Da História da Sustentabilidade à Evolução Tecnológica na Construção Civil



Embora com atraso, inicia-se os processos de Inovações Tecnológicas na Indústria da Construção Civil. Novos equipamentos, materiais, sistemas de gestão e manutenção, perfil de mão de obra, estão  rompendo metodologias e modelos tradicionais  até agora utilizados.[1]

                     (IV Congresso Nacional de Gestão Ambiental)

O constante antagonismo entre indústria X ecologia, desenvolvimento urbano X fatores ecológicos e mesmo construção civil X meio ambiente, fazem parte de um pensamento retrógrado cujas consequências vivenciamos hoje: desmatamento, aquecimento global, poluição de rios entre outros. Na atualidade, todos os seguimentos sociais, que visam qualidade de vida, desenvolvimento urbano e crescimento econômico apresentam as questões de sustentabilidade como elementos preponderantes que envolvem tecnologias, metodologias de trabalho e mão de obra qualificada de alto nível. Nesse sentido, entendemos o conceito de sustentabilidade de acordo com o Instituto Ara Yara, no portal da Rede de Sustentabilidade:

Sustentabilidade é um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana.

Propõe-se a ser um meio de configurar a civilização e atividade humanas, de tal forma que a sociedade, os seus membros e as suas economias possam preencher as suas necessidades e expressar o seu maior potencial no presente, e ao mesmo tempo preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais, planejando e agindo de forma a atingir pró-eficiência na manutenção indefinida desses ideais.[2]

Como mencionamos no capítulo anterior, “História da Habitação” a construção civil sempre existiu para atender as necessidades básicas e imediatas do homem, sem preocupação com técnica aprimorada em um primeiro momento, porém através dos tempos à própria evolução humana exigiu que o homem transformasse continuamente suas técnicas através de aperfeiçoamento e estudo contínuo dos resultados.

A constituição das cidades exigiu qualificação e técnicas mais apropriadas e vantajosas para se construir edifícios cada vez mais sustentáveis. Surgem as edificações concebidas com responsabilidade social.

Faz-se necessário a identificação das características técnicas que propiciem a execução de um edifício ecologicamente correto tais como: condicionamento de ar, posicionamento de fachada em relação ao nascente/poente do sol, destinação de resíduos sólidos, reuso de água, utilização de energia solar dentre outros. É fator comum ocorrer estudo preliminar inadequado ou apressado da fase inicial do projeto, tais como: falta de observação da orientação magnética, análise incoerente quanto ao correto uso da edificação, preocupação somente com questões financeiras construtivas sem projeção de custos de manutenção desta edificação.

A questão de sustentabilidade foi tema de debate iniciado na década de 80 com o Relatório de Brundtland (1987)[3], que apresentava a seguinte definição geral:  "suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas". Daí, pesquisas e estudos em todo o mundo levariam a tópicos relevantes para que se tenha uma construção sustentável nos parâmetros vigentes quanto às questões ambientais.

Enfatizamos aqui, que o conceito de sustentabilidade na construção civil varia de acordo com posição em que se encontra o etimologista. Vários “autores” a conceituam emprestando-lhe um enfoque pessoal concomitante a área que lhe é familiar: o ecologista, o biólogo, o engenheiro e até o leigo, porém este, consciente de sua responsabilidade e inserção no meio em que vive.

Nos dias atuais, a discussão sobre sustentabilidade avança e envolve cada vez mais, profissional de diversas áreas; e estes, em certos momentos se reúnem para trabalhar em conjunto na busca de soluções para este desafio proposto.

Algumas reflexões sobre o tema, elaboradas por profissionais do setor da construção civil e órgãos envolvidos com a questão são pautadas nos seguintes documentos:

Relatório do Clube de Roma: Limites do Crescimento (1968)[4];

Declaração de Estocolmo (1972)[5];

Relatório de Bruntland: Nosso Futuro Comum (1987);

Declaração do Rio (1992)[6];

Agenda 21 (1992)[7].

No que concerne aos estudos acima apontados, mencionaremos sucintamente suas principais propostas.

