Procedência clássica, eclesiástica e vulgar de afixos latinos do léxico português



Procedência clássica, eclesiástica e vulgar de afixos latinos do léxico português

Orlando Rocha Machado

A maioria dos afixos latinos da língua portuguesa derivam do latim clássico, vulgar e eclesiástico. Mas, sem sombra de dúvidas, os sufixos originaram-se mais do latim vulgar enquanto os prefixos do latim clássico e eclesiástico, como se observa nos textos sobre a formação de palavras em português, tendo como fundamentação o processo de derivação sufixal e prefixal, segundo Maurer Jr (1961) e Mosânio Duarte (1999), respectivamente. Iniciaremos este estudo sobre esses afixos, primeiramente enfocando os sufixos e em seguida trataremos dos prefixos.

Deverbais em –us e -a oriundas do latim vulgar são substantivos formados de verbos, sobretudo de verbos em  –are, embora também ocorram exemplos de outras conjugações. O processo, que não pertence à língua clássica, surge pela associação de grande número de verbos em  –are, às vezes outros, com nomes em –a e em –us (planta: plantare, serra: serrare, dolus de dolore, port. dó). –Ia, sufixo de origem grega, Grandgent o menciona entre os sufixos do latim vulgar. É provável, entretanto que o sufixo –ia, vindo do grego, foi introduzido independentemente na Dácia. Port. alegria, cortesia, companhia, senhoria. –Ibilis; onde a vogal breve, que seria e no latim vulgar, se conservou, e. g., port. visível. No português arcaico nota-se bastante hesitação na forma de sufixo, encontrando-se  –vil, a única que se conservou: perduravel, semelhavel, stavil, razoavel, amavil, etc., na regra de São Bento; impossibilis (ib.). A segunda forma é comum em Camões: “Albuquerque terríbil, Castro forte”( Lus. 1, 14). Port. cabível, crível, perecível, sofrível, incontável, mutável, etc.

-Icus, latino e frequentemente grego, é um sufixo genuinamente erudito, e. g. port. gálico, itálico, helênico; –alia (vulgar) > -alha (canalha, muralha); -alis (vulgar) > al (corporal, temporal); -anus (vulgar) > -ão (pagão, vilão); -ianus (vulgar) > ião (ancião); -inus (clássico) > (-inho, -ino) diminutivos, adjetivos que indicam procedência (sulino, nordestino), derivados de nomes pessoais e, às vezes comuns: manuelino, beneditino, joanino, paulino, vicentino, estudantino. -Issa (latim eclesiástico) > -isa (pitonisa, diaconisa, poetisa, papisa, sacerdotisa); -ata (latim eclesiástico) > -ada (jornada, dinheirada, facada, limonada); sufixos verbais (origem clássica) –ficare e –izare. –Ficare, forma verbos sobre adjetivos em –fícus, e.g., magnificus: magnificare, etc. Em português com –iguar e –vigar (apaziguar, averiguar, arcaico eivigar). Adjetivos e substantivos: clarificar, ramificar, fortificar, santificar, personificar, purificar. –Izare (do grego), aparece cedo no latim (-issare, -idiare), port.: -ear e –ejar (latim vulgar): serpear, passear, guerrear, branquejar, gotejar. Sufixo –izar unido a substantivos e adjetivos: civilizar, organizar, poetizar, canonizar, fanatizar, sintetizar, ( a supressão do sufixo –ico é imitação do processo grego, assim: fanático, fanatizar), realizar, brutalizar, animalizar, concretizar e muitos outros.

