REPENSANDO A HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO



REPENSANDO A HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO

REGINA APARECIDA FREITAS DA COSTA DINIZ

 

INTRODUÇÃO

 

            Ao escolher este tema para realização deste trabalho, minha pretensão foi de conhecer como acontece a aprendizagem da criança na iniciação escolar, como sujeito de sua construção.

            A presente pesquisa bibliográfica se propõe a desenvolver uma reflexão sobre alfabetização nas diferentes concepções destacando principalmente EMÍLIA FERREIRO e VYGOTSKY.

            Para VYGOTSKY (1991), a criança nasce num mundo social e desde o nascimento, vai formando uma visão desse mundo através da interação com adultos ou crianças mais experiente. A construção do Real é , então, medida pelo interpessoal antes de ser internalizada pela criança. Desta forma, procede-se do social para o individual, ao longo do desenvolvimento.

            Quanto ao papel da aprendizagem, o referido teórico, postula que o desenvolvimento e aprendizagem são processos que se influenciam reciprocamente de modo que quanto mais aprendizagem maior é o desenvolvimento. Portanto, o papel do professor é de mediador, que interage com os alunos por meio da linguagem num processo dialógico.

            Embora não proponha uma prática pedagógica, sua construção é essencial para que o educador repense todo o processo de ensino-aprendizagem da língua e o funcionamento do código. Conhecendo os diversos níveis conceituais lingüísticos da criança, é possível criar atividades para que ela possa desestruturar sua concepção e construir o conhecimento da base alfabética da escrita.

            De acordo com FERREIRO (1995), escrever não é transformar o que se ouve em formas gráficas, assim como ler também não equivale a reproduzir com a boca o que os olhos reconhecem visualmente, na verdade o sistema de escrita tem um modo social de existência.

           

            Portanto, o papel do professor, no que se refere à aprendizagem, é o de criar condições para que a criança descubra por si mesma os caminhos alfabéticos, para que isso ocorra sem fracasso, evasão ou repetência, o educador deve mediar o processo da construção do seu conhecimento para a apropriação da leitura e escrita. Criar, em fim, uma rede complexa de participações em busca de uma co-construção do conhecimento onde tanto professor quanto alunos tornam se interlocutores no processo de construção.

                       

CAPÍTULO I – HISTORIANDO O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO: DIFERENTES CONCEPÇÕES

 

            Neste primeiro momento serão discutidos alguns conceitos considerados indispensáveis para a abordagem do tema: Educação e Alfabetização no contexto do processo escolar. O conceito de Educação, na visão de RUBEM ALVES citado por NOGUEIRA, (1989) “A educação é o processo pelo qual aprendemos uma forma de humanidade”.

            Deve-se levar em conta esse conceito, pois a educação também é considerada um processo, algo dinâmico que se constrói aos poucos. Com certeza a educação é uma forma de humanidade quando nela está presente o amor, o respeito, a humildade, a dedicação, ou seja, a interação de harmonia entre o educador e o educando.

            O conceito de Educação Infantil está claramente citado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei 9.394/96 – art. 29) “Consiste na primeira etapa da educação básica, tendo por objetivo o desenvolvimento integral da criança até seis anos, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social.”

 

            Conforme a LDB – 1996, a educação infantil é a primeira etapa da educação, portanto é a base, e precisa ser tratada com seriedade e compromisso por parte dos governantes e principalmente dos educadores. Em nível de discurso, Ferreiro (1992) destaca:

A alfabetização não é um estado ao qual se chega, mas um processo cujo início é, na maioria dos casos, anterior à escola e que não termina ao finalizar a escola primária. (FERREIRO 1992:47)

           

A alfabetização situa-se, como não poderia deixar de ser, no inicio da escolarização, na sua base, isso significa que a iniciação à leitura e à escrita constituem os primeiros passos da entrada no mundo de conhecimento, daí a importância dos estudos sobre o que significa alfabetizar? O que significa aprender a ler e a escrever? Como ocorre a aquisição da leitura e da escrita? Quem aprende? Como aprende?

