A DEPRESSÃO INFANTIL E SEUS REFLEXOS NA APRENDIZAGEM



A DEPRESSÃO INFANTIL E SEUS REFLEXOS NA APRENDIZAGEM[1]

Claudia Nilce de Araujo Santos

Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia pelo Instituto Superior de Educação Alvorada Plus.

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Resumo: Durante muitos anos, a depressão infantil não era reconhecida e depois disto, era considerada raridade. Atualmente tem se observado o crescente número de adolescentes e crianças diagnosticados com depressão.

Diante desta realidade, crianças e adolescentes sofrem as consequências desta doença, principalmente quando não são diagnosticadas e encaminhadas para um tratamento adequado. Quando pais e educadores buscam um mínimo de conhecimento de como se manifesta os sintomas da depressão, poderão com eficácia ajudar nossas crianças e adolescentes.

Verificamos também uma relação da depressão com o processo de aprendizagem.  Descreveremos alguns indicativos da depressão infantil e os tipos de tratamento, buscando auxiliar pais e educadores como forma de identificação e orientação.

Palavras-chave: Depressão, Criança, Adolescente, Aprendizagem.

Abstract: For many years, childhood depression was not recognized and thereafter, was considered rare. Currently has observed the growing number of children and adolescents diagnosed with depression.

Given this reality, children and adolescents suffer from this disease, especially when they are diagnosed and referred for appropriate treatment. When parents and educators seeking a minimum of knowledge of how to manifest the symptoms of depression, can effectively help our children and adolescents.

We also found a relationship between depression and the learning process. We will describe some indications of childhood depression and types of treatment, seeking help parents and educators as a means of identification and orientation.

Key words: Depression, Child, Adolescent Learning.

Introdução

        

            Há pouco tempo atrás, a depressão infantil era considerada raridade e com o início da puberdade o resultado era a tal esperada “crise da adolescência”. Atualmente tem se observado o crescente número de adolescentes e crianças diagnosticados com depressão.

            Contudo, inúmeras crianças e jovens, principalmente estudantes, podem estar vivendo momentos complexos e difíceis e não sabem como pedir ajuda. Diante disto, crianças e adolescentes sofrem as consequências desta doença, pela falta de conhecimento e despreparo de pais e educadores por não perceberem o estado pelo qual esta criança ou jovem esta passando.

            Sabendo-se que a depressão pode manifestar-se de formas distintas, salientamos a importância de um maior conhecimento dos sintomas por parte da família e educadores até como forma de orientação, pois a depressão quando instalada, a família e escola também são afetados. Sendo assim, a precoce identificação deve resultar no encaminhamento para profissionais especializados.

            Um dos interesses do tema abordado foi pela experiência que vivencio com meu filho adolescente diagnosticado com depressão e também por observar o despreparo de alguns pais e educadores ao deparar com uma criança ou jovem com depressão, pois muitos têm sofrido calados sem o auxilio da família, da escola e da sociedade.

            Enfim, cientes da relação da depressão com o processo de aprendizagem, de forma sucinta descreveremos alguns indicativos da depressão infantil e os tipos de tratamento, como auxilio aos pais e educadores para a sua correta identificação.

            A questão que norteia este artigo é: como perceber os indicativos da depressão infantil e analisar sua relação com o processo de aprendizagem e suas influências?

            Para responder a tal questionamento, traçamos o seguinte objetivo: Descrever os indicativos da depressão infantil e analisar sua relação com o processo de aprendizagem.

A metodologia deste artigo é a pesquisa bibliográfica.

Conceitos e causas da depressão infantil

 

A questão que norteia este artigo parte da definição de alguns conceitos e as causas da depressão, bem como perceber os indicativos da depressão infantil e analisar sua relação com o processo de aprendizagem e seus efeitos. Salientar a importância do apoio da família como forma de orientação, identificação e superação quando se tornam observadores e compreensivos sobre as alterações que ocorrem com a criança e adolescente depressivo.

Apesar de ser bem mais comum em adultos, atualmente temos observado o crescente número de crianças e adolescentes diagnosticados com depressão. Segundo American Academy of Child and Adolescent Psychiatry (1996) apud Adriola e Cavalcante (1999), cerca de cinco por cento (5%) das crianças e adolescentes da população geral possuem um grau significante de depressão.

