Diabetes Melito na Saúde do Adulto



Diabetes Melito

A palavra diabete significa sifão ou passar através de e foi atribuída pelos gregos ( 1500 a. C) a indivíduos que eliminavam grandes quantidades de urina como se a água ingerida passasse por seus corpos sem se deter. Esse nome foi atribuído em razão de sua sintomatologia: poliúria (aumento de volume urinário), polidipsia (sede),polifagia (fome) e emagrecimento.                                   

O diabetes melitos (DM) é uma alteração na produção ou ação de insulina, que é o principal hormônio produzido pelo pâncreas, especificamente pelas células betapancreáticas. Suas principais funções são a manutenção da quantidade adequada de glicose no sangue e o armazenamento na forma de glicogênio no fígado e nos músculos.

A insulina liga-se a receptores específicos na parede celular e ativa o processo de entrada da molécula de glicose na célula. O processo se dá por intermédio de uma proteína transportadora conhecida como GLUT4. Esse mecanismo permite o uso de glicose como fonte energética pelas células e mantém uma taxa normal de glicose no sangue. A Associação Americana de Diabetes (ADA) considerada valor normal da glicemia de jejum até 100 mg/dL. Valores entre 100 e 125 mg/dL são considerados glicemia de jejum alterada. Neste caso, é necessária a confirmação do diagnóstico pelo teste de tolerância a glicose oral.

Existem tipos diferentes de diabetes: tipo1, tipo 2 e tolerância à glicose diminuída.

Tipo 1: conhecido como insulinodependente ou infanto – juvenil, sua maior prevalência se dá em crianças e jovens e é caracterizado pelo baixo nível de insulina. Ocorre em razão da destruição auto- imune das células betapancreáticas. Os motivos que desencadeiam esse tipo de diabetes são incertos. Alguns estudos apontaram uma relação de hereditariedade em 15 % dos casos.

Tipo 2: Classificado anteriormente como diabete do adulto ou não – insulinodependente, é caracterizado por níveis de insulina normais ou elevados, porém com frequente resistência periférica. É mais prevalente em adultos com idade superior a 40 anos e obesos, no entanto esse perfil tem se alterado. O diabete tipo 2 está intimamente relacionado aos hábitos do mundo moderno, como diminuição da atividade física e alimentação inapropriada com aumento de obesidade. Essas alterações nos hábitos de vida também são responsáveis por um número crescente de crianças e jovens acometidos pelo tipo 2. Esse modelo é caracterizado pela diminuição da secreção de insulina pelo pâncreas com pouca repercussão na ação insulínica.

Algumas condições devem ser obervadas pelos profissionais de saúde para identificar a existência de diabetes tipo 2.

  • idade acima de 40 anos ;
  • História de diabetes na família;
  • Obesidade do tipo andróide ( aquela que      se localiza mais na região abdominal), tendo em vista que o acúmulo de      tecido gorduroso acarreta uma maior resistência dos tecidos à insulina,      bem como uma diminuição da utilização da glicose por eles;
  • História de doenças, como hipertensão      arterial e dislipidemia( é uma desorganização entre os níveis dos      diferentes componentes plasmáticos, tais como: o colesterol total e suas      frações os triglicérides e outras gorduras circulantes)
  • Mulheres que relatem terem tido filhos com      mais de 4 kg, tendo em vista que os altos níveis de glicose no sangue da      mãe são compartilhados com o feto.
  • Os portadores de diabetes Tipo 2 podem      controlar sua taxa de glicemia através da dieta e da atividade física      regular. Quando necessário, utilizam –se de hipoglicemiantes orais.

 

Tolerância à Glicose Diminuída: ocorre em pessoas que, usualmente, possuem glicose de jejum entre 100 e 125 mg/dL, porém, quando submetidas ao teste de tolerância à glicose , possuem glicemia alterada. Esse teste consiste na coleta de sangue em jejum com posterior ingestão de solução contendo 1,75 g de glicose por quilo de peso ou até no máximo 75 g de glicose. É realizada, então, nova coleta de sangue após duas horas; se os valores estiverem entre 140 e 200 mg/dL, é conformado o diagnóstico de tolerância à glicose diminuída.

Tipos de tratamento: o tratamento do diabete exige uma abordagem complexa, e seu sucesso depende da motivação e ajustes continuados, tanto do paciente como da família e da equipe. Deve haver mudanças nos hábitos de vida e incorporação de novas rotinas referentes à prática de atividades física, dieta balanceada e cuidados com o corpo. O uso de medicamentos e da insulina exógena é necessário na maioria dos casos.

