VÍTIMAS DO BULLYNG



VITIMAS DO BULLYNG

 1 Visão Histórica

 O Bullying é um fenômeno tão antigo quanto à própria instituição denominada escola. Primeiros estudos tiveram inicio na Suécia, onde o tema passou a ser objeto de estudo cientifico somente no inicio dos anos 70, quando grande parte da sociedade demonstrou preocupação com a violência  entre estudantes e suas conseqüências no âmbito escola (SILVA, 2010, p.111).

Sobre o fenômeno bullying Fante observa:

Apesar do bullying ser um fenômeno antigo e os professores possuírem a consciência de sua ocorrência nas escolas, até a década de 1970, não existiam estudos ordenados que abordassem o tema. Foi a partir desse período, principalmente na Suécia, que a sociedade apresentou maior empenho sobre as conseqüências do bullying escolar (FANTE, 2005).

O bullying em pouco tempo tornou fonte de interesse em diversos países da Europa tais como Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia, em particular na Noruega onde tudo começou com estudos aprofundados do professor e pesquisador Dan Olweus na década de 70, o bullying foi durante muitos anos motivos de apreensão entre pais e professores que se utilizavam dos meios de comunicação para expressar seus temores e angustias sobre os acontecimentos. Infelizmente professores daquele país, fazia pouco caso e não se pronunciavam de forma oficial e efetiva diante dos casos ocorridos no ambiente escolar (SILVA, 2010, p. 111).

Um acontecimento dramático no final de 1982 começou a reescrever a história do Bullying naquele país, o drama de três crianças, com idade entre 10 e 14 anos, haviam se suicidado no norte da Noruega. Todas as investigações do caso apontaram, como principal motivação da tragédia, as situações de maus-tratos a que as crianças foram submetidas por seus colegas de escola.  Após este episodio, houve grande mobilização nacional diante dos fatos e em resposta ao acontecido o Ministério da Educação da Noruega realizou, em 1983, uma campanha em larga escala, visando o combate efetivo do bullying escolar (SILVA, 2010, p.111).

Na época Dan Olweus, iniciou uma mobilização que reuniu aproximadamente 84 mil estudantes, quase quatrocentos professores e cerca de mil pais e alunos. O objetivo principal De Olweus era avaliar as taxas de ocorrência e as formas pelas quais o bullying se apresentava na vida escolar das crianças e dos adolescentes de seu país. Constatou-se que um em cada sete alunos encontrava-se envolvido em casos de bullying, tanto no papel de vitima como no de agressor. Com essa revelação mobilizou toda a sociedade civil e deu origem a uma campanha nacional antibullying, que recebeu apoio do governo norueguês (SILVA, 2010, p.112).

A campanha fez com que reduzisse em pouco tempo cerca de 50% dos casos dessa prática escolar, o sucesso da iniciativa foi tão grande que desencadeou de forma imediata, a promoção de campanha antibullying em outros países, como a Inglaterra, Canadá e Portugal. Os estudos de Olweus deram origem a um programa de intervenção antibullying, de modo que compreendiam os objetivos de aumentar a conscientização sobre o problema para desfazer mitos e idéias erradas sobre o bullying e promover apoio e proteção ás vitimas contra esse tipo de violência escolar esclarecer e incentivar pais e professores para que apresentem uma postura mais ativa sobre o problema e a criação de normas específicas (SILVA, 2010, p.112).

O pesquisador destacou que as condutas bullying estão presentes, com relevância similar ou até superior ao que ocorre na Noruega, em diversos países, como a Suécia, Finlândia, Inglaterra, EUA, Holanda, Japão, Irlanda, Espanha e Austrália (SILVA, 2010, p. 112).

Com relação a pesquisas feitas, Silva comenta:

Certas pesquisas revelam incidência tão altas que muitos prevêem um futuro sombrio para um percentual significativo de jovens, especialmente os que desempenham o papel de agressores. Para os pesquisadores, a quantidade de jovens que se tornarão adultos violadores das regras sociais básicas para a boa convivência e/ou francamente delinqüentes é bastante representativa (2010, p. 113).

A palavra bullying é derivada do verbo inglês bully que significa usar a superioridade física para intimidar alguém. Também adota aspecto de adjetivo, referindo-se a “valentão”, “tirano”. Como verbo ou como adjetivo, a terminologia bullying tem sido adotada em vários países como designação para explicar todo tipo de comportamento agressivo, cruel, intencional e repetitivo inerente às relações interpessoais.  As vítimas são os indivíduos considerados mais fracos e frágeis dessa relação, transformados em objeto de diversão e prazer por meio de “brincadeiras” maldosas e intimidadoras (LOPES NETO; SAAVEDRA, 2005).

Contudo, o termo bullyin compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra o alvo, causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos entre estudantes e o desequilíbrio de poder são as características essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima (LOPES NETO; SAAVEDRA, 2005).

O pesquisador Dan Olweus define Bullying:

Bullying é “um tipo especial de agressão física ou psicológica, geralmente ocorre no ambiente escolar ou nas suas proximidades, com a intenção de provocar dor ou desconforto repetido ao longo do tempo e com nítido desequilíbrio de poder, real ou percebido, entre agressor e vítima” (DAWKINS, 1995; OLWEUS, 1993 apud ESPERON, 2004). SABINO, 2010

Aqui no Brasil, ainda não possui uma tradução para o termo inglês, bullying, no entanto, assume significado de “valentão” quando nome e “amedrontar” quando verbo. Entende-se por bullying atitudes de violência física ou psicológica, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente, praticadas por um indivíduo ou grupos de indivíduos, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas, ou seja, significa um subconjunto da violência caracterizada por atitudes cruéis que são praticadas de forma velada com a intenção de maltratar, intimidar e provocar sofrimento às vítimas o que proporciona diversão e prazer aos agressores. No Brasil, a pesquisadora e consultora educacional Cléo Fante realiza com o intuito de conscientizar a sociedade sobre o bullying escolar e reduzir os índices de sua promoção através de programas pioneiros como "O Programa Educar Para a Paz” (FANTE, 2005, p. 94).

