Crítica à Formação dos Professores



                      I CAPÍTULO

              

    “Professores Reflexivos e Solitários ou Mal-formados, Deprimidos e Culpados.

Na nossa óptica, as primeiras dificuldades dos professores do 1º ciclo, sobretudo no 1º ano, estão no confronto com as grandes mudanças, significativamente diferentes, no “ser,” aluno – criança – filho e com os diferentes sistemas familiares destes indivíduos (cf. Alarcão, 2006; p.153/154), o que nos leva a pensar que, o professor esgueira-se a vivência multicultural por não estar apto a reconstruir às relações entre os sistemas e subsistemas educativos com os sistemas familiares e promover um envolvimento à partir destas mudanças e diversidade cultural.

Segundo refere Santos (1999), “O trabalho em parceria é uma aprendizagem, e nada na formação dos professores os preparou para esta aprendizagem, como eles costumam dizer.” Com esta rápida análise podemos elucidar o entendimento do contexto que envolve a nossa proposta.

Este entrave poderá estar possivelmente ligado, as lacunas provenientes da falta de alterações necessárias ao currículo das instituições de formação de professores que se articule com as alterações legislativas do Sistema Educativo. (cf. “ A formação de professores no Portugal de hoje” – Documento de trabalho do CRUP – Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas”).

Para afirmarmos que a preocupação com a formação dos professores portugueses não é entendida como singular, no que diz respeito ao enquadramento da mesma no Modelo ecossistémico preparando-os para uma prática com acções pedagógicas sistémica, fizemos uma leitura exaustiva do assunto mostrando que este, em Portugal, é bastante debatido e investigado, o que causa-nos uma certa perplexidade.

Data venha, reportamo-nos a Recomendação 1/89 do Conselho Nacional de Educação. – “Acompanhamento do processo de implementação da reforma educativa,” que em síntese diz; O Conselho Nacional de Educação, no âmbito das suas funções, tem vindo a dar parecer sobre várias propostas de primordial importância para a implementação da reforma educativa consignada na Lei de Bases do Sistema Educativo, nomeadamente, sobre as propostas de novos planos curriculares, elaborados por equipas especializadas, acentuando a necessidade e a urgência de articular a matéria contida nessas propostas com outras questões tais como organização escolar e pedagógica com a formação de professores dentre outras. O diploma afirma que; “Questões como estas podem tornar exequíveis, ou não, o que os novos planos curriculares se propõe de forma a alcançar os objectivos de carácter educativo e escolar neles visados”. O CNE reconhece que a reforma educativa não resulta de um somatório de normas legislativas, será antes o resultado de uma dinâmica semelhante, conjunta e harmoniosa de mudanças no sistema escolar para que não se afastem dos objectivos previstos na Lei de Bases. (cf. Diário da República – II série, nº 23 – 27-01-1990 p.911/912).

As leituras comprovam que a temática tem sido preocupação de grandes estudiosos da área das Ciências da Educação e afins em debates, congressos e outros, sendo referenciados em produções bibliográficas também. Nota-se contudo, o interesse que vem sendo revelado por principiantes na área, pelo empenho nos trabalhos de pesquisa, nos projectos de investigação, nas dissertações de mestrados, em teses de doutoramentos entre outros.

A necessidade “em pesquisar”, talvez seja pelo facto de sentirem “na pele” às dificuldades que outrora haviam lido nos livros, escutado nas faculdades em disciplinas referentes ao tema e nos debates em congressos.

Para confirmar com veemência o que acima citamos, um estudo feito pela equipa dos países Alemanha, Dinamarca, Grécia, Irlanda e Portugal – Departamento do Ensino Secundário, diz que; “Claramente trata-se de tentar uma mudança profunda nos nossos hábitos e nos nossos sistemas educativos e para o qual encontramos de certa forma impreparados.” (cit. in Programa Europeu Petra II – Acção II; “O Professor Aprendiz – Criar o Futuro”)

Enfatizarmos a relevância da lógica de convergência entre a formação dos professores e as reformas na Lei de Bases do Sistema Educativo citando o que o CNE recomenda ao Ministério da Educação relativamente a formação dos professores; “Articulação dos programas de formação inicial e contínua dos professores tendo em vista preparar docentes para a compreensão e execução do que se pretende reformar e inovar, e a coordenação entre as várias fases da reestruturação curricular com os planos de formação dos professores.” (cit. in Diário da Republica – II série, Nº 23 – 27-01-1990; p.911/912).  