O portador de diabetes deve ser acompanhado por uma equipe multiprofissional: enfermeiro, médico, nutricionista, psicólogo, professor de educação física e dentista e entre outros. Os profissionais atuam no tratamento clínico- medicamentoso e, também, têm a missão de instrumentalizar, por meio da educação, o portador de diabetes quanto ao autocuidado, visando a prevenir os agravos da doença.

Educação: A educação para a saúde é mais do que um coadjuvante do tratamento; chega, algumas vezes, a ser seu principal pilar. Alleyne afirma que a ausência ou a insuficiência de informação são as maiores causas de complicações e mortes de DM.

O programa de educação em saúde deve ter como princípio fornecer informações corretas que permitam uma reflexão a fim de produzir mudanças de atitudes ou reforço para a manutenção de comportamentos benéficos à saúde. O objetivo primordial da educação é promover o autocuidado. Entende- se por autocuidado a prática de atividade que o indivíduo inicia e realiza em prol de si próprio para manter a vida, a saúde e o bem – estar.

O esclarecimento sobre diabete contribui para manter a motivação para o autocuidado. Devemos também atentar para o desenvolvimento de distúrbios mentais, pois estudos apontam que os portadores de diabetes apresentam duas a quatro vezes mais sinais de depressão do que a população em geral.

A educação se estende para toda a população, no que diz respeito às atitudes preventivas para essa doença, e é também importante na aceitação do diagnóstico, no controle de doença e na manutenção da qualidade de vida.

              

Atividade e exercício físico: A atividade física é qualquer movimento que resulte em contração muscular e gasto energético; o exercício físico é uma prática mais organizada com duração, intensidade, frequência e ritmo determinados. O exercício físico deve ser uma prática habitual de todas as pessoas, não apenas dos portadores de diabete, além de melhorar a disposição, aliviar o estresse e promover sensação de bem – estar.

Algumas das vantagens da atividade física são extremamente importantes para o portador de diabetes: aumenta a queima de glicose pelos músculos, colabora na redução do peso, aumenta a ação dos hipoglicemiantes oirais e insulina, reduz o risco cardiovasculares e melhora a circulação sanguínea dos membros inferiores. É possível, com o exercício, reduzir a dose de insulina, pois a atividade física aumenta o número de receptores e sua capacidade de ligação em tecido gorduroso, músculos e outros órgãos, diminuindo, assim a resistência periférica nesses tecidos.

A prática de exercício físico deve ser supervisionada por um profissional capacitado, respeitando os limites de cada praticante. É necessário o uso de roupas e calçados adequados, lembrando –se sempre dos cuidados com os pés. Para que a atividade física seja efetiva, deve ser realizada com certa intensidade e periodicidade. De forma geral, é indicada a prática de trinta minutos ao dia, ao menos cinco dias por semana.

Ressaltamos que os pacientes insulinodependentes devem adequar o local da aplicação de insulina e a dose com o tipo de atividade física que irá realizar, pois o aumento do trabalho muscular acelera sua absorção aumentando o risco de hipoglicemia.

 

Dieta: A dieta tem importância fundamental na qualidade de vida de todos. A composição de uma dieta ideal varia de acordo com a evolução cientifica, mas muito já foi descoberto. Devemos dar atenção especial aos portadores de diabete, e, sempre que possível, a opinião de um nutricionista auxilia na adequação do cardápio às necessidades nutricionais de cada um. Basicamente, a composição da dieta deve ser de 50 % a 60% de hidratos de carbono, de 25 % a 30 % de gorduras e de 10 % a 15% de proteínas.

Terapia medicamentosa: Opta- se pela terapia medicamentosa quando a atividade física e a dieta não são suficientes para garantir um bom controle glicêmico e para todos os portadores do DM tipo 1. O mercado oferece inúmeras opções para

Cuidados gerais no manuseio da insulina:

O envolvimento da pessoa é determinante no sucesso da terapia. A sua aceitação da insulina e o aprendizado das técnicas de automonitoração têm melhorado, em muito, o controle da doença.

Tanto o profissional de enfermagem, responsável pela medicação, quanto o usuário que se auto - administra a insulina, devem seguir algumas orientações básicas a fim de evitar complicações e alcançar melhores resultados com a terapia.

Os cuidados referentes à administração de insulina são:

  • utilizar seringa descartável      e apropriada para a administração de insulina;
  • manipular o frasco de insulina delicadamente, sem agitá -lo, pois isso pode provocar alteração na ação do medicamento;
  • Manter a insulina sob refrigeração não muito intensa - entre 2 º e 8 ° C.