Podemos confirmar esta realidade no relato de Chabrol (1990) que diz que:

Os estudos epidemiológicos revelaram, pois, a frequência da depressão do adolescente. Se até há poucos anos atrás, ela ainda era considerada rara, sua predominância, comparável à do jovem adulto, parece uma das mais altas entre as faixas etárias. (p.24)

Segundo o autor Cass (1999) o termo depressão pode significar um sintoma que faz parte de inúmeros distúrbios emocionais sem ser exclusivo de nenhum deles, pode significar uma síndrome traduzida por muitos e variáveis sintomas somáticos ou ainda, pode significar uma doença, caracterizada por marcantes alterações afetivas. Fassler e Dumas (2002, p.279) afirmam que “eventos estressantes realmente podem alterar a química e o metabolismo do cérebro”.

No entanto, já sabemos que as crianças e adolescentes podem sofrer de depressão e apesar dos muitos fatores, alguns já citados e outros que citaremos, algumas estão bem mais vulneráveis à depressão que outras. Como afirmam Fassler e Dumas (2002, p. 11), “Tal depressão não é penas uma fase ou estágio infeliz do desenvolvimento normal; é uma doença real e identificável”.

Barreto (1993) apud Adriola e Cavalcante (1999) explica que no campo biológico, a depressão se dá como uma possível disfunção dos neurotransmissores devido à herança genética, a anormalidades e/ou falhas em áreas cerebrais específicas.

Fassler e Dumas explicam que:

Níveis suficientes de certos neurotransmissores (mensageiros químicos), especificamente a norepinefrina, que afeta a prontidão e os níveis de energia, a serotonina, que ajuda a regular o sono e a memória, e a dopamina, que ajuda a controlar a emoção e o movimento devem estar disponíveis entre as células nervosas para transmitir adequadamente os impulsos que afetam os estados de humor e as emoções. Cientistas teorizam que a disponibilidade reduzida desses neurotransmissores pode levar à depressão, ou pelo menos deixar uma criança mais vulnerável a ela. (2002, p.234)

Mesmo quando uma criança é biológica ou geneticamente predisposta a depressão, os responsáveis, especificamente os pais têm em mãos táticas de prevenção que podem reduzir drasticamente o risco de uma criança ou adolescente desenvolver uma depressão.

Entretanto, ás vezes as dinâmicas familiares contribuem claramente para o desenvolvimento da depressão na criança e adolescentes. Fassler e Dumas (2002) nos orienta de como podemos ajudá-los.

Amar e apoiar a “verdadeira” criança, ou seja, os pais precisam se concentrar menos na imagem idealizada... e sim compreender, amar e apoiar a pessoa especial que ela realmente é; Estabelecer previsibilidade, disponibilidade e segurança. Porém, só farão isto se tiverem uma base doméstica carinhosa, segura e previsível a partir da qual possam começar; Estimular a comunicação aberta e honesta, ou seja, estar sempre pronto a responder às suas perguntas, partilhar suas alegrias e realizações, ajudá-los a trabalhar suas frustrações e compreender seus temores; Adotar uma abordagem construtiva e equilibrada da disciplina, compreendendo que moldamos o comportamento de nossos filhos não apenas dizendo-lhes não quando fazem algo errado, mas também dizendo sim quando fazem algo correto; Permitir que a criança experimente a vida, pois, somente quando vivenciam e enfrentam com sucesso os estresses desafios e frustrações da vida diária, as crianças aprendem a encarar e superar seus problemas; Aumentar a autoestima, pois, o estímulo da autoconfiança caminha lado a lado com o incentivo para que as crianças ajam de acordo com suas potencialidades. (p.281)

Ás vezes é inevitável que crianças e adolescentes vivenciem algumas situações estressantes, todavia a maneira de como preparamos nossos filhos para enfrentar tais situações podem ser fatores decisivos que podem ajudar a evitar um problema emocional.

            Atualmente quase ou nenhuma criança ou adolescente precisa sofrer de depressão, pois, se detectado logo de inicio, diagnosticada e tratada com exatidão, a depressão, como outra doença qualquer, pode ser finalmente superada.  Para que isso ocorra, necessita-se de uma melhor compreensão desta enfermidade e graças a pesquisas e avanços da ciência, cada vez mais surgem novas perspectivas de se conseguir um desempenho mental de alto nível.

            Portanto, com base na complexidade de seu significado a depressão pode manifestar-se de formas distintas, pois sua origem está associada a diversos fatores, como genéticos, psicológicos, ambientais e sociais, podendo afetar o individuo de diversas formas bem como suas funções sociais, emocionais e cognitivas, porém não só a criança e adolescente são afetados, mas também sua família e o grupo com o qual se relaciona.

