Relações Familiares E Qualidade De Vida Na Velhice



CENTRO DE CONVIVÊNCIA DA FAMÍLIA PE. PEDRO VIGNOLA: UM ESTUDO SOBRE AS RELAÇÕES FAMILIARES E QUALIDADE DE VIDA NA VELHICE

Chrissie Dianne Pessoa Bezerra[1]           

RESUMO

O presente artigo apresenta uma análise das relações familiares e qualidade de vida na velhice, um estudo realizado junto ao Centro de Convivência da Família Pe. Pedro Vignola, localizado no bairro cidade nova II na zona norte de Manaus. O artigo objetiva compreender como o fortalecimento dos vínculos familiares contribui para a melhoria da qualidade de vida do idoso, focalizando a importância das relações familiares para a construção de uma velhice bem-sucedida. Com a finalidade de identificar as principais alternativas que levam o idoso a viver mais qualitativamente; descobrir qual o significado de qualidade de vida na opinião dos sujeitos; e, ainda, verificar se houve mudanças nas relações familiares após a entrada do idoso no Centro de Convivência, em especial, o grupo “Convivência com Alegria”, alvo deste estudo. A metodologia utilizada para a elaboração deste artigo consiste numa pesquisa de natureza descritiva e abordagem qualitativa, com um trabalho de campo envolvendo tratamento analítico do material coletado e das situações observadas, com o intuito de conhecer a forma de pensar dos sujeitos com relação à temática. As entrevistas foram realizadas com cinco idosos sendo selecionados no campo de pesquisa, estabelecendo assim os elementos-chaves do estudo. Por meio desses aspectos metodológicos, obteve-se o resultado da pesquisa onde foi constatado que a família contribui bastante para a melhoria da qualidade de vida do idoso, além de desempenhar um papel de apoio social, busca alternativas que garantem a autonomia, autoestima, autosatisfação e bem-estar deste segmento.

Palavras-Chaves: relações familiares, idoso, qualidade de vida.

 

 INTRODUÇÃO

O Brasil está passando por uma relevante intensidade demográfica com o aumento proporcional da população idosa representando 9,8% da população total, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Esta intensidade demográfica vem sendo acompanhada por uma transição de problemas relacionados à terceira idade, como doenças crônico-degenerativas, físicas e psicossomáticas que tornam o idoso, muitas vezes, incapacitado funcionalmente e com uma saúde muito delicada, gerando, assim, a condição de dependência na velhice, afetando não somente o indivíduo, mas a família como um todo.

No tocante a esta questão, faz-se necessário compreender que no Brasil o idoso dependente pode ser visto como mais um segmento excluído da sociedade e sem recursos no âmbito das políticas sociais. Em certos casos, o idoso fica exposto a situações de morbidade significativas por vários aspectos como físicos, psíquicos e sociais. Isto ocorre quando a família está impossibilitada de prestar assistência efetiva e atenção especial ao idoso, o que aumenta a procura por asilos e casas de repouso. Esta decisão, em muitos casos, traz um sentimento de desamparo e rejeição para com o idoso asilado, gerando perda de referências e de autonomia de convívio social que dificulta o estabelecimento de novos relacionamentos, além de uma queda na autoestima.

Diante disto, é preciso que toda a sociedade se desperte para assumir as responsabilidades de participação na melhoria da qualidade de vida na velhice desenvolvendo exercícios físicos e intelectuais que favoreçam o interesse pelas alegrias da vida. Por isso, se faz necessário a criação de políticas específicas que objetivam integrar o idoso no meio social, favorecendo a autonomia e o sentimento de satisfação e bem-estar na velhice, sendo esta considerada como uma nova etapa do ciclo da vida.

A participação em atividades de lazer, as vivências corporais, bem como o convívio social sadio, proporciona a elevação da autoestima e consequentemente a melhoria da qualidade de vida.

E no que tange a esta questão, este estudo coloca em evidência a necessidade de questionar se o fortalecimento dos vínculos familiares favorece a construção da melhoria da qualidade de vida na velhice. Traz no percurso uma breve revisão de literatura apoiando-se em dados empíricos a fim de obter informações a respeito das relações familiares e, principalmente, descobrir como a família se organiza em direção a pessoa idosa, buscando alternativas para a melhoria da qualidade de vida da mesma. Nesse sentido, será resgatado as considerações obtidas durante e após a ida ao campo através dos instrumentos e técnicas utilizados.

Diante disto, no tocante em responder aos interesses assinalados neste estudo, elaborou-se, então, o objetivo principal: Compreender se as relações familiares contribuem para a melhoria da qualidade de vida do idoso, focalizando a importância destas para a construção de uma velhice bem-sucedida.

Destarte, para que se possa traçar os caminhos que devem ser percorridos de maneira que possibilite alcançar o objetivo proposto neste trabalho, elaborou-se os seguintes objetivos específicos: Identificar as principais alternativas que levam o idoso a viver mais qualitativamente, destacando as que contribuem para a experiência das trocas intersubjetivas; Descobrir qual o significado de qualidade de vida na opinião dos idosos inseridos no grupo “Convivência com Alegria” do Centro de Convivência da Família Pe. Pedro Vignola; e, ainda, Verificar se houve mudanças nas relações familiares após a entrada do idoso no Centro de Convivência, evidenciando a questão da sociabilidade e afetividade entre idoso e família.

