A Casa De Cícero Nicolau



Eu tinha nove anos em 1963 e estava no terceiro ano do curso primário. Minha família morava em Parnamirim e havia mudado de casa. Estávamos agora numa casa enorme, com sete quartos, três salas grandes, um corredor imenso e escuro, um quintal muito grande no fundo da casa, uma porta secreta sem saída e um sótão que ficava ao fim de uma escada,que eram “o terror” de todos os pequenos da casa e da vizinhança. No sótão havia um grande baú velho com roupas velhas dentro que diziam ser dos tataravós do dono da casa. Todos comentavam que lá em cima havia um fantasma responsável por um tesouro que teria sido enterrado no século anterior e que ninguém teria encontrado. Contava-se que esse fantasma só deixaria em paz os que morassem na casa quando alguém corajoso encontrasse o tesouro e desse o destino que ele, o tal fantasma, exigia. Era para entregar o tesouro à sua família, a família Menezes .
O tempo passou e ninguém tinha coragem de subir naquele sótão. Os proprietários da casa nem davam bola para esta história. É claro que não acreditavam nisso e por isso alugavam a casa para nós. Mas as crianças da minha rua acreditavam, ou seja, me faziam acreditar. Comentavam que a porta secreta escondia o fantasma durante a noite e o sótão era o lugar onde ele ficava durante o dia. Várias pessoas da casa diziam ouvir choro e batidas nas portas à noite e conversas, no sótão de dia. As minhas irmãs mais velhas eram as que ouviam esses ruídos sempre que a gente pequena, eu e meus irmãos menores, tínhamos a curiosidade de tentar subir as escadas. As minhas irmãs mais velhas diziam ouvir bater todas as portas ao mesmo tempo e gemidos por trás de uma parede falsa, em local em que ainda poderia conter parte da botija. Depois de trinta anos que não voltava a minha terra natal fui rever o casarão de Cícero Nicolau que marcou a minha infância! Fiquei triste porque só havia ruínas da minha antiga morada. Frustrada e preocupada com a destruição dos meus mitos e fantasmas favoritos que tanto povoaram as histórias que eu costumava contar para minhas colegas de escola. Ninguém tem notícias se foi encontrada outra botija de ouro! Voltei sem medo, mas sem mito e sem graça. Sentirei muita falta da figura do casarão e da fantasia da botija do tesouro.

Vocabulário:
Sótão: andar superior de um sobrado que serve como despejo para guardas coisas velhas.
Botija: vasilhame arredondado que serve para guardar coisas confidenciais ou sinistras.


Autor: Djalmira Sá Almeida


Artigos Relacionados


Feliz Natal

Acredite Se Quiser... (3)

Pasma Imaginação

Sociedade

Cemitério

O Tesouro Do Pirata (peÇa De Teatro Infantil).

A Casa Da Magnólia