Os efeitos da depressão na aprendizagem como alerta a pais e educadores.

            Podemos observar que grande parte das famílias e educadores encontram dificuldades em reconhecer os sintomas de depressão na criança e adolescente agravando a situação, pois, muitas vezes, quando não conseguem perceber e identificar esses sintomas acabam não encaminhando para que tenham um tratamento adequado.

            Podemos observar também que o comportamento depressivo poderá, primeiramente, ser verificado no ambiente escolar. E um dos primeiros sinais seria e baixo rendimento escolar e mudança no comportamento. De modo que, o comportamento depressivo compromete de forma negativa o desenvolvimento global da criança e do adolescente. Podemos verificar na afirmação de Chabrol (1990, p. 90).

A depressão compromete e degrada a adaptação social e familiar, escolar e profissional. ... Os comportamentos depressivos podem induzir atitudes de incompreensão, rejeição e hostilidade do meio, atitudes estas que reforçam sua visão negativa de si mesmo e dos outros: os pais e os professores veem a criança e o adolescente deprimido como preguiçoso, irresponsável, imaturo e insubordinado.

            É importante ressaltar que o diagnóstico de depressão infantil não é papel dos educadores, porém a escola e o professor desempenham uma função extremamente relevante no reconhecimento dos sintomas de depressão, sabendo-se que a depressão interfere no rendimento do aluno. Sendo assim, a queda no rendimento escolar pode ser utilizada como um sinal para pais e educadores de que a criança ou adolescente possa estar vivenciando sintomas de depressão.

Para tanto Adriola e Cavalcante (1999) enfatizam que:

Quando a depressão e dificuldades escolares ocorrem em uma mesma pessoa, é importante considerar se a depressão é primária e, portanto causa da dificuldade escolar ou se é secundária, pois somente depois dessa avaliação é possível a indicação do tratamento mais adequado. (WEINBERG E COLS, 1989 apud ADRIOLA E CAVALCANTE, 1999).

            Embora as crianças e adolescentes com sintomas depressivos apresentem dificuldades escolares. Brumback e cols. (1980) apud Cruvinel e Boruchovitch (2003) observaram que essas crianças e adolescentes são capazes intelectualmente, não apresentando nenhum déficit de inteligência. Essa constatação sugere que o baixo rendimento pode ser consequência da depressão, pois apresenta falta de interesse e motivação em participar das atividades escolares demonstrando também um sentimento de autodesvalorização.

            É fundamental que o professor conheça os efeitos do fracasso escolar na vida psíquica do aluno e adote estratégias que previnam maiores dificuldades. Faz-se necessário também criar um ambiente que favoreça a aprendizagem para que o aluno se sinta acolhido e motivado.

            Diante da depressão infantil, segundo Sommerhalder e Stela (2001) apud Cruvinel e Boruchovitch (2003) as funções cognitivas como atenção, concentração, memória e raciocínio encontram-se alteradas, o que interfere no desempenho escolar resultando em desinteresse pelas atividades, apresentando dificuldade em permanecer atenta nas tarefas interferindo de forma negativa na aprendizagem deste aluno.

            Segundo Fassler e Dumas (2002):

O vínculo entre distúrbio de aprendizagem e depressão é forte. Esses distúrbios partilham de muitos sintomas, tais como declínio nas notas escolares, atenção mínima, dificuldade em prestar atenção à aula e falta de interesse na escola. Além disso, os distúrbios de aprendizagem podem levar à depressão. (p.125)

            Podemos observar que crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizagem e baixo rendimento escolar apresentem mais sintomas depressivos do que as sem dificuldades escolares. Sabendo-se que um indivíduo com uma limitação cognitiva dificilmente alcança um nível de desempenho esperado, não sendo reconhecido e elogiado pelos colegas e professores.

            Por outro lado crianças e adolescentes com sintomas de depressão tendem a apresentar baixo rendimento escolar, pois devido ao seu estado de prostração não consegue atingir as expectativas dos outros, gerando cobrança, sentimentos negativos de frustração, inferioridade e incapacidade.  

            Entretanto, caso a criança ou adolescente demonstrar algum problema de aprendizagem, Fassler e Dumas (2002) nos apresenta os seguintes sintomas à que devemos estar atentos.