O estudo consiste num levantamento documental e bibliográfico, na observação e análise de conteúdo, onde será estudado as relações familiares e qualidade de vida na velhice por meio do Centro de Convivência da Família Pe. Pedro Vignola, em especial, o grupo “Convivência com Alegria”, foco deste estudo.

Para análise do tema proposto, este estudo pautar-se-á numa pesquisa de natureza descritiva e abordagem qualitativa, com um trabalho de campo envolvendo tratamento analítico do material coletado e das situações observadas, a fim de conhecer a forma de pensar dos sujeitos com relação à temática apresentada.

A pesquisa descritiva, segundo Vergara (2004), é aquela que expõe a análise das características de determinado fato, fenômeno ou determinada população, estabelecendo correlações entre variáveis principais, definindo, assim, a natureza. Não explica os fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal explicação.

Na abordagem qualitativa, de acordo com Minayo (1994), o pesquisador mantém contato direto com o objeto de estudo e o ambiente. As questões são trabalhadas com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

Contudo, apresentam questões muito particulares, preocupando-se, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, valorizam mais o processo do que o produto. E, ainda, utilizam um quadro teórico que direciona o material coletado, a análise e interpretação dos resultados.

O instrumento utilizado para a execução desta pesquisa de campo foi uma entrevista estruturada com perguntas abertas, uma conversação metódica efetuada face a face com a presença do pesquisador, proporcionando uma melhor compreensão dos dados coletados e um aproveitamento completo das informações necessárias, para que se possa interpretar os resultados e chegar a possíveis respostas e reflexões.

Os informantes-chaves selecionados no campo de pesquisa foram 5 (cinco) idosos membros do grupo “Convivência com Alegria”, assíduos e comprometidos com as atividades socioeducativas, esportivas, recreativas e culturais do Grupo e do Centro de Convivência da Família. Cabe ressaltar que a coleta de dados foi realizada no mês de maio de 2011, por meio de entrevistas realizadas no local da pesquisa.

A partir desta perspectiva metodológica justificam-se os temas abordados neste estudo subdivididos de forma sequencial em três partes, quais sejam:

Parte I – “Políticas Públicas de Atenção ao Idoso: resultados de lutas e concretização de direitos” expõe algumas considerações sobre o processo de envelhecimento no Brasil apresentando dados disponíveis nas últimas pesquisas sobre a densidade demográfica no que se refere ao aumento da população idosa. Em seguida aborda os direitos fundamentais do segmento idoso principalmente no que se refere à Seguridade Social, um direito de todo cidadão e dever do Estado, bem como outras políticas sociais, que dão acesso aos serviços públicos de proteção social, voltadas para a pessoa idosa.

Parte II – “Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida: o despertar para a realidade” retoma o conceito teórico sobre a qualidade de vida na velhice, evidenciando o bem-estar e a autoestima com relação a capacidade funcional, situação de saúde, ambiente familiar, estado emocional, nível socioeconômico, a sociabilidade e interação com outras pessoas, entre outros aspectos que contribuem para a construção de uma velhice bem-sucedida.

Parte III – “Convivência Familiar: um instrumento de reciprocidade e elevação da qualidade de vida” apresenta a responsabilidade do Estado e Sociedade Civil em assegurar proteção, bem-estar-social e direitos básicos a este contingente de idosos, e ainda, o dever da família em dar suporte, assistência efetiva, priorizando a manutenção do vínculo familiar estimulando a autoestima, as trocas intersubjetivas, de afetividade e de solidariedade.

Com base no exposto, este artigo terá como finalidade discutir a contribuição do fortalecimento dos vínculos familiares na construção da melhoria da qualidade de vida do contingente idoso. Para tanto, apresentar-se-á os conceitos que se aproximam da promoção de uma velhice bem-sucedida, bem como algumas estratégias e argumentos capazes de estabelecer relações familiares e sociais positivas e consistentes que influenciem no bem-estar geral deste segmento.

POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO AO IDOSO: RESULTADO DE LUTAS E CONCRETIZAÇÃO DE DIREITOS.

            A sociedade brasileira vem apresentando mudanças na pirâmide etária, onde comprova, nos últimos trinta anos, uma participação crescente da população idosa. Tal visibilidade pode ser detectada através dos censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2000).

O processo de envelhecimento em alguns países da Europa iniciou-se em meados do século XIX, por outro lado, no Brasil este processo somente teve início no final dos anos 60. Desde então o aumento da expectativa de vida vem sendo cada vez mais perceptível por meio das projeções demográficas, onde se observa uma incidência bastante significativa do contingente idoso, representando 9,8% da população total (BARBOSA, 2008).

Para Goldman (2006, p. 160), o aumento da expectativa de vida decorre, “dentre outros fatores, dos avanços registrados na área do saneamento e na saúde, por um lado e, por outro, na diminuição nos índices de natalidade e de fecundidade nos últimos trinta anos”.