No sentido de superar uma concepção mecanicista e tradicional de educação, que vê a criança como receptora de conhecimento, como “tabula rasa” e a linguagem oral e escrita como um mero conjunto de formas gráficas, sem compreender o que é a escrita e como reapresenta-la, e que a linguagem é objeto de ação e não de contemplação.

Observa-se que no contexto atual, existe uma atenção especial sobre a evolução histórica do pensamento teórico a respeito da concepção de infância e da natureza de alfabetização. Portanto, a discussão sobre concepção de alfabetização não pode ocorrer desvinculada do contexto social, político e econômico em que está situada.

Tratar das concepções de alfabetização, de suas bases teóricas e de sua expressão na prática escolar, hoje, exige considerar a reação histórica; educação – indivíduo – sociedade, pois, a finalidade da educação é determinada pela compreensão que se tem dessa relação. È necessário então, que se faça um breve esboço sobre as tendências pedagógicas ao longo da historia e sobre a concepção de infância no pensamento pedagógico, pois esta é determinante para compreendermos as propostas, as teorias educacionais e os estudos em torno do processo de alfabetização.

O fato da Pedagogia não ter considerado a educação a partir da criança, mas sim a criança a partir da educação durante muitos séculos decorre de uma visão de infância que até o século XVI considerava as crianças como se fossem miniaturas de adultos e então eram tratadas como pequenos homens e pequenas mulheres, eram obrigados a praticar as mesmas convencionalidades da vida adulta. Aqui a educação cumpre um papel de formar hábitos conservados pela civilização, repassados de geração a geração sem modificações.

A concepção filosófica e pedagógica de infância a considera como o período por excelência da disponibilidade e da plasticidade, esta é a idade em que o homem é educável e corruptível. Por esse motivo a pedagógica tradicional, tem como objetivo disciplinar a criança, determinar regras, justificando a exigência do silencio, da imobilidade, da fila, priorizando o aprendizado das regras na escola tradicional, “inclusive ortográficas e gramaticais”. (Charlot, 1986)

A partir do século XVII, esta visão é questionada por Rousseau que recebe influencia das idéias de Montaigne, Locke, Descartes, familiariza-se com os problemas sociais e filosóficos de sua época, critica a educação de seu tempo e propõe uma nova pedagogia, baseada numa concepção “positiva” da infância, que parte da confiança na natureza infantil e na defesa de sua espontaneidade e liberdade, e como objetivo sua proposta visa o desenvolvimento das potencialidades naturais da criança seu afastamento dos males sociais.

Uma nova Pedagogia, baseada nos princípios da Rousseauniana, procura proteger a natureza infantil e dá importância a tudo que é expressão livre da criança. Todo esse esboço permite compreender que durante todo esse tempo, tanto a pedagogia tradicional quanto a nova, mascaram e justificam que, socialmente a criança é um ser dependente do adulto, não considerando as desigualdades sociais, identificando as crianças como seres iguais, atribuindo os fracassos da educação à própria criança, à sua natureza.

Desde que nasceu na França em 1789, o modelo escolar de alfabetização sofreu várias mudanças. Após a Revolução Francesa, a escola se torna universal e gratuita, mas encontrar um esquema de trabalho em que um simples mestre

 

 

 

CAPITULO II – O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO NAS CONCEPÇÕES DE VYGOTSKY E EMÍLIA FERREIRO

 

            A partir deste segundo capítulo vamos centrar a pesquisa nos dois autores sobre as duas mais conhecidas, concepções de alfabetização.

           

            VIGOTSKY (Lev Semenovich) nasceu na cidade de Orsha, próxima a Mensk, capital de Bielarus, país da hoje extinta União Soviética, em 17 de novembro de 1896. Segundo um amigo de infância, Semyon Dobkim, a família de Vygostiky era uma “das mais cultas da cidade.”

           

            Crescendo nesse ambiente de grande estimulação intelectual, desde cedo Vygotsky interessou-se pelo estudo. A maior parte de sua educação formal não foi realizada na escola, mas sim em casa, por meio de tutores particulares. Apenas aos 15 anos é que ingressou num colégio privado, onde frequentou os últimos anos do curso secundário, formando-se em 1913. Ao mesmo tempo em que seguia sua carreira universitária principal, frequentou cursos de historia e filosofia na Universidade popular de Shanyavskiil. Anos mais tarde, devido ao seu interesse em trabalhar com problemas neurológicos como forma de compreender o funcionamento psicológico do homem, estudou também medicina, parte em Moscou e parte em Kharkov.