Um período especialmente curto de atenção, sobretudo quando comparado a outras crianças da mesma idade; dificuldade para compreender e seguir instruções; problemas para dominar a leitura, escrita ou habilidades matemáticas; troca de letras ou números, como confundir 62 com 26, ou b com d ou rato com tora; problemas de coordenação nos esportes ou em pequenas tarefas motoras, como segurar um lápis ou tentar dar um laço no sapato; notas escolares que parecem estar bem abaixo da capacidade da criança; pertences guardados constantemente em lugares errados; hiperatividade ou inquietação.  (p.126)

            Uma vez, detectado algum problema, o encaminhamento precoce e o tratamento são a melhor forma de ajudar a criança e adolescente a superarem os problemas emocionais. E em muitos casos pais e professores deverão trabalhar juntos com o mesmo objetivo que é de formar, na criança ou adolescente, sua confiança e fortalecer sua autoestima.

            Devido à complexidade do diagnóstico, para Colbert & cols (1992) apud Cruvinel e Boruchovitch (2003) a dificuldade de profissionais na identificação de ambos os problemas (depressão e dificuldade de aprendizagem) e a necessidade de um olhar cauteloso e crítico diante da criança e adolescente, já que um diagnóstico incorreto implica em orientação, encaminhamento e intervenção inadequados.            

            Diante desse quadro, faz-se necessário, cada vez mais, estudos que contribuam para o conhecimento acerca da depressão infantil, principalmente no Brasil. É necessário viabilizar dados e estudos sistemáticos para que sejam compartilhados com educadores, pois somente assim os mesmos terão recursos necessários para melhor compreender a depressão e suas relações com a aprendizagem.

Como pais e educadores podem contribuir no tratamento da depressão da criança e/ou adolescente.

 

            Podemos observar que a falta de informações de pais e professores a respeito da depressão infantil tende a contribuir para o aumento das dificuldades dos alunos resultando em inúmeras consequências na fase adulta. É fato que pais e educadores não estão preparados para fazer um diagnóstico de depressão, mesmo porque não é o papel dos mesmos.

            Porém, se pais e educadores ter acesso a um mínimo de conhecimento sobre a depressão infantil poderão ter um olhar diferenciando à criança e adolescente que por ventura apresentem sintomas e/ou comportamentos depressivos, permitindo um encaminhamento que acelere o diagnóstico, conduzindo a um tratamento adequado em tempo hábil.

            Segundo Fassler e Dumas (2002, p.277) “A depressão é uma doença muito séria, às vezes até mesmo letal. Entretanto, também é altamente tratável, sobretudo quando detectada logo no início”.

Portanto, detectado a depressão, o papel da família é de fundamental importância como suporte acerca de sua influencia sobre a criança e o adolescente depressivo, pois quando há ausência do apoio familiar, tende ocasionar consequências desastrosas.

            De acordo com Gonçalves (2006, p. 42):

“[...] A relação família-depressão tem-se fundamentado nos princípios da aprendizagem e sugerem que os relacionamentos familiares, para contribuírem de forma positiva para o tratamento do adolescente depressivo devem dar uma atenção especial nas condições afetivas, que são experenciadas por todos os integrantes da família. A experiência de amar e ser amado é uma das condições essenciais para o desenvolvimento sadio do homem, um sólido alicerce de amor paterno durante a infância dá ao jovem recursos incalculáveis ao ingressar na adolescência, assim, o adolescente se sente amado, não corre o risco de se sentir rejeitado pela família, facilitando uma visão satisfatória sobre o suporte familiar, proporcionando sentimentos de bem estar no adolescente, o que se torna inconsciente com a depressão.”

         Segundo Rotondaro (2002) apud, Calderaro e Carvalho (2005) para que a criança tenha um desenvolvimento emocional saudável, precisa de um ambiente familiar favorável, capaz de suprir adequadamente suas necessidades básicas, entre as quais as de proteção e acolhimento. Quando isso não acontece, a criança utiliza mecanismos de defesa específicos para lidar com as dificuldades, comprometendo o desenvolvimento das estruturas de personalidade que estão se formando na infância.

            Na fase da adolescência, é possível que o indivíduo se torne mais suscetível à instalação da depressão. Sendo assim, faz-se necessário, família e educadores, estarem alertas para as manifestações emocionais e comportamentais apresentadas pelo adolescente.