A grande preocupação apontada em 1968 – Relatório do Clube de Roma era discutir e analisar os limites do crescimento econômico levando em conta o uso crescente dos recursos naturais. Este grupo detectou que os maiores problemas eram: industrialização acelerada, rápido crescimento demográfico, escassez de alimentos, esgotamento de recursos não renováveis, deterioração do meio ambiente. Tinham uma visão ecocentrica[8] e definiam que o grande problema estava na pressão da população sobre o meio ambiente.

No período de 1972, a Declaração de Estocolmo elaborou vinte e seis princípios comuns que ofereçam aos povos do mundo inspiração e guia para  preservar e melhorar o meio ambiente humano”. No entanto, a relação desenvolvimento versus preservação ambiental ficou bastante ambígua conforme pode ser observado no Princípio 11, que diz:

As políticas ambientais de todos os Estados deveriam estar encaminhadas para aumentar o potencial de crescimento atual ou futuro dos países em desenvolvimento e não deveriam restringir esse potencial nem colocar obstáculos  à conquista de melhores condições de vida para todos. Os Estados e as  organizações internacionais deveriam tomar disposições pertinentes, com vistas a chegar a um acordo para se poder enfrentar as consequências econômicas que poderiam resultar da aplicação de medidas ambientais nos planos nacionais e  internacionais.

Já a Declaração do Rio de 1972, apresenta como fundamental objetivo estabelecer uma parceria nova e equitativa, a nível mundial, através da criação de novos níveis de cooperação entre os Estados, setores-chave das sociedades e dos povos. Tendo em vista o estabelecimento de acordos internacionais que respeitem os interesses de todos e protejam a integridade do sistema global de ambiente e desenvolvimento, reconhecendo a natureza integral e interdependente da Terra, como nosso lar.

Por conseguinte, o principal documento produzido na ECO-92, o Agenda 21 é um programa de ação que viabiliza o novo padrão de desenvolvimento ambientalmente racional.  Ele concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.  Este documento está estruturado em quatro seções subdivididas num total de 40 capítulos temáticos. Eles tratam dos seguintes temas: Dimensões Econômicas e Sociais, conservação e questão dos recursos para o desenvolvimento, medidas requeridas para a proteção e promoção de alguns dos segmentos sociais mais relevantes, medidas requeridas para a proteção e promoção de alguns dos segmentos sociais mais relevantes.

A aceitação do formato e conteúdo da Agenda - aprovada por todos os países presentes à Rio 92 - propiciou a criação da Comissão de Desenvolvimento

Sustentável (CDS), vinculada ao Conselho Econômico  e Social das Nações Unidas (Ecosoc). A CDS tem por objetivo acompanhar e cooperar com os países  na elaboração e implementação das agendas nacionais, e vários países já iniciaram a elaboração de suas agendas nacionais. Dentre os países de maior expressão política e econômica, somente a China terminou o processo de elaboração e iniciou a etapa de implementação.

Como vimos, até o presente momento, a questão da sustentabilidade abrange todos os âmbitos humanos, destacando-se por sua importância no cenário global do planeta, sendo debatida em diferentes países cujo objetivo comum é atender a necessidade humana e ambiental.


[1] Frase disponível em: http://www.excelenciaemgestao.org/Portals/2/documents/cneg6/anais/ T10_ 0297_ 1237.pdf, acesso em 21/10/12.

[2] Disponível em:  http://www.sustentabilidade.org.br/, acesso em 21/10/12.

[3] Relatório Brundtland é o documento intitulado Nosso Futuro Comum (Our Common Future), publicado em 1987. O Relatório, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, faz parte de uma série de iniciativas, anteriores à Agenda 21, as quais reafirmam uma visão crítica do modelo de desenvolvimento adoptado pelos países industrializados e reproduzido pelas nações em desenvolvimento, e que ressaltam os riscos do uso excessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas. O relatório aponta para a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes. No início da década de 1980, a ONU retomou o debate das questões ambientais. Indicada pela entidade, a primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, chefiou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, para estudar o assunto. O documento final desses estudos chamou-se Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório Brundtland.

