Ginásio Experimental Carioca



A finalidade do trabalho é apresentar ao leitor o Projeto Ginásio Carioca como fonte de novas estratégias pedagógicas e de gestão, realizar um estudo comparativo sobre as formas e metodologias de ensino dentro do contexto histórico do ensino público atual e, através da pesquisa de campo, vivenciar a realidade prática envolvida no projeto, evidenciando o que já está apresentando frutos positivos e aquilo que precisa ser melhorado no futuro.

O trabalho também é importante na formação de opiniões sobre o papel do professor nas urgentes transformações que a sociedade deve realizar através da Educação e como este se coloca diante deste enorme desafio. Provoca, ainda, a  análise crítica de erros e acertos dessa nova modalidade de ensino que poderá servir de paradigma aos novos projetos educacionais desenvolvidos pelo ensino público.

O trabalho é formulado com base em informações teóricas, nas impressões obtidas durante a visita (acerca do ambiente e estrutura do local) e em informações obtidas nas entrevistas com o (a) Coordenador (a) do Projeto e alunos engajados nas atividades escolares propostas.

Para a efetivação da visita à E.M.Rivadavia Corrêa, integrante do Projeto Ginásio Carioca, objeto de nossas considerações críticas, solicitamos a autorização junto à 1ª Coordenadoria Regional de Educação, que exigiu que nossa solicitação atendesse a uma série de procedimentos formais, especialmente no que dizia respeito às fotografias das salas, equipamentos e murais e às entrevistas ao Coordenador/gestor e a um grupo de alunos.

Lançado em 19 de outubro de 2010, pelo prefeito Eduardo Paes e a Secretária Municipal de Educação, Claudia Costin, o projeto Ginásio Carioca possui uma nova metodologia de ensino visando dar um salto de qualidade na Educação da cidade, melhorar o desempenho escolar e combater a defasagem idade-série nos alunos do segundo segmento do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano).

Ginásio Carioca tem como base três eixos: excelência acadêmica, apoio ao projeto de vida do aluno e educação para valores. Dentro desse modelo de ensino inovador, a Secretaria Municipal de Educação implementou, também, o programa Ginásio Experimental Carioca, através do qual 10 escolas, uma em cada Coordenadoria Regional de Educação (CRE), com turmas de 7º ao 9º ano, serão testadas com diversas inovações pedagógicas que, posteriormente, serão ampliadas para toda a rede.  

As escolas do Ginásio Experimental Carioca tem em vista atender jovens de todas as regiões da cidade, atuando como núcleo animador de um movimento de qualificação da educação no segundo segmento, sendo fonte de inovação em conteúdo, método e gestão.

Criado em 2011, o modelo de educação integral do Ginásio Experimental Carioca já vem sendo desenvolvido em 19 escolas públicas da cidade do Rio de Janeiro e a estimativa é chegar a 28, em 2013.

Como o problema da qualidade da educação é complexo, muitas foram as mudanças implantadas nas escolas municipais no atual governo. Entre estas mudanças, estão as que foram apresentadas a partir do Ginásio Carioca / Ginásio Experimental Carioca:

  • modernização da gestão escolar com o estabelecimento de metas de desempenho e um sistema de incentivo para as escolas que cumprem ou superam as metas;
  • desenvolvimento de um sistema de avaliação permanente, com provas bimestrais,  para garantir o cumprimento dos objetivos de aprendizagem ao longo do ano, além das avaliações bianuais do IDEB;
  • produção de material pedagógico próprio;
  • definição de um currículo único;
  • investimento na contratação de novos funcionários e professores com uma política permanente de capacitação em serviço.
  • O horário integral para professores e alunos, a utilização de novas tecnologias educacionais (inclusive em plataforma digital), o sistema de ensino polivalente e a criação de novas modalidades de ensino como: estudo dirigido, protagonismo juvenil, projeto de vida e eletivas, estão entre as mudanças no cotidiano escolar.

 O Ginásio Experimental Carioca é um projeto, com mais tempo de aulas de Português, Matemática, Ciências e Inglês, interdisciplinaridade. Além disso, os professores participam da elaboração de um projeto de vida do aluno, o qual irá ensiná-lo a pensar no futuro e organizar seus estudos.

