Sentimento de Dizer



Não me peças versos de amor. Não tenho mais inspiração.

Perdi-a no tempo e na estrada poeirenta que atravessei para me encontrar.

Minha pena é a voz da guerra, da fome e da dor que o vento traz.

Não queiras que eu jure sobre o que nem sei quanto ainda sinto.

Minha alma desaprendeu muito cedo a alegria terna desses sentimentos.

Minha boca aprendeu a paz de dizer que sinto o que jamais experimentei.

Bem sei que queres me ouvir dizer que te amo e que te espero eternamente!

Tua necessidade de ouvir é para mim a obrigação de dizê-lo repetidas vezes só para te alegrar.

E é para mim a lança que atravessa violentamente o que conheço de mim!

Mas não queiras que eu jure sobre um tempo que me escapa todos os dias.

Dia curto demais entre um cigarro e outro que não dura mais que uns poucos pensamentos nessa tarde calorenta que anuncia chuva.

O trem vai partir outra vez.

A estação se move ao meu redor como um dragão que cospe fogo e pedras em todas as direções.

Envio-te, então, um desejo especial para a tua noite fria:

Caiam estrelas na tua cama, caiam pétalas de rosas brancas de paz.

E o primeiro raio do dia gestado sopre aos teus ouvidos a realidade que não fui capaz de te entregar.  

Autor: Nara Junqueira


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