            Do mesmo modo que sua formação acadêmica, sua atividade profissional foi muito diversificada. Trabalhou em diferentes localidades dentro da União Soviética, tendo saído do país uma única vez, em 1925, para uma viagem de trabalho a outros países da Europa. Foi professor e pesquisador nas áreas de psicologia, pedagogia, filosofia, literatura, deficiência física e mental, atuando em diversas instituições de ensino e pesquisa, ao mesmo tempo em que lia, escrevia e dava conferencias.

            Sua produção escrita foi muito vasta para uma vida tão curta e, naturalmente, seu interesse diversificado e sua formação interdisciplinar definiram a natureza dessa produção. Escreveu aproximadamente 200 trabalhos científicos, cujos temas vão desde a neuropsicologia até a critica literária, passando por deficiência, linguagem, psicologia, educação e questões teóricas e metodológicas relativas às ciências humanas.

            A perspectiva defendida por Vygostky (1986 – 1934), é a histórico-cultural da educação, que questiona o ensino verbalista, práticas espontaneiístas que abdicam do seu papel de desafiar e intervir no processo de apropriação do conhecimento. Há uma rejeição a concepção  de prontidão e a defesa da construção do conhecimento a partir daquilo que a criança já sabe, suas ideias, suas teorias, ampliando e desafiando a construção de novos conhecimentos é o que denomina de incidir na zona de desenvolvimento dos indivíduos que cristaliza-se na formulação neste conceito específico dentro de sua teoria, essencial para compreender as suas ideias sobre as relações entre desenvolvimento e aprendizagem.

            Normalmente, quando nos referimos ao desenvolvimento de uma criança, o que se busca compreender é até onde a criança já chegou em termos de um percurso que supõe-se, será percorrido por ela, se a criança já sabe realizar determinada tarefa, refere-se a sua capacidade de realizar sozinha. Esse modo de avaliar o desenvolvimento do individuo está presente nas situações da vida diária, quando se observa que as crianças também correspondem a maneira mais utilizada em pesquisas sobre o desenvolvimento.

            Vygotsky denomina a capacidade de realizar tarefas de forma independente do nível de desenvolvimento real para ele, o nível de desenvolvimento real da criança caracteriza o desenvolvimento de forma retrospectiva, ou seja, referindo-se a etapas já conquistadas pelas crianças.

            As funções psicológicas que fazem parte do nível do desenvolvimento real da criança em determinado momento de sua vida são aquelas já bem estabelecidas naquele momento, são resultados de processo de desenvolvimento já completado. O referido autor destaca também, que para compreender adequadamente o desenvolvimento não devemos considerar apenas o nível de desenvolvimento real da criança, mas também seu nível de desenvolvimento potencial, isto é, a sua capacidade de desempenhar suas tarefas com ajuda de adultos ou companheiros mais capazes,  no caso da construção de torres de cubos; se um adulto der instruções para crianças ou se ela observar uma criança com uma torre ao seu lado, é possível que ela consiga um resultado mais avançado do que conseguiria sozinha. Esta possibilidade de alteração no desempenho de uma pessoa pela interferência de outra é fundamentada na teoria de Vygotsky.

            Vygotsky, também considera que é na relação dialética com o mundo que o sujeito se constrói e se liberta. A noção de homem como ser histórico implica em compreender que não há uma essência humana dada e imutável, pois o homem é um ser ativo e em processo continuo e infinito de construção de si mesmo, da natureza e da historia.

