A Casa Da Magnólia



Na primeira semana, com tanto trabalho de encaixotar e desencaixotar, tanta arrumação de mudança que o cansaço não me deixou olhar em volta. Na segunda semana, fui conferindo cada ponto obscuro da casa, verificando alguns locais que precisava de conserto ou de algum reparo. Depois de pintar, tapas os buracos, limpar as calhas e retirar entulhos começou o trabalho de sentir o clima da casa.
Já estava com um mês e nada especial havia acontecido. Com dois meses, depois da mudança, meus filhos decidiram morar na capital para estudar e uma amiga resolveu ficar comigo na casa. Como a casa era muito grande: três quartos enormes, duas salas também grandes, dois banheiros, duas áreas e um quintal enorme; por isso, aceitei a companhia da minha amiga Gladys. E aí é que as coisas começaram a destoar. Todo dia ela me contava logo pela manhã que uma mulher, todas as noites, vinha conversar com ela.
A filha da minha ajudante do lar, que às vezes vinha na casa, também disse ter visto uma mulher na sala de jantar , vindo para a sala de estar, depois desviava para o banheiro. Levei na brincadeira e até apelidei a mulher de Magnólia , porque havia uma personagem dos meus contos de terror que assim se chamava.
Mas, uma tarde, cheguei cedo da faculdade e lá estava ela, não a minha amiga, mas a Magnólia. A mulher que conversava com minha amiga! Ela era baixinha, morena clara, cabelos castanhos, cacheados, soltos na altura dos ombros, com uma mantilha preta sobre a cabeça e vestido de cetim roxo. Parecia que estava chegando da missa!Não consegui ver seu rosto nem seus pés. Ela não andava, vinha como quem flutuava. Enquanto vinha na minha direção brinquei com ela que não me deu nenhuma importância. Acho que ela não me via! Mas, quando ela fez a volta para entrar no banheiro, eu lembrei da história da Magnólia, gritei e senti escorrer um xixi quente nas pernas minhas pernas que tremiam! Foi aí que ela olhou para mim!
Eu chamei  a Gladys, que, por sinal, estava com problemas de fraqueza mental. Comentei com ela: agora mesmo passei o maior medo. Vi a mulher de mantilha na cabeça e vestido roxo. É a Magnólia!Ela entrou no banheiro. Minha amiga soltou uma risada e me tranqüilizou: não é a Magnólia de sua história é a minha mãe falecida que tem vindo me visitar todo dia! Não tenha medo! Ela morou nessa casa e viveu neste bairro por trinta anos. Ela era conhecida de todos dessa Avenida . Ela está me visitando. Nesse banheiro tinha uma porta que dava para a rua. Quando ela sai por ali é que está indo embora. Lembrei-me na hora que para fantasma não existe parede! Aí sim, é que fiquei com medo!
Se for a Magnólia ou a mãe dela, que diferença faz? Acho que o melhor é não duvidar. Só sei dizer que, apesar dos sustos, a minha vida corre sem muitos espantos, até aqui. Mas, mesmo assim, prefiro acreditar que ela não existe ou que saiu mesmo. Mas, quem disse que eu tomo banho naquele banheiro!!!

Autor: Djalmira Sá Almeida


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