Meu baú



 

Meu baú

 No silencio da noite senti a presença da solidão e gostei... Fiz dela minha roupagem e deixando-me encantar com sua presença, percebi como é bom estar só... Só comigo mesma, sentindo bater à porta de minha alma os ecos do passado, se apresentando como que a presentear-me, trazendo de volta as mais doces recordações acumuladas no tempo já vivido. As sombras do passado que estavam a me espreitar, foram chegando de mansinho, trazendo ruídos e sons há muito tempo guardados nas gavetas da vida e que voltaram à minha lembrança, fazendo do passado um cadinho do presente, antevendo um futuro carregado de recordações... As alegrias sentidas ao longo de minha vida, meio a tantas vivências e pessoas, o sentir quantos sonhos realizados estavam a mim se apresentando... E tantas outras coisas boas que fizeram da minha vida o que ela é...  Perdi-me no tempo, revendo pedaços de vida independentes e adentrando a sensações que me fizeram ter a certeza  de ter passado pela vida, marcado minha presença e sentido presenças que fizeram de mim alguém sem medo de pensar e recordar... Recordar tantas coisas...

Imagens memorizadas foram aparecendo, como a não querer nada, mas a trazer-me dias   felizes de meu universo familiar. Tão meu. Tão nosso! Odores trazidos pela porta aberta do tudo que vivi, pouco a pouco foram se apresentando... Era o bolo feito por minha mãe... O chá mate com bolachas que vovó e eu levávamos para perto do rádio à hora da novela. Era o primeiro brigadeiro a fazer parte das guloseimas postas à mesa no dia do meu aniversário... Era o cheirinho de bebê de minha boneca, a fazer-me pensar... A pensar-me mãe e embala-la meio a tantas fantasias. Realizáveis, realizadas... ... Eram os sons dos natais regados a tão pouco, mas que sempre pareceram muito, dadas as circunstâncias... Era a expectativa da chegada do Papai Noel, trazendo sempre  o melhor... Segundo seus parâmetros... E me fazendo feliz. Muito! Sempre!

Nesse pequeno ou grande espaço de tempo, adentrei a portas fechadas a sete chaves e as abri. Ali estavam guardadas as perguntas sem respostas que transitaram por minha vida. Esvaziei-me delas. Não mais perguntas para as respostas que não vinham. Não mais fariam falta, embevecida que eu estava a juntar tudo de bom que a mim  havia acontecido, e o não tão bom assim, que ao dar asas à minha imaginação, transformei. Transformei no que pensei ser o melhor para mim.

Ignorei a Caixa de Pandora que esteve a sondar-me. Que fosse navegar em outros mares. Eu não a queria. Só a esperança nela contida a mim interessava. Mas como consegui-la sem que tudo o mais a seguisse?

Obstáculos que se apresentaram como presenças invisíveis e instransponíveis, mostraram-me que a luta não foi em vão. Nunca!

Em meio a esse redemoinho de emoções, senti a solidão saindo através da porta por ela aberta e acenei agradecida.

Como se possível fosse...

 

 


Autor: Heloisa Pereira De Paula Dos Reis


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