O Gato Que Canta E Dança E O Pássaro Que Miava E Gemia



Todos os dias um gato subia no telhado e começava a cantar, cantar mesmo! Fiquei intrigada com aquilo. Era forró, brega, xote e outras canções populares. Do sobrado onde eu estava dava para ver o gato abrindo a boca, balançando o rabo e até dando pinotes. Acordava cedo para ver o gato cantar e dançar todas as manhãs.
Bem perto dali, mas no período da noite, nas proximidades da Igreja Católica, em outro sobrado do mesmo bairro, havia também um pássaro que, à noite, fazia coisas diferentes das que estamos acostumados a ver os pássaros fazerem: subia no telhado, gemia, corria e o que é pior: não piava como era natural, ele miava como um gato.
Comentei com várias pessoas do bairro e todas riam e até diziam que era imaginação, ou que eu não teria gostado de Belém ou que talvez estivesse com stress. Quando chovia era pior ainda, pois tanto o gato quanto o pássaro não escolhiam mais a noite nem o dia para inverter seus papéis. O gato cantava a qualquer hora olhando para “o meu sobrado” e o pássaro não escolhia mais a hora que miava ou que gemia, bastava me ver.
Perto do dia de partir aconteceu uma coisa inesperada. Uma vizinha da parte térrea do sobrado, amiga da minha filha, convidou-me para uma festa de aniversário em sua casa. Havia muitos cachorros e gatos ali, todos estavam muito bem cuidados, vestidos a caráter, até porque a festa era do aniversário de uma cadelinha. Lá funcionava uma tosa de cachorros e a maioria dos convidados para a festa eram fregueses ou amigos da vizinha. Qual não foi a minha surpresa quando vi chegar o lindo gato que eu achava que cantava, de smoking, no colo da sua dona. Só que ali ele observava tudo, não abria a boca nem dançava.
A seguir entrou um senhor idoso, na casa da festa, com o pássaro que miava, ou seja, que eu pensava que miava. Fiquei curiosa, olhando para eles o tempo todo. Mas estava com vergonha de perguntar se eles tinham algum talento especial, pois poderia não ser os mesmos. O certo é que minha dúvida logo se dissipou quando alguém conhecida dos bichinhos chegou e foi logo fazendo aquela algazarra com eles. Era a dona da tosa, a Rafa.
Primeiro, ela chamou o cachorro Dom e perguntou: vamos garoto, está preparado? Venha apresentar a sua música favorita! Aí sim, eu vi que não havia nada de sobrenatural com o gato. O que me intrigava é que eu não sabia que alguém colocava a música às escondidas para ele dublar todo dia pela manhã. Depois de várias apresentações, vários cachorros se exibiram, mostrando em desfile suas roupas.
Em seguida, chegou a vez do pássaro,era a apresentação que eu mais esperava. Rafa pegou-o no dedo, colocou-o no ombro e pediu que ele imitasse outros bichos. Ele imitou o cachorro, imitou outros pássaros, mas o que eu esperava não aconteceu: na hora de imitar o gato, vi que foi a Rafa que fez os gemidos, os mesmos miados dos quais eu todo dia reclamava. Acho que a vizinha se divertiu à vontade, fingindo não saber que essas inversões de ações de gato e pássaro me incomodaram muito durante todas as minhas férias. Além disso,ela me fez crer, durante um mês, que em Belém, os animais domésticos têm comportamentos sobrenaturais!


Vocabulário:

Inacreditáveis: que não é possível crer
Estranhas: diferentes do comum
Sobrenatural: além do natural




Autor: Djalmira Sá Almeida


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