Merecem destaque quatro orientações relacionadas à aplicação da insulina:

  • Observar os locais      apropriados para a aplicação;
  • Fazer o rodízio das áreas de      aplicação, evitando o uso do mesmo local, antes de duas semanas, mantendo      um espaço mínimo de três centímetros entre eles;
  • Inserir a agulha de insulina      na posição de um ângulo de 90°, após a realização de um leve pinçamento da      pele, garantindo que a insulina seja injetada no tecido subcutâneo;
  • Evitar o massageamento do      local da aplicação.

O objetivo do rodízio das áreas de aplicação é evitar uma complicação chamada de lipodistrofia, que é uma alteração da gordura subcutânea, causando depressão ou o aparecimento de massas no local afetado.

 

 Técnica injeção subcutânea ( SC)

Técnica injeção subcutânea:

1-Separar o material necessário: algodão, álcool 70 %, seringa ( 1 ml - capacidade para 100 U; 0,5 ml - capacidade para 50 U; e 0,3 ml - capacidade para 30 U), agulha adequada ao índice de massa corpórea e a insulina.

2- Lavar bem as mãos com água e sabão.

3- Rolar o frasco da insulina com movimentos lentos, entre as mãos, para homogenizar a solução.

4- Desinfetar o silicone do frasco de insulina com algodão e álcool.

5- Levar o êmbolo da seringa até o número de unidades a serem aplicadas, injetar este ar no frasco de insulina e depois aspirar o número de unidades desejadas.

6- Retirar a agulha do frasco pressionado o êmbolo para que o ar não volte à seringa.

7- Limpar o local da aplicação com algodão e álcool, lembrando -se sempre da importância do rodízio.

8- Fazer uma prega no tecido gorduroso com uma mão.

9- Aplicar a insulina com a outra, introduzindo a agulha 90 º.

10- Aspirar o êmbolo para verificar refluxo sanguíneo.

11- Injetar o conteúdo na pele e retirar a agulha.

 

 O cliente hospitalizado:

A hospitalização é uma condição bastante frequente na vida do diabético descontrolados, seja em decorrência das compliacações agudas, como a citoacidose diabética ou o coma hipoglicêmico ou em função das complicações crôncicas, como as insufiências renais, as doenças cardiovasculares e as infecções.

O diabético não deve ser excluído das decisões de seu tratamento. O enfermeiro responsável, certamente , deverá fazer um planejamento que contemple suas opiniões. Uma boa comunicação entre as diversas pessoas envolvidas ( familiares, equipes de enfermagem e nutricionistas) pode facilitar o seu ajuste ao tratamento, enquanto estiver hospitalizado.

O portador de diabetes, que está habituado a fazer o seu próprio controle, demonstra insegurança em transferir essa responsabilidade para outras pessoas. A verificação da glicemia e a administração da insulina poderão continuar sob sua responsabilidade, desde que o mesmo se encontre em condições para tal e que estas ações sejam acompanhadas pela equipe de enfermagem e sob a supervisão do enfermeiro.

É preciso incentivá - lo, caso esteja em condições, a fazer caminhadas pelo corredor ou pelas áreas de lazer do hospital, uma vez que as dificuldades relativas à realização de exercícios físicos em ambiente hospitalar, certamente, levarão a uma maior necessidade de insulina em pessoas habituadas a fazê-los.

As internações geralmente ocorrem devido às complicações agudas. Dentre as mais comuns, destacam -se a hipoglicemia, a cetoacidose e complicações crônicas em outros órgãos( renal, vascular periférica, infarto agudo do miocárdio, infecções, dentre outras).

Complicações Agudas:

As complicações agudas do diabete são basicamente : hiperglicemia e hipoglicemia. Ocorrem com frequência e são facilmente tratadas, mas, em casos extremos, podem ser fatais.

Hiperglicemia: A hiperglicemia é de instalação gradual e, quando não tratada, pode levar o paciente ao coma. Vários fatores podem predispor para as complicações:

  • Estresse;
  • Redução      dos exercícios habituais;
  • Inadequação      dos medicamentos ou de suas doses;
  • Infecções      e alguns tipos de drogas.