Vale ressaltar que o Brasil, numa estimativa referente ao ano de 2030, em níveis mundiais será o sexto país com um número elevado de pessoas idosas (LOBATO, 2006), o que implica na criação de políticas públicas voltadas para o atendimento ao idoso, para que, assim, este possa viver mais qualitativamente.

Diante disto, cabe enfatizar as principais Leis que preconizam a atenção e a proteção ao idoso no Brasil por meio da “qualidade oferecida aos que envelhecem através de políticas sociais, principalmente nas áreas da saúde, da previdência e da assistência” (GOLDMAN, 2006, p. 161).

E no que se refere a essas três Políticas que formam o tripé da Seguridade Social, convém analisar o artigo 194 da Constituição Federativa Brasileira promulgada em 1988, no qual compreende a Seguridade Social como “um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da Sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social” (BRASIL, 1988, p. 87).

De acordo com Borges (2006, p. 87), a Seguridade Social foi instituída no Brasil a partir da Constituição Federal de 1988, “fundamentada no conceito de proteção social, composta por assistência e seguro social”, tendo como princípios norteadores:

I – universalidade da cobertura e do atendimento;

II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;

III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

IV – irredutibilidade do valor dos benefícios;

V – equidade na forma de participação no custeio;

VI – diversidade da base de financiamento;

VII – caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e aposentados. (BRASIL, 1988, p. 87).

Diante da consolidação desses princípios, é relevante destacar as grandes conquistas asseguradas à população por esse dispositivo legal, onde concebe a Política de Assistência Social bem como a Política de Saúde como garantia de todos os cidadãos, um direito universal e de caráter não-contributivo, devendo ser assumido, principalmente, pelo Estado.

A Política de Saúde foi normatizada com base na homologação da Lei Orgânica da Saúde - Lei nº 8.080/90 e 8.142/90 – e regulamentada pela Constituição Federal de 1988, que dispõe sobre “a participação da comunidade na gestão do sistema e das transferências intragovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e pela Emenda Constitucional nº 29/2000” (LIMA, 2008, p. 11).

Segundo a Constituição Federativa (1988), mas precisamente no capítulo da Seguridade Social, a Política de Saúde é considerada como um direito de todos e dever do Estado, visando à redução do risco de doenças e de outros agravos, garantindo, mediante as políticas econômicas e sociais, o acesso às ações e serviços de modo igualitário e universal para a promoção, proteção e recuperação do indivíduo, através de um sistema único que visa suplementar: a descentralização; o atendimento integral; e a participação da comunidade.

Sendo assim, percebe-se que a Constituição Federal estabelece um marco relevante com relação aos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais, entre outros, e ainda um conjunto de garantias constitucionais atribuídos, em particular, ao idoso por este possuir a necessidade de ser motivado a exercer o papel de sujeito na busca do espaço social para a construção da cidadania.

Para Faleiros (2006, p. 64), a Saúde Pública visa a diminuição do risco de doenças e demais agravantes, estruturando-se por meio do “Sistema Único de Saúde – SUS, atendendo a grande massa da população de forma precarizada, ficando os segmentos médios e altos atendidos pelo setor privado dos planos de saúde”.

Diante disto, observa-se que as condições socioeconômicas do ser humano estão interligadas com os problemas de saúde. Com isso, o idoso, geralmente, não dispõe dos serviços privados de saúde recorrendo, muitas vezes, ao Sistema Único de Saúde. Este, por sua vez, deveria por obrigação prestar um serviço de qualidade, mas na prática, é contraditório, gerando um sentimento de insatisfação do usuário atendido pelo referido Sistema.

Por outro lado, a Previdência Social, integrante da Política de Seguridade Social, funciona através de planos previdenciários mediante contribuição, tendo por objetivo atender nos termos do artigo 201, seção III, da CF de 1988, abrangendo:

I – cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte, incluídos os resultantes de acidentes do trabalho, velhice e reclusão;

II – ajuda à manutenção dos dependentes dos segurados de baixa renda;

III – proteção à maternidade, especialmente à gestante;

IV – proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;

V – pensão por morte de segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, obedecido o disposto no § 5º e no art. 202. (BRASIL, 1988, p. 89).

E ainda no artigo 202 da mesma seção, se expressa nos termos da Lei, as principais condições para que seja assegurada a aposentadoria calculando o benefício sobre a média dos trinta e seis últimos salários de contribuição:

I – aos sessenta e cinco anos de idade, para o homem, e aos sessenta, para a mulher, reduzido em cinco anos o limite de idade para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, neste incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal;

II – após trinta e cinco anos de trabalho, ao homem, e, após trinta, à mulher, ou em tempo inferior, se sujeitos a trabalho sob condições especiais, que prejudiquem a saúde ou a integridade física, definidas em lei. (BRASIL, 1988, p. 90).

O benefício previdenciário é um direito constitucional garantido ao assegurado por meio da efetivação dos serviços prestados. Não é apenas uma concessão e sim um direito constitucional atribuído ao idoso que muito colaborou para o avanço da democracia através de lutas e reivindicações que legitimaram as políticas sociais no Brasil “percebidas como instrumentos de concretização de direitos de cidadania” (LOBATO, 2006, p. 137).