 

 Para ilustrar o tema deste capítulo e, com alguma intenção premeditada, fazemos referência a Dissertação de Mestrado em Psicologia( da Ana Maria de Almeida Domingos) “Os Professores e a participação das famílias na escola” ( U C, 2003), pelo facto da autora, (S.I.C.*), viver em Cabo Verde e ter experiência profissional de trabalho com professores cá em Portugal e em Cabo Verde, dois países em continentes diferentes, que falam a mesma língua e que têm um envolvimento histórico.

 A autora com este perfil possui uma” visão binocular” da temática em causa, o que nos favorece da perspectiva sistémica, a uma análise profunda e complexa da problemática que, possivelmente ampliará o nosso leque de interpretação abrindo caminho a novos horizontes possibilitando a acção de uma releitura do tema para repensarmos o problema com medidas actuais vislumbrando redefinir soluções.

A situação em comum que nos despertou atenção, é que sou Luso-brasileira e também possuo experiências com professores, pais, alunos e com os demais actores que interagem directa e/ou indirectamente no Sistema educacional de ambos os países, sendo que no Brasil, fui directora de escola durante vinte e dois anos, portanto, devo ressaltar, que estou em comunhão com o pensamento da autora e comungo das mesmas opiniões, pois temos vivências comuns em continentes diferentes e compartilhamos os mesmos sentimentos em histórias que entrecruzam-se.  

 A autora relata em sua dissertação, “ter experiências no país onde vive, como mãe e encarregada de educação e descreve a sua frustração e um pouco de revolta, com o desenrolar das reuniões e com o tipo de participação solicitada aos pais” (cit. in. Introdução), o que me faz concordar veementemente com ela, afirmando que, nada é diferente do que conhecemos por aqui, pois também desempenho papel de mãe e encarregada de educação e posso dizer que, cá em Portugal, custa-me muito ir às reuniões de pais ou falar com os Directores de Turma dos meus filhos para ser informada do óbvio, o que me faz chegar a conclusão, pelos discursos repetitivos e evasivos dos professores, do tipo: seu filho precisa trabalhar mais, estar mais atento, é imaturo, não se empenha, trabalha pouco, não participa nas aulas, brinca muito e a família precisa ajuda-lo a ser responsável, que existem graves lacunas em suas formações no que se refere aos temas: desenvolvimento do indivíduo, processo ensino – aprendizagem e abordagem sistémica, que assegure uma comunicação segura e envolvente, e que reforce o sentimento de confiança na relação entre Professor e os Encarregados da Educação. Entretanto a questão está, no porquê da “fragilidade” nos conteúdos dos discursos dos Professores e Directores de Turma frente ao encarregado da educação ou aos encarregados de educação, se ele é um elemento do sistema que faz uso da metacomunicação* para desempenhar a função de representar o elo que faz a ligação entre sistemas e subsistemas. Grande responsabilidade para uma formação deficiente.

Será que não deveria haver um curso de especialização em Direcção de Turma e Formação em Dinâmica de grupo para Professores, com propostas voltadas para organização das Reuniões de Pais com esta ou aquela finalidade?

Seria de suma importância uma formação voltada para professores em Atendimento Individual à Pais ou a Encarregados da Educação, como àquelas que fazem em empresas para os funcionários, que tem por finalidade prepara-los para um “Bom Atendimento aos Clientes” com a proposta de melhorar a qualidade dos serviços da mesma perspectivando a satisfação e o retorno do cliente, afinal as escolas também podem funcionar com estratégias que privilegiam o Mercado Empresarial, (cf. Senger, 290/295; 2005).

*metacomunicação – Na esfera da interacção pessoal a metacomunicação tem por finalidade, assinalar, especificar e pontuar o contexto de interacção. Este contexto determina como devem ser interpretados os comportamentos relacionais, (Alarcão, 2006).

