CONCORDÂNCIA UNIVERSAL (Parte 2)



CONCORDÂNCIA  UNIVERSAL (parte 2)

                  (tese pluralística)

 

Assim, ao término do escrito antecedente (parte 1), vim a frisar que minha “tese pluralística” tem em vistas fundamentalmente: 

“Analisar as Possibilidades da Concepção Pluralística da CUEE”. 

E, espero, ainda assim, que as idéias aqui esposadas não venham constituir, como não quero que se constituam uma nova heresia doutrinária; e tampouco gostaria que viessem a refletir qualquer forma de desdenha ou menosprezo ao trabalho do grande codificador da Doutrina Espírita. Pelo contrário, o que espero é que tais idéias possam traduzir um avanço, acatando-se a possibilidade de uma concepção, como já explicitado, pluralística da CUEE. Postura esta advinda de um posicionamento extraído de um fato, de uma constatação positiva, e, portanto, científica, qual o fora evidenciado pelo comportamento sociológico e cultural que se implantara no decurso de um século e meio de experienciações mediúnicas, embasadas e permitidas pela Espiritualidade Maior, e, evidentemente, pelo nosso Mestre Jesus. 

Pois bem: sabemos que o Espiritismo é a Universidade do Espírito, a Universidade notoriamente simples em sua expressividade, e, também, paradoxalmente, extremamente complexa em sua profundidade, sem dúvida que abismal. Basta ver a quantidade de aprofundamentos que se fizeram por ela, em torno dela, neste curto período de cento e cinqüenta anos. Apenas e, tão somente, o maior psicógrafo de todos os tempos da humanidade ultrapassara a produção de quatrocentas obras. Um fenômeno literário mundial e, gigantesco, indubitavelmente.

 

Mas retornemos a Allan Kardec que, ao seu tempo, de 1857 a 1869, como sabemos, viera a traçar algumas condições objetivando preservar-se o Espiritismo das teorias contraditórias, das seitas que dele quereriam se apoderar em seu proveito, visando, repiso, protegê-lo das inverdades e das mistificações. Ponderava em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (Allan Kardec - Feb) que a primeira condição: 

“... é, pois, sem contradita, o da Razão, ao qual cumpre se submeta, sem exceção, tudo o que venha dos Espíritos. Toda teoria em manifesta contradição com o bom senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos já adquiridos, deve ser rejeitada, por mais respeitável que seja o nome que traga como assinatura”. (Opus Cit.). 

Assim, pode-se confirmar, com Kardec, que a primeira condição, é, sem dúvida, o da Razão; que a ela deveria e deve ser submetido tudo quanto venha dos Espíritos, confrontando-os ainda com o bom senso e com os dados positivos obtidos até então. Mas, sua experiência no trato com os Espíritos mostrara a Kardec que esta primeira condição, por si só, era incompleta; ela era, evidentemente, necessária, mas deveria ser ampliada com outra condição para aceitar-se o ensino espírita como garantidamente sério e confiável; para tal ele deveria estar em concordância com os demais ensinos revelados espontaneamente por diversos médiuns estranhos uns aos outros e em diferentes lugares. Assim se pronunciara o codificador sobre o tema: 

“Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares”. (Opus Cit.). 

E confirma, logo a seguir, que tal se destina, sobretudo, aos princípios mesmos da Doutrina e não a questões secundárias, ou seja, de menor importância. Tal conceito kardequiano ficara conhecido como CUEE: Concordância Universal no Ensino dos Espíritos. Mas sabe-se que, um pouco antes, em “O Livro dos Médiuns”, Kardec também advertira que o mais importante é o conteúdo do ensino transmitido pelos Espíritos e que a pessoa da instrumentalidade mediúnica é um tanto irrelevante, pretendendo, com isso, mostrar que não devemos endeusar a ninguém e tampouco os nossos médiuns. Amar e respeitar, é óbvio, trata-se de uma obrigação de todos nós a outrem, mas endeusar é outra coisa bem diferente. O nosso Chico Xavier, em observância, se dizia tal como formiga das menores.