A relação dos Ginásios Experimentais Cariocas:

 01ª CRE - E. M. Rivadávia Corrêa

02ª CRE - E. M.Orsina Da Fonseca

03ª CRE - E. M. Bolívar

04ª CRE - E. M. Anísio Teixeira

05ª CRE - E. M. Mário Paulo De Brito

06ª CRE - E. M. Coelho Neto

07ª CRE - E. M. Governador Carlos Lacerda

08ª CRE - E. M. Nicarágua

09ª CRE - E. M. Von Martius

10ª CRE - E. M. Princesa Isabel

Ao analisarmos o projeto Ginásio Carioca é necessário se ter em mente dois tipos de objetivos distintos. O primeiro deles se relaciona ao próprio sentido da educação e formação do ser integral, com foco no aluno e o segundo se relaciona ao primeiro, mas possui o seu principal foco no resultado, com consequências diretas nas posturas relativas à atual gestão e às políticas educacionais futuras.

O Projeto Ginásio Carioca foi criado para recuperar o chamado segundo segmento (antigo ginásio), que vai do 6º ao 9º ano. Segundo Claudia Costin, Secretária Municipal de Educação, uma das principais causas do alto índice de reprovação na rede estadual (39%) vem da deficiência que os jovens já trazem de séries anteriores. O analfabetismo funcional, detectado em 28 mil alunos do 4º, 5ª e 6º anos era um desses problemas. "Em 2009, identificamos 28 mil adolescentes como analfabetos funcionais. Do 3º ao 9º ano, vimos que há uma grande defasagem de idade/série deles. Tínhamos que parar de substituir a realidade por poesia e passarmos a agir", contou Claudia Costin ao Conselho Empresarial de Educação em reunião em março de 2011.

Durante décadas de administrações equivocadas, a qualidade da educação fundamental no Rio de Janeiro aproximava-se da dos estados mais pobres do nordeste.

A proposta da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro é “oferecer uma educação de qualidade”, viabilizando a “excelência acadêmica” voltada para a formação de “jovens competentes, autônomos e solidários, corresponsáveis pela sua própria suficiência, bem como pela transformação da comunidade em que vivem”. É sob este discurso que todas as ações pedagógicas implantadas pela Secretaria Municipal de Educação nas escolas são justificadas.

O Projeto Ginásio Experimental Carioca, tem em sua estrutura os seguintes eixos:

 

EIXO 1: EXCELÊNCIA ACADÊMICA

  • Prova inicial (marco 0) para nivelamento dos alunos, com avaliação externa e constante monitoramento.
  • Educação em tempo ampliado: Entrada  às 7h30 e saída  às 17h;
  • Mais tempos de aula de Matemática, Português, Ciências e Inglês;
  • Professores atuando por núcleo de conhecimento:
    Humanidades – Português, História e Geografia, Exatas – Ciências e Matemáticas;
  •  Outros professores por áreas específicas - Inglês, Artes, Educação Física, Atividades Diversificadas (Eletivas) – de livre escolha do aluno para apoiar seu Projeto de Vida.
  • EDUCOPÉDIA - plataforma de aulas digitais de cada disciplina;
  • Disciplinas em grau mais avançados -  ELETIVAS.
  • Reforço escolar por disciplina para os alunos que necessitem na forma de ESTUDO DIRIGIDO;
  • Salas temáticas, além de Laboratório de Ciências, Laboratório de Informática, Biblioteca e Quadra;
  • Biblioteca com acervo atraente para a faixa etária, com material de pesquisa e grandes clássicos;
  • Um professor tutor para cada aluno;

 

EIXO 2: PROJETO DE VIDA

  • Pesquisas apontam que o aluno com metas, com PROJETO DE VIDA tem mais sucesso escolar;
  • São oferecidas atividades para cada aluno detalhar os seus sonhos profissionais e elaborar o PROJETO DE VIDA;
  • O aluno é orientado a participar de atividades eletivas que o auxiliem a prosseguir no seu PROJETO DE VIDA.

