão deserto. Depois se felicitaram de ver em fim os dois amigos juntos. E ajuntou, batendo com carinho familiar no ombro de Carlos:

       - Pois eu, depois de nos separarmosem Santa Apolônia, fui tomar um banho ao Central e não me deitei. Olhe que é uma grande comodidade o tal sleeping-car! Ah lá isso, em progresso, o nosso Portugal já não está atrás de ninguém!... E v. exc. ª agora precisa de mim?

       - Não, obrigado, Villaça. Vamos dar uma volta pelas salas... Vá jantar conosco. Ás seis! Mas ás seis em ponto, que ha petiscos especiais. (...)


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