 Temos que dar a “mão à palmatória” concordando peremptoriamente com a afirmativa da autora quando ela diz; (…) “As instituições de formação de professores continuam a dar prioridade à função pedagógica do professor, ou seja, continuam a privilegiar a formação para o ensino, negligenciando a preparação para outras funções. O trabalho com a família dos alunos constitui uma das funções do professor que não merece grande atenção nos cursos de formação”.

*S.I.C. – segundo informações colhidas

Gostaríamos de propor algumas questões, nesta afirmativa, para complementarmos o nosso pensamento. Será que a formação para o ensino também não está a ser negligenciado? Aprender a ler e a escrever continua ser ou não privilégio dos mais favorecidos? Saímos ou não formados para concretizar a politica da “Educação para Todos” ou “Educação Inter-cultural”? Será que poderíamos pensar em incluir no currículo da formação de Professores uma disciplina que enfoque os Modelos Sistémicos?

De certo, seriam preparados com mais afinco, os futuros professores, para desenvolver acções pedagógicas contínuas e progressivas que se articulassem com os segmentos do processo educativo a nível de currículos e programas e envolvimento familiar.

Acreditamos também, na necessidade dos professores terminarem a sua formação com noção de intervenção psico-pedagógica multidisciplinar e inter-disciplinar, fundamentadas em teorias entrelaçadas com práticas, para que estes profissionais sejam capazes de lidar com a interdependência dos sistemas que se inter-complementam com os diferentes sistemas e os diversos subsistemas.

Pensamos ser de grande relevo, uma maior atenção na preparação dos professores no âmbito do seu perfil profissional para colaborar com os outros profissionais da equipa, partindo de um afastamento relativo da sala de aula para obter uma visão exterior da turma, isto porque, a sua participação deve ser bastante clara e objectiva, pois o resultado do trabalho da equipa vai privilegiar a ele próprio.

A sua participação na equipa, seria como informante dos acontecimentos, fazendo uma descrição das interferências positivas e negativas dos sistemas interdependentes que colaboram ou prejudicam no desenvolvimento do processo ensino – aprendizagem.

Os professores com formação sistémica podem ser visto como uma mais valia na participação em reuniões de equipas multidisciplinares e interdisciplinares, pois a sua visão pedagógica de grupo ofereceria maiores vantagens em reenquadrar projectos nos programas para atingir o sucesso da aprendizagem da turma, ou ainda, poderiam oferecer maiores possibilidades de estudos para o reenquadramento de determinados problemas ou conflitos entre sistemas ou subsistemas interdependentes com o meio que circunda o Sistema Educativo.

 

 Poderíamos dizer então, tomando como referência a participação dos professores em reuniões de equipas multidisciplinares e inter-disciplinares que; “O olhar do professor sobre o aluno é rico em mensagens para o trabalho em equipa, porém, as mensagens transmitidas por um professor sistémico sobre este aluno atrairia ricos olhares na equipa de trabalho.”

É obvio que esperamos que os professores estejam disponíveis para o processo de reciclagem, com formações sobre o tema, intervenções ou acções pedagógicas sistémicas pois, as dinâmicas familiares vêm se alterando, o que pensamos interferir, e muito, na relação dos actores com o processo ensino – aprendizagem. Pensamos, ser necessário, devido a complexidade da actual sociedade, uma preparação profissional mais ampla e eficaz por parte dos professores, pois a medida que as famílias se alteram e transformam a sua configuração tendem a afastar-se das características do estereótipo de família tradicional demitindo-se das suas funções tradicionais exigindo que a escola substituam-na (cf. ARIÈS, Philippe – 1978 – Pag. 277-278)

Percebemos que este facto vem ocorrendo, quando as dinâmicas familiares são alteradas significantemente e as crianças usam a sala de aula e o restante dos espaços de convívio da escola como depositário das suas tristezas e ansiedades. As famílias em conflitos, tendem atribuir neste momento, maior relevância ao conflito do que ao próprio processo educativo da criança demitindo-se, e queremos crer que inconscientemente, destas funções tradicionais.