Mas por ser nossa Doutrina maravilhosamente simples e complexa, por estender-se a toda a humanidade, e, por termos nessa humanidade a mais vasta quantidade de médiuns em desenvolvimento, pois que, afinal, somos todos “mais ou menos médiuns”, é obvio que haveremos de encontrar, atualmente, grande quantidade de livros, estudos, opiniões, ditados e princípios mostrados aqui e ali e que estão muito distantes do conceito da CUEE, casos em que, deve o estudioso espiritista procurar, conforme Kardec, ouvir a voz da Razão, ou, pelo menos, o quanto lhe houver dela, do seu Discernimento, Critério e Inteligência, uma vez que tais potencialidades do Espírito são essencialmente evolutivas, que, iniciando-se na Pré-lógica vai se desenvolvendo para a Racionalidade Concreta que, por sua vez, tem de desenvolver-se ainda e nalguns já pudera culminar na mais alta delas, a que se conhece como Razão das Operações Intelectuais Formais. (Vide, na internet: “Níveis do Psiquismo Humano”). 

Mas já aqui nos deparamos com uma dificuldade: de qual Razão se referia o codificador? Em seus antípodas temos a Razão do bárbaro numa ponta, ou seja, de indivíduos indiscutivelmente cruéis, devotados ao mal, estando presente em todas as classes sociais terrenas; e, na outra ponta, a Razão de um Kardec, de Inteligência nitidamente Formal, que é a Razão dos mais reluzentes espiritualistas, filósofos e cientistas que, tal como Freud, Darwin, Einstein e muitos outros que, revolucionando o conhecimento atual, se mostram, se entrosam e se caracterizam como verdadeiras pontes entre o conhecimento oficial e o conhecimento espírita constituindo um todo completo e, portanto, de vastíssima conceituação filosófica, científica e doutrinária. 

Sabe-se que, para o confiável instrutor André Luiz, da psicografia xavieriana, mais da metade da humanidade (cerca de 60%) encontra-se na infância do conhecimento; e outra parte (presumo 37%) já se alçara à razão particularista; e o restante (em torno de 3%) tem o domínio da superconsciência, dos sentimentos mais sublimados, procurando se identificar com as mais altas esferas da vida e do pensamento. 

Tal gradação psíquica, sabemos, encontra alguma semelhança com o exposto pelo pensador intuitivo Pietro Ubaldi e, sem sombra de dúvidas, com um grande pesquisador da inteligência humana desde o seu surgimento neste mundo: o renomado sábio Jean Piaget. Este dava a tal classificação de André Luiz, sem conhecê-lo, os nominativos de: 

-Inteligência Pré-lógica; Inteligência Concreta e Inteligência Formal. 

Sendo os três: André Luiz, Pietro Ubaldi e Piaget, por tudo diferentes: o primeiro é um dos maiores instrutores espirituais da erraticidade; o segundo, um ser humano dotado de intuitividade supra-racional, em suma, um médium filosófico-científico; e o terceiro, também um ser humano, porém, um cientista e pesquisador do desenvolvimento da inteligência humana desde o nascituro. Piaget, consoante o apurado em suas pesquisas, mostrava aquela sua escala de inteligências, uma desembocando na outra, tendo apurado ainda que esmagadora maioria dos jovens do seu universo de pesquisa não alcança esta última, denominada: Inteligência das Operações Intelectuais Formais. 

O que significa dizer que nossa humanidade constitui-se de um psiquismo variadíssimo, onde um plano mais alto de inteligência entrosa-se com outros de menor alcance e com outros de menores possibilidades ainda, formando uma miscelânea de psiquismo bastante interessante, tornando já, por aí mesmo, um tanto difícil conceituarmos a Razão Ideal, aquela a que se referia Kardec, pois que se verifica, além das retro citadas, a constatação de outras ainda, quais sejam, quase que totalmente cega no religiosismo fundamentalista e radical, e, nos seus antípodas, a Razão cética, situando-se de permeio, à fé equilibrada com a Razão, ou seja, contida nos ditames de que: 

-“fé inabalável só o é aquela que pode encarar a Razão face a face em todas as épocas da humanidade”. (Allan Kardec).

 (fim da parte 2) 

Propositor: Fernando Rosemberg Patrocínio

Email: [email protected]

Blog: fernandorpatrocinio.blogspot.com.br


Autor:


Artigos Relacionados


ConcordÂncia Universal (parte 1)

ConcordÂncia Universal (parte 6)

ConcordÂncia Universal (parte 9)

ConcordÂncia Universal (parte 8)

ConcordÂncia Universal (parte 3)

ConcordÂncia Universal (parte 7)

Chico Xavier E Ubaldi: ReencarnaÇÕes