Outra política que compõe o tripé da Seguridade Social é a Assistência Social formulada pela Constituição Federal de 1988 e regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (Lei 8.742 de 7/12/93), concebida, conforme o aparato legal, uma política pública de inclusão social, um direito do cidadão e dever do Estado, “sendo fundamental para a melhoria da qualidade de vida da população idosa e da sociedade em geral, considerando a realidade brasileira com intensa disponibilidade na distribuição de renda e séries injustiças sociais” (BORGES, 2006, p. 95), e prestadas de forma universal a quem dela necessitar independentemente de contribuição financeira, tendo como objetivos principais:

I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;

II – o amparo às crianças e adolescentes carentes;

III – a promoção da integração ao mercado de trabalho;

IV – a habitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;

V - a garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. (BRASIL, 1993, p. 7 e 8)

Segunda Faleiros (2006, p. 61) a Assistência Social é uma “garantia adquirida pelo indivíduo em certos casos específicos de perda de salário ou da capacidade de trabalho (doença, desemprego, velhice, invalidez)”, atendendo particularmente, ao idoso enquanto cidadão de direitos regidos pela Constituição e merecedor de atenção e proteção, conforme preconiza a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS e Estatuto do Idoso.

Silva (2004, p. 228), na obra “Benefício de Prestação Continuada da Lei Orgânica da Assistência Social: Impacto e Significado Social”, afirma que a respectiva Lei Orgânica que rege a Política de Assistência Social é:

[...] regulamentada e implementada num contexto de avanço e hegemonia do projeto neoliberal, em que a lógica do mercado é privilegiada em detrimento da lógica da cidadania. A LOAS baseia-se na lógica da cidadania, em defesa dos mínimos sociais como um padrão básico de inclusão, o que a torna incompatível com a lógica de mercado, que, na conjuntura, orienta a intervenção do Estado.

Diante deste paradoxo, a autora faz pontuais aplicações referentes à Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, evidenciando, sobretudo, a implementação do Benefício de Prestação Continuada – BPC, sendo este,

[...] destinado à pessoa portadora de deficiência e aos idosos que não tenham como prover a própria manutenção, está sendo implementada desde janeiro de 1996, e constitui a maior expressão da política de assistência social. (SILVA, 2004, p. 228).

O BPC propõe, no plano legal, uma proposta de gratuidade e não contributividade designada à pessoa idosa e à pessoa portadora de deficiência, desde que não tenham como prover o próprio sustento, considerado um mínimo necessário para a garantia da sobrevivência assegurando a inclusão social para os mesmos possuidores de direitos.

Conforme os dados oficiais do Benefício de Prestação Continuada – BPC, exibidos pelo censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, observa-se nos últimos três anos consecutivos um percentual de 70% de recursos do Fundo Nacional de Assistência Social – FNAS destinados ao BPC.

Desta forma, Silva (2004), coloca que o BPC alcança 7,17% de um universo de 19.580.228 pessoas com renda familiar per capita inferior a um quarto do salário mínimo, sendo 5,88% idosos com sessenta e cinco anos ou mais que possuem o BPC, num total de 8,6 milhões de pessoas idosas no país.

Destarte, o BPC é um mínimo vital para a garantia da própria manutenção e da família, uma vez que, assegura o sustento dos vulnerabilizados e excluídos socialmente. Convém sinalizar, que com apenas um salário mínimo garantido ao idoso, é impossível adquirir a manutenção de uma digna qualidade de vida, numa sociedade capitalista condicionada pela força de trabalho e padronizada por uma lógica de mercado.

ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL E QUALIDADE DE VIDA: O DESPERTAR PARA A REALIDADE

Diante das transições demográficas iniciadas no último século, se faz possível perceber uma população cada vez mais envelhecida, onde é evidente a importância de garantir a todos os idosos uma melhor qualidade de vida, para que assim possam desfrutar dos direitos independente da idade, raça, religião ou cultura.

A definição de qualidade de vida está relacionada ao bem-estar e auto-estima do ser humano. É um termo usado constantemente nos meios acadêmicos e no cotidiano, que abrange vários aspectos relacionados a capacidade funcional, nível socioeconômico, sociabilidade e interação social, estado emocional bem como a situação de saúde, atividades físicas e intelectuais, laços de afetividade e o apoio familiar, ambiente em que vive, estilo de vida, enfim, os valores éticos, culturais e religiosos, entre outros.

Envelhecimento e qualidade de vida são dois aspectos importantes que, antes pareciam tão distantes um do outro, hoje se tornaram cada vez mais próximas, requerem um tratamento cuidadoso devido a complexidade e abrangência. A compreensão de ambos necessita do empenho de diversas áreas do conhecimento.

Até meados do século passado, havia uma certa ideia de que chegar à terceira idade era sinônimo de muitas perdas e o início de um processo de abandono e finitude. Mas hoje, com os avanços nas áreas ligadas à saúde, o idoso está conseguindo viver mais e melhor.