Segundo Alarcão (2006) “O que se denomina Ciclo Vital, pode sofrer alterações em configurações familiares distintas daquelas que permitiram a sua conceitualização”. 

Como sabemos, as alterações no sistema da família, no sistema da escola, no sistema sala de aula, ou num elemento destes sistemas, corresponde a modificação de todos os sistemas interdependentes e as suas relações. Isto quer dizer que; cada nova fase na evolução dos sistemas e subsistemas pressupõe-se uma crise pois cada fase e suas sucessivas crises estão relacionadas com um dos elementos básicos da sociedade pelo simples facto de que o ciclo vital humano e os sistemas sociais tende a encaixar-se, (cf. POSTER, Mark; 1979 – Pag.91). Portanto, enfatizamos a formação permanente do professor no assunto e sempre que possível reciclar os seus conhecimentos para lhe dar com a evolução e a reprodução de novas aprendizagens pós-crises.

A desenfreada inflação e renovação do saber, faz com que os cursos, voltados para as áreas do ensino e da educação, estejam expostos a permanentes desorganização e reestruturação pois pensamos que qualquer sistema humano e social é susceptível à crise.

Segundo POLITY, em seu artigo “Mediação escolar: a busca pela cultura da paz,” também reafirma o nosso pensamento quando diz; ”A instituição escolar vem mudando ao longo das mudanças sociais e do mundo. É uma transformação em cadeia, em rede. E para fazer frente a elas, os profissionais de Educação precisam constantemente buscar respaldo no exercício diário e no processo recursivo do seu fazer para estar em constante movimento de adaptação.”

Queremos mostrar neste capítulo que, pensamos ser o actual método do processo ensino - aprendizagem da leitura e da escrita operacionalizado pelos professores do 1º ciclo, em Portugal, ser o mesmo de algumas décadas atrás,  portanto não se vislumbra o desenvolvimento de novas acções educativas para dar respostas as mudanças sociais, as diferenças sociais e/ou culturais, a evolução sócio - cultural dos sistemas familiares e as suas desenfreadas transformações nas suas configurações que transgridem a fantasia do conservadorísmo religioso e educativo que lutam hipocritamente pela eterna família tradicional (famílias sem problemas). Elas não existem e nem tão pouco farão parte do Sistema Turma de Alunos da Sala de Aula com objectivos comuns, aprender a ler e a escrever, muito pelo contrário, o aluno pode começar o ano com uma configuração familiar e, no decorrer do ano lectivo, haver alteração no seu sistema familiar e ele terminar o ano com uma nova configuração de família. O professor com o seu despreparo e, mais uma vez desiludido, tem que saber lidar com estas situações que, embora corriqueiras, ainda são consideradas bastante complexa para todos, acarretando interferências nos sistemas interdependentes e no processo da aprendizagem do aluno.

 

Sendo assim podemos referir que, acreditamos que a concepção dos professores sobre a participação das novas formas de famílias na escola só serão modificadas se trabalharmos com os formandos dos cursos de formação de professores as razões para envolvermos as famílias na escola, os benefícios da sua participação, os obstáculos e as diferentes modalidades de envolvimento familiar,” “dentro dos padrões das enumeras modalidades de configuração familiar da actual sociedade,” (cit. in. Alarcão; paginas 203/233, 2006), que no mínimo alteraria a comunicação e a relação com todos e de todos os sistemas e subsistemas envolvido no sistema educativo, dependendo do padrão de configuração da família.

Por exemplo, poderíamos desafiar o nosso saber quando questionássemos se somos capazes de dar respostas a tais questões. Como seria ou qual seria a abordagem pedagógica e psico-social que os actores de um sistema escolar lançaria mão para lidar diariamente com crianças que são parte integrante deste sistema e oriundas de família homossexual? Que tipo de acções ou acção pedagógica o Sistema Escola desenvolveria para envolver este Sistema Familiar? E o professor da turma, o que faria para integrar este aluno no sistema Sala de Aula? Como seria esta inter-relação dos sistemas e subsistemas? Será que o perfil pessoal e profissional do professor está formado e capacitado para promover a integração deste aluno e desta família no sistema?