Por fim, o fenômeno bullying pode ocorrer entre pessoas que possuem o mesmo nível social na escola (bullying horizontal) como aluno-aluno e nas relações com nível de autoridade diferente (bullying vertical) como professo-aluno (CALHAU, 2009).

1.2 Características do Bullying

A peculiaridade do bullying e outros comportamentos agressivos é fundamentalmente, a agressividade que se manifesta naturalmente pela expressão do desejo de modo consciente e construtivo ou nocivo através da agressão, ou seja, é na verdade um conjunto de atitudes de violência física e/ou psicológica, de caráter intencional e repetitivo, contra uma ou mais vitimas que se encontram impossibilitadas de se defender. O abuso de poder, a intimidação e a prepotência são algumas estratégias adotadas pelos praticantes de bullying para impor sua autoridade e manter suas vitimas sob total domínio. Desse modo, no comportamento violento sempre há o uso da agressão física seja pelo corpo ou por meio de objetos. Para Olweus no fenômeno bullying a agressão física é pouco manifestada, mas pode vir a se tornar um comportamento violento. Portanto, as agressões que ocorrem ao acaso, com a alternância entre vítimas e agressores e com a manifestação do sentimento da alegria por todos os participantes não devem ser caracterizadas como casos de bullying (LOPES NETO; SAAVEDRA, 2005).

Neste sentido, Mark Cleary aponta que o bullying, em geral, possui cinco características comuns:

É um comportamento deliberado (premeditado) para ofender e machucar; é repetitivo, freqüentemente durante um período de tempo; para os agredidos, é difícil se defender; para os que agridem, é difícil aprender novos comportamentos socialmente aceitos; a pessoa que pratica o bullying tem e exerce poder de forma inapropriada sobre a vítima (2002, p. 4).

Ante o exposto, o bullying apresenta cinco características específicas das quais o abuso de poder sobre as vítimas, comportamento repetido durante algum tempo em uma mesma vítima, existe o planejamento dos atos pelo agressor, as vítimas apresentam dificuldades para se defenderem e para os agressores a adaptação social é difícil. O bullying pode ser manifestado de duas formas: indireta e direta. A direta subdivide-se em agressões físicas: atos de chutar, bater, furtar, beliscar, puxar cabelo, etc. e verbais: falar mal, apelidar, constranger, piadas depreciativas, etc. A indireta ocorre com exclusão, indiferença, propagação de histórias maldosas e preconceituosas, etc. (LOPES NETO; SAAVEDRA, 2005).

Ana Beatriz Barbosa Silva destaca uma peculiaridade do bullying:

O bullying ocorre em todas as escolas, independentemente de sua tradição, localização ou poder aquisitivo dos alunos. Pode afirmar que está presente, de forma democrática, em 100% das escolas em todo mundo, publicas ou particulares. O que pode variar são os índices encontrados em cada realidade escolar. Isso decorre de conhecimento da situação e da postura que cada instituição de ensino adota, ao se deparar com casos de violência entre os alunos (2010, p. 117).

Pesquisas indicam que adultos agressores têm personalidades autoritárias, combinadas com uma forte necessidade de controlar ou dominar. Estudos adicionais têm mostrado que enquanto inveja e ressentimento podem ser motivos para a prática do bullying, ao contrário da crença popular, há pouca evidência que sugira que os bullies sofram de qualquer déficit de autoestima. (Wikipédia, 2010).

Estudos apontam para o fato de os agressores possuirem maior probabilidade de praticarem atos de delinquência e criminalidade. Uma pesquisa realizada pelo psicologo noruegues Dan Olweus acompanhou um grupo de adolescentes autores de bullying entre 12 e 16 anos, ao longo de mais de uma década. Concluiu-se que 60% dos adolescentes agressores haviam sido penalizados com pelo menos uma condenação, legal antes de completarem 24 anos de idade. Estudos americanos feito com os mesmos objetivos e metodologias revelam uma consideravel aumento na probabilidade de os agressores, apresentarem, no mínino, mais duas condenaçoes judiciais ao longo da vida (SILVA, 2010, p. 154)

A psicóloga Silva destaca:

As pesquisas apontam que as crianças e os adolescentes autores de bullying tendem de fato adotar comportamentos antissociais nos primeiros anos de vida escolar. A maioria deles se comporta assim por uma nítida falta de limites em seus processos de educação. A ausência de um modelo educativo que associe autorrealização pessoal com atitudes socialmente produtivas e solidárias faz com que os agressores se sintam gratificados socialmente com atitudes egoístas e maldosas, que lhes conferem notoriedade e autoridade sobre os demais alunos (2010, p. 155).

Esses agressores são totalmente desprovidos de consideração, de empatia e de compaixão por seus colegas, irmãos, professores e até mesmo seus pais. Suas atitudes expressam uma maneira de sentir qual o outro tem a única função de lhe proporcionar diversão, status e poder (SILVA, 2010, p. 155)

Não resta dúvida de que o fenômeno bullying estimula a delinquência e induz a outra forma explicita de violência, capazes de produzir, em níveis diversos, cidadãos estressados, com baixa autoestima e reduzida capacidade de autoexpressão. Além disso, as vitimas de bullying estão propensas a desenvolve doenças psicossomáticas, transtornos mentais leves e moderados e até psicopatologia graves (SILVA, 2010, p. 155)

1.3 Tipos de Bullying

Os bullies usam principalmente uma combinação de intimidação e humilhação para atormentar os outros, evidentemente certas brincadeira são diferentes de agressão e isso é fundamental para detectar a prática do bullying. Observam-se alguns exemplos das técnicas de bullying ao deparar com ações de insultar a vítima, acusar sistematicamente a vítima de não servir para nada, ataques físicos repetidos contra uma pessoa, seja contra o corpo dela ou propriedade, interferir com a propriedade pessoal de uma pessoa, livros ou material escolar, roupas, etc. danificando-os, espalhar rumores negativos sobre a vítima, depreciar a vítima sem qualquer motivo, fazer com que a vítima faça o que ela não quer, ameaçando a vítima para seguir as ordens, colocar a vítima em situação problemática com alguém, geralmente, uma autoridade, ou conseguir uma ação disciplinar contra a vítima, por algo que ela não cometeu ou que foi exagerado pelo bully. Fazer comentários depreciativos sobre a família de uma pessoa, particularmente a mãe, sobre o local de moradia de alguém, aparência pessoal, orientação sexual, religião, etnia, nível de renda, nacionalidade ou qualquer outra inferioridade depreendida da qual o bully tenha tomado ciência e o isolamento social da vítima (Wikipédia, 2010).

