Meu Deus, não permita
Meu Deus não permita que eu perca o que é bom que ainda existe em mim.
Sobrou muito pouco do tudo que eu possuía, eram tantos sonhos, sentimentos bons, amor fraternal, esperança e a certeza de que faria diferença para as pessoas neste mundo tão imundo.
Minha mãe sempre pedia à Deus que jamais eu derramasse as amargas lágrimas que ela derramou durante sua curta vida, ela não soube e nunca saberá, minhas lágrimas foram milhares de vezes mais amargas e abundantes.
Olhando para trás, lembro-me de vê-la sorrindo mais que derramando lágrimas de dor... quando olho para mim, lembro-me de que já chorava mesmo antes de nascer.
Lágrimas de perdas, sempre as perdas, as mais importantes, as vitais, as que nos dão vida e esperança, foram estas as minhas perdas...não me lembro das outras.
O mais triste algoz é saber que minha trajetória e minhas perdas não acabaram e talvez nunca tenham fim, já que a alma é eterna.
Perdi até a mim mesma, no dia em que minha mãe desceu a terra em seu frio caixão, eu fui sepultada junto... e nunca mais despertarei.
Meu Deus, quanta dor, quanto dilacerada está minha alma, sem esperança de cura, de sobrevivência, de ainda ter esperança, por menor e mais simples que ela seja.
Meus sonhos futuros desfeitos e enterrados e minhas certezas tornaram-se pó, esvaíram-se com o vento que as levou para onde jamais eu as encontrarei.
Para findar minha pobre e medíocre existência, acabaram também com aquilo que ainda me fazia respirar, ensinar, aprender e escrever.
Até isso foi me tirado... nada mais me resta, nada mais!
Meu Deus, no dia em que eu o encontrar, se encontrar, a única palavra que emanará de minha boca será:
Por que?
E seja lá qual for a resposta, sei que não curará minhas feridas e nem devolverá minha alma.
Por isso, não permita que destruam o pouco que ainda sobrou de mim.
Autor: Sandra Regina Da Luz Inácio
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