O Corno Sergipano



Sábado de um distante dia, num subúrbio carioca, Paulo acordou com a cabeça cheia de planos, afinal estava de folga.
Lavar o carro, ir ao supermercado pegar aquelas cervejinhas para outro dia e o churrasco, claro.
A sua esposa iria para a casa da sogra com as crianças... E ele? Bom ele teria muito que fazer hoje.
Levantou ligou o rádio... Notícias policiais, que chatice... Uma FM pra melhorar o astral.
Puxou uma caixa de som pra perto da porta pra lavar o carango, um opala 74, com musica.
Ao sair, notou que a vizinha, Zeni estava lavando roupa na área ao lado da casa.
22 anos,  vinda do nordeste há algum tempo, e sem filhos.
A sua casa ficava num plano mais alto que a casa da vizinha, de maneira que viria ela de cima pra baixo.
Ótimo, pensou.
As casa eram no estilo popular e os quartos ficavam paralelos com o terreno do vizinho, isso era na verdade muito chato, mas eram detalhes que todos se acostumavam com o tempo.
Sabão, mangueira esticada, e lá foi Paulo pro batente.
Foi quando em uma dessas voltas no carro viu Zeni, sorridente, encostada no muro divisor dos terrenos.
Ao primeiro olhar teve a exata noção de que aquela mulher definitivamente não era séria.
É claro que muitas vezes a tinha visto, cumprimentado, ela, Zeni e ao seu marido, Julio, mas naquele momento, de shorts, uma pequena blusa com os seios quase a mostra e aquele sorriso...
Bom dia seu Paulo, disse ela esforçando-se demais para ser agradável e insinuante.
Bom dia, respondeu ele.
Zeni lhe pediu ela: O senhor pode me ajudar a desentupir o ralo do tanque que parece entupido, meu marido não está.
Paulo respondeu prontamente que sim.
Pulou ali mesmo o muro e rapidamente deslocou os encanamentos debaixo do tanque e estava solucionado o problema.
Quando ia sair, Zeni lhe trouxe um café, tomaram, conversaram até sobre assuntos que os tornou amigos... Digamos... Íntimos!
Logo estavam sentados no sofá ouvindo musica no rádio da vizinha.
Passaram-se 2 horas, o esposo da vizinha, Julio, trabalhava em uma mecânica e nas horas vagas era duble em uma emissora de TV, em programas de conteúdo sensacionalista e ainda escrevia textos medíocres,  amadoristicamente, mas sonhava com o profissionalismo, mas sabia que era fraco demais para isso. Estava no trabalho.
Era de se prever aonde chegariam aquelas trocas de gentilezas entre Paulo e Zeni, e foi o que aconteceu, o quarto foi o destino dos dois.
Mais 2 horas, chegava perigosamente a hora do almoço, mas a relação estava quente e longe de terminar.
Era uma rua de bastante movimento, e devido a reformas na garagem, o esposo da vizinha deixava o carro na rua.
Onze horas e quinze minutos, pela parte oposta ao quarto, onde tinha uma sala, um olhar de espanto divisava na porta entreaberta do quarto no lado oposto, algo que nunca pensou em ver um dia.
Nunca a esposa Zeni, lhe dera motivação para ter duvidas da sua lealdade, mas aquela cena estava a provar o contrário.
A vontade foi de adentrar ao quarto e ali mesmo acabar com aquilo, mas...
A experiência em dublagem em acidente de Julio, lhe clareou a mente e lhe afastou totalmente a razão do pensamento.
Agiu como um autômato, o ódio dos cornos lhe cegou...Viu-se contornando a casa pulou o muro do vizinho silenciosamente, contornou o carro ainda com manchas brancas de sabão a retirar, e avistou as chaves...
Sim... Esse era o plano, não um plano friamente calculado, mas um plano que as circunstâncias e o ódio lhe diziam para executar teria que ser rápido...
Empurrou o carro, de maneira que este ficasse de frente para sua casa e conseqüentemente, seu quarto...
Não demoraria...
Deu a partida, acelerou... e num só impacto derrubou o frágil muro e combinado com uma forte explosão a parede e metade da casa desabou sobre os infelizes e ocasionais amantes que desmaiados sucumbiram sobre os escombros e o terrível incêndio que se seguiu. Estava tudo acabado.
A experiência e o seu carro estacionado a frente da casa, facilitaram a rápida fuga de Julio em direção ao interior Sergipano, que sem nenhum arranhão, afastou-se, não sem antes dar uma olhada na grossa nuvem negra que levantou do que fora um dia o seu lar!
 
Malgaxe



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