O Sindicato Dos Políticos



Conseguir um trabalho e conseguir uma fonte de renda, de sustento, é a mesma coisa? Aparentemente, sim! Mas não é! Esta primeira reflexão vai parecer inútil, ou totalmente apartada do assunto proposto, mas é imprescindível para começarmos nossa conversa. Muita gente tem talento para fazer algo na sociedade. Produzir. De formas variadas e até criativas. Alguns são artesãos, escrevem, fazem música. Outros se dedicam, de forma esmerada, à marcenaria ou à costura etc. Também temos aqueles que conseguem liderar pessoas em vizinhança, escolas, trabalhos de determinadas categorias. Muitos outros há. Trabalho. Produção. Talento. Conseguir fonte de renda, ganhar dinheiro, é outra coisa. Tem gente que se aventura no comércio (para o que também se requer talento), somente para sustento próprio. Daí, a questão torna-se tão necessária que seu talento (se houver outro) é esquecido. Pois, mesmo que seja uma boa produção, não lhe rende lucro.

Bem, terminado esse breve primeiro momento, vamos à classe política. Diz-se, sempre, que os políticos estão representando o povo nas suas reivindicações. Isso significa dizer que lá está alguém que sabe do que preciso e vai solicitá-lo por mim, defender-me e se pronunciar em meu nome. Isso tudo porque nós assim o escolhemos para tal. Se ele está representando, pensemos que essa representação pode findar-se. Sendo assim, sua fonte de renda, para esse caso, é temporária. Por isso, deve ter um outro talento, trabalho e fonte de renda. Em outras palavras: a representação política não poderia ser trabalho e fonte de renda de alguém. Ainda que, ao nos representar, devesse ser sustentado... e bem sustentado, concordo, visto que o trabalho é duro (para os que trabalham efetivamente). Deixo claro que "bem sustentado", nesse caso, não significa abusar dos cofres públicos, como vemos com cotas absurdas nessa classe.

Todo trabalhador, ou muitos deles, tem seu sindicato. Ele serve para buscar melhorias nas condições de trabalho, buscar apoio para os seus colegas, melhores salários etc. Quando os políticos fazem da representação sua vida profissional, ou seja, seu trabalho e seu sustento, criam uma classe de trabalhadores que necessita, conseqüentemente, de um sindicato, de um organismo que faça a defesa de seus interesses laborais. Bem, qual seria o sindicato dos políticos? O próprio congresso, o senado, as assembléias legislativas e por aí vai. Nessa missão, eles deveriam cuidar dos interesses do povo. Mas precisam, primeiro e urgentemente (para eles, lógico), garantirem seus empregos, seu sustento, sua fonte de renda. Por isso não entendemos quando uma votação de salário, de verbas, de cargos, escolha de representantes etc, é mais importante do que algo que é interesse da população. Pior ainda: quando algum deles deveria ser punido por ter utilizado mal a confiança do povo, e essa seria a grande expectativa desse povo, somos traídos com um corporativismo cheio de perdão. Claro, o sindicato está agindo.

Infelizmente, povo... infelizmente mesmo! Nunca vão nos representar. Ao chegarem lá, precisam tratar de garantirem seu sustento, pior: sua carreira! Entenderam? Muitos já se tornaram políticos por profissão. Profissionalizaram algo que deveria ser somente uma representação. Pensando assim, quando essa representação terminasse, voltariam para seus respectivos trabalhos normais. Mas muitos nem têm esse trabalho. Têm escritórios que sustentam e promovem sua imagem para que consigam eleger-se nos próximos pleitos.

Infelizmente, de novo, mesmo aquele político de quem gostamos tanto está nessa. Mesmo que ele queira trabalhar pelo povo, ao chegar lá, vai gastar muito tempo e energia para garantir seu próximo mandato... coisa de 80% de suas ações. O que nos resta é torcer, pensar, trabalhar para que uma nova maneira de representação aconteça. Só que isso tudo depende de nossos representantes que estão lá. E creio que o sindicato não vai deixar isso acontecer. Lamentavelmente!

Brasília, 14 de abril de 2007


Autor: Sandro Xavier


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