            O papel do professor não se restringe a transmissão de conteúdos, mas, principalmente, seu papel de ensinar o aluno a pensar e ensinando-o formas de acesso e apropriação do conhecimento elaborado, para que possa busca-lo autonomamente ao longo de sua vida. O professor é mediador na interação das crianças com os objetos de conhecimento, demonstrando, explicando, justificando, incentivando a curiosidade, promovendo situações que permitam a troca de informações, planejando atividades que envolvam: observação, pesquisa, resolução de questões, propostas de estudo, seminário, palestras, visitas, etc. deve ser um profundo conhecedor das crianças, das suas experiências, da suas informações, das suas teorias acerca do mundo, porque este deve ser o ponto de partida da sua ação educativa. Isso exigirá ouvir e dialogar com as crianças, e observar suas manifestações infantis. A observação e o registro através de diário ou relatório pode ser uma fonte preciosa para o planejamento de atividades significativas.

            Vygotsky ainda ressalta sobre a necessidade de uma revisão escolar, uma escola onde se possa dialogar, duvidar, questionar e compartilhar saberes, onde professor e aluno tenham autonomia, possam pensar e refletir sobre seu próprio processo de produção do conhecimento. Essa é a tarefa principal da escola contemporânea.

            É muito importante compreender, ainda, que o processo de alfabetização não pode se reduzir aos métodos sintéticos ou analíticos (os sintéticos preocupam-se em ensinar por partes, primeiro as letras, depois as sílabas, as palavras, as frases e os textos; e os analíticos propõem frases significativas para a criança, dão importância à leitura e quanto à escrita, esta assume sua função de comunicação, aqui a linguagem é autônoma e remete diretamente ao sentido), uma vez que esta redução, segundo Braggio:

... engatilha uma série de consequências educativas-sociais que apesar de iniciadas perpassam e se eternizam ao longo da escolarização: a memorização mecânica, a repetição, o ato de decorar, enfim, à não apropriação da palavra, do conhecimento adquirido através da palavra, da ação desencadeada por ela. (BRAGGIO, 1992, P.96)

            Os métodos se encaixam em um modelo de educação autoritária, e não libertador, por esse motivo a discussão sobre concepção de alfabetização, exige superar esse enfoque presente que a visão de mundo, de homem e de sociedade orienta as diferentes concepções.

            FERREIRO (Emília), psicóloga e pedagoga argentina. Doutora em psicologia pela Universidade de Genebra (tese orientada por Jean Piaget). Professora titular do Centro de Investigações e Estudos Avançados do Instituto Politécnico no México. Seus projetos de alfabetização são desenvolvidos em numerosos países e muitos pesquisadores participam de experiências ligadas a seu trabalho notadamente em Barcelona, Caracas, Tel Aviv, Buenos Aires e no Arizona (EUA). No Brasil, destacam-se os grupos de pesquisadores de São Paulo (Unicamp), Rio de Janeiro (PUC) Pernambuco (UFPb) e Rio Grande do Sul (Geempa – Grupo de Estudos sobre Educação – Metodologia de Pesquisas e Ação).

            Desenvolveu, a partir de 1974, como docente da Universidade Buenos Aires, trabalhos experimentais que deram origem aos pressupostos teóricos sobre a Psicogênese do Sistema da escrita, macro de uma transformação conceitual sobre integração da criança como o objeto cultural – escrita. Atualmente é professora titular do Centro de Investigação e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional na cidade do México, onde reside.

           

            A autora afirma que escrever não é transformar o que se ouve em formas gráficas, assim como ler também não equivale a reproduzir com a boca o que os olhos reconhecem visualmente, na verdade o sistema de escrita tem um modo social de existência.

            De acordo com FERREIRO, o papel do professor, no que se refere a aprendizagem, é o de criar condições para que a criança descubra por si mesma os caminhos do sistema alfabético sendo de extrema necessidade o contexto social e ressaltando que:

           

            O importante é a criança saber que as letras, como unidades da língua não possuem forma fixa, cada uma se define em função das outras, com diferentes objetivos e variações para sua identificação; a escrita, tal como a língua oral, evolui; as normas ortográficas são convenções necessárias para uma comunicação entre falantes da mesma língua. ( FERREIRO, 1992, p.167)

            E ao discutir sobre alfabetização, FERREIRO afirma que aprender a ler e escrever não é criação de um método de alfabetização, é tarefa especifica do educador, com isso vem contribuir com seus estudos para melhor compreender os níveis de conhecimento da escrita e leitura da criança podendo ampliar os recursos metodológicos que nos auxiliem a avançar o processo de construção do sistema escrito, superando conflitos cognitivos próprios das hipóteses criadas e também nos afirma que a criança conceitualiza o sistema escrito antes da aprendizagem escolar sistematizada.

