As Mulheres, O Sexo E A Terceira Idade



Estava deixando o auditório quando ele me procurou. Após os agradecimentos de praxe (parabéns pela palestra sobre sexualidade na Terceira Idade, muitas informações úteis, coisetal), foi direto ao ponto:

- Doutor, fiquei com uma pulga atrás da orelha. Na hora não perguntei, mas não tem como levar uma dúvida dessas pra casa... afinal de contas, por que todas as mulheres perdem o fogo quando chegam aos 55, 60 anos ou mais?

Olhei para ele com quem perdeu o melhor da festa. Ou pior: chega todo arrumado e toca a campainha no endereço errado às duas da manhã. Puxa, ele deveria ter perguntado aquilo durante a palestra... ! Mas, pensando bem, fazia sentido ter aguardado até o final. No auditório havia várias dezenas de respeitáveis senhoras devidamente armadas com suas bolsas, e uma colocação assim poderia resultar até em tentativa de linchamento.

Seguimos caminhando enquanto ele desfiava seus lamentos. Lá se iam 30 e tantos anos de convivência harmoniosa, filhos e netos e sonhos em comum, mas as coisas já não eram as mesmas. Como estava atrasado para um outro compromisso (a vida moderna é isso aí: correr de um lado para o outro para quase sempre chegar em lugar algum), fui embora com a promessa de que escreveria em breve sobre seu caso específico - e não escrevi. E me arrependi profundamente. E decidi que procuraria redenção escrevendo não para um marido, mas para milhares de pessoas de uma só vez. Pois aqui estamos nós hoje. Mãos à obra!

A Sexualidade e o Envelhecimento estão cercados de mitos. Apesar dos avanços nas últimas décadas, mantemos uma idéia muito negativa sobre a sexualidade na Terceira Idade, como se o sexo fosse um clube exclusivo para jovens bonitos e saudáveis. Só entra quem tiver carteirinha da UNE com laudo de aptidão médica.

Bom, fico satisfeito em informar que a verdade está bem distante disso. Existe desejo na Terceira Idade, sim, e muito sexo também! E estas duas características devem começar a ser aceitas como uma parte normal da vida porque elas de fato o são. Ou você acredita que existe data de vencimento para a capacidade de apaixonar-se, excitar-se e relacionar-se sexualmente? É óbvio que não existe.

Estudos recentes revelaram que mais de 70% das pessoas acima dos 60 anos de idade têm no mínimo uma relação sexual por semana. Repito: no mínimo. É uma boa média. Mesmo assim, o mito de que todas as mulheres perdem o desejo com a idade parece persistir. Por que? Por vários motivos.

Em primeiro lugar, as mulheres parecem se interessar menos por sexo pelo simples motivo de existirem poucos homens disponíveis. Em média, elas vivem 5-7 anos a mais que os homens. Como resultado, de cada 10 mulheres com mais de 65 anos, 3 são viúvas. Em contrapartida, apenas 1 de cada 10 homens com mais de 65 anos de idade é viúvo. Elas até procuram por parceiros, mas eles são mercadoria escassa.

Além disso, a sociedade é tolerante com homens mais velhos que namoram mulheres mais novas, mas a recíproca não é verdadeira. Mulheres mais velhas com homens mais novos são vistas com uma boa dose de preconceito. Ou seja: elas não possuem um grande número de parceiros potenciais na mesma faixa etária, e são moralmente proibidas de se relacionar com homens mais jovens. Aí pegou. Não é de admirar que muitas prefiram fingir que não têm mais interesse no assunto. Na verdade, simplesmente desistiram de lutar contra os padrões de comportamento vigentes.

Um outro motivo para o mito está no fato da maioria das mulheres na Terceira Idade ter sido criada em uma realidade repleta de tabus, onde o sexo não aparecia em letras de funk ou enredos de novelas. Estas mulheres tendem reprimir suas ânsias por questões de formação pessoal, e permanecem aprisionadas no receio de serem incompreendidas. O medo de críticas por parte da família é outra barreira difícil de transpor.

Por último, existe a questão biológica. Após a meia-idade, as alterações dos níveis hormonais resultam em diminuição do apetite sexual, tanto nas mulheres quanto nos homens. A maior incidência de doenças crônicas (depressão, hipertensão, diabetes, artrite, etc) e uma auto-imagem mais crítica também contribuem para que as mulheres coloquem o sexo em segundo plano. Ainda assim e apesar de todas estas mudanças, pesquisas mostram que a abstinência sexual na Terceira Idade ocorre mais por circunstâncias que por escolha própria.

Enfim, uma mulher com 60 anos não é uma extraterrestre. Da mesma forma que respirar, ir ao banheiro e dormir, o contato sexual continua sendo uma função normal do seu organismo. Ser forçada a abrir mão dele para manter uma imagem aceitável perante a sociedade não garantirá dias mais tranqüilos, mas poderá significar uma vida um pouco mais vazia. A lição que fica é que um mito deve ser tratado como um mito; e uma mulher de 60 anos ou mais, como uma mulher que por acaso tem 60 anos. Ou mais.


 
Dr. Alessandro Loiola é médico, escritor, palestrante, autor de Vida e Saúde da Criança e Crianças em forma: saúde na balança (www.editoranatureza.com.br). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.
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Autor: Alessandro Loiola


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