Estamos nos referindo a temas actuais que giram entorno do mundo e da actual sociedade da qual somos parte integrante e temos que nos confrontar, acima de tudo com o compromisso de educadores e pedagogos. Convém fazer um alerta, não fomos e nem somos obrigados a exercer esta ou aquela profissão.

Afinal, o que responderíamos na questão do desafio que deixamos em aberto no parágrafo anterior, “Não ou Talvez.”

 

A diversificação cultural e étnica do público escolar, com os avanços na comunicação da sociedade globalizada que promove o avanço do saber e as mudanças galopante do comportamento social das crianças e jovens impostas pelos “Médias”, põe em questão as didácticas e os métodos tradicionais de ensino.

Na sequência do nosso discurso relativamente a Formação dos Professores e em resposta a nossa questão, propomos a leitura da Recomendação nº 1/2001 – “Minoria, educação intercultural e cidadania” do Conselho Nacional de Educação, que mostra também, o quanto é preocupante a falta de informação, na formação do professor, relativamente a está matéria.

“O Conselho Nacional de Educação, no uso da competência que lhe é conferida pela sua Lei Orgânica, republicada em anexo ao decreto-lei nº241/96, de 17 de Dezembro, (…) deliberou aprovar o referido projecto, emitindo, assim, a sua primeira recomendação no decurso do ano de 2001.

(…) Na génese desta recomendação ao governo encontra-se, em primeiro lugar, a realidade crescente multicultural da sociedade portuguesa a exigir uma reflexão aprofundada e a proposta de intervenções específicas.”

É importante ressaltar alguns pontos do CNE que complementam e reafirmam o nosso pensamento;

 

 (…). Do relato do seminário promovido pelo CNE, em 1996, (…). No segundo painel subordinado ao tema “A exclusão Social e escolar,” Márcia Trigo refere-se a uma escola que valorize as diferenças e promova a qualidade de educação para todas as crianças, independentemente da sua origem social, étnicas ou religiosa e acentua a importância de uma cultura de residência à desigualdade, protegendo desta forma, as minorias, quer étnicas quer culturais.

(…). Na abordagem do tema “Educação no meio urbano,” o conselheiro Augusto Santos Silva definiu as escolas como espaços de acolhimento de públicos diferenciados e diversificados, como uma organização potenciadora do encontro de diferentes culturas…

(…) Por outro lado, as minorias também não se constituem obrigatoriamente a partir de diferenças de nacionalidades ou de etnia. Dentro de um país, entre nacionais, também pode constituir minorias por razões de identificação em bases geográficas, sócio-económicas, culturais religiosas, ou mesmo etárias. (…) A constituição de grupos minoritários obedece a um processo de auto-identificação e de unificação baseado em contextos familiares e sociais, para além das origens étnicas e da nacionalidade. (…) A diversidade assim constituída faz parte da matriz constitutiva das populações. Por isso, não há que a prevenir ou corrigir, sendo antes necessário o desenvolvimento de processos educacionais que ponham em relevo o que pode unir e conduzir à aceitação de espaços comuns de partilhas.

Portanto para se promover a educação intercultural, propõe-se alterações nos sistemas referenciais de valores em ordem à determinação de novas atitudes e comportamentos sociais tendo em atenção não apenas as necessidades de informação mas também de conhecimentos.

O diploma refere que a multiculturalidade não é uma situação perturbadora e problemática mas sim, constitui um desafio e gera questões que as sociedades tende a converter em problemas de educação, entretanto na sequencia do documento acima citado e, na interface das lacunas que se identifica na formação dos professores, a relação pedagógica a criar uma educação intercultural de sucesso implica a existência de professores motivados e respeitados, com formação específica neste domínio. Para fazer face ao desafio da heterogeneidade na sala de aula, decorrente da multicuturalidade social, os professores terão de ser detentores de conhecimentos que lhe permitam desenhar e desenvolver as estratégias pedagógicas e de relação adequadas. Esta exigência implica formação de longa duração, o que trará custos e incómodos adicionais, ao contrariar as tendências «normalizadoras» da formação pedagógica tradicional.