            No entanto, quando a criança chega a escola, já possui um notável conhecimento de sua língua materna, pois vive num modo de escrita e pensa sobre o processo dessa escrita contudo a aquisição da linguagem pretende e excede os limites escolares.

           

            O ponto de partida de toda aprendizagem é o próprio aprendiz e as condições em que se encontram para receber o ensino, ao invés de começar preocupados com o que nós queremos que o aluno aprenda.

             A escrita é um sistema da representação da linguagem, leitura e interpretação. O conhecimento que os professores tem não é suficiente para sabermos analisar algo. Por isso o conhecimento que temos sobre um objeto não é o objeto; é a nossa maneira de representá-lo. O conhecimento que o sujeito tem da leitura e da escrita não vala ao conhecimento convencional. O sujeito possui hipóteses originais não ensinadas pelos familiares e professores. A criança procura ativamente compreender a natureza da língua escrita e sua volta o qual procura aprender através de suas ações afetivas e mentais sobre o objeto da escrita.

            O fundamental na aprendizagem é ação do sujeito, a ação de pensar sobre o objeto do conhecimento, aprender pensando o qual não é processo meramente perceptivo e sim construtivo não resultando em apenas adquirir hábitos, mas desenvolver a percepção e o controle motor.

             A aprendizagem resulta principalmente em exploração e descoberta tornando então, um ser ativo capaz de fazer comparações, ordenações e formular e organizar ação efetiva e interiorizada com isso o conhecimento resulta atividade de que ele realiza.

            Emilia Ferreiro nos transmite a importância e necessidade dos professores desenvolver seu trabalho em cima de erros os quais são construtivos que através deles poderá surgir a construção de compreensão no tipo de que as respostas permitam o acesso de níveis mais elaborados de conhecimentos.

             Porem, o conflito cognitivo da criança é necessário para a contribuição da aprendizagem por ser um momento de perturbação em que o conhecimento já assimilado mostra ainda insuficiente para responder um novo conflito gerado, entrando então a imagem de mediação do professor para ajudá-los no sentido de uma nova reestruturação.

            A escrita tem função social, pois é um objeto cultural que cumpre funções na sociedade e qual a figura do professor como organizador de experiências e indispensável para possibilitar o encontro da criança com o objeto de conhecimento da língua escrita, eram situações funcionais e significativas para vir a estimular e facilitar a aprendizagem e que simultaneamente vem com mediações através de atividades, observações, testes ao referencial teórico na sala de aula que permita o processo de construção do pensamento de aluno.

             Todavia, também ressalta que oferecer materiais de leitura e oportunidades reais de escrita na escola, principalmente para pessoas de baixa renda por não possuírem em casa, é indispensável para que construa um conhecimento com maior embasamento teórico e de fato surja a aprendizagem é convivendo com a escrita, que este ser entra em contato com os conflitos cognitivos e vai formulando suas hipóteses para compreendê-las.

            FERREIRO (1999), ofereceu um referencia teórico que provocou uma revolução conceitual sobre alfabetização colocando em questão os conceitos de maturidade e prontidão para a aprendizagem, o período preparatório, a visão psicologizada do fracasso escolar, o mito da deficiência da linguagem das crianças pobres, a avaliação, bem como as praticas tradicionais de alfabetização. Por esse prisma, Ferreiro afirma que toda criança é capaz de aprender a ler e a escrever, mesmo as mais pobres, desde que lhe sejam dadas as condições e o tempo para que isso se efetive. O conhecimento não se dá de fora para dentro, mas de dentro para fora, construído pelo aprendiz enquanto sujeito e não objeto do processo de aprendizagem de elaboração de hipóteses, em um movimento dialético por meio do qual ele se apropria da escrita e de si mesmo como usuário e produtor da escrita.