De acordo com Neri (1993, p. 9), viver de maneira positiva é:

[...] questão existencial que se propõe a um número crescente de pessoas em todo o mundo, uma vez que o envelhecimento populacional está se generalizando. Identificar as condições que permitem envelhecer bem, com boa qualidade de vida e senso de bem estar, é tarefa de várias disciplinas no ângulo das ciências biológicas, da psicologia e das ciências sociais.

Diante desta reflexão, é crescente o envelhecimento populacional e para se envelhecer com qualidade de vida precisa-se de uma união entre as ciências biológicas, da psicologia e das ciências sociais. Mas ao contrário do que pensa Neri (1993), os autores Featherman, Smith e Peterson apud Neri (1990) propõe que a promoção da boa qualidade de vida na idade madura excede, entretanto os limites da responsabilidade pessoal e deve ser vista como um empreendimento de caráter sociocultural. Ou seja, uma velhice satisfatória não é um atributo do indivíduo biológico, psicológico ou social, mas resulta da qualidade da interação entre pessoas em mudança, vivendo numa sociedade em mudanças.

Sob o ponto de vista de Rolim e Forti (2004, p. 67):

A qualidade de vida apresenta-se dependente de uma percepção subjetiva dos indivíduos, dependente também do grupo populacional a que se refere, fazendo parte de um processo de produção, de circulação e de distribuição de bens. É necessário entender também que esses aspectos subjetivos da qualidade de vida podem diferir e variar não apenas de pessoa para pessoa, mas também com relação à própria pessoa nas diversas etapas de sua vida.

Contudo avaliar a qualidade de vida na velhice implica na adoção de múltiplos critérios de natureza biológica, psicológica e sócioestrutural. Vários elementos são apontados como determinantes ou indicadores de bem estar na velhice como: longevidade; saúde biológica; saúde mental; satisfação; controle cognitivo; competência social; produtividade; atividade; eficácia cognitiva; status social; renda; continuidade de papéis familiares e ocupacionais, e continuidade de relações informais em grupos primários, principalmente rede de amigos.

Com o passar da idade ocorrem transformações no corpo e não tem como evitar, e aos poucos a fase idosa, que se inicia aos 60 anos, se aproxima. Mas é possível cuidar de si, preparar-se para uma velhice saudável e garantir muita disposição por toda a vida.

A velhice é a etapa da vida que se segue à maturidade e que apresenta efeitos específicos sobre o organismo do homem, em razão do passar dos anos. É uma fase de continuação da vida.

Todos se preocupam com a saúde e esta não é privilégio da juventude, pois não se deve mensurar vida em termos de idade cronológica. Ser idoso não é ser doente ou incapacitado.

De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – PNAD (Saúde de 1998), aproximadamente 85% dos homens idosos e 83% das mulheres possuem boas condições de saúde. A pesquisa aponta que as mulheres apresentam uma chance maior do que os homens de experimentarem as doenças típicas da última fase da vida, tais como: artrite ou reumatismo, diabetes, hipertensão, doenças do coração e depressão, bem como de contraírem incapacidades que afetam as atividades do cotidiano (CAMARANO, 2003).

Diante das doenças, perdas de papéis ocupacionais e perdas afetivas os idosos adquirem diferentes graus de ansiedade, dependendo da história pessoal, da disponibilidade de suporte afetivo, do nível social e dos valores de cada um. Portanto, uma velhice satisfatória é largamente mediada por transformações determinadas por um período histórico destinado para uma certa unidade sociocultural.

Segundo Neri (1993), para se envelhecer bem depende de quatro condições, quais são: atividade, capacidade de afastamento, satisfação com a vida e a maturidade ou integração da personalidade. Considerando a linha do raciocínio da autora, Williams e Wirths (1990) derivam ainda mais dois condicionantes da boa qualidade de vida ao envelhecer: o primeiro é o equilíbrio de energia entre o indivíduo e o sistema social, e o segundo se refere ao sistema social estável.

Percebe-se que existem várias condições que permitem uma boa qualidade de vida na velhice, bem como as variações que esse estado comporta revestindo-se numa grande importância científica e social e tentando resolver a aparente contradição que existe entre velhice e bem estar. Vale ressaltar que envelhecer bem significa estar satisfeito com a vida atual e ter expectativas positivas com relação ao futuro.

Enfim, é importante entender que qualidade na velhice, bem-estar psicológico, bem-estar percebido e, mais recentemente, envelhecimento satisfatório ou bem-sucedido, são expressões ditas a diversos pontos de vista sobre o envelhecimento. Diante de todas essas expressões o mais importante é que o indivíduo tenha consciência de que ter uma boa qualidade de vida trará ao mesmo uma boa velhice.

CONVIVÊNCIA FAMILIAR: UM INSTRUMENTO DE RECIPROCIDADE E ELEVAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA.

A consolidação dos direitos a pessoa idosa gerou-se a partir da Constituição Federal Brasileira de 5 de outubro de 1988. Dentre os artigos específicos, cabe mencionar o art. 229 do capítulo VII: “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade” (BRASIL, 1988, p. 167).