 Informação disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Relat%C3% B3rio _Brundtland, acesso em 21/10/12.

[4] Em 1966, Dr. Aurélio Peccei, top manager da Fiat e Olivetti e diretor da Italconsult, manifestou sua preocupação com a economia e o desejo de ter algumas respostas. Recebeu donativos da Volswagen, Ford, Olivetti e outras. Em 1968, constituiu-se o Clube de Roma, composto por cientistas, industriais e políticos.

[5] A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, reunida em Estocolmo de 5 a 16 de junho de 1972, e, atenta à necessidade de um critério e de princípios comuns que ofereçam aos povos do mundo inspiração e guia para preservar e melhorar o meio ambiente humano. Disponível em: http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Meio-Ambiente/declaracao-de-estocolmo-sobre-o-ambiente-humano.html, acesso em 21/10/12.

[6] A conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, reunida no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992, reafirmando a Declaração da Conferência das Nações Unidas Sobre o Ambiente Humano, adotada em Estocolmo em 16 de junho de 1972, e procurando dar-lhe seguimento. Disponível em: http://www.infopedia.pt/$declaracao-do-rio-sobre-ambiente-e-desenvolvi, acesso em 21/10/12.

[7] Agenda 21 foi um dos principais resultados da conferência Eco-92 ou Rio-92, ocorrida no Rio de Janeiro, Brasil, em 1992. É um documento que estabeleceu a importância de cada país a se comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual governos, empresas, organizações não-governamentais e todos os setores da sociedade poderiam cooperar no estudo de soluções para os problemas socioambientais. Disponível em: http://pt.wikipedia.org /wiki/Agenda_21, acesso em: 21/10/12.

[8] Ecocentrismo (Do grego: ο6κος, oikos, "casa"; and κ­ντρον, kentron, "centro". Pronunciado ekMÈsenÌtrizmo) se trata de uma linha de política de filosofia ecológica que apresenta um sistema de valores centrado na natureza, em oposição ao antropocentrismo. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ecocentrismo, acesso  em 21/10/12.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 BARROSO-KRAUSE, Cláudia e outros.   Cadernos MCidades Parcerias Eficiência Energética em Habitações de Interesse Social. Brasília: Ministério  das Cidades, 2005. 115p.

BOOKCHING, Murray.  O Municipalismo Libertário. O Bairro, a Comuna, A Cidade... Espaços Libertários.  São Paulo, p.11-38, 2003.

BRAGA, Benedito, e outros.  Introdução à Engenharia Ambiental. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. 318 p.

 CAPRA, Fritjof.   A Teia da Vida. Newton Roberval Eichemberg. 8. ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2003. 256 p.

 FÉLIX, Ubiratan.  Cidades sustentáveis e a Engenharia Urbano-Industrial.   61ª  SOEAA Semana Oficial da Engenharia, Arquitetura e da Agronomia. São Luís, p. 59-69, Nov. / Dez. 2004.

 CÂMARA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO.   Guia de Sustentabilidade na Construção. Belo Horizonte: FIEMG, 2008. 60p

 SANTOS, Lilian Lucchesidos.  Proposta para um Conjunto Residencial Popular Sustentável, UFMG, 2007.

Endereços Eletrônicos na Internet

 Declaração de Estocolmo, disponível em: www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/arquivos/estocolmo.doc (acesso em

21/10/2012)

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – ECO 92, disponível em: www.unb.br/temas/desenvolvimento_sust/eco_92.php   (acesso em 21/10/2012)

Clube de Roma, disponível em:  www.clubofrome.org/archive/publications.php (acesso em 21/10/2012) 

 Relatório Brundtland, disponível em: pt.wikipedia.org/wiki/Relatório_Brundtland (acesso em 21/10/2012)

 Agenda 21, disponível em: www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base= ./gestao/index.html&conteudo=./gestao/artigos/agenda21  (acesso em 21/10/2012)


Autor: Lilian Silva Salles


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