UMA ESTRADA QUASE SEM FIM



O dorso encurvado ao peso do tempo, os cabelos desbotados e a pele macilenta, olhos sem brilho, mãos ressequidas, trêmulas e enrugadas, o passo lento das pernas inseguras e com medo de perder o equilíbrio, a dificuldade de ouvir e de compreender as coisas... Ah! Como são tantos e tão pesados os fardos que agora depois de tudo, leva sobre os ombros aquele que tanto ajudou outros a carregarem  os seus fardos. 
Mas até esses mesmos outros que lhe devem tanto, muitos deles pouco se importam com a sua longa e enfadonha existência e poucos são os que têm tempo e paciência para ouvi-lo e para ajuda-lo. E o ancião em sua tristeza incompreendida, se refugia resignadamente em seus pensamentos, sufocando as mágoas que lhe fazem doer o coração cansado, enquanto tenta conter as poucas lágrimas que ainda lhe restam.
Todos passam por ele tão rápido, sequer lhe dirigem apenas um sorriso; vão passando, passando. Todos estão ocupados demais e precisam andar depressa, enquanto o ancião caminha lentamente a esmo e sem objetivo, e às suas repetidas perguntas sem sentido até fingem não ouvir. Ninguém tem tempo a perder, enquanto ele tem tempo de sobra e nada tem para fazer. Ninguém se interessa pelo pouco que lhe sobrou da vida, as suas histórias antigas, as suas recordações e os seus devaneios, que são chamados de delírios. Alguns ainda lhe lançam um olhar compassivo, e isso é tudo. 
Oh estrada longa e tortuosa, onde será o seu fim que nunca chega? Os dias e as noites já nem fazem mais diferença para o ancião, de tão longas que lhe  parecem as horas, das quais ele já nem se dá conta. Até o sono que o ajudava a esquecer a insipidez da vida, raramente vem lhe embalar, e as suas noites também parecem não ter fim.
Oh crianças e jovens fortes que hoje desfrutam cheios de vigor as venturas da vida, não se esqueçam de que ela passa com rapidez. Lembrem-se de que o ancião que lhe atrapalha o caminho em sua própria casa ou na calçada, ou o que de pé e com ar de cansaço tenta se apoiar nos bancos do ônibus em que você viaja sentado, merece o seu respeito. Ceda-lhe de boa vontade o seu lugar. Um dia ele foi tão lépido e tão forte quanto você, mas a própria vida lhe sugou a força, o viço e a beleza, enquanto ele lutava. Dê-lhe passagem, olhe para ele com amor, dirija-lhe um sorriso, ajude-o a subir ou descer, ou a atravessar a rua. Fale com o velhinho. Ele é hoje o mesmo que um dia você será, em um amanhã que chegará mais cedo do que você possa imaginar!

Junia Pires Falcão 15/11/2012


Autor: Junia Pires Falcao


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