 

EIXO 3: EDUCAÇÃO PARA VALORES

Resultado esperado do processo educativo da escola:

  • Formar jovens autônomos, solidários e competentes;
  • Incentivar o Protagonismo Juvenil com: Círculos de leitura; Audioteca com livros falados, gravados pelos próprios alunos, para deficientes visuais; Cineclube, jornal escolar, rádio escolar; Reforço escolar para escolas vizinhas; Jovens em ação pelo meio ambiente; Jovens atuando em projetos sociais e culturais.

Como recursos pedagógicos do Ginásio Carioca, os que mais chamam a atenção por sua inovação são: o uso da tecnologia, especialmente a EDUCOPÉDIA e o acompanhamento do aluno por um professor-tutor.

O Ginásio Carioca conta com uso das novas tecnologias e de materiais didáticos estruturados por apostilas de conteúdo e exercícios, desenvolvidas pelos professores da rede municipal. Além disso, dentro desse novo programa, os professores e alunos podem contar com mais uma ferramenta de ensino, a EDUCOPÉDIA: uma plataforma de aulas digitais de cada disciplina, com material de suporte aos professores, planos de aula, jogos pedagógicos e vídeos. Trata-se de um portal que reúne powerpoints com aulas, sugestões de jogos e outras atividades. Cada escola conta com projetores e computadores em cada de sala de aula para a implementação do projeto.

A plataforma de aulas digitais – Educopédia - auxilia na organização do planejamento, agregando valor as atividades pedagógicas. E o Sistema de Gerenciamento de informações – Escola 3.0 - possibilita a atualização de todos os dados gerenciais e a divulgação para toda comunidade.

Para o desenvolvimento integral das atividades foram desenvolvidos  laboratórios de ciências, bibliotecas, salas de atividades artísticas, salas de vídeo e laboratórios de informática. Em todos os espaços destinados as atividades pedagógicas foram instalados kits multimídia que possibilitam ampliar a dimensão de qualquer conteúdo investigado.

Os avanços tecnológicos no mundo contemporâneo vêm gerando mudanças significativas nos diferentes espaços sociais e com isso alterando a noção de tempo e espaço da realidade, interferindo, inclusive nas inter-relações que compreendem o cotidiano escolar. Essas mudanças vêm modificando a forma de vermos a realidade atual e nossas ações sobre ela. O fluxo de informações transitáveis e transitórias, disponíveis à todos no mundo globalizado, que Pierre Lévy1denomina “dilúvio das informações”, interfere nos mecanismos biológicos que o ser humano possui para sentir, pensar e agir no mundo, levando-o cada vez mais a utilizar as tecnologias intelectuais, cujos objetos desempenham um papel fundamental nos processos cognitivos, mesmo nos mais cotidianos. Estas tecnologias estruturam profundamente o uso das faculdades de percepção, de manipulação e de imaginação.

Além do recurso tecnológico, cada aluno tem professores-tutores que apoiam o projeto de vida dos jovens. Eles devem acompanhar a realização do dever de casa e orientar como o estudante pode se preparar para a profissão que deseja. Os jovens poderão atuar em projetos sociais e culturais, além da participação em círculos de leitura, rádios e jornais escolares.

Segundo a secretária Claudia Costin, cada unidade do Ginásio Experimental Carioca será um centro de difusão das inovações em educação. “Os professores dessas escolas irão, posteriormente, capacitar outros professores da rede. Os alunos dessas unidades irão dar aulas de reforço nas escolas de sua vizinhança” – ressaltou a secretária Claudia Costin.

A matriz curricular das escolas antes da implantação do programa era de 4 tempos de Língua Portuguesa, 4 tempos de Matemática, 3 tempos de Ciências, 2 tempos de Língua Estrangeira e 2 tempos de Educação Física, 3 tempos de Geografia, 3 tempos de História e 2 tempos de Artes e 2 tempos de “CEST” (Centro de Estudos do Aluno) por semana. Os alunos recebiam aulas livres onde, cada  escola formava um conjunto de ações pedagógicas de acordo com suas necessidades: reforço escolar ou projetos pedagógicos, perfazendo um total de 25 tempos de aulas semanais.

O Programa Ginásio Experimental, da rede municipal carioca, oferece aulas extras no contra-turno escolar. Mandarim é uma das opções, além de artes, música, teatro, robótica para os alunos interessados na área científica. Já os que gostam da comunicação podem escolher laboratório de jornal, literatura, cinema e ainda disciplinas na área de biomédicas como meio ambiente, saúde e veterinária. Os estudantes têm dois tempos de aulas de 100 minutos por semana.

