ENSINAR A PRODUÇÃO TEXTUAL POR MEIO DOS GÊNEROS



O ato da escrita envolve uma sequência de procedimentos cognitivos e ativação neurolinguística. O processo cognitivo é acionado a partir da intenção de produção do texto com o objetivo de realizar a comunicação (processo de interação entre emissor e receptor) desejada para aquele texto.

É segundo essa intencionalidade; que o produtor de um texto deverá observar os caminhos percorridos para torná-lo objeto de comunicação verificando as condições de produção, as vias de circulação do texto (local social), as informações que o receptor reconhece sobre o texto, os recursos que serão utilizados para que o mesmo venha contribuir para a prática social.

Tendo elaborado todo esse processo mental o autor realiza um planejamento daquilo que será o produto final de sua intenção de comunicação por meio da seleção do gênero que servirá como viés dessa interação entre o produtor e leitor.

Diferentes gêneros são produzidos em diversos contextos sociais e cada texto cumprirá sua função a que se destina conforme o objetivo esperado na comunicação (sequências discursivas), a exemplos; ensinar alguém a fazer um bolo para uma festa de aniversário de casamento, oferecer determinado produto para ser comprado pelo consumidor, anunciar a chegada do horário de verão, contar uma história para uma criança dormir, publicar o resultado de uma prova afim de que os estudantes saibam se conseguiram ou não aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio, divulgar os resultados da eleição para que o povo saiba quem será o novo prefeito de sua cidade, em fim são infinitos gêneros e infinitas razões para a produção de um texto.

Para Bakhtin (1997), todas as atividades humanas estão relacionadas ao uso da língua e daí a diversidade de usos e, consequentemente, a diversidade de gêneros que se afiguram inumeráveis. O autor também salienta que toda essa atividade se apresenta por meio de enunciados concretos e únicos que emanam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana. A variedade de uso da língua interliga-se à variedade de situações e contextos da vida cotidiana.

Segundo Bakhtin (2000) “o estilo está dissoluvelmente ligado ao enunciado e a formas típicas de enunciados, isto é, aos gêneros do discurso. [...]; o estilo linguístico ou funcional nada mais é senão o estilo de um gênero peculiar a uma dada esfera da atividade e da comunicação humana. Cada esfera conhece seus gêneros apropriados à sua especificidade, aos quais correspondem determinados estilos. [...] O estilo é indissociavelmente vinculado a unidades temáticas determinadas e, o que é particularmente importante, a unidades composicionais: tipo de estruturação e de conclusão de um todo, tipo de relação entre o locutor e os outros parceiros da comunicação verbal [...] O estilo entra como elemento na unidade de um gênero de um enunciado”.

Após a seleção do gênero eleito para o projeto de dizer do produtor e a representação que ele faz de seus interlocutores são manipuladas sequências textuais para tornar a intenção em ação. Entre a escrita de uma folha e outras, várias palavras poderão permanecer ou desaparecer de um texto, é o momento da organização das ideias, respeitando- se a continuidade sequencial dos fatos e os vocábulos pertinentes ao tema. Esse aspecto é primordial para a compreensão de um texto, pois dele dependerá a coerência do corpo textual, caso contrário perderá sua finalidade.

Para Marcuschi (2006), é essencial a necessidade de se compreender os gêneros textuais como algo dinâmico, fluido e principalmente incapaz de ser compreendido e assimilado apenas de maneira classificatória e tampouco de descrições linguísticas, tendo em vista que esta seria uma visão reducionista e formalista dos gêneros. O autor concebe gênero como uma atividade social, isto é, eles se proliferam para dar conta da variedade de atividades que estão presentes no cotidiano dos indivíduos.

Transpondo essas práticas para o contexto de sala de aula verifica-se a relevância do trabalho pedagógico utilizando sequências didáticas, entendendo que as mesmas, constituem recursos inesgotáveis de aprendizagens com vistas a oferecer aos docentes: a possibilidade de melhor visualização dos eventuais problemas de assimilação do conhecimento, facilitar a elaboração de estratégias de intervenções para sanar essas dificuldades, verificar a progressão dos alunos expondo-os às situações reais de produção e aos discentes: esse mesmo trabalho não somente possibilita uma melhor compreensão dos gêneros, mas também faz com que os alunos apreendam como identificar e recuperar informações literais, formular hipóteses interpretativas, sintetizar e avaliar criticamente o que leêm, em suma todos os procedimentos para realização de todas as estratégias e etapas para a produção de um texto.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Mikhail M. - Os Gêneros do discurso, in Estética da criação verbal- Ed. Martins            Fontes, 1997, p. 279.

DIONÍSIO, Angela Paiva e outros.  Gêneros Textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.        

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 2. ed.  São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linguística de texto: O Que é e Como Se Faz. Recife: Editora da UFPE, 1983.

SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 2004. p. 95-12

 

 


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