O aumento da glicose no sangue predispõe à formação de corpos cetônicos no sangue e na urina em razão da quebra das gorduras, fonte de energia utilizada pelas células, na incapacidade de utilizar a glicose. Os corpos cetônicos são excretados pela respiração e pelo rim; parte permanece no sangue com ácido e é neutralizada até certo limite pelos tampões do sangue. Essas complicações é conhecida como cetoacidose diabética. Clinicamente, ocorre hálito cetônico, boca seca, sede intensa, náuseas, vômitos, dores abdominais e respiração profunda. Casos mais graves podem evoluir com alteração do nível de consciência e até coma.

Hipoglicemia: A hipoglicemia a glicemia inferior a 70 mg/ dl. Sua repercussão no organismo varia em cada um , mas consiste, basicamente, na exacerbação do sistema adrenérgico. É causada, na maioria das vezes, pelo desequilíbrio entre atividade física, dieta e dose da insulina. A hipoglicemia pode ocorrer em não - portadores de diabete.

Clinicamente, ocorre fraqueza, sudorese fria, palpitação, fome, visão turva, sonolência, dificuldade de concentração, alteração do nível de consciência, desmaios, chegando a convulsões e coma. A hipoglicemia é facilmente tratada com a ingestão de alimentos, porém, em alguns casos, é necessária a administração endovenosa de glicose ou aplicação de glucagon subcutâneo ou endovenoso.

 

Complicações crônicas

A evolução crônica, o diagnóstico tardio da doença, a falta de acesso aos serviços de saúde e informações básicas sobre o tratamento, a não- aderência ao tratamento e entre outros fatores, determinam elevados índices de glicemia que , associados a fatores genéticos e influências ambientais, favorecem o aparecimento das complicações crônicas.

As microangiopatias são representadas, principalmente, por retinopatia e nefropatia, cuja característica é o espessamento da membrana basal dos capilares sanguíneos. Como consequências, pode haver perda da visão e insuficiência renal , duas complicações frequentes graves do DM.

A macroangiopatia acomete, principalmente, os territórios coronários, cerebral e das extremidades inferiores, mas pode ocorrer em qualquer outra área de circulação distal do organismo. Suas manifestações são: cardiopatias isquêmicas, doenças cerebrovasculares e doença vascular periférica. O DM  associado ao envelhecimento, à hipertensão arterial, obesidade, deislipidemia, sedentarismo e tabagismo.

A neuropatia diabética é a complicação crônica mais frequente e precoce. O diabete pode lesar pequenas e grandes fibras nervosas. A lesão de pequenas fibras é observada, primeiro nos membros inferiores por meio da dor e hiperalgesia. Segue-se a diminuição da sensibilidade térmica e tátil.

A enfermagem deve despender maior atenção às alterações que ocorrem nos membros inferiores. O cenário e perfeito para o surgimento de lesões, principalmente nos pés e nas pernas. Essas manifestações podem ser decretadas por sintomas clínicos, exames neurológicos específicos ( incluindo pesquisa sensorial – dolorosa, motora e de reflexão).

 

Cuidados com os pés

Baseado na definição da OMS, o pé diabético é caracterizado por infecção, ulceração ou destruição dos tecidos profundos associadas a anormalidade neurológicas e vários graus de doença vascular periférica nos membros inferiores. A maioria dos resultados adversos envolvendo problemas com o pé diabético é composta por úlceras e amputações. Em torno de 40 % a 60% das amputações não traumáticas dos membros inferiores são realizadas em pacientes com diabetes.

O cuidado com o pé do portador de diabete é de extrema importância para prevenir ou minimizar complicações.

Um profissional da saúde capacitado deve realizar o exame específico dos pés, pelo menos uma vez ao ano, em busca de alterações vasculares, sensibilidade, calos, feridas e micoses. Cabe a esse profissional, também, orientar sobre os cuidados que o paciente deve ter diariamente: lavar os pés com água morna e sabão neutro, secar bem entre os dedos, não usar talco.

Tais cuidados impedem o ambiente adequado para a proliferação de fungos e evitam as micoses, que são uma porta de entrada para infecções. Além desses, outros cuidados são necessários: cortar as unhas quadradas para evitar que encravem; comprar sapatos no final do dia, pois os pés estão mais edemaciados; nunca cortar calos, mas procurar os cuidados de uma podóloga.

Referências Bibliográficas:

Brêtas, Ana Cristina Passarella; Gamba, Mônica Antar ; Enfermagem e Saúde do adulto; editora manole; Barueri – SP; 2006;169- 185.

Profissionalização de auxiliares de enfermagem; cadernos do alunos: saúde do adulto: assistência clínica/ ética profissional; Ministério da Saúde; Brasília; Fiocruz,2001; 52.

 


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