            Para Chabrol (1990, p. 86,) “Os preconceitos em relação a estes (adolescentes), os estereótipos sociais negativos que os adultos empregam para defini-los podem agravar seu sentimento de rejeição”. 

            Uma das principais causas, segundo Del Porto (1999), que levam um adolescente à depressão é a falta de diálogo com os pais, casos de divórcio, dificuldades econômicas e a utilização de bebidas alcoólicas pelos pais.

            Segundo Chabrol (1990), podemos observar outras causas que contribuem para a instalação da depressão principalmente no adolescente.

Os dados objetivos, ainda insuficientes e contraditórios, dão-nos apenas uma imagem precisa dos contextos sócio-familiares, psicológicos e biológicos das depressões do adolescente. Certos fatos, entretanto, podem ser observados: a depressão do adolescente associa-se, frequentemente, à dos pais, em famílias submetidas a agressões exteriores ou interiores ligadas à desestruturação ou à discórdia. Muitas vezes também vem acompanhada de indícios biológicos de perturbações cerebrais. (p.52)

Observamos que, os pais, devido ao seu envolvimento ou falta de afeto, podem não perceber, não reconhecer ou não aceitar os problemas emocionais de seus filhos. Quanto aos educadores, são eles os primeiros a observar a ocorrência de algum sintoma anormal no adolescente. Daí a importância de um maior conhecimento dos sintomas como forma de esclarecimento às famílias e educadores, e, sobretudo como prevenção.

Para Livingston (1985) apud Cruvinel e Boruchovitch (2003) os sintomas de depressão podem se manifestar de diferentes formas no ambiente escolar. O professor deve estar atento a alguns sinais indicativos e pensar na possibilidade de depressão diante de uma criança que revele uma expressão de tristeza, mudança no nível de atividade, diminuição no rendimento escolar, fracasso em terminar suas tarefas escolares, isolamento social, agressividade ou verbalizações como: “Eu não posso fazer isso”.

            Sendo assim, faz-se necessário que os professores possuam um maior conhecimento e conscientização a respeito do desenvolvimento psicológico infantil, bem como de problemas emocionais comuns nessa faixa etária. Como forma de contribuir para um encaminhamento adequado e seguro.  

            Entretanto não há como evitar os transtornos que a depressão de uma criança ou adolescente terá sobre sua família. Porém Fassler e Dumas (2002) demonstra outra perspectiva.

Quando uma criança pequena torna-se deprimida, toda a família vivencia uma série de sentimentos e situações que testam a saúde emocional e a capacidade de adaptação de todos os membros. Embora o estresse possa separar famílias, ele também pode uni-las. Com compaixão, sensibilidade, consciência, energia, empenho e capacidade de equilibrar as necessidades de todos, inclusive as suas, sua família pode se tornar mais unida e mais forte de que jamais foi. (p. 170)

             

Objetivando o artigo acerca da influência exercida pela família e sucessivamente pela escola e cientes da relação da depressão com o processo de aprendizagem, cabe ao sistema de educação e familiares estarem atentos a qualquer alteração no modo de vida e adaptação das crianças e adolescentes, como meio de identificar qualquer problema emocional e comportamental, sabendo-se que uma intervenção precoce pode resultar numa melhora significativa, evitando maiores danos à criança, ao adolescente e a sociedade.

Sintomas da depressão e tipos de tratamento

             

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM IV (1994) apud Cruvinel e Boruchovitch (2003) os sintomas de um quadro de depressão maior são: humor deprimido na maior parte do dia; falta de interesse nas atividades diárias; alteração de sono e apetite; falta de energia; alteração na atividade motora; sentimento de inutilidade; dificuldade para se concentrar; pensamentos ou tentativas de suicídio. Porém nenhum dos sintomas e/ou comportamento deve ser considerado de forma isolada, mas é necessário analisar sua conexão e constância.

Ressaltamos os mesmos sintomas e outros para uma análise mais satisfatória e conclusiva, Segundo o DSM-III-R apud Chabrol (1990),

O diagnóstico de depressão maior exige a presença de pelo menos cinco dos sintomas seguintes, durante no mínimo duas semanas consecutivas, quase todos os dias e durante a maior parte do dia: 1) humor depressivo; 2) perda de interesse ou prazer por todas ou quase todas as atividades (obrigatórios para o diagnóstico); 3) perda ou ganho de peso, diminuição ou aumento de apetite; 4) insônia ou aumento de sono; 5) agitação ou lentidão psicomotora; 6) fadiga ou perda de energia; 7) sentimento de desvalorização ou culpa excessiva ou imprópria; 8) dificuldade de concentração de pensamento, indecisão; 9) ideias de morte, suicídio. (p. 26)

            Conforme ainda o DSM IV (1994) apud Cruvinel e Boruchovitch (2003) não há diferença entre a depressão no adulto e na criança, embora o profissional devesse levar em conta algumas variações, devidas à idade e fases de desenvolvimento em que a pessoa se encontra.