Os conteúdos programáticos são definidos pela SME através das “Orientações Curriculares” que tratam de todas as disciplinas do núcleo comum, onde, somente as disciplinas Língua Portuguesa, Matemática e Ciências passaram a servir de parâmetro para as “Provas Bimestrais”, num sistema de avaliação periódico promovido diretamente pela SME, envolvendo todos os alunos das escolas municipais da cidade.

A pergunta que surgiu diante desta realidade foi: como a implantação do projeto Ginásio Experimental Carioca, como um novo desenho da matriz curricular poderia garantir o bom desempenho dos alunos nas avaliações da SME? 

Para a SME, as “Orientações Curriculares” têm a função de prever uma expectativa do que aos alunos do ensino fundamental precisam aprender a cada ano de escolaridade. Assim, sua grade estrutural é organizada em objetivos, conteúdos, bimestre e sugestões de atividades pedagógicas que servem de referência para todas as unidades escolares da rede pública municipal do Rio de Janeiro. Este documento foi elaborado pela equipe da SME em parceria com as universidades públicas do Estado do Rio de Janeiro. 

Bernstein2 afirma que as relações de classe reproduzem e legitimam formas distintas de comunicação entre dominantes e dominados fazendo com que os sujeitos se posicionem de acordo com os códigos estabelecidos. Estes códigos podem ser percebidos na observação da matriz curricular do projeto Ginásio Experimental Carioca  e pela legislação municipal que regulamenta o projeto, além do acompanhamento estreito da SME no desenvolvimento do projeto na escola. Para o autor, as relações de classe são distribuídas através da distribuição de poder, os princípios de controle em relação ao código, a ideologia e os sujeitos envolvidos.

As escolas transformadas em “Ginásios Experimentais Cariocas” tiveram apoio técnico-pedagógico do Instituto de Co-Reponsabilidade pela Educação - ICE, parceiro da SME, durante processo de implantação do projeto, tanto na divulgação das diretrizes curriculares definidas para todo os “Ginásios” quanto na capacitação profissional de gestores e professores a respeito dos princípios norteadores do projeto, o que o ICE e a SME denominaram de “transferência de tecnologia de educação”. 

Os gestores primeiramente e posteriormente os professores, participaram de uma série de reuniões promovidas pelo ICE - Instituto de Co-Reponsabilidade pela Educação, que divulgou o material pedagógico em questão, para ser distribuído entre os gestores dos “Ginásios”. O material consistia em manuais de “Tecnologia de Gestão Educacional - TGE”, “Protagonismo Juvenil”, “Projeto de Vida” e “Estudo Dirigido” além da formação dos conteúdos curriculares da disciplina chamada de “Eletiva” cujos conteúdos curriculares ficaram a cargo da escola, como também a responsabilidade de criar atividades pedagógicas específicas que atendam à realidade do seu alunado, sob a orientação do ICE e SME. 

As mudanças na matriz curricular dos Ginásios Experimentais Cariocas foram trazidas diretamente pelo ICE, tanto a proposta da nova matriz como uma nova distribuição dos horários das disciplinas do núcleo comum a todos os alunos das escolas públicas municipais e as referentes ao enriquecimento curricular, exclusivas para as escolas envolvidas no projeto.   

Descrição da proposta das novas disciplinas de enriquecimento curricular:


1.  Projeto de vida: proposta de criar nos adolescentes a conscientização e a prática de valores, da construção de um projeto de visão profissional voltado para o ensino médio, além de propostas para a transformação da comunidade onde reside. Tempo em que o jovem é estimulado a assumir o papel de agente transformador na escola, na comunidade e na sociedade de acordo com sua própria escolha.

 

2.  Protagonismo juvenil: estimular entre os adolescentes, práticas organizadas, associativas e de empreendedorismo. Os adolescentes devem organizar-se com a finalidade de cooperar para a solução de problemas do cotidiano escolar e de participar de forma colaborativa na gestão da escola. Tempo destinado ao exercício da autonomia dos alunos, de estímulo à formação de seu senso de planejamento e organização de tarefas.