Iniciaremos a prefixação abordando a origem de alguns prefixos latinos, tais como: ab-  (afastamento, separação), formas herdadas do latim clássico: abdicar ( abhorrescere). Ad- (prefixo a que se confere o traço sêmico de “proximidade” ou “movimento em direção a” é predominante em formações deverbiais provenientes do latim vulgar. Apresenta a variante a-, ex.: abreviar(< abreviare), adornar (< adornare). Bi-(clássico): bicolor, bilíngue, bifronte, biênio. Co- (eclesiástico): coexistir (< latim tardio: coexistere), coincidir (< latim medieval coincidere, via francês: coincider), coonestar (< coonestare), cooperar (< cooperare, via francês: coopérer). Des- procedeu do prefixo dis- (latim vulgar), displicere “desagradar”, negação (desplicere “desagradar”), separação ”discidere”: “afastar-se”; dissociare “dissociar”. Explica-se, assim, formações em português como desleal e desfolhar. Ex- (latim tardio), indica pessoa que exerceu um cargo, mas não exerce: exconsul e expatricius. In- (clássico, medieval) era fundamentalmente pré adjetival, o advérbio era derivado do adjetivo pré-fixado. Deste modo, improbe “perversamente”, inaceitação, insubordinar.

Infra- (clássico): infra-estrutura, infravermelho. Inter- (latim medieval) “entre, no meio de”: interrelação, interamericano. Intra- “posição interior”, latim eclesiástico. Multi- latim clássico: multidisciplinar. Ob- “posição em frente” e “oposição”, latim clássico: obsecar (< obcaere), obstruir (< obstruere), opor (< opponere). Pluri- latim clássico, plurilaterus (< pluri + later +us “de muitos lados”), pluriformis (< pluri + form + is “de muitas formas”). Pós- ,latim clássico, proveniente de post- posthabere, “colocar em segunda ordem”, postponere,” colocar depois, em segundo lugar”, postgenitus, “gerados depois, descendentes”. Pre- , afixo do latim clássico, que carreia a noção de anterioridade, prende-se a forma latina prae- , a qual se unia a verbos: praedicare, ”predizer”, praesentire “sentir com antecipação” e adjetivos: praecanus “que tem os cabelos brancos antes do tempo”. Pro- ,clássico: propugnare “combate em favor de”, originalmente “lutar a frente de”. Da noção de “à frente” provém a noção subsidiária de “defesa, favorecimento”. Re-,clássico, recalcar (< recalcare), reluzir (< relucere), repor (< reponere), “elaborar outra vez”. Semi- ,clássico,  semicingere “cingir ao meio”, semiiustulire, “queimar pela metade”.

O nosso léxico é repleto destes afixos latinos, e de muitos outros com derivações do latim clássico, eclesiástico e vulgar. Se formos citar todos, baseados nas pesquisas de Maurer (1961) e Duarte (1999), daria um texto muito extenso, devido à infinidade de sufixos e prefixos latinos comumente usados para formação de várias palavras  do Português. Ressaltaria exemplos de afixos não mencionados no texto, o sufixo de origem do latim popular  –ensis, que  encontra-se presente, sob forma popular , em gentílicos como francês e inglês. Sob forma erudita, em formações neoclássicas e nas formações técnico-científicas. Desse modo, prefixos com notável importância para o léxico português, destacaria: Ultra- ,pós-clássico; Uni- , latim clássico; vice- , provém do latim eclesiástico, temos, também, a procedência duvidosa entre clássico e vulgar do prefixo latino supra-, derivado de supradictus “sobredito”.

Referências

MAURER JR. Theodoro Henrique. A Unidade da România ocidental. São Paulo: Editora da USP, 1951. Disponível em: http://www.solar.virtual.ufc.br.  Acesso em: 4 de novembro de 2012.

DUARTE, Paulo Mosânio Teixeira. A formação de palavras por prefixo em português. (Fortaleza: Edições UFC, 1999. (adaptado). Disponível em: http://www.solar.virtual.ufc.br. Acesso em: 4 de novembro de 2012.

DUARTE, Paulo Mosânio Teixeira. Formação de palavras: afixação. In: A Formação do Léxico Português. In: A História da Língua Portuguesa. Disponível em: http://www.solar.virtual.ufc.br. Acesso em: 30 de outubro de 2012.


Autor: Orlando Rocha Machado


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