E não é só, o fenômeno bullying está presente também no mundo virtual da internet, pois os bullies passaram a usar as tecnologias de informação para praticar o cyberbullying, ou seja, criar páginas falsas sobre a vítima em sites de relacionamento, de publicação de fotos, expondo-a ao ridículo e etc. existe as chantagem, expressões ameaçadoras, grafitagem depreciativa, existe também o uso de sarcasmo evidente para se passar por amigo, enquanto assegura o controle e a posição em relação à vítima, isto ocorre com freqüência logo após o bully avaliar que a pessoa é uma "vítima perfeita" (Wikipédia, 2010)

Além de os bullies escolherem um alvo que se encontra em fraca desigualdade de poder, geralmente a vitima, também já apresenta uma baixa autoestima a pratica do bullying agrava o problema preexistente, assim como pode abrir quadros graves de transtornos psiquico e/ou comportamentais que, muita vezes, trazem prejuizos irreversíveis. Observa-se que não é somente as crianças e adolescentes que sofrem com essa pratica indecorosa, mas também muitos adultos experimentam afliçoes intensas advinda não só de uma vida estudantil traumatica como situaçoes vexatória nas relações pessoais e profissionais (SILVA, 2010, p.  25).

1.4 Locais do Bullying

O bullying é um problema mundial, sendo encontrado em toda e qualquer escola, não estando restrito a nenhum tipo específico de instituição: primária ou secundária, pública ou privada, rural ou urbana. Pode-se afirmar que as escolas que não admitem a ocorrência de bullying entre seus alunos, desconhecem o problema, ou se negam a enfrentá-lo (LOPES NETO; SAAVEDRA, 2005).

O bullying pode acontecer em qualquer contexto no qual seres humanos interajam, tais como escolas, universidades, famílias, internet, entre vizinhos e em locais de trabalho. Em escolas, o bullying geralmente ocorre em áreas com supervisão adulta mínima e às vezes inexistente. O bullying pode acontecer em praticamente qualquer parte, dentro ou fora do prédio da escola (LOPES NETO; SAAVEDRA, 2005).

Um caso extremo de bullying no pátio da escola foi o de um aluno do oitavo ano chamado Curtis Taylor, numa escola secundária em Lowa, Estados Unidos, que foi vítima de bullying contínuo por três anos, o que incluía alcunhas jocosas, ser espancado num vestiário, ter a camisa suja com leite achocolatado e os pertences vandalizados. Tudo isso acabou por o levar ao suicídio em 21 de Março de 1993. Alguns especialistas em "bullies" denominaram essa reação extrema de "bullycídio". Aquelas vitimas que sofrem o bullying acabam desenvolvendo problemas psíquicos muitas vezes irreversíveis, que podem até levar a atitudes extremas como a que ocorreu com Jeremy Wade Delle. Jeremy se matou em 8 de janeiro de 1991, aos 15 anos de idade, numa escola na cidade de Dallas, Texas, EUA, dentro da sala de aula e em frente de 30 colegas e da professora de inglês, como forma de protesto pelos atos de perseguição que sofria constantemente (LOPES NETO; SAAVEDRA, 2005).

Outro caso que ilustra o extremo de um transtorno psiquiátrico ocorreu em abril de 2007, na Virginia Tech University, nos Estados Unidos,  foi um dos piores ataques da história moderna americana a uma instituição de ensino. O sul coreano Cho Seung-Hui, de 23 anos, entrou fortemente armado na universidade, abriu fogo em dois pavilhões do campus, matando mais de trinta pessoas e suicidando-se com um tiro na cabeça. Antes da barbárie, o sul-coreano enviou pelo correio, um pacote contendo material perturbador e violento à sede da emissora NBC, em Nova York, que posteriormente foi entregue ao FBI, nesse material o jovem aparecia armado e com vestimentas de guerra (SILVA, 2010, p. 76).

Silva expõe o trecho do manifesto do jovem que dizia:

“Vocês tiveram uma centena de bilhões de forma de evitar esse momento. Mas vocês decidiram derramar meu sangue. Me encurralaram e me deram apenas uma opção. A decisão foi sua. Agora vocês têm sangue nas mãos, e nunca vão conseguir lavá-lo. Vocês destruíram o meu coração, violentaram a minha alma, queimaram a minha consciência. Vocês pensaram que era a vida de um menino patético que extinguiram. Graças a vocês, eu morro com Jesus Cristo, para inspirar gerações de pessoas fracas e indefesas”. Vocês sabem o que se sente quando cospem no seu rosto e lixo é empurrado garganta a baixo? Vocês sabem o que é ser humilhado e empalado numa cruz e ser deixado sangrando para sua diversão? Vocês nunca sentiram um apitada de dor em suas vidas inteiras”(2010, p. 77)

Nos anos 1990, os Estados Unidos viveu uma epidemia de tiroteios em escolas dos quais o mais notório foi o massacre de Columbine.  Muitas das crianças por trás destes tiroteios afirmavam serem vítimas de bullies e que somente haviam recorrido à violência depois que a administração da escola havia falhado repetidamente em intervir. Vários destes casos, as vítimas dos atiradores processaram tanto as famílias dos atiradores quanto as escolas. Como resultado destas tendências, escolas em muitos países passaram a desencorajar fortemente a prática do bullying, com programas projetados para promover a cooperação entre os estudantes.