 

3. Estudo dirigido: o objetivo desta disciplina é o crescimento do desempenho acadêmico dos alunos com espaço para a aprendizagem e elaboração de relatórios, resumos, pesquisas e também para tirar dúvidas de conteúdos difíceis com o professor orientador. Momento em que os alunos criam estratégias para superar as dificuldades escolares encontradas ou estabelecem estratégias de avanço na construção de conhecimento;

 

4. Eletivas: o objetivo desta disciplina é estimular a criatividade dos alunos através de atividades mais lúdicas onde ele possa trabalhar a rede de conhecimentos sob um formato pedagógico mais acessível aos alunos. Um exemplo de disciplina eletiva consiste em aulas de trabalhos manuais e oficinas de cinema. Foram criadas para que os alunos aprimorem as suas competências e habilidades, a partir de grupos formados por interesse, independente do ano de escolaridade.

Já faz muito tempo que o debate dos educadores em prol da melhoria da qualidade do ensino no Brasil refere-se à necessidade de mudanças de caráter estrutural. A forma de organizar a escola não atende mais às necessidades de seu tempo. Limitante, lhe rouba à essência da verdadeira escola, aquela em que se reconhece vida e alegria, aquela em que produz conhecimento.

Nesse sentido o projeto Ginásio Experimental Carioca representa a transformação da escola brasileira. Esse modelo propõe não apenas o aumento do tempo escolar, mas principalmente a qualificação deste tempo. O reconhecimento da necessidade da mudança para uma educação integral vai muito além de ampliação do tempo escolar do aluno, atingindo também a ampliação de horário do professor, a superação do caráter parcial e limitado estabelecido pelas disciplinas, a ocupação do espaço escolar e as relações de poder entre seus agentes.

O Ginásio Experimental Carioca trata o jovem e seu projeto de vida como missão da escola e para tal planeja suas ações para atender a formação acadêmica de excelência e o protagonismo juvenil. O projeto pedagógico desta escola busca desenvolver nos jovens a capacidade de ser autônomo, solidário e competente a partir dos quatro pilares da educação tratados por Jacques Dellores, que são: aprender a ser, aprender a fazer, aprender a conhecer, aprender a conviver. A partir daí o jovem estará dotado de melhores condições para desenvolver seu projeto de vida.

Para atender a implantação desta nova forma de conceber a educação em tempo integral foi necessário adequar instalações físicas que permitissem aos alunos desenvolver atividades deste novo currículo.  

Sendo certo que cada ser humano possui um currículo oculto oriundo de sua hereditariedade e experiência de vida, o que gera sua complexa subjetividade, todos os educadores da Unidade Escolar são responsáveis individualmente pelo educando, trabalhando em equipe, e ainda, trazendo à luz do processo educativo, os seus responsáveis e/ou familiares.

O papel do "professor-tutor", neste conceito de escola, vem amplificar a relação educador-educando, dinamizando questões vinculadas ao projeto de vida do aluno e a sua ação protagonista na escola e na vida.

REFLEXÕES CRÍTICAS SOBRE O PROJETO

Ao observarmos as atividades do Ginásio Carioca nas escolas é preciso questionar se a rede de conexões de "saberes e fazeres" favorecem um centro de excelência para promover a cidadania do educando.

É importante estar atento às questões ligadas diretamente às ações do/no cotidiano escolar, com objetivo de conjugar a proposta pedagógica já elucidada pela SME/RJ aos projetos que tenham consonância com os anseios de toda a comunidade escolar e ao uso das novas tecnologias nas práticas pedagógicas.

Desta forma, a proposição do projeto deve se encaminhar por diferentes investigações:

- Como proporcionar ao aluno o aprender a estudar, formar e aprender conceitos diante do dilúvio de informações?

- De que forma motivá-lo diante de uma escola, ainda em transição curricular e com carga horária ampliada?

- O professor formado num currículo, ainda linear das universidades, apesar das atualizações, vem encontrando dificuldades para lidar com as multi/trans/interdisciplinaridade no ambiente escolar? Então, como possibilitar um novo olhar do educador pela ação e atuação hipertextual?