Para Nissen (1993) apud Adriola e Cavalcante (1999) os principais comportamentos que caracterizam a depressão infantil são: o humor disfórico, o termo disfórico implica em tristeza, geralmente, incluindo perda de interesse ou prazer na maioria das atividades da vida; a autodepreciação; a agressividade ou a irritação; os distúrbios do sono; a queda no desempenho escolar; a diminuição da socialização; a modificação de atitudes em relação à escola; a perda da energia habitual, do apetite e/ou peso.

É necessário atentar para o fato de que, quanto mais problemas de comportamento (sintomas) a criança apresentar, maior será a probabilidade de um desenvolvimento atípico, visto que a depressão poderá interferir nas atividades associadas à cognição e à emoção.

Devemos atentar ao fato de que realizar o diagnóstico não é fácil, pois, às vezes, crianças e adolescentes encontram dificuldades para identificar ou nomear os sintomas que surgiram. Os pais ou responsáveis ao procurar um médico, iniciam com queixas que não são identificados como sendo de depressão.

Nedley (2009, p.39) afirma que:

O medicamento pode mascarar a dor e tornar mais difícil, para o médico, a tarefa de identificar a causa, pois a dor abdominal tem muitas causas. O mesmo verdadeiro é com respeito à depressão. Os medicamentos antidepressivos para dor podem ajudar a aliviar os sintomas, mas tornar mais difícil, para o profissional, a tarefa de determinar a causa da depressão. Quando não se determina a causa da dor abdominal ou da depressão, a dor frequentemente há de continuar, recorrer, ou tornar-se mais aguda.

Sendo assim, é preciso investigar, porque a dor ou outro tipo de sintoma e/ou mudança de comportamento nem sempre está relacionada com aquilo que parece óbvio.

Monteiro e Lage (2007) apud Cruvinel e Boruchovitch (2003) ressaltam que é preciso cautela, não só no diagnóstico da depressão, mesmo porque nem toda manifestação de tristeza deve ser considerada como patológica, mas também no seu tratamento, que deve ter por base a particularidade de cada pessoa, e não apenas nos sintomas apresentados.

Amaral & Barbosa (1990) apud Cruvinel e Boruchovitch (2003) relatam que em casos específicos, quando a criança ou adolescente apresenta um quadro de certa gravidade, recomenda-se um tratamento medicamentoso e/ou psicoterápico, devido, principalmente, à presença de comportamentos e/ou pensamentos suicidas.

Segundo Nedley (2009, p.41) após estudos relata que:

Os adolescentes deprimidos são particularmente vulneráveis ao suicídio – provavelmente a consequência mais trágica da depressão. Os índices de tentativa de suicídio atingem elevados picos durante os anos da adolescência. Dados estatísticos devastadores dão conta de que ao redor dos 15 anos de idade, 14% dos jovens relataram tentativa de suicídio.

Quanto ao tratamento medicamentoso, Fassler e Dumas (2002) p. 232 afirma que: “Uma vez que se inicie a medicação, a criança ou adolescente precisará ser acompanhada regularmente por um médico (isto é, psiquiatra, pediatra, ou médico de família) que possa verificar mudanças fisiológicas”. Lembrando que os terapeutas são indivíduos com diferentes estilos e abordagens de tratamento.

Para uma melhor compreensão consideremos o que diz Fassler e Dumas (2002).

Atualmente, há literalmente, centenas de terapias diferentes para tratar a depressão. O tipo de tratamento recomendado pelo terapeuta dependerá de sua avaliação dos sintomas, bem como de sua própria formação e orientação, ou seja, as abordagens de tratamento em que este terapeuta confia mais e com as quais se sente melhor.  p. 216

Podemos destacar alguns tipos de tratamento para a depressão conforme Fassler e Dumas (2002) Terapia psicodinâmica; Terapia cognitiva/comportamental; Terapia familiar; Antidepressivos, entre outros.

