Canta de galo.



Canta de galo.

O mundo-verdade acessível ao ser que rompe com o palpável, mergulha na ficção de saber a verdade das aparências. Acredita cantar de galo no universo mensurável dos homens. Pura ilusão. Mentira baseada na pretensão de dominar o galinheiro. Galo que canta todo raiar de sol sem saber o por quê de tal ofício. Apenas obedece se achando útil ao dia. Canta de galo.                         

                A salvação do Mundo-verdade está na poesia. A linha de Drummond e a Cor de Cecília consolam o ardor diário da obrigação perante o sol. O astro rei é um fiscal da conduta do galo. Todo dia, de sua santa existência, o compromisso deve ser cumprido. O cumprimento da tarefa diária lhe fornece o status de virtuoso, de valioso, de sábio e de religioso aos outros seres de sua espécie. Canta de galo e torna-se senhor de tuas infelicidades. O galo que alimenta o feijão do pecador.

                Uma análise gráfica do quadro remete à forma naturalista de representação pictórica da ave, acrescida do fundo tendencioso ao sentido da poesia fina. Ou isto, Ou aquilo:   “os dois ora estais reunidos

                    Numa aliança bem maior

                    Que o simples elo do terra.” (C. Drummond de Andrade)

O réptil que une as duas formas de cantar o mundo, fomenta a vontade do galo de comer a poesia, incita a prepotente ave a cantar o canto alheio. Pobre ave, que não voa e aceita a rotina do galinheiro. As cores quentes do galo e das setas do fundo indicam a vibração do som que surge na obrigação de cantar o nascimento do sol. Uma tarefa nobre ao ser que pouco se valoriza.

                Na idéia de tempo, baseada no nascer do sol, o galo possui um papel de ídolo. Relógio biológico que prova a existência dos dias. No crepúsculo dos ídolos a serenidade não constitui uma arte a desconsiderar, o canto do anunciar diurno não consegue ser sereno, é estridente e agudo como o grito de socorro.

                O Nietzsche solidário, o marcar regular do existir, o compartilhar das estações, A vivência solitária mediante o existir coletivo, aptidão para cobrar resultado do anunciar constante de viver.


Autor: Mateus Guimarães Alves


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