Aqui no Brasil vários episódios já foram registrados e amplamente divulgados pela imprensa, dentre eles:

Em janeiro de 2003, a cidade de Taiuva, no interior de São Paulo, foi palco de grande tragédia. O jovem Edimar de Freitas, de 18 anos, entrou armado na escola em que havia concluído o ensino médio, abriu fogo contra cinqüenta pessoas que estavam no pátio, feriu oito e se matou em seguida, segundo investigações a barbárie foi motivada pelos constantes apelidos e humilhações que ele recebia por ser obeso. Ex-colegas do rapaz disseram que ele prometia vingança, afirmando que  todos iam se arrepender (SILVA, 2010, p. 118).

Vítimas norte-americanas e suas famílias têm outros recursos legais, tais como processar uma escola ou professor por falta de supervisão adequada, violação dos direitos civis, discriminação racial ou de gênero ou assédio moral. O bullying nas escolas pode também assumir, por exemplo, a forma de avaliações abaixo da média, não retorno das tarefas escolares, segregação de estudantes competentes por professores incompetentes ou não-atuantes, para proteger a reputação de uma instituição de ensino. Isto é feito para que seus programas e códigos internos de conduta nunca sejam questionados, e que os pais, sejam levados a acreditar que seus filhos são incapazes de lidar com o curso.

O bullying em locais de trabalho, chamado também de bullying adulto é descrito pelo Congresso Sindical do Reino Unido como: Um problema sério que muito freqüentemente as pessoas pensam que seja apenas um problema ocasional entre indivíduos. Mas o bullying é mais do que um ataque ocasional de raiva ou briga. É uma intimidação regular e persistente que atinge a integridade e confiança da vítima do bully (SILVA, 2010, p. 145).

Formas de como pedir projetos ou relatórios em prazos impossíveis, remarcar reuniões em cima da hora e não avisar funcionário com papel fundamental nela, pedir tarefas triviais para pessoas que ocupam cargos de responsabilidade, deixar de pedir tarefas, espalhar fofocas, excluir pessoas do grupo, não dividir informações, pedir trabalhos que obriguem funcionário a aumentar em muitas horas sua jornada de trabalho, fazer críticas públicas constantes, não reconhecer esforços e desmerecer resultados, olhares e risadinhas provocativas são destacados como bullying em locais de trabalho, interessante que as próprias vítimas muitas vezes não reconhecem a agressão e encaram as cenas como desafios a serem superados na busca da manutenção de sua empregabilidade no mercado e das metas de produtividade das empresas (SILVA, 2010, p. 145).

Situações comuns em muitas empresas atribuídas ao mercado de trabalho competitivo, ao estresse da vida cotidiana e a questões de personalidade ou problemas psicológicos, como distúrbio bipolar, caracterizam na verdade cenas do nebuloso terreno do assédio moral no trabalho, também chamado de bullying ou mobbing. No Brasil, o termo mobbing é sinônimo de assedio moral, já nos países europeus, é definido como abuso de poder que ocorre entre adultos no ambiente profissional. Este termo originou-se da palavra mob que há anos é empregada para designar máfia. Assim a terminologia mobbing, tem a idéia de grupos de caráter mafioso, que exercem pressões ou ameaças sobre os outros trabalhadores em ambientes profissionais (SILVA, 2010, p. 146).

Apesar de a dinâmica comportamental ser a mesma tanto o mobbing quanto o bullying, convencionou-se utilizar este último termo para definir o abuso de poder que ocorre em ambientes escolares, enquanto o termo mobbing para designar a mesma situação ocorrida no âmbito laboral. É fundamental destacar que todas essas atitudes visam de forma intencional, desqualificar e desrespeitar as reais capacidades do trabalhador (SILVA, 2010, p. 146).

Entre vizinhos, o bullying normalmente toma a forma de intimidação por comportamento inconveniente, tais como barulho excessivo para perturbar o sono e os padrões de vida normais ou fazer queixa às autoridades policial, por incidentes menores ou forjados. O propósito desta forma de comportamento é fazer com que a vítima fique tão desconfortável que acabe por se mudar da propriedade. Ademais, nem todo comportamento inconveniente pode ser caracterizado como bullying a falta de sentimento pode ser uma exemplo (SILVA, 2010, p. 146).

O ciberbullying ocorre principalmente em e-mails, mensagens de texto de celulares, pagers e sites de relacionamento. Os praticantes do ciberbullying ou bullying virtual utilizam na sua prática, os mais atuais e modernos instrumentos da internet e de outros avanços tecnológicos na área de informação e da comunicação, com o intuito covarde de constranger humilhar e maltratar suas vitimas. Essa modalidade de bullying vem preocupando especialistas em comportamento humano, pais e professores, em todo o mundo. E isso se deve ao fato de ser imensurável o efeito multiplicador do sofrimento das vitimas. Os ataques perversos do ciberbullying extrapolam, os muros das escolas e de alguns pontos de encontros reais, tipo festas, shopping e lanchonetes (SILVA, 2010, p. 126).

Na concepção de Silva, ciberbullying :

A grande diferença se encontra na forma e nos meios que são utilizados pelos praticantes do ciberbullying. As formas de maus tratos no bullying são diversas, no entanto todas sem exceção, ocorriam no mundo real. Dessa forma, quase sempre era possível às vitimas se conhecer e especialmente, reconhecer seus agressores. No caso do ciberbullying, a natureza vil de seus idealizadores e/ou executores ganham uma “blindagem” poderosa pela garantia do anonimato que eles adquirem.. os bullies virtuais, são ao meu ver, os verdadeiros covardes mascarados de valentões, que se escondem nas redes de esgotos, do universo fantásticos dos grandes avanços tecnológico da humanidade (2010, p. 126).

Todavia, os praticantes do ciberbullying se utilizam de todas as possibilidades que os recursos da moderna tecnologia lhes oferecem tais como e-mails, blogs, fotoblogs, msn, Orkut, Youtube, Skype, Twitter, Facebook, Fotoshop, torpedos dentre outros. E mais, se valendo do anonimato, os bullies virtuais inventam mentiras, espalham rumores, boatos depreciativos e insultos sobre outros estudantes, os familiares deste e até mesmo os professores e outros profissionais da escola. Todos podem se tornar vitimas de um bombardeio maciço de ofensas que se multiplicam e se intensificam de forma veloz e instantânea, quando disparadas via celular e internet (SILVA, 2010, p. 127).