Tal artigo vem consolidar o dever da família em suprir e satisfazer as necessidades do idoso enquanto ser humano integral e sujeito de sua própria história, apoiando, cuidando e amparando-o nos momentos mais necessários, principalmente, comprometendo-se com a autonomia, integridade física, pessoal e psicossocial do mesmo.

Se faz importante enfatizar, também, o art. 230 da CF, onde explicita que a “família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida” (BRASIL, 1988, p. 167).

Sendo assim, compreende-se que este tripé é responsável em assegurar a proteção e os direitos básicos à população idosa por meio de ações sociais que visem o reconhecimento e a valorização dos idosos brasileiros e, ainda, um envelhecimento digno e bem-sucedido para os mesmos.

De acordo com a Lei Federal nº 10.741 – Estatuto do Idoso, artigo 3º: “É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida” (BRASIL, 2003, p. 11). Além disso, o Estado prioriza os direitos essenciais ao idoso, como a saúde, alimentação, educação, cultura, esporte, lazer, trabalho, cidadania, liberdade, dignidade, respeito e, ainda, a convivência familiar e comunitária.

E no que se refere à convivência familiar, o Estatuto é considerado um grande progresso para os idosos e para a sociedade brasileira ao criar mecanismos, já demarcados pela Política Nacional do Idoso – PNI (1994) e CF (1988), para a família que não der suporte, assistência, proteção e atenção ao idoso, ou penalidades para quem maltratar, violentar e/ou discriminar o idoso.

Mas não são raros os casos de idosos que são maltratados na família. É por isso que a Lei impõe e determina que a família ampare e proteja o idoso para que este não seja “objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão” (BRASIL, 2003, p. 12).

Conforme a linha de pensamento de Kaloustian (2008, p. 11), a família se define como: “o espaço indispensável para a garantia da sobrevivência de desenvolvimento e da proteção integral dos filhos e demais membros”.

E no que tange a esta questão, compreende-se que a família possui um papel essencial e de grande relevância na educação, nos valores éticos e humanitários. Além de ser a principal fonte de apoio e cuidado com os membros familiares, ainda dá subsídios necessários para o desenvolvimento e bem-estar dos mesmos, independente do arranjo ou da estrutura familiar.

Em todas as fases da vida, em particular, na terceira idade, a família possui uma importância fundamental onde desempenha um papel decisivo na formação, educação e no desenvolvimento social do ser humano (ZIMERMAN, 2000).

Assim, o idoso, depois de muito contribuir para a vida familiar dos filhos, agora é quem necessita de cuidados especiais e de assistência por parte dos familiares. Essa relação do idoso com a esfera familiar valoriza ainda mais os laços de afetividade e solidariedade, além de construir traços fortes e sólidos entre gerações.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

O referido estudo contou com a participação de 5 idosos, acima de 60 anos, (elementos-chaves) membros do grupo “Convivência com Alegria” do Centro de Convivência da Família Pe. Pedro Vignola, localizado no bairro cidade nova II na zona norte de Manaus.

O Centro de Convivência é uma unidade que, por estar vinculado à Secretaria de Estado de Assistência Social – SEAS, órgão coordenador da Política Estadual de Assistência Social, visa melhorar a qualidade de vida das famílias e indivíduos excluídos do acesso às políticas públicas. Neste espaço são realizadas atividades socioeducativas, laborativas, esportivas, culturais, assistenciais, promocionais, recreativas e de lazer, que favorecem a socialização e a integração social.

As respectivas atividades estimulam a participação do idoso nas discussões sobre as condições de vida social e de direitos de cidadania, e ainda, motivam a preservar a capacidade funcional, a autonomia e a autoestima, contribuindo para um envelhecimento saudável e a melhoria da qualidade de vida.

No tocante a esta questão, foi analisado a concepção de velhice segundo as respostas dos entrevistados, por meio de duas questões. A primeira se refere à pergunta: “Para você, o que é uma pessoa velha?”.

As considerações feitas pelos idosos apresentaram aspectos bastante positivos no que se refere à concepção de velhice. Foi identificado que ser velho significa uma pessoa que já viveu muito, com bastante experiência e com ânimo de viver, apesar de sofrerem perdas e de estarem mais expostos a doenças crônicas e degenerativas.

A partir desta premissa, Varella e Jardim (2009, p. 4) afirma que ser velho não é sinônimo de doença, e sim um processo fisiológico natural que pode ser vivido em boas condições de saúde e que,

[...] embora existam enfermidades que acometem principalmente os mais velhos, a medicina moderna não admite que tais moléstias constituam um preço a ser pago obrigatoriamente por quem vive mais. É perfeitamente possível chegar aos 70-80 anos com saúde e disposição, da mesma forma que é possível melhorar as condições de quem já atingiu essa faixa etária.

Isto significa que ser velho é aprender a conviver com as limitações e lutar para que sejam diminuídos os problemas relacionados à saúde com a prática de exercícios físicos, alimentação adequada, estímulo da memória, apoio psicossocial, entre outros, são fatores que retardam os efeitos negativos da velhice e possibilitam o prazer em envelhecer, assim, vivem melhor e com mais saúde.