- As habilidades e competências dos educandos em ferramentas digitais, como as redes sociais, dentre outras, podem ser um elo de estímulo ao desenvolvimento de projetos pedagógicos inovadores, levando a inserção do educador como sujeito autônomo no ciberespaço?

- Seria a inovação tecnológica apenas uma maquiagem para um método ainda tradicionalista que não traz, na prática, significados reais à aprendizagem?

- Como construir valores num dilúvio de informações, durante a formação dos Projetos de Vida dos Educandos?

- O que significa excelência acadêmica, para uma Secretaria que faz provões todo o tempo e acha que devem transformar as aulas em aulas preparatórias para as provas?

- O que o Prefeito quer dizer com metodologia dinâmica e formação de educadores no novo modelo escolar?

- Que alunos de nossa rede do 7º ao 9º ano,  teria a predisposição de tempo para ficar o dia inteiro na escola? Ou o projeto pretende expulsar os alunos mais carentes, os que têm menos acompanhamento da família e o aluno que trabalha para garantir parte do sustento da família, aquele que tem que tomar conta da irmãzinha para a mãe trabalhar?

Enfim, são questões que não se esgotam, mas que fomentam novas práticas e suposições relevantes, que não devem ser tratadas linearmente, mas numa rede de complexidades, capaz de tornar o Ginásio Experimental Carioca, uma usina de ideias a ideais.

São questões que são respondidas ao longo da concretização das experiências e devem servir para diagnosticar e pontuar as ações presentes e os planejamentos futuros, com total honestidade, sob pena de servir apenas como mais um instrumento político do que efetivamente operador de mudanças.

Retribuir um gesto do governo com total desconfiança parece o que de mais fácil pode acontecer à maioria dos brasileiros. Em qualquer nível, federal, estadual, municipal, em qualquer um deles, encontramos o passado para estimular a dúvida. Mas talvez isso não seja assim apenas na relação entre as pessoas e o Estado (representado por pessoas em última instância), também em outras relações nos sentimos mais seguros quando desconfiamos. Quando alguém monta ou integra uma ONG, ou quer salvar animais ameaçados de extinção, quando sabemos desse tipo de atitude, parece-nos mais seguro apostar que esse alguém espera ser recompensado de forma suspeita, que se reconheça seu gesto como se tivéssemos que retribuí-lo por sua generosidade. Gostaríamos de acreditar na natureza espontânea do gesto dessa pessoa, contudo podemos desconfiar, que mais do que uma tentativa de forçar uma relação de reciprocidade, pode haver corrupção, desvio puro e simples de dinheiro, e tudo isso sob a fachada do bem.     

Individualmente os seres humanos não cobram que seus próprios atos de generosidade sejam totalmente desinteressados, a natureza espontânea das nossas melhores atitudes não é nossa preocupação diária. Se conseguirmos fazer algo de bom a alguém já conseguimos muito, isso quando o máximo que conseguimos não é apenas deixar de fazer o mal. Se for assim, somos seres bastante parecidos com os políticos, técnicos, professores e mais um monte de gente envolvida no projeto Ginásio Experimental Carioca.

A ideia em curso é interessante (estimulante até), pensou-se na infraestrutura das escolas envolvidas – dez inicialmente. Prédios foram reformados. Alunos devem ser acompanhados por um professor tutor. Novas tecnologias e materiais didáticos devem estar disponíveis para alunos e professores. Essas são algumas das características de um projeto que transpira boas intenções.

Depois das intervenções do Estado nas favelas, e ainda com a saúde pública insatisfatória (no mínimo insatisfatória), a Educação é um dos principais temas de debates públicos e conversas privadas. Muita gente acredita que a qualidade de vida das pessoas depende disso. Muita gente aposta que um grande e eficiente passo civilizatório está indissociavelmente ligado à educação pública de qualidade. E o ensino fundamental do 6º ao 9º ano é uma das maiores fragilidades de todo o sistema público, e é nele que o projeto atua.