Silva, destaca as artimanhas do agressor virtual:

Os agressores criam um perfil falso(em sites de relacionamento ou emails), fazendo-se passar por outra pessoa ao adotar apelidos diversos para disseminar fofocas e intrigas, chegam a criam blogs somente para azucrinar a vida das vitimas, Orkut e MySpace são utilizados para promover ataques vexatórios com o intuito sórdido de excluir os agredidos dessa comunidade virtual (2010, p. 127).

Os praticantes do ciberbullying, fazem comentários racistas, preconceituosos e sexuais de forma desrespeitosas, muitas vezes vem acompanhados de fotografias alteradas das vitimas em montagens constrangedora. Essas fotos ainda são divulgadas em sites diversos, transformadas em animações no Youtube, e tornadas públicas por meio de impressos que geralmente são distribuídos entre alunos e afiados em banheiros e corredores das escolas. Existem casos de repercussão ainda maior, quando a vitima pode ter seu e-mail pessoal invadido ou clonado pelo bullies, que em outra ocasião passam a enviar mensagens difamatórias e caluniosas a outras pessoas, como se a própria vitima fosse a responsável por isso (SILVA, 2010, p. 128).

Em suma, diversos são os locais onde ocorrem os ataques a saber: nos pátios de recreio, playground, banheiros, corredores, salas de aula, bibliotecas, quadras esportivas, salas de informática, torpedos, laboratórios e imediações das escolas. Constata-se também ocorrência em outros locais fora da escola, mas de convivência comum aos alunos, como condomínios, sites de relacionamento, internet, shoppings e outros locais onde se reúnem. Na maioria dos países, constatou-se que o pátio de recreio e no final da aula fora da escola são os lugares de maior incidência dos ataques bullying. Entretanto, no Brasil, as pesquisas apontam a sala de aula como principal foco, isso se justifica pelo fato de ser tema novo de discussão no meio educacional brasileiro, motivo pelo qual a maioria dos professores desconhece a relevância do fenômeno e não sabe como agir ao se deparar com a questão. (FANTE, 2005, p. 53).

1.5 Protagonistas do Bullying

O bullying é constituído de personagens e enredos, que os despertam terror, compaixão e empatia. No entanto de formas diversas, felizmente o bullying pode ser identificado, combatido e enfrentado, por todos e para isso precisamos distinguir e classificar os protagonistas dessa historia dramática. Pais, professores e a sociedade devem estar atentos a vários aspectos comportamentais das crianças e dos adolescentes, considerando os possíveis papeis que cada um deles pode desempenhar em uma situação de bullying (SILVA, 2010, p. 47).

Aliás, identificar os alunos que são vitimas, agressores ou espectadores é de suma importância para que as escolas e as famílias dos envolvidos possam elaborar estratégias e traçar ações efetivas contra o bullying. É preciso distinguir e classificar a vitima, agressores e espectadores, pois cada protagonista apresenta um comportamento distinto (SILVA, 2010, p. 48)

Afirma Silva (2010), que os estudiosos dos comportamentos Bullying, identificam e classificam, entre os envolvidos no fenômeno, os tipos de papéis que cada um desempenha tais como:

As vitimas típicas são os alunos que apresentam pouca habilidade de socialização. Em geral são tímidas ou reservadas, e não conseguem reagir aos comportamentos provocadores e agressivos dirigidos contra elas. Normalmente são mais frágeis ou apresentam alguma marca que as destaca das demais, altas ou baixa demais, usam óculos, deficientes físicos, apresentam sardas ou  manchas na pele, orelhas ou nariz um pouco mais destacados, usam roupa fora de moda, são de raça, credo, condições socioeconômica diferente. Enfim, qualquer coisa que fuja do padrão imposto por um determinado grupo pode deflagrar o processo de escolha da vitima do bullying (2010, p. 38).

Nesse contexto Fante assevera:

Vítima típica, é pouco sociável, sofre repetidamente as conseqüências dos comportamentos agressivos de outros, possui aspecto físico frágil, coordenação motora deficiente, extrema sensibilidade, timidez, passividade, submissão, insegurança, baixa autoestima, alguma dificuldade de aprendizado, ansiedade e aspectos depressivos. Sente dificuldade de impor-se ao grupo, tanto física quanto verbalmente (2005, p. 71).

Normalmente, essas crianças ou adolescentes estampam facilmente as suas inseguranças na forma de extrema sensibilidade, passividade submissão, falta de coordenação motora, baixa autoestima, ansiedade excessiva, dificuldade de se apresentar. Assim por apresentarem dificuldades significativas de se impor ao grupo tanto física como verbalmente, tornam-se alvos fáceis e comuns dos ofensores (SILVA, 2010, p. 38).

As vitimas denominadas provocadoras são aquelas capazes de insultar em seus colegas reações agressivas contra si mesmas. No entanto não conseguem aos revides de formas satisfatórias. Elas geralmente discutem ou brigam quando são atacadas ou insultadas. Nesse grupo geralmente participam crianças ou adolescentes hiperativos e impulsivos ou imaturos, que criam, sem intenção explicita, um ambiente tenso na escola, sem perceberem as vitimas provocadoras acabam “dando um tiro nos próprios pés”, chamando a atenção dos agressores genuínos, que por sua vez, se aproveitam da situação para desviarem toda atenção para a vitima provocadora (SILVA, 2010, p. 40).

Para facilitar o entendimento explica Fante:

Vítima provocadora: refere-se àquela que atrai e provoca reações agressivas contra as quais não consegue lidar. Tenta brigar ou responder quando é atacada ou insultada, mas não obtém bons resultados. Pode ser hiperativa, inquieta, dispersiva e ofensora. É, de modo geral, tola, imatura, de costumes irritantes e quase sempre é responsável por causar tensões no ambiente em que se encontra (2005, p. 71).