            Nessa concepção, um dos primeiros passos consiste em restituir à escrita a sua função social, considerando que a criança chega a escola com competência linguística e que apesar de não dominar a escrita ela não a desconhece totalmente. A escrita não é um produto escolar, mas o produto de um esforço da humanidade para representar a linguagem, a sala de aula tem que ser transformada em um ambiente alfabetizador, permitindo a criança o contato com os diferentes tipos de textos, diferentes tipos de materiais escritos, que ajudem a criança a perceber as diferentes formas de escrita e a compreendera para que se lê, onde se lê e o sobre o que se lê.

            Como a maior dificuldade da criança durante o processo de alfabetização situa-se no nível da compreensão da estrutura do sistema alfabético, para isso a psicogênese contribuiu com o professor dando-lhe oportunidade de compreender a hipótese com a qual a criança esta trabalhando, pois a criança passa por vários estágios de representação da linguagem escrita que são classificados como: hipótese silábica, pré silábica, silábico-alfabética. Essa concepção exige que o professor estude e faça uma reorientação de sua prática pedagógica, ele passa a ser mediador do processo e precisa construir sua competência por meio da reflexão sobre a sua prática.

            Os quatro níveis da escrita que FERREIRO destaca são:

- “PRÉ-SILÁBICO – É a fase em que a criança não escreve de forma convencional, faz grafismos (rabiscos) utilizando garatujas ou pseudoletras, podendo utilizar algumas letras ou números mas sem nenhuma correlação da grafia correta da palavra.

- “SILÁBICO – É a etapa em que a criança utiliza letras com ou sem valor sonoros convencional, dando a cada sílaba uma letra correspondente mas ainda não aceita palavra de uma ou duas sílabas acrescentando letras para que estas já possam ser escritas.

- SILÁBICO ALFABÉTICO – A escrita da criança já possui uma relação entre o som e a grafia da palavra, escreve utilizando ora sílaba ora letras.

- ALFABÉTICO – É quando a criança já percebe que as palavras são formadas a partir de combinações de letras, compreendendo que existe um código convencional da escrita. (Apud ELIAS, 2000, p. 170 – 175)

             Para entender o processo construtivo da criança, o educador precisa cortejar uma série de produções escritas e conhecer as condições de produção da criança, e o processo de produção e a interpretação final de cada sujeito.

           

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            A elaboração do presente trabalho foi de grande importância para minha formação acadêmica e profissional, o qual se refere ao estudo na área da alfabetização.

            Pesquisas significativas foram feitas em relação às teorias que fundamentam uma aprendizagem capaz de respeitar o processo da criança ao mesmo tempo incentivadora da prática da leitura e escrita. Foi possível também, constatar a incoerência existente em várias práticas educacionais no modo de ensinar e o modo de aprender.

            De modo geral, a escola não tem considerado a alfabetização como um processo de construção de conhecimento nem como um processo de interação, discursivo e dialógico. Novos conhecimentos sobre alfabetização de crianças e adultos. Percebemos que já não há mais lugar nas nossas escolas para uma alfabetização forçada, mecanizada, repetitiva, que considera a leitura e a escrita como objetos de uma instrução sistemática, com ênfase apenas nos aspectos gráficos – decodificação e codificação dos sons da fala em grafias.

            As concepções de Vygotsky sobre o processo de formação de conceitos remetem às relações entre pensamentos e linguagem, à questão cultural no processo de construção de significados pelos indivíduos, ao processo de internalização e ao papel da escola na transmissão na vida cotidiana. Propõe uma visão de formação das funções psíquicas superiores como internalização mediada pela cultura. Para o referido teórico, o desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de internalização da interação social com materiais fornecidos pela cultura, sendo que o processo se constrói a partir das relações intra e interpessoais. É na troca com outros sujeitos e consigo mesmo que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação de conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de um processo que caminha do plano social – relações interpessoais – para o plano individual interno – relações pessoais.

