Sou tumulto!



Sou tumulto!

Estou vazia!

Ao meu redor gira o mundo falante.

Risos! Falas! Gritos! Corridas!

Que espasmo!

Estou vazia desse vácuo.

No banco lotado da Praça do Carmo há dois grupos.

Amigos soltos

Um de conversas banais

Outro de loucuras reais.

Estou me embriagando do álcool factual

Para sobreviver ao álcool subjetivo.

Bebi! Bebi!

Palavras, versos, física e ritmo.

Bebi!

Lá e aqui estão Clarices!

Suas amantes!

Suas fotos!

Seus cheiros!

Sua alma

Seu eu...!

Nesses bancos que também sentou

A cá estou.

Sentir, ver!

Irreal?

Há movimento no mundo

Um grupo teatral recitando

Poesia cantada ecoando

Falaram versos de poetas pernambucanos

Citaram Clarice

Com seus movimentos

Também encantos.

O mundo gira!

Olinda respira!

Conto três mil pessoas

Nos arredores delimitados

Sou três mil pessoas dentro de mim.

Uma pausa para um gole!

Uma lembrança do passado bom

Mas com cores de ruim.

Um gole na cerveja!

Cevada!

Ritmada!

Quem sou eu agora!?

Quais das três mil estou?

Sou uma faminta!

Preciso ler-me!

Escrever!

Cantar!

Fumar!

Aglutinar!

Talvez sorrir

E terminar chorando

As emoções desses dias.

A presença real dela

Os poetas

Prosistas

Vivos!

Sentando e andando

No instante real.

Que impacto!

Que abismo!

São cristais admiráveis

Mas são vivos e mortais

Não os quero agora!

O português bem falado

E também já esquecido

Tomou os ares da Oh! Linda!

Eloquência!

História!

Mas estão vivos

São mortais.

Não os quero agora!

Sou tormento!

Sou eu sem querer ser

Não quero esse plano

Não aguento essa dor!

Vem, Lispector!

Socorrei-me!

Ouvi meu nome agora!

Olhei e não era ninguém

Ouço isso às vezes!

Meu nome ao vento

Na repetição do tinir do ouvido

Será o atender do grito clamado?

Não tenho medo!

Quero tocar esse ingrato

Infindável eterno!

Quem eu sou!?

Estou viva!?

A dormência faz-me  esquecer.

Enfim!

Há uma palestra daqui a meia hora

O tempo!

Não esse pragmático

Que amarra o homem

Falo do ir indo

Que se penetra

Que Se confunde

Que se irradia

Deixe-me falar, tempo!

Não me confunda

Não me mate ao gritar!

Tempo, duro e finito.

Quero esse grito agora

Esse ermo real

Esse ritual

Que me finda

Sem findar

Um momento!

Alguém me interrompeu

Um transeunte entregando um panfleto

A vida dizendo

Que há hora

Que o é agora

Que o tempo é malvado.

Que situa!

E Apaga!

Esse sonho do novo

Traz o efêmero cruel

Agora!

Já!

Eis o momento

Vou-me!

Não para pasárgada

Alimentada um dia

Mas sim

Ao copo companheiro

Embargável de álcool

Artes e sensações.

Hoje, estou só!

Porém cheia!

Enfim!

Sou um tumulto!


Autor: Luciana Carneiro Nunes


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