Consoante as vitimas agressoras, faz valer o velho ditado popular, “bateu levou”, de forma que ela reproduz os maus-tratos sofridos como forma de compensação, ou seja, ela procura outra vitima, ainda mais frágil e vulnerável, cometendo contra esta todas as agressões sofridas, nada mais é do que o efeito cascata, que transforma o bullying em problemas de difícil controle e que ganha proporções infelizes de epidemia mundial de ameaças à saúde pública (SILVA, 2010, p. 42).

Nesse sentido assevera Fante:

 Vítima agressora: reproduz os maus-tratos e agressões sofridos. Como forma de compensação procura uma outra vítima mais frágil e comete contra esta todas as agressões sofridas na escola, ou em casa, transformando o bullying em um ciclo vicioso (2005, p. 72).

Os agressores podem ser de ambos os sexos, possuem em sua personalidade traços de desrespeito e maldade e, na maioria das vezes, essas características estão associadas a um perigoso poder de liderança que, em geral, é obtido ou legitimado através da força física ou de intenso assedio psicológico. O agressor pode agir sozinho ou em grupo, quando acompanhado de seus seguidores seu poder de destruição ganha reforço exponencial, o que amplia seu território de ação e sua capacidade de produzir mais vitimas (SILVA, 2010, p. 43).

Fante define o perfil do agressor:

O agressor pode ser de ambos os sexos. Tem caráter violento e perverso, com poder de liderança, obtido por meio da força e da agressividade. Age sozinho ou em grupo. Geralmente é oriundo de família desestruturada, em que há parcial ou total ausência de afetividade. Apresenta aversão às normas; não aceita ser contrariado, geralmente está envolvido em atos de pequenos delitos, como roubo e/ou vandalismo. Seu desempenho escolar é deficitário, mas isso não configura uma dificuldade de aprendizagem, já que muitos apresentam nas séries iniciais rendimento normal ou acima da média (2005, p. 73).

 Os agressores apresentam desde muito cedo, aversão as normas, não aceitam serem contrariados ou frustrados, geralmente estão envolvidos em atos de pequenos delitos, como furtos ou roubos, ou vandalismo dentre outros. O desempenho escolar desses jovens costuma ser regular ou deficitário, no entanto em hipótese alguma, isso configura uma deficiência intelectual ou de aprendizagem por parte deles. Manifestações de desrespeito, ausência de culpa ou remorso pelos atos cometidos contra os outros podem ser observadas desde muito cedo na criança por volta dos 5 ou 6 anos de idade  (SILVA, 2010, p. 43).

Por último temos os espectadores, que são aqueles que testemunham as ações dos agressores contra as vitimas, mas não tomam qualquer atitude em relação a isso, nem saem em defesa do agredido, tampouco se juntam aos agressores. Assim os espectadores são divididos em três grupos, os Espectadores passivos, estes assumem esta postura por medo absoluto de se tornarem a próxima vitima, recebem ameaças explicitas ou veladas, no entanto ficam de mãos atadas para tomar qualquer atitude em defesa da vitima. Nesse grupo estão os que presenciam cenas de violência ou que estão propensos a sofrer as conseqüências psíquicas, uma vez que sua estrutura psicológica também são frágeis (SILVA, 2010, p. 44).

Os espectadores ativos são os grupos de alunos que apesar de não praticarem, atividades dos ataques contra aas vitimas, manifestam apoio moral, com risadas e palavras de incentivo, é importante frisar que misturados aos espectadores podemos encontrar os verdadeiros articuladores dos ataques, perfeitamente camuflado de bom moço, tramam tudo, e depois ficam apenas observado e se divertindo ao verem o circo pegar fogo (SILVA, 2010, p. 46).

Espectadores neutros percebe-se os alunos, por uma questão sociocultural, ou seja, aqueles advindo de lares desestruturados ou de comunidades em que a violência faz parte do cotidiano, não demonstram sensibilidade pelas situações do bullying que presenciam (SILVA, 2010, p. 46).

Para Fante, os espectadores são:

Espectadores são alunos que adotam a “lei do silêncio” são aqueles que presenciam o Bullying, testemunham a tudo, mas não tomam partido, nem saem em defesa do agredido por medo de serem a próxima vítima. Também nesse grupo estão alguns alunos que não participam dos ataques, mas manifestam apoio ao agressor (2005, p. 72).

Os espectadores em sua grande maioria se omitem em face dos ataques de bullying. Vale a pena salientar, que a omissão nesses casos, também se configura em uma ação imoral ou criminosa, tal qual a omissão de socorro. A omissão só faz alimentar a impunidade e contribuir para o crescimento da violência por parte de quem a pratica, ajudando a fechar a criança perversa dos atos de bullying (SILVA, 2010, p. 46).

 1.6 Políticas Antbullying

 A educação pela e para a afetividade já é um bom começo. O exercício do afeto entre os membros de uma família é prática primeira de toda educação estruturada, que tem no diálogo o sustentáculo da relação interpessoal. Além disso, a verdade e a confiabilidade são os demais elementos necessários nessa relação entre pais e filhos. Os pais precisam evitar atitudes de autoproteção em demasia, ou de descaso referente aos filhos. A atenção em dose certa é elementar no processo evolutivo e formativo do ser humano (2006, SILVA).

Em relação à escola, em primeiro lugar, deve conscientizar-se de que esse conflito relacional já é considerado um problema de saúde pública. Por isso, é preciso desenvolver um olhar mais observador tanto dos professores quanto dos demais profissionais ligados ao espaço escolar. Sendo assim, deve atentar-se para sinais de violência, procurando neutralizar os agressores, bem como assessorar as vítimas e transformar os espectadores em principais aliados (2006, SILVA).