A professora Rose Emília Antunes, no programa Educação em Rede (internet), fala da instauração de oficinas na Escola Municipal Orsina da Fonseca. “O aluno pode enriquecer”, diz ela, “seus estudos em sintonia com os desejos que tem para a vida.” Em parte é a isto que o projeto se refere com a expressão protagonismo juvenil. Construir valores. Repensar a construção de valores. O aluno que demonstrar aptidão, por exemplo, para as artes cênicas poderá se expressar a partir de suas vivencias. Será acompanhado. O professor dará auxilio para que esse aluno simule sua pretensa trajetória. Ouvindo coisas assim é que se pode pensar no nosso duplo padrão personalidade: comovidos e otimistas de um lado, desconfiados e céticos de outro. Características de uma mesma pessoa. O medo de que não funcione é justificável, temos muitos motivos para ter medo. Mas por enquanto, além da escola citada, várias outras passam por bons momentos com o projeto. Professores falam de suas experiências em blogs, como Maria Cristina Neves que atua na sala de leitura do Ginásio Experimental Carioca Von Martius em Campo Grande.

No blog http://cre6-rjrj.blogspot.com.br, a professora, por vezes com toques bastante sentimentais, fala da sua experiência com o projeto sempre de forma positiva. Pensaram em coisas óbvias, e não menos necessárias por isso, como salas de leitura. O projeto prevê também salas temáticas – algumas em funcionamento. Salas únicas, que não mudam de acordo com a próxima disciplina. A sala de aula de artes, por exemplo, não precisa ser desmontada para a aula de exatas. O aluno entra no clima da sala. Os materiais não precisam ser retirados. Tudo deve contribuir para o ambiente pedagógico. O aluno estudará ciências em laboratórios de ciências. Se conseguirmos acreditar nisso, se tivermos motivos para acreditar nisso, e se independente do que se acredite em nível pessoal esse projeto tiver sucesso, ficará mais fácil lidar com a ideia: alunos precisam desenvolver suas potencialidades.

A principal forma de diferenciar aquele que não tem mais forças para acreditar num projeto assim do que é criterioso e quer ver resultados normalmente é o ressentimento – e muitos cariocas têm motivos para se ressentir. Uma opção é que esses(os ressentidos) se retirem e descansem, e que os outros ajudem ou não atrapalhem – sobra abraçar as coisas como elas são. Qualquer controle de qualidade das atitudes dos outros pode ser precipitada. Qualquer tom excessivamente edificante pode causar medo. E então: Não se consegue mais acreditar que vai funcionar, resolve-se acreditar que não vai.

Esperamos que esse trabalho não seja mais um item na feira de posicionamentos ideológicos. Até porque o projeto aqui tratado depende pouco, ou nada, do que achamos. Estamos nos definindo a partir do universo de possibilidades que se apresenta. Ninguém sabe direito no que vai dar o Ginásio Carioca, e o otimismo nem sempre é a melhor opção – pode ser apenas um recurso ingênuo para sermos pegos desavisados. O ceticismo acaba sendo, gostemos ou não, uma categoria do pensamento importante para enfrentar nossa época. A disposição psicológica, física e espiritual que cada um tem nos dará condições de entender e fazer as coisas como pudermos. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 1 - LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: O futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.

 2 - BERNSTEIN, B.  A estruturação do discurso pedagógico: classe, códigos e controle. Petrópolis, Vozes, 1996.

  BIBLIOGRAFIA

 DECRETO MUNICIPAL nº 32672. Cria o Programa Ginásio Carioca no âmbito da Secretaria Municipal de Educação e dá outras providências. Diário Oficial do Rio. ano 24 n.105 de 19 de ago 2010a. Disponível em:

 DECRETO Nº 33649. De 11 de abril de 2001. DIARIO OFICIAL. De 12 de abril de 2011.

 INSTITUTO DE CO-RESPONSABILIDADE PELA EDUCAÇÃO.  Missão e programa. Disponível em:

LDB. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

PORTARIA E/SUBE/CED Nº07 de 13 de dezembro de 2010b. Secretaria Municipal de Educação. Estabelece a matriz curricular para o ensino fundamental e dá outras providências. Diário Oficial do Rio. Ano 24 n.181 de 14 de dez 2010 p.21.

 RESOLUÇÃO SME/RJ 1010 de 04 de março de 2009b. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Geral de Educação. Dispõe sobre as orientações relativas à avaliação escolar na rede pública do sistema municipal de ensino da cidade do Rio de Janeiro e dá outras providências. Diário Oficial do Rio. Ano 22. n.236 05 mar 2009. Disponível em:  

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