Fazendo referência ainda ao diploma, para consolidar o nosso pensamento, citamos o que diz o mesmo sobre a formação dos professores na matéria – “A fim de contrariar o espírito normalizador do processo de aprendizagem, será necessário introduzir modificações curriculares específicas (…) e competência para a gestão intercultural dos currículos.

Assim sendo, em consequência destas perspectivas (…);

 

f ) Os professores devem conhecer as dinâmicas de relacionamento pessoal e grupal para poderem monitorizar e orientar os alunos perante as tensões e os conflitos existentes, devendo, para isso, poder contar com apoio de especialistas;

 g) A formação dos professores deve possibilitar que estes estejam preparados para ajudar a construir identidades, através de caminhos diferentes, em função da cultura;

h) É essencial que a formação dos professores os leve a identificar, em diferentes culturas, formas diferentes de veicular idênticos valores e idênticas representações. (…)

k) É necessário desenvolver formas de promover a educação dos pais para a realidade muiticultural da sociedade (e da escola quanto reflexo da sociedade) e a sua cooperação para que não seleccionem a escola em função de populações homogéneas de alunos.

(…) Recomendações – face ao exposto, recomenda-se que:

d) A formação dos docentes para a educação multicultural seja orientada no sentido de uma formação especializada contínua; (…)

g) Tendo em conta os objectivos anteriores, sejam implementados programas adequados e produzidos materiais pedagógicos específicos que incluam referências culturais e ou históricas consideradas essenciais para o desenvolvimento de sentimentos de pertença, a valorização da identidade e a abertura do dialogo intercultural;

 

h) Sejam desenvolvidas políticas educativas e de formação para professores, pais e demais agentes educativos, nomeadamente mediadores sócio-culturais, que melhorem a relação entre a escola, a família, a comunidade e o ambiente; (…)

 

j) A formação inicial e contínua dos professores deve contemplar a metodologia de projecto de modo a permitir a identificação de estratégicas e de formas de intervenção mais adequadas às realidades, tendo como objectivo a preparação daqueles mediadores educativos para lidarem com a diversidade social e cultural em presença;

 

k) Os professores desenvolvam competências para usarem a diversidade existente como um recurso educativo e, através de metodologias de cooperação, apoiarem os alunos na sua aprendizagem de vida harmoniosa, cooperativa e solidária,

 

l) Seja formentado e valorizado o trabalho em equipas multidisciplinares, com recursos a técnicos especialistas. (15 de Fevereiro de 2001 – A Presidente, Maria Teresa Ambrósio – cit. in. DIÁRIO DA REPÚBLICA – II SÉRIE – Nº 57 – 8 de Março de 2001)

Acreditamos que a formação sistémica, incluída no currículo da formação dos professores, trariam bons resultados para a carreira profissional, até porque, poderia ser tomada como modelo a própria turma do curso, pois estamos diante de um Sistema multicultural com experiência de vida variadas formada por adultos com objectivos comuns. Sem dúvidas, poderia vir a ser um grande laboratório para o trabalho experimental da teoria sistémica na formação pedagógica do professor.   

 

 No próximo capítulo teceremos críticas aos aspectos legislativo do nosso Sistema Educativo, no que tange a integração da Escola com os Encarregados de Educação e comunidade. Porque não se faz na legislação referência a Sistema Escolar, Sistema Familiar e meios circundantes? Pelo menos levaria o leitor, da área de Educação, a fazer uma interpretação ecossistémica da educação, o que permitiria um grande salto à visão sistémica do professor para o enquadramento da sua prática profissional neste contexto. Neste segmento pontuaremos os paradoxos e a dicotomia que podemos identificar na orientação curricular da Educação Pré-Escolar e 1º ciclo, o que em tese leva-nos a crer em clivagem na evolução do processo da aprendizagem da leitura e da escrita na passagem de um segmento para outro deixando sequela no percurso escolar do aluno.

                                                                                             REBELO, 2008


Autor: Rosania Ferreira Da Penha De Sousa Rebelo


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