Depois dessas observações para começar a virar o jogo, as escolas precisam inicialmente, reconhecer a existência do bullying e tomar consciência dos prejuízos que ele pode trazer para o desenvolvimento socioeducacional e para estruturação da personalidade de seus estudantes. Como segundo passo, mas não menos importante, as escolas precisam capacitar seus profissionais para a identificação, o diagnostico, a intervenção e o encaminhamento adequado de todos os casos ocorridos em suas dependências. Em terceiro lugar, as instituições de ensino têm o dever de conduzir o tema a uma discussão ampla, que mobilize toda a sua comunidade, para que estratégias preventivas e imediatas sejam traçadas e executadas com o claro propósito de enfrentar a situação (SILVA, 2010, p. 162).

Silva assevera que para enfrentar a situação faz necessário:

Para tanto, é preciso também contar com a colaboração de consultores externos, especializados no tema e habilitados a lidar com a questão. Entre eles incluem-se profissionais de diversas áreas, como pediatras, psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais. É também imprescindível o estabelecimento de parcerias com instituições publicas ligadas a educação e ao direito, dentre as quais destacamos: Conselho Tutelares, Delegacia da Criança e do Adolescente, Promotorias Publicas, Varas da Infância e da juventude, Promotorias da Educação. O somatório de forças é capaz de multiplicar a eficácia e a rapidez das medidas tomadas contra o problema (2010, p. 162).

Além disso, tomar algumas iniciativas preventivas do tipo: aumentar a supervisão na hora do recreio e intervalo, evitar em sala de aula menosprezo, apelidos, ou rejeição de alunos por qualquer que seja o motivo. Também se pode promover debates sobre as várias formas de violência, respeito mútuo e a afetividade tendo como foco as relações humanas. Mas tais assuntos precisam fazer parte da rotina da escola como ações atitudinais e não apenas conceituais. De nada valerá falar sobre a não violência, se os próprios profissionais em educação usam de atos agressivos, verbais ou não, contra seus alunos (SILVA, 2006)

O Conselho Nacional de Justiça – CNJ lançou em 20.10.2010, um guia para orientar pais e educadores na prevenção contra o bullying, pois trata de um problema muito comum nas escolas, e difícil de ser enfrentado. Nas escolas, as vitimas de bullying ficam isoladas, deprimidas, retraídas e tristes. E em alguns casos, podem apresentar hematomas, arranhões e roupas rasgadas. Ao professor, cabe detectar e alertar, pais e órgãos de proteção á criança e ao adolescente e assim juntos tracem estratégias preventivas e imediatas no combate ao bullying (G1, 2010).

Instituições de ensino em todo o país começam a receber uma cartilha para orientar escola e família sobre o bullying. Em casa, os pais devem estar atentos para os sinais: mal estar, enjôos e náuseas, baixo desempenho, medo de ir à escola e depressão. O bullying está também entre os adolescentes, que usam a internet e o celular para fazer as ameaçar. Os agressores precisam ser identificados (SILVA, 2010, p. 163).

Atualmente tramita o projeto de lei 5369/2009 proposto pelo Dep. Vieira da Cunha do PT/RS, com o propósito de instituir um programa de combate ao bullying, no âmbito do Ministério de Educação, visando a identificar as crianças vitimas do bullying nas escolas e na sociedade, bem como criar mecanismos que permitam evitá-los e punir os agressores. Ao vincular o Programa ao Ministério da Educação ressalta a proposta o seu caráter preventivo e educacional, antes de qualquer objetivo punitivo, constituindo-se, este, o último recurso à serviço da sociedade (CUNHA, 2009).

Já existe no Brasil varias proposituras com o objetivo de combate ao bullying, porém, apenas no âmbito Estadual e Municipal, impondo-se então a necessidade de uma legislação federal de alcance nocional, vários Estados brasileiros como Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Santa Catarina sancionaram lei estadual no ano de 2010, onde institui a obrigatoriedade das escolas públicas e particulares notificarem casos de bullying a policia, em caso de descumprimento, a multa pode ser de três a vinte salários mínimos, bem como indenização por danos morais as vitimas e se pertinente a instauração de ação, além de outros instrumentos judiciais para responsabilizar os agressores, bem como os estabelecimentos, educacionais ou não, por omissão ou negligência no trato das ações que caracterizam o “bullying”. (CUNHA, 2009).   

Em anos recentes, muitas vítimas têm movido ações judiciais diretamente contra os agressores por "imposição intencional de sofrimento emocional", e incluindo suas escolas como acusadas, sob o princípio da responsabilidade conjunta:

Na Grande São Paulo, uma menina apanhou até desmaiar por colegas que a perseguiam e em Porto Alegre um jovem foi morto com arma de fogo durante um longo processo de bullying. Em maio de 2010, a Justiça obrigou os pais de um aluno do Colégio Santa Doroteia, no bairro Sion de Belo Horizonte a pagar uma indenização de R$ 8 mil a uma garota de 15 anos por conta de bullying. A estudante foi classificada como G.E. (sigla para integrantes de grupo de excluídos) por ser supostamente feia e as insinuações se tornaram frequentes com o passar do tempo, e entre elas, ficaram as alcunhas de tábua, prostituta, sem peito e sem bunda. Os pais da menina alegaram que procuraram a escola, mas não conseguiram resolver a questão. O juiz relatou que as atitudes do adolescente acusado pareciam não ter "limite" e que ele "prosseguiu em suas atitudes inconvenientes de 'intimidar'", o que deixou a vítima, segundo a psicóloga que depôs no caso, "triste, estressada e emocionalmente debilitada". O colégio de classe média alta não foi responsabilizado. Na USP, o jornal estudantil O Parasita ofereceu um convite a uma "festa brega" aos estudantes do curso que, em troca, jogarem fezes em um gay  (WIKIPÉDIA, 2010).

Vítimas norte-americanas e suas famílias têm outros recursos legais, tais como processar uma escola ou professor por falta de supervisão adequada, violação dos direitos civis, discriminação racial ou de gênero ou assédio moral(WIKIPÉDIA, 2010).