A segunda questão, sob a mesma análise de concepção de velhice, está relacionada à pergunta: “Como é a experiência de estar na terceira idade?”.

As expectativas diziam respeito a uma nova etapa de vida, uma fase importante que não se pode descartar, onde se goza as coisas boas, as alegrias, as amizades, o amor, o respeito, a solidariedade, o afeto, entre outros.

            Conforme Zimerman (2000, p. 20), em “Velhice: Aspectos Biopsicossociais”, vinte anos atrás, “uma pessoa de 65 anos podia ser vista como velha. Hoje é difícil vê-la enquadrada nos moldes da terceira idade. Não vejo uma pessoa dessa idade com grandes desgastes e muitas limitações”.

  Com isso, nota-se que, com o passar do tempo, as pessoas idosas estão se dedicando mais as atividades físicas, como caminhadas, natação, dança, atividades manuais e artísticas, exercícios de memória, preenchendo o tempo com passeios e festas de confraternização e, ainda, participando de grupos de convivência e universidades abertas para a terceira idade.

Ao analisar a questão “Qual a sua definição de qualidade de vida?”, todos responderam de forma satisfatória, que qualidade de vida é ser feliz em todos os aspectos, ter saúde, paz de espírito, sossego, segurança, lazer, boas condições financeiras, apoio social e familiar, é praticar exercícios físicos ou outras atividades que preencham o cotidiano. Enfim, é reconhecer que vale a pena viver a vida na sua plenitude, apesar das diversas situações e desafios.

Para Alleyne apud Rolim e Forti (2004, p. 65), qualidade de vida significa “a percepção subjetiva do indivíduo sobre sua posição na vida dentro do contexto da cultura e dos sistemas de valores em que vive e com relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.

Nesse sentido, o termo qualidade de vida é um conceito amplo que engloba o bem-estar geral de capa indivíduo, uma definição subjetiva que varia de acordo com os padrões individuais, históricos, culturais e sociais. Além de expectativas e preocupações relacionadas a uma saúde física e mental, convivências sociais e familiares, dependência, crenças, valores e o ambiente em que vive.

Com relação à pergunta “De que modo as atividades que você participa no Centro de Convivência da Família contribuem para a sua qualidade de vida?”, os idosos afirmaram que se sentem felizes ao realizarem as atividades do Centro, pois estão o tempo todo em contato com as pessoas, se sentem mais, acolhidos, respeitados e valorizados, cheios de energia, de amor, de afeto, além de se tornarem mais positivos e motivados a enfrentar o envelhecimento com dignidade, apesar de todas as limitações.

Diante desses aspectos, percebe-se no interior dos grupos de convivência a elevação da autoestima e o prazer em envelhecer através de atividades sociais, já mencionadas anteriormente, que objetivam a promoção de um envelhecimento saudável, buscando preservar a autonomia, a capacidade funcional e a qualidade de vida do idoso, conforme a Política Nacional de Saúde do Idoso – PNSI (1999).

No que se refere ás relações familiares, os idosos foram indagados sobre como é a convivência familiar dentro de casa e, também, com os outros familiares de não convivência. No agrupamento das respostas, identificou-se que as expectativas diziam respeito ao relacionamento sendo essencialmente bom, em outros casos, ótimo.

Não houve respostas contrárias a esta questão, apesar dos problemas e dificuldades que normalmente enfrentam no dia-a-dia com seus familiares (filhos, netos, bisnetos e outros), incluindo os fenômenos como desemprego, drogadição, violência, prostituição, gravidez na adolescência, entre outros. São situações que crescem cada vez mais entre o segmento populacional mais jovem e consequentemente repercutem nos idosos (CAMARANO, 1999 apud VITALE, 2010).

Quanto ao relacionamento, com os outros idosos do grupo “Convivência com a Alegria”, observou-se que existem grandes laços afetivos e trocas intersubjetivas entre os mesmos. Alguns depoimentos, transcritos abaixo, evidenciam esta questão:

“Eu tenho uma ótima relação com os outros idosos. Eles são muito amorosos, carinhosos e humildes. Eu sinto que eles gostam muito de mim”; “É muito bom ter esse contato com o outro, esse momento de partilhar, de conversar... Tudo isso só me traz alegrias”.

Estar em contato com as pessoas e grupos diversos, implica no estabelecimento de uma rede de relações de solidariedade e afetividade, capazes de possibilitar a participação na vida social e a vivência na sociedade através de grupos como o de “amigos, vizinhos, o grupo da igreja, o clube e quando mais velhos, temos os grupos da terceira idade, que se reúnem com objetivos semelhantes (LOBATO, 2006, p. 143), como, por exemplo, adquirir novos conhecimentos, fazer novas amizades, desenvolver novas habilidades, recuperar a memória e resgatar a autoestima, propiciando de uma forma geral, a busca do envelhecimento saudável e bem-sucedido.

Nesse contexto, para se ter uma visão mais clara sobre o assunto, sentiu-se a necessidade de perguntar aos idosos se o relacionamento familiar dentro e fora de casa ajuda-os a viver mais qualitativamente, mesmo tendo uma possível resposta por parte dos entrevistados. É importante ressaltar que todos afirmaram que com um bom relacionamento familiar seja dentro de casa ou fora, se tem mais qualidade de vida.