Para Nedley (2009, p.39) com relação ao tratamento medicamentoso nos afirma que:

Hoje, quando o médico faz o diagnóstico de depressão, ele quase automaticamente prescreve um medicamento. Essa prática comum pode “ajudar” no tratamento da depressão. Pode também diminuir o risco de suicídio, mas pode não ser o passe para uma vida livre de depressão.

Ou seja, é fundamental mudanças de estilo de vida. Concomitante ao tratamento medicamentoso, adotar hábitos saudáveis, tipo alimentação saudável e equilibrada, atividade física, prática de esportes e outros.

Lembrando que, caso o tratamento sugerido tenha sido o antidepressivo Fassler e Dumas (2002) diz que: “Esteja atento para o fato de que os antidepressivos não fazem efeito imediato. Pode levar algumas semanas até se encontrar a dosagem correta. E, em geral, são necessárias pelo menos duas semanas nesta dosagem para se perceber as melhoras significativas”. (p. 232)

Entretanto para um tratamento eficaz, faz-se necessário uma aliança entre paciente, pais ou responsáveis e terapeuta. Acompanhar de perto o tratamento do seu filho é fundamental. Se tiver dúvidas, questione, pesquise, peça a opinião de outros profissionais, antes de tudo, confie em sua intuição. Devemos ajudar nossas crianças e adolescentes a superar esta doença demonstrando amor, afeição, o máximo de normalidade, conversando, ouvindo, estimulando, respeitando e enfim, mantenha a fé, não desista.

            O papel da psicopedagogia junto a jovens com depressão

            A psicopedagogia junto a jovens com depressão e a suas famílias tem como objetivo apresentar meios para um apoio tanto escolar como familiar.

            Observamos que os efeitos da depressão na aprendizagem da criança e do adolescente, geralmente resultam em problemas na aprendizagem e desorganização quanto ao seu comportamento de ordem física e psíquica. Sendo assim, segundo Weiss (2008, p.194) “O atendimento psicopedagógico possibilitará a intervenção e o apoio permanente para possíveis mudanças de conduta do aluno-paciente, dentro do respeito a suas características pessoais.”         Desta forma, como sugestão, podemos seguir os passos do autor Bregamaschi (2007 apud PEREIRA 2010) que aponta o estabelecimento de uma rotina para a realização das tarefas, importante para obter responsabilidades, pode se fazer um acordo entre pais e a escola com um horário para acordar, de sair de casa, comer e chegar à escola, assim poderá diminuir o atraso. Incentivar o aluno a participação de grupos em sala de aula e motivar outros colegas para que o convide a participar do seu grupo, motivando assim ao convívio social.

            Manter regras é importante principalmente para a organização do pensamento. O reforço é outro ponto para ajudar a manter um aumento frequente do comportamento positivo do aluno. Além de dar maior ênfase ao treinamento das habilidades e da autoestima adequada.

         Entretanto, a criança ou adolescente com depressão, além do acompanhamento psicopedagógico precisa de um atendimento com outros profissionais, principalmente um acompanhamento psicológico por se tratar de origem emocional.

Metodologia

 

         O artigo foi realizado de forma qualitativa, partindo de pesquisas bibliográficas que foram cuidadosamente selecionadas e deram embasamento teórico para essa temática.

 

Considerações finais

           

            A relevância do tema abordado contribuiu como forma de orientação aos pais e educadores, também a estudantes e pesquisadores da área da Pedagogia, Psicologia, Psiquiatria e Psicopedagogia. Quanto à relação da criança e adolescente com depressão e sua aprendizagem e estado psíquico.

            Como também possibilitar aos psicopedagogos um maior comprometimento quanto a uma melhora na aprendizagem da criança ou adolescente e consequentemente contribuindo para o desenvolvimento saudável da sua saúde física e emocional.

            A contribuição para a sociedade se manifesta como meio de orientação a familiares e educadores quanto á depressão infantil e suas prováveis causas, meios de prevenção e tratamento, sintomas e efeitos na aprendizagem, pois quando a criança ou adolescente é acometido por esta doença todos de forma direta ou indireta são afetados.

 

Referências Bibliográficas

 

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WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia Clínica. Uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 13. Ed. ver. e ampl. – Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.

[1] Artigo redigido para Conclusão de Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia – Centro Universitário Adventista de São Paulo-, na cidade de São Paulo - SP, 2012, sob a orientação da Profª. Dra. Lilian Cristine Ribeiro Nascimento.

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