Sócrates, Jesus, Nietzsche...



       Sócrates, Jesus, Nietzsche...

                                                    ¹Raimundo Senzala 

Neste artigo atentemos para um fato em que as analogias dentre estes seres é quase uma realidade, embora, acometidas em diferentes épocas. Contudo, não nos cabe estabelecer aqui comparações de modo algum. As qualidades dos personagens se atêm de diferentes percepções, épocas e, de ações diversificadas pelo fato de estarmos a falar de um ser divino. Enquanto, os outros, sob a magnitude de seres  mortais na plenitude de suas imortalidades.

Sócrates durante a sua existência na terra ele sabia que estava nos limites de realizar uma grande missão. Cuja missão por ser obra da espiritualidade, de antemão, não lhe fora revelada em decorrência das coisas divinas caminharem pelas trilhas dos inusitados caminhos. Consequentemente, ele teve de sofrer a morte dos impiedosos, dos invejosos (trastes, que até hoje perduram em nossas vidas). É bem possível, que os seus assassinos por mais deletérios que foram auscultassem em suas odientas premonições algo de notório em torno do filósofo. Tais premonições, que para o malefício da humanidade, as suas ignomínias, embora, se manifestassem  numa condição telepática, de que Sócrates tinha em sua passagem sobre  terra a verve filosófica de um homem santo. Ainda assim, eles, agiram como aves de mau agouro.

Dada a sua importância como sábio, todos nós acreditamos  que diante de sua verve, a missão dele foi a de preparar o caminho para Jesus. Quem sabe, se os eupátridas espremidos pela sabedoria de Sócrates não vicejassem há tempos em suas mentes doentias, lampejos de predições? Sócrates se foi e nem por isto a humanidade deixou de sacrificar outros seres divinos no montante de sua avassaladora incompreensão contra o limiar da justiça.

Mas, o que quis dizer Nietzsche em um dos trechos de seu livro O Anticristo? (tradução André Díspore Cancian capítulo VII): Chama-se cristianismo a religião da compaixã­o. –A compaixão está em oposição a todas as paixões tônicas que aumentam a intensidade do sentimento vital: tem ação depressora. O homem perde poder quando se compadece. Através da perda de força causada pela compaixão o sofrimento acaba por multiplicar-se. O sofrimento torna-se contagioso através da compaixão; sob certas circunstâncias pode levar a um total sacrifício da vida e da energia  vital – uma perda totalmente desproporcional à magnitude da causa ( - o caso da morte do Nazareno).

O homem tem consciência que as estratificações sociais estiveram sempre presentes no seio da humanidade. Como sabemos que tudo foi criado pelo homem no intuito de tirar proveito, em demasia, de tudo aquilo que lhe proporcionasse vantagens e mais vantagens. Este estado de deploração nunca foi mérito para o bom desenvolvimento da humanidade. Alguém, num passado longínquo criou a maledicência, a dor, a pobreza e esta, a causa de todas as misérias, inclusive, a compaixão da qual Nietzsche comenta.

A ação depressora da compaixão é tão aterradora que nos deixa com sentimento de culpa, quando, por acaso, deixamos de ofertar a esmola a um pedinte qualquer, possivelmente, diante do que acontece hoje em dia em não sabermos  quando e como ofertar dádivas.

Este sentimento de culpa nos faz cair em estado de observação de nossa falha como um dardo em nossa pretensão cristã. O próprio Cristo ordenou aos seus admiradores que o seguissem abandonando pai, irmão e filhos, se quisessem ganhar o reino dos céus. Melhor interpretando-O: que a vida terrena era apenas um passeio e nada mais.

A compaixão exercitada pela religião que admoesta o homem, não lhe dá o direito do mesmo colocar a título de caridade, nenhum ser em estado deplorável, na condição de mendigo, e tampouco, para que o mesmo se sente à sua mesa ao lado dos seus. Não tem doutor, que proceda assim!

 A compaixão, como adverte Nietzsche é, um rolo esmagador na verdadeira doutrina cristã. A compaixão, ela é apenas para que o homem continue a olhar aquele que lhe faz pensar ser o seu irmão, contudo, à distância. Porque, são séculos e séculos de megalomanias religiosas cerceando o ser humano de ilusões pecaminosas, como se os desacertos e desencontros da humanidade fosse uma questão do mau uso do livre arbítrio.

Extirparam do homem o direito de decifrar o seu código de liberdade, no ideal de seu primitivismo desde o seu nascimento. O homem, desde os horrores da idade média, desde as castrações daquilo que pode e não pode, desde as mazelas e confissões nos ouvidos dos padres e desde os malogros da inquisição, que fizeram dele um barco à disposição das derivas melancólicas, à espera, de um barco sem rumo e sem ponto de porto. Todos nós estamos à deriva, de nós mesmos. Para onde vamos, eis a questão.

Não nos basta termos medo do que pode acontecer, assim como, não há mais pureza em nossas mentes e corações. Também, não é preciso atribuir à modernidade, qualquer espécie de desvio comportamental de uma juventude perdida, vazia e, sem nenhuma perspectiva de sonhos febris diante de uma realidade ou herança de época de um malfado golpe militar. A geração do pós-golpe militar, se perdeu nos emaranhados de uma perpetuação ilusionista.

A Educação trilha pelas raias absurdas do mercantilismo e da falência administrativa e educativa, e da supressão filosófica do melhor do ensino aprendizado.

Sociologicamente, estamos a viver num embaraçoso quisto social. As nossas cidades entreguem a uma nova ordem (desordem) enquanto, a política, ah! Esta se prodigaliza na obliteração de seus prepostos no sentido de estiolar a mente de quem deseja exercitar a verdadeira Democracia, como se a mesma fosse, a cloaca de suas indecências e imbecilidades hostis. E dessa forma, eles vão preconizando e levando à postergação o desarrazoado cristianismo como a religião da compaixão, tão combatida, por Nietszche.

¹Raimundo Senzala- Licenciatura  em Dança /UFba
Pós Graduação em Gestão Educacional/Faculdade Atlântico/SE
Pós Graduação  em Educação,Desenvolvimento e Políticas Educativas/IDEB-PB
Mestrando em Ciências da  Educação/Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias/Lisboa
 E mail- [email protected]


Autor: Raimundo Sampaio Costa


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