Como forma de reforçar esta reflexão, tem-se por base os pensamentos de Vitale (2010, p. 98):

Na sociedade contemporânea, o aumento da expectativa de vida, bem como a maior permanência dos jovens em casa, modifica significativamente as relações intergeracionais: crianças e jovens tendem a conhecer e a conviver mais com seus avós e bisavós. Há, com frequência, quatro gerações coexistindo numa mesma família. Vale enfatizar que essa convivência não apaga, contudo, os contornos e confrontos geracionais.

A relação do idoso com os membros familiares, sejam filhos, netos ou outros parentescos, favorece o sentimento de satisfação na velhice por meio de trocas afetivas, do suporte e do apoio mútuo que compartilham no cotidiano. Os mesmos transmitem tradições e experiências vividas que formam círculos de reciprocidade e solidariedade entre as gerações.

Quando foram indagados sobre a possibilidade de haver alguma mudança na relação familiar após o ingresso no Centro de Convivência da Família Pe. Pedro Vignola, os mesmos se referiram de forma positiva, afirmando que houve mudanças em suas vidas após o acesso as atividades do Centro, principalmente, quanto à participação no grupo “Convivência com Alegria”, uma iniciativa que muito colaborou para a melhoria da convivência do idoso com a família. Os depoimentos, a seguir, ilustram esta afirmação:

“Houve muitas mudanças, a primeira delas é que eu comecei a ter mais diálogo com meus filhos, agente passou a se entender mais. Eu aprendi aqui muita coisa que me fez refletir no meu modo de ser e agir”; “A minha vida melhorou muito, fiz novas amizades, sou mais alegre e mais companheira dos meus filhos e netos”; “Meus filhos ficaram felizes quando souberam da minha escolha em participar do grupo, eles me motivaram ainda mais”.

Foi constatado que a convivência familiar dos depoentes melhorou muito, e também, o apoio, o respeito, o afeto e a devida assistência da família foram aspectos que ajudaram na valorização e no reconhecimento do idoso perante a sociedade.

Em suma, percebe-se que as atividades do Centro de Convivência da Família, bem como o grupo “Convivência com Alegria” promovem a participação social e, ainda, proporcionam ao idoso significativas mudanças, principalmente, no que se refere à: “saúde, bem-estar, desenvolvimento biopsicossocial, convívio social e familiar, resgate da autonomia e autoestima” (BEZERRA, 2009, p. 92). Fatores estes que favorecem uma velhice mais saudável, logo a melhoria da qualidade de vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com todas as discussões acerca do envelhecimento, relações familiares e qualidade de vida, o objetivo deste estudo foi o de apontar suas interligações e reforçar que, além das questões referentes ao campo da saúde, da segurança, do lazer, de moradia, de educação e boas condições financeiras, o idoso para adquirir qualidade de vida necessita também de um bom suporte social, do contato com a família e pessoas de não convivência, se tiver algum problema de saúde que esteja controlado, e, ainda, dispor de políticas públicas que garantem um envelhecimento digno com qualidade de vida, conforme o que preconiza as Leis de proteção social e de atenção à pessoa idosa no Brasil, como a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, Estatuto e Política Nacional do idoso – PNI, entre outros.

O estudo teve como finalidade compreender se as relações familiares, bem como o fortalecimento dos vínculos, favorece a construção da melhoria da qualidade de vida na velhice, junto ao grupo “Convivência com Alegria” do Centro de Convivência da Família Pe. Pedro Vignola, o qual proporciona uma alternativa de atendimento, na busca de reintegrar o idoso na sociedade, por meio de atividades que propiciam a socialização e a interação do idoso na família e comunidade.

A partir desta perspectiva, conclui-se que estabelecer relações familiares e sociais positivas e consistentes, possuir um efetivo suporte social, ter autonomia e potencial, manter um bom senso de humor como forma de prevenção de doenças, são fatores que favorecem a promoção do bem-estar do idoso, gerando, assim, uma velhice digna de existência.

E, para finalizar, diante dos resultados da pesquisa, constatou-se que após a inserção do idoso nas atividades do respectivo Centro Social, a convivência familiar e a saúde melhoraram em todos os sentidos, a autoestima e a autosatisfação aumentou, o prazer em envelhecer tornou-se constante. E, ainda, o acolhimento, o amor, o respeito e a admiração por parte dos familiares e outras pessoas de não convivência ajudou-os a serem mais sociáveis e mais felizes. Todos esses aspectos são favoráveis para a construção de uma velhice bem-sucedida, por conseguinte, influenciam diretamente numa melhor qualidade de vida.

REFERÊNCIAS

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ZIMERMAN, Guite I. Velhice: aspectos biopsicossociais. Porto Alegre: Editora Artmed, 2000.


[1] Assistente Social. Pós-graduada em Políticas Públicas de Atenção À Família pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Faculdade Salesiana Dom Bosco – FSDB. Brasil. E-mail: [email protected]

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Autor: Chrissie Dianne Pessoa Bezerra


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