            Assim, a escola, é o lugar onde a intervenção pedagógica intencional desencadeia o processo ensino-aprendizagem. O professor tem o papel de interferir no processo, diferentemente de situações informais nas quais a criança aprende por imersão em um ambiente cultural. Portanto, é papel do docente provocar avanços nos alunos e isso se torna possível com sua interferência na zona proximal. Isso nos mostra os processos pedagógicos como intencionais, deliberados, sendo o objeto dessa intervenção a construção de conceitos. O aluno não é tão somente o sujeito da aprendizagem, mas, aquele que aprende junto ao outro que o seu grupo social produz, tal como: valores, linguagens e o próprio conhecimento.

            Nota-se que Vygotsky, privilegia o ambiente social e a presença do “outro social” na construção das funções psico-intelectuais superiores que vão surgindo no curso do desenvolvimento, ou seja, o desenvolvimento mental acontece no nível de desenvolvimento efetivo e na área de desenvolvimento potencial.

            A partir de interações que se estabelecem entre crianças ou entre crianças e professores, devem ser promovidas condições para que a criança construa novos conhecimentos, habilidades e significados. A rede de interações que se estabelecem na sala de aula, possibilita a participação ativa dos alunos gerando uma complementação de papéis e promovendo ações que levam a uma construção com partilha de conhecimentos durante o processo de aprendizagem.

            A partir dos estudos feitos por Ferreiro e seus colaboradores sobre a Psicogênese da Língua Escrita, sabemos que a criança aprende a ler e escrever, quais são os caminhos e estágios que percorrem nesta evolução, quais são os processos cognitivos envolvidos e, é pensando sobre o que a escrita representa e como ela se estrutura que a criança constrói esse sistema. Neste trabalho obtive novo conhecimento cientifico, requerendo desafio de romper com práticas impregnadas e cristalizadas dos processos tradicionais e ultrapassados, muito embora ainda presente hoje na educação. Coloca-me diante de novas posturas na relação educador – educando – conhecimento, contrapondo todo o trabalho até então priorizado pela pré-escola e classes iniciais de alfabetização, centrado no método silábico, que foi e ainda é o mais usado pelos alfabetizadores, e na prontidão para a alfabetização.

            Segundo a teoria de Emília Ferreiro, a leitura e escrita constituem um sistema de representação da linguagem, convertendo sua aquisição numa aprendizagem conceitual.

            Tal concepção muda radicalmente a abordagem escolar, impondo a necessidade de maior conhecimento por parte de nós, educadores, em relação à criança que segue o próprio caminho no crescimento na leitura e na escrita.

            Deve-se considerar a criança como sujeito ativo que se depara com a realidade, construindo conhecimentos, criando teorias e hipóteses, comparando-as entre si e modificando-as. Considerando a alfabetização não um estado, mas um processo, ele tem início bem cedo e não termina nunca. Então, a criança pode sentir o real e verdadeiro sentido que a leitura e a escrita tem em sua vida.

            Conclui-se, portanto, que continuar impondo às crianças outros caminhos ou métodos para alfabetizar, ignorar os estágios psicogenéticos da criança como sujeito, é querer continuar conscientemente presenciando nas nossas escolas o grande número de crianças que não se alfabetizam, mesmo com vários anos de escolaridade, já cursando até mesmo a quarta série do Ensino Fundamental, como temos visto falar em várias escolas, não só no Centro Oeste, mas em todo o Brasil.

            Portanto, a leitura e a escrita autêntica e real é muito mais significativa para a criança, pois, leva em conta sua subjetividade e singularidade enquanto ser que tem uma cultura com diferentes modos de conceituar a realidade.

           

BIBLIOGRAFIA

 

            BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 1990.

           

            BRAGGIO, Sílvia Lúcia B. Leitura e Alfabetização: da concepção mecanicista à sociopsicolinguística. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

           

            ELIAS, Marisa Del Cioppo. De Emilio a Emília – a trajetória da alfabetização. São Paulo: Scipione, 2000.

            FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Trad. Diana Myrian Lichetenstein. Porto Algegre: Artes Médicas, 1999.

            FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. Trad. Horácio Gonzales ET alii. 24º ed. São Paulo: Cortez, 1995.

            OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento – um processo sócio – histórico, São Paulo: Scipione, 1997.

            REGO, Tereza Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação, 4º ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

            VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

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Autor: Regina Aparecida Freitas Da Costa Diniz


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