1.7 Dados do Bullying No Brasil

A Pesquisa Nacional da Saúde Escolar – PENSE e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE, comprovam o panorama do fenômeno bullying cada vez mais visível nas instituições de ensino de todo país. Estudo realizado em 2009 constatou que quase um terço (30,8%) dos alunos entrevistados em 1.453 escolas públicas e privadas de todas as capitais brasileiras e do Distrito Federal já foram vítimas de agressões na escola. Os dados colhidos pela pesquisa mostram ainda que a ocorrência foi verificada em maior proporção, sendo de 35,9% entre estudantes de escolas privadas e do sexo masculino 32,6% agressores envolvidos. Para aumentar a gravidade do problema, a pesquisa aponta que muitas dessas vítimas sofrem agressões repetidas vezes, o que pode ser configurado como uma forma de perseguição (PEDRA, 2009).

A escola deveria ser um lugar  seguro, saudável onde prevaleça a alegria, a solidariedade, o respeito às diferenças e que ofereça condições necessárias para o pleno desenvolvimento físico, intelectual e social de crianças e adolescentes. Porém, à margem do aprendizado e da amizade, as agressões vêem se tornando práticas cada vez mais freqüentes entre os estudantes nos ambientes relacionados à escola (PEDRA, 2009).

Ante a pesquisa realizada pelo IBGE, constata Brasília como a capital do bulliyng, 35,6% dos estudantes disseram ser vitimas constantes de agressão, Belo Horizonte, em segundo lugar com 35,3%, e Curitiba, em terceiro lugar com 35,2 %, foram, junto com Brasília, as capitais com maior freqüência de estudantes que declararam ter sofrido bulliyng alguma vez (G1, 2010).

Durante a pesquisa, foi feita a seguinte pergunta aos estudantes: "Nos últimos 30 dias, com que freqüência algum dos seus colegas de escola te esculacharam, zoaram, mangaram, intimidaram ou caçoaram tanto que você ficou magoado, incomodado ou aborrecido?” Os resultados mostraram que 69,2% dos estudantes disseram não ter sofrido bullying. O percentual dos que foram vítimas deste tipo de violência, raramente ou às vezes, foi de 25,4% e a proporção dos que disseram ter sofrido bullying na maior parte das vezes ou sempre foi de 5,4%.

No ranking das capitais com mais vítimas de bullying, aparecem ainda Belo Horizonte com 35,3 %, Curitiba com 35,2 %, Vitória com 33, 3%, Porto Alegre com 32,6%, João Pessoa 32,2%, São Paulo tem 31,6%, Campo Grande com 31,4% e Goiânia 31,2%. Teresina e Rio Branco estão empatadas na 10ª posição com 30,8%. São Paulo ocupa a 7ª posição.

Palmas apresenta o melhor resultado da pesquisa, na capital do Tocantins, 26,2 % dos estudantes afirmaram ter sofrido bullying em seguida, estão Natal e Belém, ambas com 26,7%, e Salvador, com 27,2% (G1, 2010).

Em Brasília, o maior número de casos ocorreu nas escolas particulares: 35,9%, contra 29,5% nas escolas públicas. Segundo dados  da pesquisa, o bullying é mais freqüente entre os estudantes do sexo masculino que tem 32,6% do que entre os escolares do sexo feminino com apenas 28,3% (G1, 2010).

Para combater o problema, o governo do Distrito Federal  criou Conselhos de Segurança nas escolas. “Vamos resolver os nossos conflitos tendo como mediadores os nossos colegas, professores e os pais”, disse a subsecretária de Educação Integral Ivana Santana Torres, quem completou dizendo "Os estudantes também estão recebendo aulas de respeito à diversidade. Mas o resultado disso precisa também da vigilância dos pais" (G1, 2010).

O bullying é um problema mundial que não está restrito a um determinado tipo de instituição de ensino. Porém, a pré-disposição a esse tipo de violência é maior em escolas cujo nível intelectual das equipes é baixo, os padrões de comportamento não são estabelecidos, e nas que apresentam métodos inconsistentes de disciplina, sistema de organização deficiente, acompanhamento inadequado dos alunos e falta de consciência das próprias crianças e adolescentes como indivíduos. As condições familiares também tornam os meninos e meninas mais propensos a desenvolverem agressividade nos ambientes escolares, a exemplo da falta de afetividade e envolvimento entre pais e filhos, a ausência de limites no que diz respeito à permissividade e afirmação de poder dos pais sobre os filhos, demonstrados através de explosões emocionais e práticas de violência (PEDRA, 2009).

 

REFEÊNCIAS

CALHAU, Lélio Braga. Bullying: O Que Você Precisa Saber: Identificação, Prevenção e Repressão. Niterói,RJ: Impetus,2009

 CUNHA, Vieira. Deputados Federais Agem Contra o Bullying. Disponível em http://www.direitosdacrianca.org.br/em-pauta/deputados-federais-agem-contra-bullying/?searchterm=None> Acesso em 20.09.2010.

 FANTE, Cleodelice Aparecida Zonato. Brincadeiras Perversas. Mente e Cérebro: A Revista Que Junta as Partes. n. 181, fev. 2008. Disponível em: . Acesso em: 07.07. 2010

 FANTE, Cleodelice Aparecida Zonato. Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas Escolas e Educar Para a Paz. Campinas, SP.: Verus Editora, 2005.

 G1. Pesquisa do IBGE aponta Brasília como Campeã de Bullying. Disponível em: Acesso em 20.08.2010.

 LOPES NETO, Aramis A.; SAAVEDRA, Lúcia Helena. Diga Não Para o Bullying – Programa de redução do comportamento agressivo entre estudantes. Rio de Janeiro: ABRAPIA, 2005.

 PEDRA, José Augusto. Bullying Violência ou Brincadeira na Escola? Disponível em:< http://www.direitosdacrianca.org.br/temas-prioritarios/educacao/o-que-e-bullying-brincadeira-ou-violencia-na-escola?searchterm=bullying. Acesso em 19.07.2010.

 Silva, Tomaz Nonticuri, Bullying: Só Quem Vive Sabe Traduzir. Disponível em: Acesso em 22.09.2010.

 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes Perigosas nas Escolas: Bullying. Rio de Janeiro: Fontanar, 2010

 WIKIPÉDIA. A Enciclopédia  Livre: Disponível em . Acesso em 19.08.2010.


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